Allan Luks , um dos maiores pesquisadores no assunto e autor do livro The Healing Power of Doing Good (“O poder curativo de fazer o bem”, sem tradução para o português), conduziu uma série de estudos na Universidade de Michigan com mais de três mil voluntários para entender como o voluntariado afeta a saúde física e emocional daqueles que ajudam e quais características eram necessárias para que esse serviço de doação tivesse seus efeitos curativos otimizados. Sua pesquisa mostrou que no processo de ajudar o outro, sem a preocupação com o resultado, ocorrem dois fenômenos bem específicos e identificáveis que impactam a saúde dos participantes.
Muitos são os relatos de pessoas que, ao se envolverem em ações solidárias, sentem um aumento significativo de energia no corpo, acompanhado de sentimentos de prazer, contentamento e alegria. Este fenômeno é hoje conhecido como helper´s high, ou o “barato do voluntário” em tradução livre para o português, em que o corpo responde ao ato de generosidade liberando quantidades significativas de endorfina, um conhecido neuro-hormônio que atua como um analgésico natural e aumenta a sensação de bem-estar. Ainda, há a liberação de oxitocina, dopamina e serotonina, hormônios conhecidos por melhorar o humor e diminuir o cortisol no sangue.
Este conceito surgiu em 1980 e tem sido comprovado pela ciência desde então. Segundo os estudos de Luks, 95% dos participantes relataram já ter experimentado esse estado no corpo, que muitos descrevem como um calor corporal, outros como um aumento na disposição física, e alguns como uma euforia parecida com o uso de certos alteradores de consciência, por isso o uso da palavra high, que pode ser traduzido como “chapado”. A maioria, no entanto, compara esta sensação com aquela sentida após a prática vigorosa de atividades físicas, conhecida como runner 's high.
Após a sensação de energia extra causada pelo helper’s high, o que a maioria dos voluntários relata é um duradouro estado de calma e serenidade. Oito em cada dez voluntários que participaram das pesquisas de Luks relataram também sentimentos de otimismo, aumento da autoestima e felicidade nesta fase, que normalmente duram dias e até semanas e podem ressurgir com a mera lembrança do ato generoso.
Enquanto a primeira fase é comparada com a energia sentida após a prática de atividades físicas intensas, a segunda tem sido comparada com estados meditativos. A chave está no fato de que tanto a meditação quanto o ato de ajudar o próximo faz você direcionar sua atenção para fora de si mesmo. O foco no outro reduz as tensões produzidas por padrões de pensamentos negativos, diminui a atividade do sistema nervoso simpático e, por consequência, diminui o estresse.
Tudo isso pode ser explicado por uma rede neural que Tristen Inagaki, neurocientista da Universidade de São Diego, na Califórnia, chama de sistema do cuidado. Essa rede está ligada tanto a comportamentos de ajuda ao próximo quanto à nossa saúde e provavelmente evoluiu para facilitar a criação de nossos bebês, altamente indefesos para os padrões de outros mamíferos, e aumentar nossa sobrevivência ao recompensar bioquimicamente atitudes em prol da cooperação e da socialização.
Estudos utilizando ressonância magnética em momentos de trabalho voluntário identificaram que nosso “centro de recompensa” cerebral é ativado na mesma medida e intensidade que momentos de atividades prazerosas como ouvir música, praticar sexo, comer uma comida gostosa ou até receber um elogio, como explicamos nesta matéria. Esse é um dos motivos que faz com que muitos voluntários sintam motivação para retornar a praticar atos de generosidade ao próximo e, à medida que tornam o voluntariado uma atividade frequente, percebem sua saúde e seu bem-estar aumentar significativamente.
O sentimento de propósito que o trabalho voluntário pode proporcionar é uma outra fonte de motivação imensa, que pode, inclusive, redirecionar a vida de muitos voluntários. Este é o caso da Gabriela Shapazian, ativista e co-fundadora do projeto “Flores para Refugiados”, que participou da quarta temporada do Podcast Plenae e nos contou como sua vida se transformou após trabalhar como voluntária na Grécia, com refugiados do Oriente Médio, aos 16 anos de idade. É também a história de Kalil Mondadori que relatou, no Tedx Lages, como organizar um Natal Solidário em bairros periféricos de sua cidade orientou toda sua carreira profissional.
O que os estudos feitos por Allan Luks concluíram é que os dois estágios pelo qual a pessoa passa ao longo do trabalho voluntário ativa um efeito em cadeia na saúde física, emocional e psicológica da pessoa. Nove a cada dez voluntários que participaram da pesquisa consideram que sua saúde é melhor do que a de outras pessoas da sua idade, sentindo que essa melhoria se deu após iniciarem seus trabalhos voluntários. Hoje, muitos estudos mostram que aumentar a percepção de bem-estar subjetivo nas pessoas cria, de fato, melhorias na sua saúde física, como comentamos nesta matéria.
Dentre os principais impactos na saúde Luks destaca: - O fortalecimento do sistema imune;
- A diminuição tanto da intensidade quanto da consciência da dor física;
- Surgimento de emoções vitais para a manutenção da boa saúde;
- Redução de comportamentos e emoções negativas que prejudicam o corpo;
- Multiplicidade de benefícios corporais causados pela redução do estresse.
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