Comprar, comprar, comprar!
O que você vai encontrar por aqui: 
  • Qual a diferença entre consumo e consumismo?
  • O que é a sociedade de consumo?
  • Quem foi Edward Bernays?
  • Como se dá a produção do desejo?
  • O que é obsolescência programada?
  • Iniciativas de consumo responsável.
  • 12 princípios do consumo consciente.
Boa leitura! 
Você já sentiu vontade de comprar algo sem nem saber exatamente o porquê? Já comprou totalmente por impulso e depois se arrependeu? Saiba que você não está só e existe uma razão que te leva a consumir sem uma necessidade aparente. Vivemos a era da sociedade do consumo, o que significa que somos estimulados incessantemente a comprar e, muitas vezes, levados pelo desejo de encontrar uma felicidade que nunca chega. 

Os objetos estão carregados de valor simbólico e não à toa. A associação de produtos e serviços aos nossos desejos mais íntimos foi uma estratégia muito bem articulada pelo mercado para vender cada dia mais. Assim, muitas vezes consumimos para construir uma identidade própria, para aplacar a ansiedade, por tédio ou para mostrar um status social, tudo menos por necessidade. O problema é que, não só é impossível saciar muitos de nossos desejos a partir de um objeto, como essa cultura do consumismo tem papel central na exploração maciça de recursos naturais e suas consequências negativas no planeta. 

Acreditamos que vale a pena entender um pouco mais sobre o ato de consumir e como podemos torná-lo uma importante ferramenta na busca de um mundo melhor. Nosso bem-estar está intimamente ligado ao nosso contexto, portanto, ser responsável e consciente contribui para a construção de um entorno mais saudável, o que afeta diretamente nossa qualidade de vida.
Fundo no assunto
A produção do desejo


Já de início precisamos fazer uma diferenciação do que é consumo e o que é consumismo. Consumo é o ato de utilizar um produto ou serviço para satisfazer uma necessidade individual ou coletiva. Desta maneira, a ação de comer, se vestir e até mesmo o lazer, são atos de consumo. 
 
O consumismo, por outro lado, é uma ideologia que serve a dois propósitos: um deles é dar vazão aos produtos e fazer com que as empresas vendam mais e o outro é criar uma confusão nas pessoas entre o ser e o ter, ou seja, bem-estar e qualidade de vida ficam atrelados ao possuir bens materiais, algo que também foi abordado no tema da vez sobre prosperidade. 
 
Ele também está ligado especialmente ao ato de consumir produtos não essenciais e tem suas raízes na revolução industrial, que aumentou significativamente a oferta de produtos na sociedade, mas teve sua ascensão na década de cinquenta, com a emergência do American way of life - o estilo de vida norte americano. 
 
Uma figura pouco falada nos dias atuais, mas que teve forte influência na transformação dos hábitos de consumo da sociedade, é Edward Bernays, sobrinho de Sigmund Freud e conselheiro de relações públicas (cargo que ele mesmo inventou) para o governo norte americano na década de vinte. Bernays utilizou os conhecimentos que tinha sobre os estudos de Freud e a psique humana para controlar as massas através do marketing. 
 
Segundo o documentário “O Século do Ego”, ele utilizou, em especial, a ideia de que existem forças irracionais dentro de um indivíduo que influenciam seu comportamento e a tomada de decisões, desenvolvendo uma série de estratégias que buscava tocar as emoções e desejos das pessoas, estimulando-as a adquirir produtos que normalmente não o fariam.  

                
 
Um de seus experimentos mais dramáticos e famosos foi persuadir as mulheres a fumarem. Naquele momento, havia um tabu contra mulheres que fumavam em público e, assim, a indústria do tabaco perdia metade do mercado. Eles queriam que Bernays quebrasse este tabu para aumentar suas vendas. 
 
Utilizando os estudos da psicanálise, ele descobriu que o cigarro simbolizava o poder do sexo masculino, representando status, independência e liberdade.  Assim, desenvolveu uma campanha direcionada para as mulheres associando o ato de fumar com a identidade de uma mulher forte, livre e que desafiava o machismo. Sua estratégia não só foi um sucesso como persiste até hoje. 
 
Relacionar um objeto a uma característica da personalidade humana, aos nossos desejos emocionais e sentimentos, foi a grande chave para que as pessoas passassem a comprar para suprir determinadas carências ou simplesmente mostrar à sociedade um aspecto de sua personalidade. Carros passam a ser vendidos como símbolos de poder e status social. A indústria da moda passa a fazer discursos sobre a psicologia do vestir, relacionando roupas e acessórios com a expressão da personalidade.
 
De fato, a indústria do vestuário é considerada um dos segmentos mais bem-sucedidos em nos convencer a comprar coisas que não precisamos, em criar desejo. Antigamente, uma loja lançava duas coleções ao ano. Hoje, algumas chegam a lançar até 52 coleções, ou seja, uma por semana. As chamadas fast fashion, ou modas rápidas, não só incentivam as mulheres a comprar a todo tempo por meio da produção do desejo, mas buscam também oferecer produtos a preços irresistíveis, reduzindo o custo de produção a partir de relações de trabalho desumanas. 

O documentário “The True Cost” (O verdadeiro custo) busca mostrar os impactos socioambientais que o consumo exagerado de roupas tem causado no mundo. Neste sentido, e em especial após o desastre do Rana Plaza, em Bangladesh, muitos movimentos surgiram em busca de uma maior consciência no vestir, como é o caso da fashion revolution.
Além da criação do desejo, outra estratégia para aumentar o consumo na sociedade foi criar produtos que ou deixassem de funcionar, ou tivessem seu design ultrapassado após um determinado período de tempo, conhecido como obsolescência programada. O objetivo aqui é manter a economia crescendo a partir do consumo mais frequente de um mesmo objeto. 
 
Seja pela impossibilidade do conserto, seja pelo sentimento de estar “fora de moda”, a obsolescência programada deu início à cultura do comprar-usar-descartar, gerando um impacto ambiental significativo com a crescente produção de lixo no mundo. Segundo Ednilson Viana, professor da USP e membro do Conselho de Curso de Gestão Ambiental, a crise do lixo pode ser a próxima em foco após a crise hídrica no Brasil.
 
Com a questão ambiental cada dia mais urgente, um conceito agora comum é o da pegada ecológica. Trata-se de uma metodologia de mensuração ambiental que avalia a pressão do consumo humano sobre os recursos naturais. Ela é expressa por hectares de áreas produtivas de terra e mar necessárias para gerar produtos, bens e serviços que sustentem um determinado estilo de vida, seja de uma pessoa, uma cidade ou país. 
 
Segundo o relatório Planeta Vivo, produzido pela WWF que mede o impacto da atividade humana sobre o planeta, a demanda atual da humanidade por recursos naturais é 50% maior do que a natureza é capaz de renovar. Ou seja, seria necessário um planeta e meio para produzir os recursos necessários para suprir nosso consumo global. As estimativas para 2030 mostram que se não mudarmos nossos hábitos, nem dois planetas serão suficientes. 
O que dizem por aí
O consumo como ato político


            
 
Ainda que sigamos fortemente influenciados pelo mercado e suas manobras para estimular o consumo, nunca se falou tanto em consumo consciente e responsável como nos últimos tempos. Muitas pessoas começam a entender o poder de suas escolhas e incorporam considerações éticas a seu consumo. Assim, buscam por empreendimentos e marcas que adotem o cuidado ambiental e social em suas práticas, como nos contou Luciana Giannella e Eva Bichucher, sócio-fundadoras da It Brands, nesta entrevista

Além do consumo com propósito, um movimento que voltou com força, especialmente durante a pandemia, e que aborda a necessidade da redução do consumo, é o "faça você mesmo”, do inglês DIY, “do it yourself”. De roupas a móveis, os trabalhos manuais vieram resgatar as agulhas, as máquinas de costura e as ferramentas, mostrando que é possível não só frear esse impulso por comprar algo novo, como transformar estes momentos em algo extremamente terapêutico

Ao mesmo tempo, o "direito de consertar” é um movimento que tem lutado pela implementação de leis que garantam opções de conserto de eletrônicos aos consumidores. Apesar deste movimento ter mais força nos Estados Unidos e na Europa, surgem no Brasil algumas iniciativas como o "Café Reparo”, que reúne “consertadores” voluntários em eventos de disseminação da cultura hacker. 

Na alimentação, o surgimento dos “Grupos de Consumo Responsável” mostram uma nova tendência de consumidores preocupados com os impactos que a agricultura industrial tem causado no âmbito social e ambiental e que priorizam a produção local, familiar e agroecológica. 

Instituto Kairós  fez um mapeamento de iniciativas que buscam criar novas relações de consumo com o alimento, incluindo, além dos grupos de consumo responsável, as feiras agroecológicas, restaurantes que utilizam ingredientes orgânicos e coletivos de agricultura urbana e agroecologia, totalizando mais de 2500 iniciativas no Portal do Consumo Responsável
Consumir de forma responsável e consciente

            
               
Nossas escolhas de consumo estabelecem uma troca contínua com o mundo e por meio delas apoiamos ou não um determinado modelo de mundo. Isso não significa deixar de consumir, mas fazê-lo melhor, sem excessos, entendendo que os produtos e serviços estão ligados a um contexto maior de ciclo de produção. 
 
Conhecer sobre as cadeias produtivas daquilo que consumimos nos motivará a escolher produtos de empresas que se orientem pela ética do cuidado, contribuindo para a criação de um entorno mais saudável para nós mesmos, para nossa comunidade e para o planeta. Pensando nisso, deixamos aqui 12 princípios desenvolvidos pela Akatu, uma organização que tem como missão a sensibilização, mobilização e engajamento da sociedade para o consumo responsável:  

    
Quer saber mais? Separamos alguns conteúdos que podem te ajudar
a fazer um mergulho ainda mais profundo, não deixe de conferir!