O que você vai encontrar por aqui: 
  • O que é ecoansiedade 
  • Quem mais sofre com isso 
  • Como manter a saúde mental diante do calorzão 
  • Dicas de como ajudar a conter o aquecimento global
Você já se sentiu ansioso com relação às mudanças climáticas? As intensas ondas de calor que vivenciamos no ano passado, e as que estão previstas para continuar ao longo deste ano, com certeza deixaram todo mundo, no mínimo, preocupado. Ainda, presenciamos enchentes catastróficas, seca severa nunca vista na Amazônia, frio extremo no sul do país, o que não deixa dúvidas de que já estamos sentindo as consequências do aquecimento global alertado há décadas pelos cientistas. 

Diante da crise climática cada vez mais presente, crescem os casos de pessoas sofrendo de um tipo específico de desconforto mental: a ecoansiedade. O termo, que já aparece na literatura desde a década de 1990 e foi incorporado no dicionário da Oxford, é definido pela Associação Americana de Psicologia como “o medo crônico de sofrer um cataclismo ambiental que ocorre ao observar o impacto das mudanças climáticas, gerando uma preocupação associada ao futuro de si mesmo e das gerações futuras”.  
Embora ainda não seja formalmente considerada uma doença diagnosticável, o reconhecimento da ansiedade climática e suas consequências psicológicas têm aumentado nos últimos anos, assim como seu impacto desproporcional em crianças e jovens e nas comunidades mais vulneráveis.  

Mas se por um lado a ansiedade gerada pela crise ambiental cobra seu preço na saúde mental de milhares de pessoas, podendo agravar-se a ponto de levar a depressão e outros transtornos mentais, por outro, pode ser um potente motivador de ação pela preservação do planeta. Para alguns psicólogos, o combate à ansiedade climática e o combate à crise climática estão intrinsecamente ligados, pois ambos pedem ação em prol da regeneração do planeta. 

Assim, acreditamos que vale a pena entender um pouco mais sobre os sentimentos e emoções que permeiam as preocupações com o futuro da Terra, tanto para aprender a lidar de forma saudável com as angústias que possam aparecer, ampliando nossa resiliência frente as adversidades que certamente enfrentaremos juntos, como para transformá-las em catalizadores de mudança pelo bem comum. O contexto ao nosso redor é um importante pilar para nosso bem-estar e é preciso nos engajarmos em ações de cuidado com o mundo. Isso pode nos trazer a sensação de pertencimento, conexão e propósito que tanto almejamos para sermos felizes. 
Fundo no assunto
O que está acontecendo?
 
Apesar de vivermos um momento de muito negacionismo científico, a natureza não espera nossa tomada de consciência para mostrar os efeitos de nossas ações. Especialmente a partir da Revolução Industrial, nossa relação com o mundo mudou significativamente – e infelizmente, para pior. De forma bastante simplista, extrapolamos a capacidade de regeneração do planeta, tanto no que tange repor o que tiramos, como em limpar o que sujamos. E essa afirmação dá início à crise ambiental que enfrentamos hoje.  

Não temos a intenção de nos aprofundar nas causas e consequências desta crise, já que o tema é complexo, extenso e merece um olhar cuidadoso. Mas vale entender, ainda que em linhas gerais, um dos pontos mais críticos de toda a questão ambiental: o aquecimento global.  Isso porque, se não fizermos nada para contê-lo, alcançaremos um ponto irreversível, causando um desequilíbrio na composição atmosférica de uma magnitude que pode tornar a Terra um lugar inabitável.  


James Hansen, climatologista da Nasa, explica neste Ted Talk  o tamanho do problema que já em 2012 atingia níveis preocupantes. Nossas emissões de gases de efeito estufa, em especial de CO2, derivados em grande parte da queima de combustíveis fósseis, está criando o que ele compara a um “cobertor extra” no planeta, gerando um desequilíbrio energético. Com isso, absorvemos e acumulamos mais calor, tendo como uma de suas consequências a alteração do ciclo da água em seus dois extremos. 
De um lado, há ondas de calor e secas prolongadas diretamente ligadas ao aquecimento do planeta. De outro, chuvas intensas e violentas devido a maior retenção de vapor de água em determinadas regiões. O que veremos daqui para a frente se aquecermos demais são fenômenos climáticos cada vez mais extremos, tornando o planeta um lugar ambientalmente hostil. 

Um novo relatório da Universidade de Exeter, Reino Unido, apresentado na última Conferência do Clima, a COP28, alertou que estamos em uma rota catastrófica, longe de atingir a meta do Acordo de Paris e de controlar o aquecimento global em 1,5ºC em relação às temperaturas pré-industriais até 2050. Com o fenômeno do El Niño que estamos vivenciando, estamos muito próximos de exceder este limite temporariamente, o que mostra que o aquecimento global está acelerando. O estudo destaca a necessidade crítica de eliminar combustíveis fósseis. Mas, quando se trata de transição energética, vemos poucas medidas realmente robustas e comprometidas serem adotadas por parte das nações que mais poluem.  
 

Diante de um futuro tão incerto e do descaso de lideranças em adotar medidas efetivas para mitigar o problema, cresce o número de pessoas que sofrem os impactos psicológicos desta emergência ambiental. A ansiedade ecológica, ou ecoansiedade, vem se mostrando potencialmente tão prejudicial quanto os danos físicos que os eventos climáticos extremos causam na população. Afinal, como colocou William Vieira em matéria para a revista Gama, “quando nos deparamos com prognósticos trágicos, tendemos a comportamentos extremos: ou ignoramos a realidade, fugindo da distopia anunciada; ou mergulhamos nela, consumindo informações compulsivamente, num vórtex de ansiedade”. 
Medo, frustração, impotência, desamparo, raiva, tristeza e culpa são alguns dos sentimentos recorrentes que podem desencadear sintomas clínicos relevantes como perda de apetite, distúrbios do sono, ruminação e irritabilidade. Em casos extremos pode levar a quadros mais graves como crises de pânico, depressão e até pensamentos suicidas, criando sérias barreiras à ação coletiva tanto para criar estratégias de resiliência e adaptação, como para mitigar o aumento do aquecimento global.  

Mas, vale ressaltar que a ansiedade decorrente das mudanças climáticas não deve ser vista como uma doença mental, de caráter individual, como outros transtornos de ansiedade por exemplo. Como colocou o psicólogo e pesquisador ambiental Marcos Ferreira, “não podemos colocar um rótulo que diz ‘essa pessoa não consegue ficar tranquila porque tem um problema, uma ansiedade que é dela’, quando, na verdade, nenhum de nós deveríamos estar tranquilos porque a degradação ambiental é real”. 


A ecoansiedade tem afetado vítimas em primeira mão de eventos climáticos traumáticos; pessoas cujo sustento ou modo de vida está ameaçado pelas mudanças climáticas; ativistas ambientais ou pessoas que trabalham nessa área; pessoas alimentadas com imagens do aquecimento global pela mídia de notícias; e pessoas propensas à ansiedade. Basicamente, todo mundo.  

Mas, um estudo publicado no The Lancet envolvendo 10 países, incluindo o Brasil, mostrou que ela tem crescido de forma desproporcional na população jovem quando comparado a outras faixas etárias. A pesquisa, que coletou entrevistas com mais de dez mil adolescentes e jovens adultos entre 16 e 25 anos, mostra que 84% estão moderadamente preocupados com as mudanças climáticas, e 59% estão muito ou extremamente preocupados. Segundo a psicóloga Elizabeth Marks, uma das autoras da pesquisa, "quando perguntamos para eles como veem o futuro das mudanças climáticas, eles descrevem um mundo cheio de oportunidades perdidas, assustador e inseguro”.  
                  


Sentimentos de abandono e traição por parte dos adultos e dos governos são comumente relatados e 83% disseram que acham que as pessoas não conseguiram cuidar do planeta. Segundo Caroline Hickman, que vem pesquisando há mais de 10 anos a percepção de crianças e adolescentes sobre as mudanças climáticas, o que ela mais ouviu deles foi: “não são os problemas ambientais que estão me assustando; sim, eles são perturbadores; o que realmente me assusta é a falta de ação do governo”.  

Isso tem dado lugar a um conflito geracional sobre as responsabilidades pelas mudanças climáticas, afetando inclusive a relação entre pais e filhos. "Eu já vi filhos que se recusam a falar com os pais porque estão tão magoados, com tanta raiva. Ou que falam: 'Por que vocês me tiveram sabendo que era esse o mundo em que eu ia nascer?'. Isso vem acontecendo. E vai crescer ainda mais" diz.  

Segundo a pesquisadora, as crianças são infinitamente mais informadas do que seus pais pensam, na maioria das vezes. Assim, é importante criar espaços de conversa sobre as questões ambientais, validar os sentimentos de preocupação e ansiedade (já que são reflexos de sua empatia com o planeta) e criar juntos estratégias para lidar com o tema. O livro “Mudanças climáticas para bebês”, de Chris Ferrie e Katherina Petrou, pode ser um ótimo recurso com os mais pequenos. 
O que dizem por aí
Como manter a sanidade mental no apocalipse


                         

Pois é, as notícias não são boas. O ano de 2023 foi considerado o mais quente da história e tudo indica que o calorzão não vai passar. Na verdade, é bem provável que ele se torne o novo normal e precisamos nos preparar para isso. O estresse térmico, fenômeno que ocorre quando as condições climáticas aumentam a temperatura corporal acima dos 36,5º, impacta não só nossa saúde física, com sintomas como desidratação, dores de cabeça, tontura, mal-estar e fadiga, mas nossa saúde mental também. Isso porque um dos seus efeitos é o aumento da produção de cortisol, hormônio relacionado ao estresse e ansiedade, o que pode ser mais um gatilho para a ecoansiedade.  

Com isso, precisamos nos preparar fisicamente, aumentando nossa ingestão de água, evitando a exposição ao sol em horários de pico, usando roupas adequadas e nos alimentando de forma leve. Mas também é preciso se preparar mentalmente e uma primeira ação nesse sentido é reconhecer e validar o que estamos sentindo. 

  


As emoções relacionadas a ecoansiedade podem ser avassaladoras, desconfortáveis e até paralisantes. Nesses casos, pode ser tentador querer "consertar", racionalizar ou enterrar suas emoções. Desenvolver autocompaixão pode ser um bom caminho e nessa entrevista, aprofundamos um pouco mais em como gerenciar melhor nossas emoções.  

Um segundo passo é estar mais em contato com a natureza. Já falamos muito em nosso portal sobre os benefícios dessa prática e estudos indicam que mesmo duas horas semanais já fazem toda a diferença. Está comprovado que uma caminhada na floresta, por exemplo, reduz os níveis de cortisol no organismo, além da experiência do conforto térmico que as árvores proporcionam, podendo reduzir a temperatura em até 12ºC em comparação a áreas não arborizadas.   


Alguns estudos indicam que a melhor forma de lidar com a ansiedade climática é, na verdade, se envolver com ações coletivas de combate as mudanças climáticas. Dados mostraram que a ecoansiedade estava associada a sintomas de depressão somente em alunos que não estavam envolvidos em ações coletivas. Segundo os pesquisadores, “trabalhar com outras pessoas para atingir metas ecológicas produtivas canaliza nossas preocupações de forma construtiva e é terapêutico também”. Isso porque aumenta sentimentos de empoderamento e apoio social, restaura um senso de controle, reduz sentimentos de desesperança e estimula outros a se engajarem também, criando conexão e propósito. 
                           


Sem dúvida, é possível dizer que este é o único lado positivo da ecoansiedade: quando ela desperta a reflexão sobre o que fazer em relação a crise ambiental e motiva a agir de acordo. E ainda que uma andorinha não faça verão, sociólogos descobriram que quando uma pessoa toma uma decisão rumo a sustentabilidade, outras pessoas também o fazem. Isso porque estamos constantemente avaliando as pessoas ao nosso redor, ajustando nossas crenças e ações de acordo com isso.  

E como as ações mais importantes para o combate a essa questão estão no âmbito político, é fundamental eleger pessoas que tenham essa pauta na agenda. Na hora de votar, busque candidatos que tenham projetos claros na área. Vale também juntar-se com mais pessoas para pressionar governantes e empresas a adotarem medidas de combate. 
Que possamos esperançar 

              
Sabemos que falar da crise ambiental não é algo que nos anime. Nosso cérebro é desenhado para nos afastar de tudo aquilo que nos machuca. É um mecanismo de defesa natural e importante e talvez por isso muitos evitem o assunto. Tampouco é saudável se tornar obcecado pela questão climática. Como vimos, pode despertar sentimentos tão avassaladores que talvez fique difícil lidar com eles, prejudicando nosso dia a dia.  

Acreditamos que o caminho seja encontrar um ponto de equilíbrio entre estar consciente do problema a ponto de motivar a adoção de hábitos saudáveis e ecológicos, e momentos de respiro que possibilitem encontrar beleza e gratidão pelos passos que já estamos dando em direção a regeneração de nosso planeta.  

Selecionamos aqui 5 dicas da ONU de como podemos contribuir para a mudança em nosso dia a dia, fazendo parte do grupo que já está se preparando para a transição energética. Sabemos que não será nossa ação individual que salvará o planeta, mas sem dúvida, cada ato positivo nessa direção é importante. Para ver a lista completa, acesse aqui



Acredite: se você mora nesse planeta, você é parte do problema, mas também da solução. Toda atitude importa! 


count-us-in.com/en
** unep.org/pt-br/noticias-e-reportagens/press-release/plantar-arvores-nunca-foi-tao-facil
Quer saber mais? Separamos alguns conteúdos que podem te ajudar
a fazer um mergulho ainda mais profundo, não deixe de conferir!

Podcast: Que clima é esse? – Canal Ipê



Documentário: Tomorrow – Prime