O que é gratidão para você? 
O que você vai encontrar por aqui: 
  • O que é a gratidão
  • Qual o efeito da gratidão no cérebro
  • Os dois tipos de gratidão
  • Como cultivar a gratidão 
Boa leitura! 
Algumas pessoas confundem a gratidão com o ato de dizer “obrigado”. Isso porque, de fato, ela é um conceito difícil de definir. Muitos a consideram como um sentimento que surge como resposta a algo benevolente, mas pode ser compreendida e expressa de diferentes maneiras, dependendo do seu contexto e da sua cultura. Você pode se sentir grato pelo o que uma pessoa fez por você, por uma conquista pessoal, ou mesmo por uma situação externa como um dia de sol, o contato com a natureza ou a própria vida. Pode ser vista como um traço do caráter, um sentimento, uma virtude ou um comportamento. 

A ciência nos mostra que a capacidade de se sentir grato faz parte de um processo evolutivo e está ligada a nossa biologia, está no nosso DNA. Alguns apresentam mais predisposição para ela, enquanto outros precisam de mais estímulo para sentí-la. Muitos estudos indicam que a gratidão traz inúmeros benefícios para nossa saúde mental, emocional e física. Ela potencializa a formação e fortalecimento de vínculos sociais, diminui o estresse, melhora a qualidade do sono e aumenta a satisfação geral com a vida.

Ao mesmo tempo, vivemos um momento em que a gratidão parece ter se tornado a mais nova tendência de desenvolvimento pessoal. Temos a sensação de que, para todo lugar que olhamos, há uma hashtag, um emoji, marcas de produtos, cursos e livros sobre o temalevantando dúvidas se de fato a gratidão faz bem ou se é só a moda da vez. Nesse sentido, especialistas têm mostrado que existem diferentes expressões de gratulação e que nem todas trazem os benefícios almejados.

Assim, acreditamos que vale muito a pena entender um pouco mais sobre as várias formas de ser grato e como cada uma afeta nossa qualidade de vida. Esperamos com isso te motivar a cultivar este sentimento que tem sido considerado um antídoto para a insatisfação crônica e uma grande chave para encontrar mais felicidade em nossas vidas. 
Fundo no assunto
A gratidão faz bem? 


Como comentamos no início, a gratidão parece estar na moda. A hashtag #gratidão foi usada mais de setenta milhões de vezes nas redes sociais brasileiras até o momento. Na academia, mais de 2.800 artigos científicos foram escritos sobre o tema, segundo uma revisão sistemática feita pelo professor Wanderley Marques Bernardo, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, para o Plenae. O que este sentimento tem de tão especial? 

Sonja Lyubomirsky, professora de psicologia da Universidade da Califórnia e autora do livro The How of Happiness (“O Como da felicidade”, sem tradução para o português), explica que a expressão é praticamente uma meta estratégia para alcançar a felicidade. Em seu livro, ela relata que pessoas que são frequentemente gratas mostram maiores níveis de felicidade, mais energia, mais esperança e otimismo na vida, declarando sentir mais emoções positivas do que negativas. 

Elas também têm a tendência de serem mais altruístas e empáticas, mais espiritualizadas e religiosas, perdoam com mais facilidade e são menos materialistas do que pessoas “menos gratas”. Ao mesmo tempo, quanto mais a pessoa está inclinada a agradecer, menos provável é que esteja deprimida, ansiosa, solitária, com inveja ou neurótica.  

A ciência tem olhado para isso e busca entender como a gratidão afeta nosso cérebro e, consequentemente, nossa saúde. Segundo o neurologista Fabiano Moulin, em entrevista para o Plenae, quando nos sentimos gratos, nosso cérebro ativa uma série de neurotransmissores que nos ajudam a pensar (os opióides) e a sentir prazer (a dopamina). Adentrando um pouco mais no funcionamento do cérebro, estudos mostram que a área do córtex pré-frontal medial é ativada, uma área conhecida entre neurocientistas por estar relacionada a comportamentos pró-sociais e a empatia, potencializando a formação de laços afetivos. 

 
Ao mesmo tempo, esta área também está ligada a sentimentos de calma e tranquilidade, assim como a regulação emocional, atuando diretamente na redução do estresse. Aliado a estrutura pré-frontal medial, outros locais no cérebro que são ativados durante experiências de gratidão são o hipotálamo - relacionado a regulação de processos biológicos básicos, como a saciedade, a temperatura corporal, a frequência cardíaca, as emoções e o sono - e o sistema dopaminérgico, que está relacionado a processos de motivação e de prazer. 
          
Porém, estudos indicam que nem todas as expressões de gratidão têm o mesmo efeito. Altay de Souza, pesquisador doutor em ciência de dados, em seu podcast Naruhodo!, diz haver dois tipos dela: a preposicional e a proposicional. A gratidão preposicional se refere à situação em que um indivíduo A se sente grato a um outro indivíduo B por fazer algo X. Ou seja, existe uma relação concreta, uma tríade.  A gratidão proposicional se refere a uma situação em que o indivíduo A é grato porque Y ocorreu. Por exemplo: sou grato porque choveu após um longo período de seca. Neste caso não existe um outro agente e o que aconteceu é algo que não depende de nenhuma relação, por isso é considerada uma díade. 

Essa é uma diferença crucial quando falamos do tema, pois cada uma delas tem efeitos diferentes na nossa saúde e bem-estar. A gratidão que traz benefícios tanto para a saúde do indivíduo, ativando as áreas do cérebro citadas, como para a sociedade, por potencializar comportamentos pró-sociais, é a gratidão preposicional, em que existem duas pessoas e uma ação concreta entre elas. David Brooks, professor da universidade de Yales e colunista do New York Times, ao descrever a estrutura da gratidão coloca que, inclusive, nesta relação é necessário que a ação de B seja uma gentileza que exceda as expectativas de A para que este sentimento floresça. 



Isso porque esse sentimento tem sua origem na reciprocidade, evoluindo como um sinal biológico que motiva os animais a trocarem coisas para benefício mútuo. Ele pode ser visto em vários contextos naturais, mas especialmente entre primatas. À medida que nosso cérebro ficou melhor em reconhecer as emoções, a gratidão se tornou uma vantagem evolutiva para a sobrevivência da espécie, já que levava as pessoas a se aproximarem, cooperarem umas com as outras e se protegerem. 

Um estudo entre casais mostrou que não só o sentimento de agradecimento, mas a expressão dele ao outro, traz inúmeros benefícios e pode ser um termômetro da qualidade da relação, mesmo a médio e longo prazo. Nessa pesquisa, eles observaram que a expressão da gratidão altera de forma positiva a percepção da qualidade da relação tanto em quem a expressa como em quem a recebe, colocando a relação em um círculo virtuoso. Ao expressá-la, a pessoa toma consciência e acolhe a gentileza do parceiro, confirmando a si mesmo que está em uma relação de apoio mútuo, que se importa com o outro e aprecia seus atos. Para aquele que recebe, mostra que sua ação foi apropriada, desejada e apreciada, motivando que volte a agir de forma afetuosa, fortalecendo ainda mais a relação. 

Mas, e a gratidão proposicional, qual o impacto dela em nossas vidas? Quais os benefícios que podemos encontrar ao desenvolver um olhar mais grato em relação a vida? Neste breve vídeo realizado pela Kurzgesagt, uma agência de animação alemã que tem como propósito divulgar estudos científicos de forma leve e cheia de beleza, podemos ver que a prática da gratidão proposicional, que é a capacidade de se sentir grato por um belo pôr do sol, pelas coisas que possuímos, pela simples existência de uma pessoa querida em nossas vidas, também pode ser fonte de muita felicidade. 
Ela pode te ajudar a reter e recuperar memórias positivas e diminuir sentimentos negativos como a inveja, o materialismo, o narcisismo e a comparação social, algo bem comum entre nós e que as redes sociais potencializaram nos últimos tempos, como comentamos neste tema da vez. Para colher esses benefícios é preciso ensinar o cérebro a reconhecer este pequenos momentos como fatos a serem apreciados. 

Um ótimo exercício para isso é a visualização negativa, em que comparamos a situação atual com uma situação pior, fazendo com que o cérebro responda com gratidão diante do momento presente. Nossa mente facilmente se esquece de que nada na vida está garantido e não damos valor ao que temos, assim, ao realizar esta prática, diminuímos a adaptação hedônica, aumentando nosso contentamento e satisfação com a vida. Se você leu nossa news sobre estoicismo, deve lembrar que os estóicos utilizam muito esta estratégia na busca do bem-estar

Inclusive, os filósofos consideram a gratidão uma virtude a ser alcançada, ou seja, ser grato é um traço do caráter moralmente positivo e que deve ser desenvolvido pelo ser humano. Aristóteles define virtude como algo que está entre um excesso e uma deficiência, assim, a gratidão nem pode ser pouca, ou você se torna uma pessoa ingrata, nem exagerada, ou se torna servidão. E como afirmou o filósofo romano Cícero, “a gratidão não é apenas a maior das virtudes, mas a mãe de todas as outras.”
O que dizem por aí
#comosermaisgratonavida


     

Nossa percepção individual de gratidão, assim como sua expressão, está moldada por nosso contexto cultural. Um estudo realizado em 2012, observou 7 culturas diferentes e sua relação com o sentimento, mostrando que culturas coletivistas, como a da Turquia e da China, apresentam uma população mais grata e propensa a expressá-la publicamente, enquanto culturas mais individualistas, como a do Brasil e dos Estados Unidos, acabam reconhecendo e expressando muito menos este sentimento. A boa notícia é que muitas intervenções de gratidão nestas culturas apresentaram bons resultados, o que mostra que é possível treinar o cérebro para se tornar mais grato.

Do diário da gratidão à contagem de bênçãos, passando pelas cartas de agradecimento, meditações e aplicativos digitais: são muitas as ferramentas para estimular este sentimento em nós. Nós testamos por 30 dias o Diário da Gratidão e você pode conferir um relato completo da nossa experiência aqui. Mas antes de prosseguir, um aviso importante: o pulo do gato sobre os benefícios da gratidão está no sentimento real e verdadeiro. 

Não é possível fingir. A gratidão que está somente no plano mental é vazia e não gera nenhum benefício. Ou pior, pode até fazer o efeito inverso, como foi o caso da jornalista Radhika Sanghani, que encarou o desafio 100happydays (100 dias de felicidade) e  terminou mais infeliz do que quando começou, já que a pressão mental e a sensação de egocentrismo, ao postar fotos diariamente nas redes sociais, acabou gerando mais ansiedade e afastando as pessoas.  

Inclusive, estudos conduzidos pela professora Sonja Lyubormirsky mostram que para que as práticas sejam efetivas, elas precisam se manter “frescas”, ou seja, quando a atividade cai na rotina e você a sente como uma obrigação, ela já não desperta o sentimento almejado. Assim, a recomendação é variar as atividades para mantê-las significativas.
Separa o papel e a caneta
               

Deixamos aqui algumas dicas de como começar a agradecer mais e esperamos que você encontre a atividade ideal para si. De início, você pode se sentir um pouco incrédulo no potencial transformador dessas atividades por sua simplicidade. Mas não desista! Muitos estudos mostram resultados muito positivos na nossa saúde mental após algumas semanas. E lembre-se de trazer variedade - o tempero da vida - para suas práticas, seja mudando a forma como você expressa a gratidão, seja mudando o tema pelo qual você será grato naquela semana. 

Sabemos que não existe pílula mágica para encontrar a felicidade. Essa é uma jornada que começa com o autoconhecimento e o encontro de um equilíbrio saudável nos diferentes pilares da vida. Ainda assim, acreditamos que a gratidão tem um papel importante nesta busca e pode ser uma peça chave para trazer muito bem-estar em nossas vidas. Afinal, como colocou o monge beneditino David Steindl-Rast em seu Ted Talks: “se você acha que é a felicidade que torna as pessoas gratas, pense novamente, é a gratidão que torna as pessoas felizes”.
    
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