A pesquisa liderada por Layla Vallias, fundadora do Hype50+ e coordenadora do estudo Tsunami 60+ e Tsunami Latam, tem mostrado uma enorme diversidade na maturidade. O que antes era genericamente chamado de terceira idade, povoando nosso imaginário com velhinhas fazendo crochê sentadas em cadeira de balanço, possui tanta pluralidade e particularidade que precisaremos rever o que consideramos velhice daqui pra frente. Estudos sobre o desenvolvimento humano, inclusive, propõem uma nova configuração dos estágios da vida, tanto da idade que antes era considerada adulta, como a idade que consideramos idosa. No debate, a meia idade parece ter se estendido, e se antes uma pessoa era considerada idosa aos 65 anos, agora pesquisadores sugerem que ela pode estar na meia idade. Isso porque o rótulo “idoso” está relacionado a quantos anos a pessoa ainda tem por viver e não ao que ela já viveu. O cálculo normalmente propõe que uma pessoa entra na velhice quando lhe restam até 15 anos de expectativa de vida. Neste sentido, não é um número que irá determinar se uma pessoa é velha ou não, mas sim sua saúde física e mental.
E o que estamos observando hoje é que, ao olharmos para as pessoas acima dos 60 anos, muitos mitos são quebrados. Segundo o estudo Tsunami Latam, que ampliou a pesquisa sobre os maduros nos países da América Latina, mais de 70% dos entrevistados maiores de 65 anos não achavam que chegariam tão bem nesta idade. A sensação de bem-estar físico e mental inclusive faz com que 21% destes maduros acreditem que ultrapassarão os 100 anos de idade. Com rotina intensa, essa população está circulando pela cidade, namorando, consumindo, cuidando da saúde e se divertindo. Alguns estão, inclusive, iniciando novas carreiras, explorando novos papéis, criando coragem para assumir sua sexualidade e pondo em marcha um novo movimento social chamado “ageless”, termo que significa “sem idade” e busca romper os estereótipos associados à este momento da vida, trazendo um olhar mais positivo à velhice, como explicamos neste outro tema da vez sobre longevidade.
Grande parte deles segue trabalhando e, inclusive, ajudam filhos e netos financeiramente. No Brasil, 86% das pessoas acima de 55 anos têm renda própria e 64% das pessoas acima dos 60 anos seguem sendo provedoras da família, mesmo depois de aposentadas, como mostra este vídeo inspirador produzido pelo estudo Tsunami 60+.
Economia prateada é a soma de todas as atividades econômicas associadas às necessidades e motivações das pessoas com mais de 50 anos. Hoje considerada a terceira maior atividade econômica do mundo, movimenta em média US$ 8,7 trilhões por ano. No Brasil, esse grupo movimenta um montante de quase dois trilhões de reais anuais e só tende a crescer. Mesmo assim, os mais velhos estão longe da mira das empresas, que têm 63% de seus negócios direcionados aos millennials. O Brasil tem se tornado referência quanto às inovações em produtos, serviços e experiências pensadas para pessoas acima dos 50 anos na América Latina. Segundo o estudo Tsunami Latam, em 2018 foram mapeadas 81 startups com soluções para a longevidade, em 2020 este número cresceu para 343. Ainda assim, temos um longo caminho a percorrer. Dos participantes do estudo citado, 50% sentem que as empresas e as marcas não olham para os consumidores de sua idade.
Para quem quer empreender, existem muitas oportunidades de atuação, pois este é um mercado considerado praticamente intocado. Um ponto que vem sendo bastante discutido é o design de produtos para o setor, que deve levar em consideração as necessidades especiais que esta fase da vida trás, ao mesmo tempo que cria uma linguagem visual atraente que não grite “velho”, “frágil” e “sem graça”, o que, segundo Claudia Penteado, editora chefe da Fast Company Brasil, é um design “alienador”. Ainda, é preciso aumentar a representatividade nas divulgações das marcas e apresentar ideias que reconheçam o potencial e a riqueza da vida após os 65.
As agetechs, tecnologias desenvolvidas para atender as necessidades dos idosos, também estão ganhando espaço e só nos Estados Unidos as projeções mostram um crescimento no consumo de produtos tecnológicos pelo público prateado de US$140 bilhões em 2018, para US$623 bilhões em 2050. Focadas, principalmente, nos mercados de saúde e bem-estar digital, o avanço da realidade virtual e de interfaces de voz facilitaram muito a inclusão dos maduros no mundo tech, oferecendo serviços que contribuem nos cuidados médicos, na socialização, no aprendizado contínuo e, especialmente, na sua independência, como comentamos nesta matéria. |
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