Cérebro plástico
O que você vai encontrar por aqui: 
  • O que é a neuroplasticidade
  • Os diferentes níveis de mudança
  • Como o estresse modifica seu cérebro
  • O poder da meditação na neuroplasticidade
  • Como aumentar sua plasticidade cerebral
Boa leitura! 
Como anda sua saúde mental? Você tem sofrido de ansiedade ultimamente? Ou pior, tem percebido a depressão bater em sua porta? 

Já em 2019, o Brasil era o país com o maior índice de casos de transtorno de ansiedade no mundo, com mais de 18 milhões de pessoas sofrendo deste mal, e o quarto colocado em casos de depressão, segundo a OMS. Após dois anos de pandemia e com as mais recentes notícias dos conflitos na Ucrânia, é possível que você se sinta como um possível candidato a entrar para estas estatísticas. Reconhecemos: não está nada fácil. 

Ainda se compararmos os males que acometiam a humanidade no passado com o momento atual, podemos observar uma transição significativa de doenças do corpo para as doenças da mente. De crianças à adultos, as síndromes e transtornos psicológicos estão aumentando de forma assustadora. São muitas as razões para que isso esteja acontecendo e precisamos estar atentos aos sinais, buscando ajuda o quanto antes. Por outro lado, os avanços nos estudos sobre o funcionamento do cérebro nos dão esperanças de que algumas respostas podem estar mais perto do que imaginávamos. 

Existe um conceito chave na neurociência com o potencial de transformar a saúde mental das pessoas: a neuroplasticidade. Ela se refere a incrível capacidade do nosso cérebro de se reprogramar e criar novas conexões neurais a partir dos nossos pensamentos, estilo de vida e o ambiente que nos rodeia. A princípio, os estudos sobre a plasticidade cerebral focaram em casos de lesões físicas em determinadas regiões desse órgão, com achados interessantíssimos. Recentemente, mais e mais estudos mostram que todos nós podemos nos beneficiar - e muito! - não só deste conhecimento, como de sua aplicação prática. 

Assim, acreditamos que vale a pena entender um pouco mais sobre como nosso cérebro funciona e sua imensa capacidade de se moldar a cada instante. Queremos com isso ajudar você a fazer escolhas que possam criar circuitos neurais que atuem a seu favor, trazendo muita saúde e bem-estar para sua vida. 

 
Fundo no assunto
Um pouco de anatomia


O cérebro é, sem dúvida, um órgão fascinante e compreendê-lo segue sendo um dos grandes desafios da ciência. Segundo a Dra. Lara Boyd, neurocientista da Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá, até aproximadamente 1980 ainda se acreditava que o Sistema Nervoso Central, após a puberdade, tornava-se uma estrutura rígida e que as únicas mudanças que ocorreriam no cérebro a partir daí seriam negativas: a perda de células cerebrais devido ao avanço da idade ou lesões causadas por um AVC, por exemplo.  

Atualmente, estudos mostram que mesmo o cérebro adulto tem uma incrível capacidade de se reorganizar e modificar algumas de suas propriedades estruturais e funcionais em resposta às experiências de vida. Ele é um órgão extremamente dinâmico e essa plasticidade permite não só a criação de novos neurônios (conhecido como neurogênese) e  o estabelecimento de novas conexões entre eles, como também uma mudança de volume de certas regiões do cérebro segundo o estímulo que recebe. 

Um exemplo disso é um famoso estudo da Universidade de Londres com taxistas, que devem memorizar o mapa da cidade para poderem tirar a licença. Pesquisadores descobriram mudanças físicas no hipocampo, relacionado à memória, nesses motoristas, com um crescimento significativo desta região do cérebro naqueles que dirigiam há mais tempo. 

Para entender melhor a neuroplasticidade e como ela funciona, precisamos compreender um pouco mais sobre os neurônios. Sabemos hoje que a chave da nossa mente é a conectividade entre eles e a geometria de seus circuitos. Um neurônio é uma célula altamente especializada que recebe, processa e transmite sinais químicos e elétricos para outros neurônios. 

Ele é composto de três partes: os dendritos, a parte que recebe esses sinais; o corpo celular, a parte que processa a informação recebida; e o axônio, a parte que transmite este sinal para o próximo neurônio. Quando dois neurônios se conectam, ocorre uma sinapse entre eles, que utiliza uma série de moléculas químicas conhecidas como neurotransmissores. Agora que você sabe o básico dessa anatomia, entenderá os diferentes níveis de mudança que a plasticidade cerebral acontece. 


Aqui, a neuroplasticidade ocorre no aumento ou diminuição da concentração dos neurotransmissores responsáveis pelas sinapses. Os neurotransmissores funcionam como um tipo de “lista do que fazer”, e entre os mais conhecidos estão a adrenalina, relacionada a comportamentos de luta e fuga; a serotonina, associada ao bom humor e o bem estar; a dopamina, ligada ao prazer; o glutamato, relacionado com a memória e aprendizagem, entre outros. 

Como essa mudança pode ocorrer rapidamente, ela está associada à memória de curto prazo ou uma melhoria momentânea no desempenho de uma atividade motora. Por exemplo, se você praticar por um dia uma determinada habilidade, sentirá um avanço no final do dia, significando um aumento nas sinapses relacionadas àquela informação, mas caso você pare por aí, rapidamente irá perder este aprendizado. 


A neuroplasticidade no nível estrutural envolve o desenvolvimento de novos neurônios e a criação de novas conexões entre eles. Ao mesmo tempo, os axônios, responsáveis por transmitir a informação, são envolvidos por uma camada protetora de gordura chamada mielina que aumenta de espessura a partir da repetição de determinada atividade, tornando as conexões mais fortes e rápidas, gerando uma mudança na estrutura física do cérebro. Esse tipo de mudança leva mais tempo e está ligada à memória de longo prazo.


As rotas neurais fortalecidas levam a ativação de determinadas regiões do cérebro. Cada região está ligada a uma série de funções, como a coordenação motora, os sentidos, o aprendizado, a linguagem e mais. Estudos mostram que, quanto mais você acessa uma determinada região, não só fica cada vez mais estimulante e fácil acessá-la novamente, como ocorre um aumento físico dela, aumentando o número de neurônios disponíveis e sua conectividade. 

Hoje já se sabe que todos os nossos comportamentos são importantes, pois cada um deles está modificando e moldando nosso cérebro. Cada pensamento, ação ou experiência no ambiente que te rodeia está criando um determinado tipo de conexão entre os neurônios. Ao mesmo tempo, rotas neurais bem estabelecidas geram pensamentos, emoções e condutas: é uma via de mão dupla. 

Nosso cérebro é uma máquina de criar padrões. Isso porque nossa atenção é limitada e o cérebro precisa dar conta de múltiplas tarefas simultaneamente. Para ganhar eficiência, ele usa a estratégia de padronizar ações e comportamentos para que se tornem automáticos e gastem menos energia. Por isso, a neuroplasticidade ocorre tanto no sentido de aumentar e estabelecer novas conexões, mas também de enfraquecer aquelas que não estão sendo utilizadas. O cérebro está mudando constantemente a partir das coisas que você faz, mas também pelas coisas que você não faz. 

Kristen Meisenheimer, professora e pesquisadora de neuroquímica da Universidade Politécnica Estadual da Califórnia, explica em seu Ted Talk o impacto do estresse crônico na plasticidade cerebral, e por fim, no nosso bem-estar. Existem 3 regiões no cérebro associadas à ansiedade e à depressão, o córtex pré-frontal, responsável pelas tomadas de decisão, o hipocampo, associado à memória e a amígdala, ligada especialmente às emoções de medo e ansiedade.
O que estudos têm mostrado é que os neurônios presentes nestas regiões são altamente plásticos quando expostos ao estresse prolongado, porém seu comportamento ocorre de forma oposta. Nas regiões do hipocampo e do córtex pré-frontal observou-se um encurtamento dos dendritos nos neurônios, reduzindo conexões e enfraquecendo a comunicação entre eles. Ao mesmo tempo, na região da amígdala, os neurônios respondem ao estresse expandindo seus dendritos, aumentando e fortalecendo a conexão entre eles. 

Essas mudanças estruturais podem levar ao desenvolvimento de depressão, ansiedade e outros transtornos psicológicos, já que a pessoa perde sinapses importantes associadas à tomada de decisão, a coordenação e a memória, ficando literalmente presa em uma rota neural de pensamentos, sentimentos e comportamentos negativos. A longo prazo, observa-se inclusive uma perda de volume do hipocampo, área do cérebro onde acontece a neurogênese, potencializando o desenvolvimento de Alzheimer e Parkinson. 

Sabemos que é impossível não sentir estresse, pois são muitas as situações que nos tiram do eixo. Aprender a reconhecer os sinais de que você está estressado é o primeiro passo para mudar a direção, como explicamos nesta matéria. Ao mesmo tempo, encarar os pequenos estresses como aliados pode te ajudar a mudar totalmente como seu corpo reage ao estresse.  
O que dizem por aí
Trocando a medicação pela meditação



          

Agora que você conhece um pouco mais sobre como seu cérebro funciona, talvez fique mais fácil entender os benefícios de tantas estratégias para gerar bem-estar difundidos em nosso portal. Cada uma delas, sem dúvidas, está modificando seu cérebro e criando caminhos neurais mais positivos. Para resultados duradouros e profundos, a repetição é a chave.

Dentre todas, vale destacar o inegável poder da meditação. Como explicamos nesta matéria, estudos com meditadores experientes mostraram um aumento da massa cinzenta em várias regiões do cérebro, especialmente no córtex frontal e no hipocampo, exatamente as regiões afetadas pelo estresse!

Um achado importante em meio aos inúmeros estudos científicos sobre o efeito da meditação no cérebro, é que a prática funciona como um antídoto contra o envelhecimento cognitivo, já que ao ativar o hipocampo, a meditação estimula a neurogênese, criando mais neurônios e trazendo, a um meditador de 50 anos de idade por exemplo, a capacidade cognitiva de um jovem de 25 anos. 

Certamente você já ouviu muito sobre os benefícios da meditação para nossa saúde física e mental, afinal, ela é uma prática milenar que se popularizou no ocidente com o mindfulness, versão laica e adaptada à rotina contemporânea. Hoje existem diversos aplicativos, podcasts, acessórios, cursos e, inclusive, práticas variadas para todos os gostos (já ouviu falar do shaking meditation ou da meditação transcendental que te contamos aqui?). 

Seja qual for o caminho escolhido, para que a meditação alcance os efeitos desejados, é preciso enxergá-la não como um band-aid para a ansiedade, mas sim como um estilo de vida que poderá, de fato, trazer mudanças significativas a partir da prática, ainda que seja por 10 minutinhos, e agora você já sabe o porquê. Que tal colocar em prática esses três passos que te ensinamos para tornar a prática diária?

 
A beleza de ser um eterno aprendiz

    

Novos aprendizados podem mudar redes inteiras de conexões entre neurônios. Segundo Sara Boyd, quanto mais desafiador for o processo, maior as mudanças estruturais em seu cérebro. Por isso, o conceito de lifelong learning tem sido cada vez mais difundido como receita para qualidade de vida. Ao aumentar as conexões neurais aprendendo uma nova habilidade, você também aumenta sua resiliência, já que oferece ao seu cérebro novos caminhos por onde percorrer para lidar com os desafios da vida. 

Mas fique tranquilo! Te ensinamos aqui como melhorar a sua aprendizagem em alguns passos, caso seja essa a sua dificuldade. O importante é se manter aluno por toda a vida! Além do aprendizado contínuo, deixamos aqui 3 outras dicas para aumentar sua plasticidade cerebral:

Quer saber mais? Separamos alguns conteúdos que podem te ajudar
a fazer um mergulho ainda mais profundo, não deixe de conferir!