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Evento Plenae: Genética, células-tronco e a vida eterna

“O que faz um índio ser diferente de uma loira?”, pergunta a geneticista brasileira Lygia Veiga Pereira, durante a palestra em São Paulo, no lançamento do Plenae.

14 de Junho de 2018


“O que faz um índio ser diferente de uma loira?”, pergunta a geneticista brasileira Lygia Veiga Pereira, durante a palestra em São Paulo, no lançamento do Plenae. “Isso se deve a uma pequena variação, 0,2%, no sequenciamento do genoma” – a chamada receita que forma cada ser vivo. No caso dos seres humanos, ela é composta por 3,2 bilhões de letras. E são os genes que dão as instruções da “receita”. O grande desafio do século 21 é descobrir a conexão entre variações e características. Do mesmo jeito que os pesquisadores desvendaram os genes que determinam características físicas – cor da pele, olhos, cabelo e altura – e uma série de funções do organismo, acredita-se que seja possível chegar à combinação que leva ao envelhecimento.
“A investigação genética pode ser a verdadeira chave para a vida eterna”, diz Lygia, pesquisadora do Centro de Terapia Celular do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo. “Quando descobrirmos os processos do envelhecimento pelos quais os genes são responsáveis, será possível estender o tempo de vida e a saúde com medicamentos eficientes e específicos.” Ao estudar famílias com nível excepcionalmente baixo de colesterol, cientistas descobriram que elas possuíam uma alteração genética específica. Faltava-lhes o gene codificador de uma determinada proteína. Ao inibi-la com um medicamento específico, equilibraram o colesterol. Do mesmo modo, entender quais proteínas provocam a formação de músculos, por exemplo, pode ajudar na formulação de remédios para manter a forma. Células-tronco. Mas não é apenas nos genes que está o segredo. “O vampiro Drácula talvez não estivesse totalmente errado quando associou sangue e vida eterna”, diz Lygia, divertindo a plateia. Um estudo da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, mostrou que transfusões de sangue de camundongos mais novos ajudaram a reparar danos cognitivos e neurológicos nos mais velhos. Outro estudo revelou que o sangue retirado do cordão umbilical de bebês humanos aumenta a atividade cerebral de camundongos idosos. “Ainda não existem tratamentos similares para humanos”, diz a pesquisadora, mas não há razão para desespero. “Mudar o estilo de vida também tem efeito positivo.” A vida de um camundongo, por exemplo, pode ser aumentada em 50% com uma dieta de restrição calórica. Mesmo com todo cuidado, tecidos e órgãos perdem a função e se deterioram ao longo do tempo. As células embrionárias – chamadas de células-tronco, derivadas da massa de um embrião humano – funcionam como uma espécie de “coringa”. Podem se transformar em cada um dos mais de 100 tipos de células de um adulto. No laboratório, é possível multiplicá-las para formar uma rede de neurônios. Ao trocar os reagentes, elas viram células do músculo cardíaco. O que isso quer dizer? “Um dia poderemos trocar órgãos e tecidos com a mesma facilidade que substituímos o carburador do carro”, diz Lygia. Com o genoma e as células-tronco poderemos, segundo ela, ser eternos. Se isso acontecer, precisamos cuidar do local em que vivemos. No Brasil, em 1840, a expectativa de vida estava abaixo dos 40 anos. Hoje, ela é de 76 anos. Por outro lado, menos de 30% da população tem acesso a esgoto tratado. “O desafio de construir um país melhor é superior ao de se entender o genoma. É mais fácil pousar um robô em Marte do que resolver conflitos na Síria ou na favela da Rocinha.” Assista à palestra na íntegra aqui .

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Como são as novas e modernas avós?

Conversamos com as avós “modernas”, mulheres que testemunharam revoluções em suas juventudes e hoje fogem do estereótipo de “velhinhas que tricotam”

6 de Março de 2024


Baby boomers, millenials, geração Z: você já deve ter ouvido falar em alguns desses termos, que são usados para nomear as gerações em determinados períodos e espaço de anos. Esses marcadores podem parecer sem muita serventia de imediato, mas a verdade é que eles existem para que os estudiosos de diferentes temas consigam identificar padrões de comportamentos e mudanças sociais relevantes.

No caso dos baby boomers, como são chamados os nascidos entre 1946 e 1964, já há um distanciamento histórico suficiente para cravá-los como a geração que testemunhou mais revoluções. O nome, inclusive, se dá pelo aumento de natalidade (um boom de bebês) pós-guerra, o maior do século 20. Havia um clima otimista no ar, de superação e recomeço, além de uma calmaria importante no cenário político, que ansiava por uma calma. 

Hoje, essa horda de pessoas que ressignificaram o conceito de juventude e abriram alas para as revoluções e liberdades hippies que viriam em seguida, são avôs e avós. E, mais especificamente sobre as mulheres: o que querem elas que não seguem mais o estereótipo de vovós que fazem crochês e vivem pelos seus netos?

Vovós modernas


Pílula anticoncepcional, minissaia, direito ao voto e ao divórcio, maior inserção no mercado de trabalho: essas são só algumas das emancipações vivenciadas pelas baby boomers, que testemunharam o movimento feminista se consolidar e as discussões acerca de gênero e liberdade ganharem forma e força. 

Tantas décadas depois, essas mulheres se tornaram hoje avós. Hoje, aliás, temos mais avós do que netos segundo o estudo Tsunami 60+. Estima-se que em 2030 teremos mais idosos do que pessoas com até 14 anos, para se ter uma ideia. E, ao tentar definir quem é e o que quer esse público, velhos mitos e preconceitos são derrubados em uma rápida conversa. 

“Sim, elas se sentem bem física e mentalmente. Sim, elas se movimentam pela cidade, trabalham, namoram. E não, a relação delas com a tecnologia não é tão ruim quanto se pensa”, escrevem as criadoras do estudo, Layla Valias, Lívia Hollerbach e Mariana Fonseca. 

Ainda segundo o mesmo levantamento, 62% dos brasileiros com mais de 55 anos dizem "Minha saúde mental e física está bem". A sensação de estar bem física e mentalmente independe da classe social. Além disso, 59% das pessoas entre 55 e 64 anos afirmam: "Minha rotina na semana é bem intensa, com muitas atividades fora de casa." 

Reflexo disso é que 63% das pessoas com mais de 60 anos são provedoras da família, 86% das pessoas acima dos 55 anos vivem com sua própria renda e 93% das pessoas acima dos 75 também. Ou seja, há uma movimentação não só em prol do lazer, mas também criativa e do ofício. 

Elas namoram, fazem sexo, jogam videogame e estão muito mais por dentro da tecnologia do que se pode imaginar, como continua a pesquisa. Nas redes sociais, a presença já é consolidada. Mas fora das telas, a longevidade também já é uma realidade que veio para ficar.

A diferença no criar


Neste artigo, falamos um pouco sobre a diferença na criação dos filhos de ontem e os de hoje. Mas, mais do que como elas criaram seus filhos no passado, queremos saber como essas avós são hoje. Conhecemos alguns dados importantes sobre essa população prateada, mas também fomos conversar com avós consideradas “modernas”. 

Neste Plenae Entrevista, conversamos com duas influenciadoras digitais que são o reflexo dessa modernidade. Também já conversamos com Helena Schargel, modelo da maturidade, além de um Plenae Drop com as Avós da Razão. Mas, novamente, fomos conhecer mais exemplos de avós modernas, dessa vez, com foco em seus papéis e qual a diferença entre elas e suas próprias avós. Conheça a seguir o que elas têm a dizer.

“Fui pega de surpresa aos 45 anos quando minha filha adolescente me comunicou que eu seria avó. No início, a única coisa que conseguia fazer era chorar, pois sabia as dificuldades que teríamos que enfrentar. Mas tudo passou quando ouvi pela primeira vez os batimentos do coraçãozinho da minha neta. As diferenças entre eu e minha avó são muitas, começando pelo tratamento, pois eu tinha que chamá-la de senhora e não tinha abertura para dialogar abertamente da maneira que eu e minha neta fazemos hoje. Acredito que a oportunidade de trabalhar fora e ter contato com diversas pessoas, inclusive muitos jovens, me ajudou a ter mais flexibilidade nessa relação. Além disso, o contexto histórico também influencia muito”. 



“Não sei bem explicar o motivo, mas eu tinha um pressentimento que minha filha mais velha estaria grávida. Quando veio a notícia oficial, foi um misto de alegria e de apreensão, mas não foi totalmente uma surpresa. Sou muito apaixonada pela maternidade e por bebês e sempre tive muita vontade de ser avó. A minha foi meu anjo da guarda durante toda sua existência, mas por mais próxima fisicamente que ela tentou ser, ela vivia em um mundo só dela, que eu considerava impenetrável. O amor nos unia, mas não falávamos a mesma língua. Hoje, eu procuro ser amiga dos meus netos e me inserir no mundo deles, ser participativa, conhecer os amigos, sair juntos, saber o que está acontecendo na escola. Curto músicas, filmes, jogos, entre outras coisas que fazem parte do universo deles. Também gosto de cozinhar para eles como minha avó fazia, claro, mas nossa relação não se resume a só isso. A questão é que não me sinto uma idosinha, vovozinha que deve ficar em casa em uma vida muito limitada. Sou ativa e quero mais. Ensino eles a nunca ter preconceito, sempre ter empatia e, acima de tudo, curtir muito a vida.” 



“Minha neta nasceu em 2006, quando meu filho tinha 18 anos. Foi um susto, porém ela foi muito bem-vinda e hoje é uma linda jovem. Me considero moderna porque vivo de uma forma livre e intensa. Viajo bastante e sou independente. Comparando com minhas avós, sou fisicamente mais saudável e com uma aparência mais jovial. Do que me lembro de aparência, com minha idade (65 anos), minha avó paterna era uma velhinha de trança num coque e a materna, minhas lembranças são de uma velhinha ranzinza fazendo pãezinhos para receber os netos. Acredito que fora o progresso social dos últimos anos, um grau de escolaridade melhor e a experiência em ser mãe foram determinantes para um relacionamento mais leve com minha neta. Ensino sempre ela a viver a vida de uma forma saudável, respeitando a família e o mundo embasada nos valores morais e éticos.”


“Quando eu soube, no primeiro momento, minha filha era jovem e eu fiquei assustada, com medo que ela não concluísse a faculdade. Depois que nasceu, foi uma aproximação encantadora. A diferença gritante entre eu e minha avó se dá principalmente em relação a independência financeira, profissão, carreira. Nossos valores também, é inevitável que a minha avó tivesse percepções da vida muito mais centradas em ser do lar. Mas em contrapartida ela tinha habilidades que eu não tinha, ela pintava, costurava, eu não sei fazer nada disso. Eu me questiono se sou uma avó moderna, o que é ser uma. O que eu acho é que sou uma referência diferente pra minha neta, tanto eu quanto a avó paterna dela. Nós duas temos o mesmo perfil, temos mais ou menos a mesma idade e uma relação intensa com o trabalho. Com isso, minha neta entende se falamos que temos que trabalhar, por exemplo, e que não dá pra brincar agora. Ela também cresce em um ambiente de maior liderança feminina, nós ditamos mais os rumos do nosso lar do que os maridos. Inclusive, eu me separei recentemente e a minha neta me questionou sobre isso, teve dificuldade de entender por ser uma criança na primeira infância, mas esse vai ser um referencial diferente no futuro dela. O contexto social e até a criação dos eletrodomésticos, tudo isso e coisas que a gente não imagina contribuíram para nossa liberdade. Hoje eu ensino para ela o que a minha avó não podia me ensinar, que é o valor do trabalho. E escuto ela falar que quer estudar tudo, quer aprender tudo e fazer muitas faculdades. Ao mesmo tempo, indiretamente nós ensinamos a importância também do cuidado da família, porque somos todos muito unidos e ela vê isso na prática. Isso era algo que a minha avó fazia e eu continuei fazendo”. 



Agora, nos resta esperar para descobrir como será a próxima geração de avós, essas que também participaram ativamente da história do mundo, dessa vez com mais direitos adquiridos e muita vontade de fazer. O futuro será otimista e feminista!

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