Para Inspirar

Daniel Alves em “De Juazeiro para o mundo”

Na sexta temporada do Podcast Plenae, Daniel Alves conta como sua persistência e paixão pela competição o levaram longe.

3 de Outubro de 2021


Leia a transcrição completa do episódio abaixo:


[trilha sonora]

Daniel Alves: Um pouco antes de cada partida, eu sigo a mesma rotina. Fico à frente do espelho por alguns segundos olhando o meu reflexo. É uma estratégia de automotivação. Eu me lembro quem eu sou, de onde eu vim e o que eu passei pra chegar até aqui, com saúde e com uma gana tremenda para seguir conquistando coisas. Penso na minha luta e pergunto pra mim mesmo: “Você vai fazer o quê? Vai deixar que os outros escrevam a sua história ou vai você mesmo escrever um novo capítulo desse bom livro?”.


[trilha sonora]


Geyze Diniz: O jogador Daniel Alves é o atleta com mais títulos na história do futebol e já levantou mais de 42 troféus. Mas, o que poucos sabem é que desde a infância ele aprendeu a jogar muito cedo foi com as adversidades. Seus trunfos não são força física e habilidade, mas sim a dedicação e a vontade de vencer. Desde a infância pobre no interior da Bahia aos campos europeus, Daniel mostra como sua disciplina e foco foram peças chaves para competir com os torneios que a vida lhe proporcionou nesses 38 anos de vida.

Conheça a garra e foco de Dani Alves. Ouça no final do episódio as reflexões da psicanalista Vera Iaconelli para lhe ajudar a se conectar com a história e com o momento presente. Eu sou Geyze Diniz e esse é o Podcast Plenae. Ouça e reconecte-se.


[trilha sonora]

Daniel Alves: A minha história começou lá no interior de Juazeiro, na Bahia. Eu sou o quarto de cinco filhos. Cresci com meus pais e meus irmãos numa casa pequena, na roça. Eu dormia numa cama de concreto, em cima de um colchão com 1 centímetro de espessura. Às 5 horas da manhã, antes do sol nascer, eu acordava pra ajudar o meu pai. Quando eu chegava no campo com o meu irmão, o nosso pai já estava trabalhando.

E desde muito cedo eu era muito competitivo, competia até com meu irmão para ver quem trabalhava mais. Quem ajudasse mais o nosso pai ganhava o direito de usar a única bicicleta da família pra ir pra escola. E quem perdesse na disputa, tinha que caminhar uns 20 quilômetros até a escola. No caminho eu passava na frente de uma favela e tomava algumas pedradas. Ah, eu dava um duro danado pra conquistar aquela bike.


[trilha sonora]


Meu pai era um grande jogador de futebol quando era mais jovem. Era disputado por todas as equipes do bairro. Mas não teve condição de jogar em um lugar onde pudesse ser notado pelos olheiros. Então, ele quis que eu fosse jogador de futebol para realizar o sonho dele. Daí, ele me colocou numa escolinha de futebol vinculada ao Juazeiro, que é um time da cidade. Assim os olheiros podiam me ver jogar.

E foi assim que eu comecei a fazer parte da equipe juvenil do Juazeiro. Quando tinha alguma competição, o técnico pegava alguns atletas jovens para jogar. Numa dessas, eu tive a chance de entrar em campo e ser visto. Quando um treinador do Juazeiro foi trabalhar no Bahia, ele contratou um jogador e eu fui no pacote. Eu nunca tinha saído de Juazeiro. Achava que o mundo começava e terminava ali. 


[trilha sonora]


Aos 16 anos, me mudei sozinho para Salvador e fui morar na antiga sede de praia do Bahia. Eu dormia num galpão com mais de 100 meninos. Privacidade zero. Na véspera de eu sair de casa, meu pai tinha me dado um conjunto. Até então, eu só tinha um. Um dia, eu lavei o conjunto e pendurei para secar. Quando eu voltei, já não estava. Alguém tava ligeiro. Mas, enfim, eu era competitivo e comecei a pensar que deveria trabalhar para comprar um outro conjunto. Acredito que isso foi um teste, a vida sempre nos coloca testes pra ver onde você é capaz de chegar.

Pra minha sorte, eu sou muito competitivo. As pessoas têm a capacidade de dar 100% de si. Mas, nem todo mundo quer dar 110, 120, 150. Eu sempre quero. A dedicação penso que é o meu diferencial. Se eu vejo alguém correndo 10 voltas ao redor do campo, eu quero correr 15, 20. Um cara faz 20,30 abdominais? Eu quero fazer 50. Acredito que esse suor é o que mais faz com que a bola bata na trave e sobre pra mim em vez de sobrar pra outro.


[trilha sonora]

Eu sabia que eu não era o melhor jogador do Bahia. Dos 100, talvez o número 51 em termos de habilidade. Mas, eu sabia que na força de vontade eu poderia ser o 1 ou 2. Então eu fiz para mim mesmo essa promessa: “Você não vai voltar pra roça até seu pai ficar muito orgulhoso de você”. E assim eu virei profissional no Bahia.

Aos 18 anos, fui chamado pra seleção sub-20 pra disputar o Campeonato Sul-Americano e lá estava um olheiro do Sevilha que me perguntou: “Sabe onde fica Sevilha?”. Eu não tinha a mínima ideia, mas falei:  “Claro que sei! Eu amo Sevilha!” Comecei a perguntar por ali e descobri que o Sevilha jogava contra o Barcelona, o Real Madrid. Eu disse para mim mesmo: “É a minha chance!”


[trilha sonora]


Me mudei sozinho pra Espanha, fui emprestado pra uma temporada no time. Quando cheguei era inverno e senti um frio absurdo. Eu estava acostumado com o calor da Bahia e nem tinha roupas apropriadas. Eu tava mal nutrido, com apenas 64 quilos. A comunicação também era muito difícil, mas eu desenrolava. Eu mal falava português, muito menos espanhol. Os primeiros seis meses foram os mais difíceis da minha vida. O treinador não me colocava pra jogar nunca, e pela primeira vez eu pensei em voltar para casa.

Mas, quando o sonho é maior que o medo, fica mais fácil ultrapassar as barreiras. Eu tive a sorte de ser bem acolhido pelo povo de Sevilha. As pessoas lá são muito receptivas, até parecem brasileiras. Também tive a sorte de encontrar um grande parceiro, o Denilson. Ele morava na cidade e jogava no Betis, rival do Sevilha. No momento eu estava mais vulnerável, o Denilson me abraçou, me apresentou a cidade, cuidou de mim. Eu sou muito grato a ele até hoje por isso. O Denilson é um irmão que a vida me deu e que o futebol também.


[trilha sonora]

Eu comecei a me fortalecer tanto fisicamente como mentalmente. Me empenhei pra aprender o idioma e decidi ficar. Fiz dez partidas pelo Campeonato Espanhol. E me lembro quando joguei pela primeira vez contra o Real Madrid. Enfrentar o Ronaldo e o Roberto Carlos foi um momento muito especial. Eles tinham acabado de ser pentacampeões do mundo. Eu torcia muito para aqueles caras.

Eu senti que as coisas tinham dado certo pra nós quando meu pai me viu jogar pela primeira vez, lá em Sevilha. Eu já tinha me firmado no time e comprado uma casa pra ele aqui no Brasil. Aí eu liguei pro meu pai e falei: “Agora é hora do senhor viajar e desfrutar comigo”. Mandei uma passagem e ele foi pra Espanha me visitar. A história é interessante porque nem no Brasil o meu pai me viu jogar profissionalmente. Quando entrei no campo, na Espanha, a minha mãe falou que ele chorava igual uma criança. Ele viu que o sonho tinha se tornado realidade. Eu era um jogador profissional e de sucesso.

Mas, o maior momento da minha vida aconteceu no dia 6 de junho de 2015.
Meu pai foi pra Berlim e me viu ganhar a Champs pela primeira vez. Agora, eu jogava pelo Barcelona. Depois da comemoração no estádio, o Barça deu uma festa incrível pras famílias e para os amigos dos jogadores, num palacete em Berlim. Teve um momento na festa que eu penso que foi muito especial para o meu pai. No momento em que eu peguei o troféu coloquei nas mãos dele.


Meu pai nunca foi uma pessoa muito emotiva, ele nunca falou sobre sentimentos. A gente tem que decifrar o que passa no coração dele. Mas, naquele dia em Berlim, ele chorou muito. Quando nós dois estávamos segurando a taça e posando para uma foto, eu pude ver nos olhos dele a felicidade e a realização de um sonho. Foi um momento mágico. 


[trilha sonora]


Até hoje, ele mora em Juazeiro. Não sai de lá pra nada. Já tentei tirar ele de lá um montão de vezes, comprei um apartamento em Salvador. Mas não adianta. Ele quer morar na roça. Pra nossa sorte, a nossa vida melhorou e hoje ele não precisa mais trabalhar. Mas a história não acaba aí. O sonho do meu pai se consolidou quando eu virei atleta profissional. Mas o meu, ah, o meu ia além.

Eu não saí da roça só pra jogar futebol. Eu saí da roça pra ganhar títulos e pra fazer história. Eu sempre fui muito forte mentalmente. Tracei uma carreira e consegui trabalhar pra concretizar todos os meus desejos.
E pra vencer no esporte não basta ter talento e vontade. É preciso sentir prazer no ato de competir. Mas, o que me move realmente é a sede por querer deixar um legado, a sede por contrariar todas as opiniões de que eu não vou conseguir.


Desde muito cedo, eu entendi que, pra vencer, é preciso lutar, lutar muito. Entendi que quando você semeia coisas boas, colhe coisas melhores. Cuidei do meu corpo, da minha alimentação, da minha mente. Não adianta eu ser contratado por um clube de alta performance se a minha performance não tiver à altura.


Se eu ainda performo bem aos 38 anos, é porque a minha busca pela longevidade e pela vitória é insaciável. Com o meu exemplo, eu quero inspirar atletas e também gente de outras áreas. Quero que as pessoas entendam que idade não é prazo de validade. E vou te falar mais: ninguém tem o direito de nos rotular. Cada um deve pegar a batuta e ser diretor da própria orquestra.


[trilha sonora]

Vera Iaconelli: O relato do Daniel Alves é extremamente inspirador porque ele nos mostra como um sujeito pode usar a sua competitividade a seu favor como uma forma de auto superação. Daniel tem uma origem humilde de muita vulnerabilidade social e pobreza, mas também com um forte apelo do núcleo familiar. Ali na família, na figura dos pais é determinante o esteio e a fonte de inspiração.

Seu pai, ele mesmo jogador, acaba servindo de espelho pro filho, motivo de orgulho pro jovem que faz questão de compartilhar suas conquistas num gesto de gratidão e reconhecimento pelo investimento dos pais no sonho do filho. O Daniel nos ensina que mesmo diante de grande adversidade, a identificação com um adulto que sirva de exemplo, a competição usada como auto superação, o orgulho da sua origem, ainda que muito humilde, a gratidão e a capacidade de sonhar serviram de alento nos momentos mais difíceis e de motor nos momentos de alegria.
 

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Geyze Diniz:
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[trilha sonora]

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Angélica em “A simplicidade do propósito”

Na terceira temporada do Podcast Plenae - Histórias para Refletir, conheça a jornada de força, superação e busca pelo propósito de Angélica

6 de Dezembro de 2020


Leia a transcrição completa do episódio abaixo:

[trilha sonora] Angélica: O acidente de avião que sofri com a minha família em 2015 não foi único trauma da minha vida. Na verdade, a minha carreira artística começou por causa de uma experiência emocional que me abalou profundamente. Quando eu tinha 4 anos de idade, a minha casa, em Santo André, no ABC paulista, foi assaltada. Eu vi meu pai levar três tiros e me fechei. Não conseguia mais ver gente, nem sair de casa. Aí, minha mãe me levou no Programa do Chacrinha pra ver se eu perdia aquele medo. O resto vocês já sabem. Tudo na vida tem um motivo. Se por causa daquele primeiro trauma eu me descobri artista, por causa do segundo, eu descobri o meu propósito de vida.  [trilha sonora] Geyze Diniz: O Brasil viu ela crescer, amadurecer, casar e ter filhos diante das câmeras. Em 2015, depois de sofrer um acidente de avião com toda sua família, ela iniciou uma viagem pra dentro de si mesma e longe dos holofotes. E nessa jornada interna, a apresentadora Angélica descobriu um motivo mais forte para sua existência, um propósito de vida onde a simplicidade e o amor é o que importa. Ouça no final do episódio as reflexões da professora Lúcia Helena Galvão para ajudar você a se conectar com a história e com você mesmo. Eu sou Geyze Diniz e esse é o Podcast Plenae. Ouça e reconecte-se. [trilha sonora] Angélica: Eu, meu marido, nossos três filhos e duas babás estávamos voando de uma fazenda no Pantanal pro aeroporto de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Era dia 24 de maio de 2015. Quando eu percebi que tinha algo errado no motor, eu me desesperei. O Luciano, meu marido, conversava com o piloto, tentando entender o que estava acontecendo e eu gritei: "Pousa esse avião!". O Luciano virou para mim e disse: "A gente não vai pousar, a gente vai cair". Até o avião bater no chão, passaram-se uns 4 minutos com a certeza que todo mundo ia morrer. Eu chorava, as babás rezavam, as crianças gritavam. Só que enquanto a gente caía, no meio daquela barulheira, teve uns 3, 4 segundos, ou mais, eu não sei mensurar, de um silêncio coletivo, simultâneo e muito, muito confortante. Todo mundo entrou numa mesma frequência de paz coletiva. Foi uma experiência espiritual, energética. Eu acredito que, naquele momento, cada um se conectou com o seu interior e perdeu o medo, como se algo nos dissesse: “Olha, tá tudo bem”. A sensação que eu tenho é que antes da morte vem esse silêncio, essa paz, essa entrega. [trilha sonora] A gente se entregou. O avião quicou duas vezes no chão e ninguém se machucou seriamente. O dia 24 de maio ficou marcado na minha casa como uma data de renascimento coletivo. Meus filhos foram ao psicólogo pra superar o trauma e o Luciano fez três meses de fisioterapia pra tratar uma lesão na coluna. Mas a minha ferida foi na alma e ficou latente por meses, até se manifestar no ano seguinte. [trilha sonora] Em uma viagem com a família pra Nova York, eu estava andando na rua sozinha quando cheguei perto do Central Park e simplesmente travei. Não sabia se eu ia pra frente, nem pra trás. Comecei a sentir falta de ar, achei que ia morrer e comecei a entrar numa paranoia de que ninguém ia me achar. Liguei pro Luciano e ele foi me buscar. Eu conhecia aqueles sintomas. Aos 20 e poucos anos, fui diagnosticada com Síndrome do Pânico. Na época, o médico disse que eu precisava de remédio pra dormir, porque eu estava muito agitada e tinha que descansar. Eu trabalhava demais, não tinha tempo pra descansar, aceitei o remédio. Naquele dia em Nova York, eu pensei comigo mesma: “Opa, tá voltando aí uma história que eu conheço. Só que dessa vez eu não vou tomar nada”.


Comecei a buscar uma terapia que não fosse alopática e caiu no meu colo um documentário chamado The Connexion. O filme falava sobre a conexão do corpo e da mente. Tinha depoimento de pessoas que se curaram de doenças e entrevistas com pesquisadores e professores de Harvard e Stanford que tiravam o chapéu pra meditação. Pesquisei mais o assunto e descobri que realmente a cabeça da gente pode controlar muita coisa. Conheci a meditação transcendental e comecei a praticar todos os dias. Eu me dediquei muito à meditação e a exercícios de respiração, que na ioga se chamam pranayamas. Pra mim funcionou super. Por causa do pânico, eu tinha medo de sair sozinha, medo de ter medo. Mas, logo que eu identificava qualquer sintoma, como taquicardia ou suor na mão, eu começava a prestar atenção na minha respiração. Conforme eu fui me fortalecendo, eu fui ganhando força pra lidar com o meu medo. Até que eu consegui me curar da Síndrome do Pânico sem remédio. [trilha sonora] Durante essa jornada de autoconhecimento, eu tive mais uma surpresa. Ou melhor, um susto.  [trilha sonora]


Aos 43 anos, iniciou o meu processo de menopausa. Eu costumo dizer que eu queimei a largada na vida. Sabe quando você acelera antes da bandeirada? Tudo pra mim foi antecipado, até os hormônios. Eu acredito que a menopausa precoce é resultado da carga de estresse que eu aguentei desde muito cedo.  O tal machismo estrutural também passa por esse discurso de que a mulher não presta mais quando para de menstruar. Até alguns médicos agem como se você tivesse chegado no fim da linha e não houvesse mais nada pra ser feito. Não é verdade, existem tratamentos pra combater os sintomas.  Foi gostoso no começo? Claro que não! A menopausa tira o corpo um pouco do eixo, porque causa de uma mudança química. Mas como a meditação faz o contrário ou seja, coloca a mente no eixo , ela me ajudou a atravessar esse período de uma forma mais tranquila. Melhorou a insônia e me deixou mais equilibrada emocionalmente, pra não ficar tão nervosa ou triste, por causa da oscilação de humor. Algumas vezes, quando eu começava a sentir os tais calores, eu fechava o olho e começava a respirar. Pronto, aquele calor ia embora. Eu fui entendendo que a menopausa é um processo natural. E que o fim de um ciclo representa o início de outro. No meu caso, foi o início de uma fase melhor. Hoje, eu tenho experiência, maturidade, segurança com o meu corpo e um controle mental que eu não tinha antes da meditação. Eu posso não ter os hormônios bombando, mas com bons pensamentos eu sou capaz de influenciar muita coisa do meu corpo. [trilha sonora] Nesse processo de amadurecimento e reflexões, entre acidente, Síndrome do Pânico, meditação e menopausa, teve mais um elemento que contribuiu pra minha viagem interna. Entre 2018 e 2020, eu ganhei um presente inédito: um sabático de um ano e meio. Como eu trabalhava desde os 4 anos, o meu corpo físico e mental estava cansado. Ele precisava de ferramentas pra se restabelecer. Com a pausa, eu pude me conectar com coisas que eu nunca tinha reparado antes, como no meu silêncio. Foi nele que eu aprendi a me sentir confortável na minha pele, a ficar bem sozinha, a me conectar com a natureza. E apesar de ter sido uma loucura de bom, parar de trabalhar me deixou mais vulnerável, mais insegura, porque eu sou uma pessoa que sempre funcionou trabalhando. Essa vulnerabilidade de não saber muito bem onde me agarrar foi boa, porque eu descobri uma força em mim que nem eu conhecia. Descobri que a minha força está no sutil, no suave. Não tá na agitação, na loucura, no trabalhar, trabalhar. Essa serenidade que eu descobri dentro de mim me lembra aqueles segundos de paz na queda do avião. Na meditação, é exatamente aquela transcendência que a gente busca, com entrega total e ausência de medo. É o tal do Nirvana, uma sensação gostosa entre vigília e sono, como se você tivesse voltando de uma anestesia. Com o conhecimento que eu tenho hoje, eu arrisco a dizer que dentro do avião nós alcançamos essa sensação de transcendência coletivamente. [trilha sonora] Quando eu me sinto inteira, eu acabo refletindo isso pra minha família também. A gente vira um pontinho de luz quando tá pleno. E todo mundo ao redor fica melhor, mais tranquilo, equilibrado. Quanto mais eu me conheço, mais eu fico forte pra enfrentar o que vier. A graça da vida é essa também, né? Acontece alguma coisa fora do planejado e a gente tem que tá atento pra dar a volta por cima. Eu nunca gostei do papel de coitada. Meu lema é: “Vambora. Não deu certo? Levanta e vai”. [trilha sonora] O silêncio, a introspecção e a vulnerabilidade me fizeram refletir sobre algo que eu nunca tinha parado pra pensar: o que que eu quero a partir de agora? Eu sei que o meu trabalho foi importante pra divertir muita gente e que eu fiz parte da infância de um monte de pessoas. Isso é realmente bonito e eu sou grata pela minha história. Mas, além disso, no que mais eu posso contribuir? Qual é o meu papel aqui? Que legado eu vou deixar no mundo? Esses questionamentos resultaram no programa que eu faço hoje. O Simples Assim é a forma que eu encontrei de mexer com a vida alheia e provocar reflexões. Nesses anos de autoconhecimento, eu percebi que a necessidade que eu tinha de ouvir pessoas, debater determinados assuntos e me aprofundar em temas existenciais não era uma busca só minha. Eu pensei: “Com o programa, eu posso ajudar o outro a encontrar ferramentas pra ser mais feliz”. A gente tá vivendo um momento de tomada de consciência, uma nova era. As pessoas estão vendo que a felicidade está nas pequenas coisas e que a humanidade é o que une a gente. A proposta do programa é ter empatia, enxergar o outro, não julgar, se conectar com o próximo e ter uma sensação de pertencimento. Porque, embora cada um tenha o seu problema, no fundo todos temos questionamentos semelhantes. Eu sei que quando eu proponho reflexões sobre a vida vem um julgamento: “Ah, é muito fácil ela falar, porque ela tá no lugar do privilégio”. Sim, eu tô, mas esse privilégio não pode me cegar a ponto de eu não enxergar o outro e o meu entorno. Então, porque eu tô nesse lugar eu não vou fazer nada? Vou ficar presa sem poder dar a minha voz e a minha contribuição pra sociedade? Se a gente não olhar pro outro e não se identificar com ele, fica muito difícil viver.  Por isso, o programa não é sobre mim. Eu entro como ouvinte, aprendendo e dividindo com o público os meus anseios e as minhas curiosidades. Eu quero deixar algo que eu considero positivo pra uma, duas, três, vinte, mil, milhões de pessoas. Esse é o meu propósito. E se eu descobri qual é a missão, foi por causa dos percalços que eu tive até aqui. Por isso, para aquela Angélica amedrontada do dia 24 de maio de 2015, eu diria assim: “Você não sabe o quanto tudo isso que você tá vivendo agora e esse sofrimento que você tá sentindo vão te trazer coisas boas e alegrias na vida. Acredite: essa dor vai te conectar com o que realmente importa na sua vida. Chore menos, sofra menos e aproveite as experiências que vêm daqui pra frente, porque elas vão te levar pra um lugar lindo. A-pro-vei-ta e não deixa passar na-da!” [trilha sonora] Lúcia Helena Galvão: Ninguém discute que a Angélica ganhou do berço a beleza física, mas tudo mais ela teve que lutar para conquistar e construir por si mesma o mérito. O assalto presenciado na infância a levou para fora de casa, para encontrar a carreira de sucesso, a fama. Mas ainda havia outras coisas pelo caminho que tinham que levá-la para dentro de si mesma. A Síndrome do Pânico aos 20 e poucos anos de idade deu este recado pela primeira vez, mas ainda havia caminho pela frente antes de chegar a hora de acertar definitivamente o rumo. E esse segundo recado foi um professor bem violento, gritando a lição em seus ouvidos: a iminência da morte dela e de toda sua família no acidente de avião. E a resposta dada por ela foi de alto nível e digna de ser anotada, como uma receita, um modus operandi, com tudo para dar certo. Parar, encarar as angústias, confrontá-las e dizer: "até diante da morte dá para encontrar a paz, porque não agora?". Fazer as angústias se calarem, o medo se calar, criar silêncio e se encher de silêncio, saboreá-lo, depois dar a pausa necessária e reconstruir a vida por definição usando só os materiais consistentes testados pela maturidade conquistada. E aí, chega o ponto bom, onde tudo se compensa. Sou o que sou graças a todos os fatos da vida. Então ele não foram só negativos, não só levaram coisas, mas me deram muito. Grata e em paz com a sua história, ela está apta a começar a distribuir, a compartilhar. Hoje, Angélica é uma mulher madura. Agora, a beleza do corpo contagiou a alma e transborda pelos olhos doando-se generosamente. Agora, ela conquistou o carinho daquela criança que faltava cativar, dentro de si mesma.  [trilha sonora]

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[trilha sonora]

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