Fundo no assunto A incrível população que nos habitaImagine uma cidade grande como São Paulo, em uma quarta-feira de manhã, com milhões de pessoas transitando nas calçadas, apressadas para chegar ao trabalho e outros compromissos. Transponha isso a um nível microscópico e terá uma ideia do que consiste sua microbiota. Cada ser humano é um superorganismo, uma coletividade de espécies (bactérias em sua maioria, mas também fungos, vírus e arqueias) que coexistem de maneira pacífica e realizam uma série de tarefas para dar suporte e manter a saúde do sistema que habitam.
Originalmente, pensava-se que as bactérias superavam nossas células em uma proporção de 10 pra 1, mas estudos recentes mostram que esta conta estava superestimada. A proporção atual é de 1.3 para 1, o que ainda é impressionante, pois isso significa que somos 43% humanos. Se olharmos para o genoma, nossa “humanidade” fica ainda menor. Nossa microbiota soma entre 2 a 20 milhões de genes (o microbioma), que controlam nosso corpo em conjunto com nossos 22 mil genes humanos.
Hoje já sabemos que as bactérias são responsáveis por sintetizar determinadas proteínas que produzem vitaminas (como as vitaminas do complexo B) e aminoácidos essenciais, estimular nosso sistema imunológico, eliminar toxinas, reduzir a inflamação, auxiliar na absorção de nutrientes e defender o corpo de invasores patogênicos.
Segundo Alanna Collen, estudos recentes começam a revelar que o papel dos microorganismos presentes no nosso corpo é ainda mais complexo e a composição de nossa microbiota pode estar associada a uma série de doenças como alergias, síndrome do intestino irritável, doenças autoimune, autismo, obesidade, depressão, diabetes, síndrome metabólica, mal de Parkinson, ou seja, grande parte das doenças do século XXI.
Há dois mil e quinhentos anos atrás, Hipócrates, o pai da medicina moderna, já acreditava que todas as doenças começavam no intestino. Isso antes mesmo de entender profundamente sobre sua anatomia, quanto mais sobre a imensa população de trilhões de micróbios que lá existem. Esse órgão fascinante tem sido inclusive considerado nosso segundo cérebro, já que além de abrigar a maior parte da nossa microbiota, contém cerca de 500 milhões de neurônios, estabelecendo uma conexão direta com nosso cérebro, através do nervo vago, em uma via de mão dupla.
É no intestino que ocorre a produção de mais de 90% da serotonina no corpo, além de outros 30 mensageiros químicos que dizem ao cérebro não só o que fazer, mas o que sentir. Sim, nossas emoções e oscilações de humor tem uma relação direta com nosso intestino, um influenciando o outro. E mais, algumas bactérias e fungos que compõem nossa microbiota intestinal podem mudar o nosso comportamento, nossos desejos alimentares, nosso cheiro e até o tipo de pessoa que nos sentimos atraídos!
Neste TEDx, Elaine Hsiao, doutora em neurobiologia e que atualmente pesquisa a relação entre microbiota e células nervosas no Instituto de Tecnologia da Califórnia- Caltech, relata que estudos em ratos livres de germes e colonizados por determinados tipos de bactérias mostraram o quanto uma determinada espécie pode alterar o desenvolvimento e o funcionamento do cérebro. De traços de personalidade como a disposição à sociabilização, transtornos de ansiedade, capacidade de aprendizado, sensação de fome e saciedade, chegando a distúrbios neurológicos como esclerose múltipla, depressão e até autismo, a composição da microbiota tem uma relação direta com a mente.
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