O que você vai encontrar por aqui: 
  • Porque temos dificuldades em lidar com mudanças 
  • Como atravessar a neblina da transição 
  • Três perguntas para nos orientar nesse momento 
  • Um saudoso “até logo”
Essa é uma edição especial do Tema da Vez. Ela vem para marcar o fim de uma longa aventura por mares profundos em que, a cada mês, mergulhamos juntos por temas que impactam nossas vidas, expandem nossa consciência e são capazes de nos tornar melhores versões de nós mesmos.  

Ao longo de mais de quarenta edições, atravessamos os vales da mente, revisitamos antigos conceitos e tabus, nos inspiramos com o novo e com o velho, repensamos a forma como nos relacionamos com nós mesmos, com o outro e com o mundo que nos cerca. 

Mas, como fomos ensinados desde a infância, tudo o que é vivo nasce, cresce, se desenvolve e chega ao seu fim. A vida é cíclica e marcada pelo constante movimento. Assim, o Tema da Vez chega em sua última edição nos convidando a um mergulho final sobre essa que é a única certeza da vida: a mudança.  
Algumas previstas, outras completamente inesperadas. Muitas delas pequenas e as vezes imperceptíveis, nos dando uma ilusão de estabilidade. E tem aquelas que, de tão imensas e impactantes, chegam a transformar totalmente nossa jornada. De todas as formas, sejamos honestos: somos péssimos em lidar com elas.  

Isso porque nosso cérebro responde de forma bastante complexa às incertezas que elas trazem, podendo desencadear uma série de respostas emocionais e fisiológicas difíceis de enfrentar. Também porque toda mudança traz uma perda e, portanto, um luto a ser vivido. Assim, é preciso muita gentileza, compaixão e acolhimento nesse processo.  

Acreditamos que vale a pena nos despedir de vocês olhando com carinho não só para os desafios que toda grande mudança gera, mas especialmente para as estratégias que nos ajudam a atravessar essas situações com mais leveza, podendo colher todos os aprendizados que momentos de transição são capazes de nos ofertar. Esperamos com isso te ajudar a encontrar forças para a travessia e esperança no amanhã, sabendo que cada fim é apenas o início de uma nova história. 
Fundo no assunto
Por que é tão difícil mudar?
 
Mudanças são inevitáveis na vida de qualquer pessoa. Seja no trabalho, nos relacionamentos, na saúde ou em qualquer outra área, sua origem pode ter como gatilho uma necessidade ou desejo pessoal, sendo assim planejada e colocada em ação pela própria pessoa. Mas também pode chegar de forma repentina e inesperada, exigindo resiliência e criatividade para lidar com o que quer que surja na sequência.  

Ela pode ser extremamente positiva, como a promoção em um emprego, a chegada de um bebe na família, a mudança para outro país por escolha. Ou ser difícil de encarar, como a perda de um trabalho importante, um divórcio ou o diagnóstico de uma doença grave. De todas as formas, toda mudança põe em marcha um processo de transição do qual é impossível prever totalmente seus resultados. E isso pode ser bastante desafiador. Seja qual for sua natureza, o quanto a aceitamos e acolhemos, podemos nos ver com dificuldades para nos ajustar ou aclimatar ao novo momento.  

               


E por que temos essa dificuldade? Essas revoluções trazem consigo incertezas e nosso cérebro está programado para evitar essas situações. Como seres de hábitos que somos, quando introduzimos qualquer alteração na rotina, nosso cérebro entra em estado de alerta, considerando imediatamente possíveis ameaças que isso pode acarretar.  

Como colocou a Dra. Sanam Hafeez, psicóloga clínica e neuropsicóloga licenciada, para a nbcnews, “o cérebro não sabe, do ponto de vista evolutivo, se a mudança é boa ou não para nós e muitas bandeiras vermelhas se levantam, desencadeando respostas de ansiedade e medo.” Esse mecanismo é só mais uma forma de autoproteção do nosso super órgão que está sempre em busca de manter a estabilidade e a segurança.  

Inclusive, um estudo realizado pela University College of London (UCL) e publicado na revista Nature, revelou que a incerteza pode ser mais estressante do que a certeza de uma dor. No experimento, os participantes preferiam saber com 100% de certeza que levariam um choque elétrico do que ter uma chance de 50% de levar o choque. Os pesquisadores concluíram que essa dúvida aumentava significativamente o nível de estresse, pois nosso cérebro acha mais difícil lidar com situações ambíguas do que com certezas, mesmo que essas certezas sejam negativas.  


Como uma densa neblina que toma conta da estrada, momentos de transição são difíceis, pois nos encontramos no meio do caminho entre o que era e o que será, e não conseguimos enxergar com clareza o horizonte à frente. Nesse sentido, Brenda Reynolds, autora do livro “Liderando com clareza e confiança em tempos incertos” (ainda sem tradução para o português), afirma em sua palestra do TEDx que não há nada melhor do que seguir os mesmos instintos de quando estamos no volante: reduzir a velocidade, abaixar os faróis e focar a atenção no trecho que é possível ver nesse momento. E, se a neblina estiver densa demais, parar o “veículo” até que se dissipe um pouco.  
Especialmente quando vivemos uma mudança que não escolhemos para nós mesmos, podemos ficar com uma sensação de que a vida está se contraindo e que estamos mais limitados do que antes. Porém, como colocou a cientista cognitiva Maya Shankar nesse Ted talk, quando só olhamos por essa perspectiva, deixamos de levar em conta um fato importante:  

     


Nos tornamos pessoas diferentes do lado de lá na nossa nova realidade. E se pudermos prestar atenção as transformações internas que estão ocorrendo nesse processo, será possível observar que, na verdade, essas situações não nos limitam, mas nos expandem. Assim, Maya propõe ter em mente três perguntas quando a vida nos surpreende:  

 Como essa mudança pode transformar o que sou capaz de fazer?  

Nossa mente frequentemente nos ilude, levando-nos a crer que a pessoa que somos agora é imutável. No entanto, apesar de sermos seres de hábitos marcados, também somos seres de grande adaptabilidade. Assim, ao enfrentarmos grandes mudanças, evoluímos e nos transformamos e adquirimos novas habilidades. A pessoa que emerge após superar tais desafios será diferente. Você será diferente.  

 Como essa mudança pode modificar o que valorizo?  

Ao enfrentar novas circunstâncias e desafios, somos levados a reavaliar nossas prioridades e crenças. Esse processo de adaptação e crescimento pode revelar novas perspectivas e nos levar a valorizar aspectos da vida que antes passavam despercebidos. Assim, a transformação pessoal que acompanha essa etapa pode redefinir nossos valores e moldar uma nova visão de mundo. 

Como essa mudança pode alterar a forma como me defino?  

Frequentemente nosso senso de identidade está ligado ao nosso trabalho, aos nossos relacionamentos, nossas habilidades ou status social. Por esse motivo, durante o luto que acompanha grandes rupturas, podemos sentir uma perda de nós mesmos, um fenômeno conhecido como “paralisia de identidade”. Isso ocorre com muitos de nós quando enfrentamos o inesperado, quem pensamos que somos e o que fazemos é subitamente questionado.  

               


Uma dica valiosa é ancorar nossa identidade no porquê fazemos algo em vez de no quê fazemos. Isso nos conecta aos nossos valores pessoais e à nossa visão de mundo, proporcionando um senso de estabilidade frequentemente perdido durante processos de transição.  

Mudanças podem ser desafiadoras e nos colocar em uma montanha-russa de sentimentos difíceis de lidar. No entanto, se pudermos redirecionar nossa atenção para as mudanças internas que estão ocorrendo e para como podemos expandir nossos horizontes com os novos caminhos que se abrem, poderemos enfrentar a tempestade com mais calma e resiliência. 
O que dizem por aí
Acolha-se

      
    

Durante a passagem do fim de um ciclo e o começo de algo novo, entre um expirar e um inspirar, há uma pausa que merece uma atenção especial. Temos a tendência de nos apressar em retomar a estabilidade da vida novamente. Como dissemos, esse é um mecanismo de autoproteção. Mas esta pausa guarda algo muito precioso que não deve ser negligenciado.  

São normalmente nesses momentos que temos a oportunidade de fazer um balanço de nossas vidas, de nossos valores e de nosso propósito. São nesses momentos que podemos reavaliar o que vivemos até então e encontrar os significados mais profundos dessas experiências para nós. É quando algo se acaba que percebemos o tamanho de sua importância. Para todo fim é preciso dar espaço para o luto que lhe acompanha e, assim, conseguir colher os aprendizados que ele nos reserva.  

O guru indiano Sri Rajeneesh, também conhecido como Osho, sempre discursava sobre a beleza da tristeza e nossa necessidade de naturalizar e até celebrar esses momentos. Ele dizia que enquanto a felicidade nos traz expansão, a tristeza nos dá profundidade. E precisamos de ambas para crescer e prosperar. “A felicidade é como uma árvore indo para o céu, e a tristeza é como as raízes indo para dentro do ventre da terra. Quanto maior a árvore, maior serão suas raízes. Esse é o seu equilíbrio”.  


Assim, quando tudo isso nos atravessa, a melhor forma de acolher é com muita autocompaixão. Ou seja, tratar a si mesmo com a mesma gentileza, compreensão e apoio que você ofereceria a um amigo próximo em momentos de dificuldade. Isso envolve reconhecer que todos nós enfrentamos desafios e imperfeições e, ao invés de se criticar severamente, a autocompaixão nos encoraja a promover uma relação mais saudável e compassiva conosco. 

Como colocou Kristin Neff, pioneira no campo da investigação sobre o tema, “autocompaixão significa ser solidário quando estiver enfrentando um desafio na vida, sentir-se inadequado ou cometer um erro. Em vez de simplesmente ignorar a sua dor com uma atitude rígida ou se deixar levar por pensamentos e emoções negativas, você para e diz a si mesmo: ‘Está realmente difícil agora, como posso me confortar e cuidar de mim mesmo neste momento?’”. 

Para colocá-la em prática, é importante desenvolver três componentes principais: a autobondade, que é tratar-se com gentileza e não com autocrítica; o senso de humanidade compartilhada, que é reconhecer que todos enfrentam dificuldades e que não estamos sozinhos em nossos desafios; e a consciência plena (mindfulness), que é estar presente e aceitar nossas emoções sem julgamento. Esses pilares ajudam a criar uma base sólida para a prática da autocompaixão no dia a dia. 
Não aprendi a dizer adeus 

         

Em cada curva do caminho, a vida nos convida a abraçar o desconhecido, a deixar para trás o conforto do familiar e a embarcar em novas jornadas. Esses momentos de transição, embora desafiadores, são também oportunidades para redescobrir a nós mesmos e o mundo ao nosso redor. Como folhas ao vento, somos levados a novos horizontes, onde cada passo é uma promessa de crescimento e cada despedida, uma saudação ao que está por vir. 

Sem dúvida alguma sentiremos saudades dessas conversas. Dos banhos de mar que sempre revelam tesouros em suas profundidades. Esperamos que vocês tenham desfrutado de cada um desses mergulhos tanto quanto nós. Que tenham se inspirado e aprendido muito ao longo dessa longa jornada juntos. Nosso propósito sempre foi reconectar as pessoas com elas mesmas e desejamos que vocês sigam firmes nesse intento.  

Assim, nossa dica final é que vocês se mantenham eternos aprendizes de si, sempre curiosos, sempre atentos, sempre gentis. Cuidem do seu Corpo, nutram a sua Mente, zelem por suas Relações, conectem-se com seu Espírito, sejam proativos em seu Contexto e firmes em seu Propósito. Para nós, é no equilíbrio dinâmico desses pilares que poderemos encontrar a tão desejada felicidade.  

Tudo de melhor a cada um de vocês!  
Com amor. 
Plenae