Fundo no assunto Um pouco de anatomiaO cérebro é, sem dúvida, um órgão fascinante e compreendê-lo segue sendo um dos grandes desafios da ciência. Segundo a Dra. Lara Boyd, neurocientista da Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá, até aproximadamente 1980 ainda se acreditava que o Sistema Nervoso Central, após a puberdade, tornava-se uma estrutura rígida e que as únicas mudanças que ocorreriam no cérebro a partir daí seriam negativas: a perda de células cerebrais devido ao avanço da idade ou lesões causadas por um AVC, por exemplo.
Atualmente, estudos mostram que mesmo o cérebro adulto tem uma incrível capacidade de se reorganizar e modificar algumas de suas propriedades estruturais e funcionais em resposta às experiências de vida. Ele é um órgão extremamente dinâmico e essa plasticidade permite não só a criação de novos neurônios (conhecido como neurogênese) e o estabelecimento de novas conexões entre eles, como também uma mudança de volume de certas regiões do cérebro segundo o estímulo que recebe.
Um exemplo disso é um famoso estudo da Universidade de Londres com taxistas, que devem memorizar o mapa da cidade para poderem tirar a licença. Pesquisadores descobriram mudanças físicas no hipocampo, relacionado à memória, nesses motoristas, com um crescimento significativo desta região do cérebro naqueles que dirigiam há mais tempo.
Para entender melhor a neuroplasticidade e como ela funciona, precisamos compreender um pouco mais sobre os neurônios. Sabemos hoje que a chave da nossa mente é a conectividade entre eles e a geometria de seus circuitos. Um neurônio é uma célula altamente especializada que recebe, processa e transmite sinais químicos e elétricos para outros neurônios.
Ele é composto de três partes: os dendritos, a parte que recebe esses sinais; o corpo celular, a parte que processa a informação recebida; e o axônio, a parte que transmite este sinal para o próximo neurônio. Quando dois neurônios se conectam, ocorre uma sinapse entre eles, que utiliza uma série de moléculas químicas conhecidas como neurotransmissores. Agora que você sabe o básico dessa anatomia, entenderá os diferentes níveis de mudança que a plasticidade cerebral acontece.
Aqui, a neuroplasticidade ocorre no aumento ou diminuição da concentração dos neurotransmissores responsáveis pelas sinapses. Os neurotransmissores funcionam como um tipo de “lista do que fazer”, e entre os mais conhecidos estão a adrenalina, relacionada a comportamentos de luta e fuga; a serotonina, associada ao bom humor e o bem estar; a dopamina, ligada ao prazer; o glutamato, relacionado com a memória e aprendizagem, entre outros.
Como essa mudança pode ocorrer rapidamente, ela está associada à memória de curto prazo ou uma melhoria momentânea no desempenho de uma atividade motora. Por exemplo, se você praticar por um dia uma determinada habilidade, sentirá um avanço no final do dia, significando um aumento nas sinapses relacionadas àquela informação, mas caso você pare por aí, rapidamente irá perder este aprendizado.
A neuroplasticidade no nível estrutural envolve o desenvolvimento de novos neurônios e a criação de novas conexões entre eles. Ao mesmo tempo, os axônios, responsáveis por transmitir a informação, são envolvidos por uma camada protetora de gordura chamada mielina que aumenta de espessura a partir da repetição de determinada atividade, tornando as conexões mais fortes e rápidas, gerando uma mudança na estrutura física do cérebro. Esse tipo de mudança leva mais tempo e está ligada à memória de longo prazo.
As rotas neurais fortalecidas levam a ativação de determinadas regiões do cérebro. Cada região está ligada a uma série de funções, como a coordenação motora, os sentidos, o aprendizado, a linguagem e mais. Estudos mostram que, quanto mais você acessa uma determinada região, não só fica cada vez mais estimulante e fácil acessá-la novamente, como ocorre um aumento físico dela, aumentando o número de neurônios disponíveis e sua conectividade.
Hoje já se sabe que todos os nossos comportamentos são importantes, pois cada um deles está modificando e moldando nosso cérebro. Cada pensamento, ação ou experiência no ambiente que te rodeia está criando um determinado tipo de conexão entre os neurônios. Ao mesmo tempo, rotas neurais bem estabelecidas geram pensamentos, emoções e condutas: é uma via de mão dupla.
Nosso cérebro é uma máquina de criar padrões. Isso porque nossa atenção é limitada e o cérebro precisa dar conta de múltiplas tarefas simultaneamente. Para ganhar eficiência, ele usa a estratégia de padronizar ações e comportamentos para que se tornem automáticos e gastem menos energia. Por isso, a neuroplasticidade ocorre tanto no sentido de aumentar e estabelecer novas conexões, mas também de enfraquecer aquelas que não estão sendo utilizadas. O cérebro está mudando constantemente a partir das coisas que você faz, mas também pelas coisas que você não faz.
Kristen Meisenheimer, professora e pesquisadora de neuroquímica da Universidade Politécnica Estadual da Califórnia, explica em seu Ted Talk o impacto do estresse crônico na plasticidade cerebral, e por fim, no nosso bem-estar. Existem 3 regiões no cérebro associadas à ansiedade e à depressão, o córtex pré-frontal, responsável pelas tomadas de decisão, o hipocampo, associado à memória e a amígdala, ligada especialmente às emoções de medo e ansiedade. |
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