Para Inspirar

Mãedrasta: histórias de amor entre madrastas e enteados

Em uma relação permeada de preconceitos e machismos estruturais, há sim espaço para solidificar esse laço entre as duas pontas. Conheça histórias inspiradoras!

9 de Agosto de 2024


Se você assistiu filmes da Disney ou mesmo familiares ao longo de sua vida, com certeza esbarrou no mito da madrasta “má”. Os exemplos na cultura popular são muitos e o próprio prefixo da palavra já remete de forma sutil a essa ideia: a má - drasta. 

Mas, no primeiro episódio da décima sexta temporada do Podcast Plenae, conhecemos justamente o exemplo contrário. A escritora e advogada Ruth Manus, que representou o pilar Relações, conta de como se tornou madrasta muito antes de ser mãe, e como esse papel - que vale o spoiler, se repetiu anos depois -, a ensinou e a preparou tanto para a maternidade que viria depois. 


Nesse artigo, vamos entender mais sobre esse papel na sociedade e conhecer outras histórias tão inspiradoras quanto as de Ruth, para quebrarmos de vez esse estereótipo tão negativo e que, convenhamos, não faz mais sentido nem mesmo nos desenhos.

O nascimento da bruxa má


É difícil cravar uma única raiz para o mito da madrasta. A origem é complexa, profunda e muito influenciada por várias culturas e tradições ao longo dos séculos. Tradições orais, como os folclores, certamente teve sua influência. As histórias passadas de geração em geração sempre exerceram muito poder em diferentes culturas e, no caso da madrasta má, elas serviam como advertências para crianças e refletiam as tensões familiares e sociais da época.

Isso porque, antigamente, a mortalidade materna era alta e muitos homens se casavam novamente após a morte de suas esposas. Essas esposas que vinham na sequência herdavam a tarefa de cuidar dos filhos do primeiro casamento, o que poderia gerar rivalidades e conflitos devido a disputas por recursos e atenção.

O fato desse tema ser tão presente em contos de fadas e literatura é, na realidade, um reflexo de tudo isso. Contudo, os autores dessas fábulas não foram os únicos culpados. Em várias mitologias até muito mais antigas, figuras femininas desempenham papéis de madrastas malvadas ou mães substitutas cruéis também, como a Hera, a madrasta de Hércules.

Como uma raiz profunda, há diferentes motivos que contribuem para solidificar essa infeliz árvore de preconceito que foi crescendo. O machismo é uma delas, visto que é sempre muito mais conveniente colocar uma mulher em posição de desprestígio, sobretudo uma mulher que veio depois e subverteu a lógica da família tradicional, o que ajuda ainda a fomentar a rivalidade feminina, outra lógica perversa que o machismo alimenta.

Psicologicamente falando, a introdução de uma nova figura na família pode ser sempre complexa, mas quando se trata de uma posição materna, isso pode ser visto ainda mais como uma ameaça à estabilidade familiar, O medo dessa figura estar tentando substituir a mãe biológica, essa figura tão santificada ao longo dos séculos, se torna ainda mais presente.

Virei madrasta, e agora?


Neste Tema da Vez sobre maternidade, dedicamos uma parte inteira somente para falar da madrasta. Mas com o divórcio cada dia mais comum, cresce o número de mulheres que exercem um tipo diferente de maternagem do qual pouco se fala, que é a madrastidade, e que merece mais atenção em os velhos tabus. 

Letícia Tomazella, madrasta de dois e autora do livro
Madrasta é a mãe: reflexões sobre uma maternagem marginal, afirma que “mesmo que isso pareça infantil, no dia a dia lidamos com as consequências desse imaginário todo, como a falta de confiança das pessoas em nossa capacidade de maternar e amar nossos enteados”

Segundo este artigo da BBC, “existem mais de 900 histórias escritas em todo o mundo sobre madrastas malvadas ao longo dos séculos (sem falar na corrente interminável de adaptações cinematográficas) que fazem com que elas, muitas vezes, sejam consideradas menos afetuosas, gentis, alegres e agradáveis — e mais cruéis, injustas e até odiosas.”

Apesar da persistência dessas metáforas negativas,
um estudo realizado em 2021 na Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, mostrou que a maioria dos enteados que participaram da pesquisa tinham uma relação positiva com suas madrastas. Todd Jensen, pesquisador responsável pelo estudo, afirma que a presença da madrasta pode “trazer uma contribuição única para o bem-estar de uma criança” e constatou que estas relações benéficas reduzem níveis de ansiedade, depressão e solidão nas crianças, especialmente após um divórcio

Muitas pesquisas mostram que crescer na presença de outros modelos positivos de adulto, para além dos pais biológicos, ajuda as crianças a construírem resiliência emocional, melhora o desempenho escolar e neutraliza os impactos de dinâmicas familiares negativas. Sem dúvida o papel da madrasta é complexo e muitas acabam caindo na mesma armadilha da perfeição na busca de romper com os estereótipos negativos.

Outros casos positivos


E foi pensando nesses casos de sucesso que fomos procurar outras histórias inspiradoras. Mais do que isso, buscamos também a versão delas, as madrastas, e como foi se apropriar desse título e dessa posição familiar e ainda de uma mãe que tem uma boa relação com a madrasta do seu filho. Veja a seguir!



“Conheço a Renata há 19 anos. Não foi a primeira vez que conheci uma namorada do meu pai, mas as outras eram relações mais superficiais, ela era fotógrafa da banda do meu pai e foi chegando devagar. Os anos passaram e a gente sempre teve uma relação boa, sempre fomos pra praia com ela na casa dos pais dela e sempre fomos bem recebidos pela família deles - eu posso falar ‘tô passando pra almoçar aí’ e vai ter almoço pra mim. Nunca tivemos nenhum problema mais sério, só os mais comuns na adolescência, que se dariam em qualquer relação e ela convivia muito com a gente. Eu nunca tive o mito da madrasta má pra mim, o único preconceito que lembro de ter passado foi a família de uma ex-namorada que não entendia essa proximidade, porque até mesmo a relação dela com a minha mãe sempre foi boa. Mas pra ela pode ter sido mais difícil em relação à sociedade, até porque ela nunca gostou da palavra, do título madrasta, mas sempre gostou muito de nós e mais importante: sempre foi muito parceira do meu pai.”

Lucas Baptista, publicitário e enteado da Renata

“Há 14 anos sou madrasta dos 2 filhos do meu segundo casamento. E meu marido é padrasto da minha filha. Para mim, conhecer os enteados foi muito importante, pois também tenho uma filha do primeiro casamento. Quando você tem filhos, você se torna um ‘combo’, a mala já vem com a necessaire de brinde. Conheci primeiro a Gabi, filha do meu marido, o Michel. Foi meio de surpresa, ela que pediu pra me conhecer e eu não tinha me preparado ‘mentalmente’, fiquei muito nervosa. Ela tinha por volta dos 15 anos e foi muito segura e madura por partir dela querer saber quem eu era. Demorei um pouco mais para conhecer seu irmão, o Lulu (Lucas). Ele precisou de mais tempo para assimilar, e meu marido (namorado na época) sempre respeitou e foi paciente para que tudo acontecesse na hora certa. Foi muito importante pra mim também que os 2 aceitaram e tratam minha filha como a irmã mais nova. Ela ama eles e isso me deixa muito feliz. Acho que, como qualquer relação, a gente tem que construí-la todos os dias. Tivemos a sorte de que todos sempre quiseram ter uma família divertida, leve e amorosa, e hoje temos. Não sou uma pessoa muito carinhosa e tento sempre ouvir, entender, respeitar e não me intrometer se não for chamada. Uma coisa que acho super importante é que eu e o Michel nunca quisemos ser ou substituir ou desrespeitar, respectivamente, a mãe e o pai deles. Nunca gostei muito da palavra madrasta, vem das antigas histórias infantis onde ela é sempre a má da história. E também me incomoda a palavra enteado/a. Mas isso nem importa muito. O mais importante pra mim hoje é que não me vejo sem tê-los sempre por perto, construindo memórias leves e divertidas, sem precisar ter nomenclatura para definir cada um dentro da família.”

Juliana Souza, jornalista e madrasta da Gabriela e do Lucas

Conheci a Ju quando eu tinha uns 15 anos, eu fiquei bem nervosa, mas eu achava importante conhecer a pessoa que vinha fazendo meu pai feliz. A gente demorou uns anos para ficar mais próximas, mas quando isso aconteceu, viramos amigas. É uma relação mais de amizade do que de madrasta e enteada, tanto que eu tenho dificuldade em chamar ela de madrasta porque eu vejo ela como uma confidente com quem eu troco mensagem e converso sempre. Ela é uma pessoa que faz meu pai feliz, com quem a gente tem uma preocupação e um carinho em comum, então pra mim sempre foi uma relação muito leve. As dificuldades estavam mais relacionadas à aceitação da minha mãe, essa coisa de qual é o lugar da mãe e qual o do madrasta, mas eu acho que eu consigo separar bem isso. Eu vejo no meu círculo de amizade que se dar bem com a madrasta é um pouco uma exceção mesmo. Eu conheço muita gente que não se dá bem e pra mim foge muito da minha realidade. Eu nunca temi que ela roubasse meu pai, por exemplo, para mim eles são um exemplo de amor e de que há segundas chances na vida. Acho que nessa família recomposta que a gente tem, todo mundo só quer ser feliz, sempre tendo a harmonia como objetivo final.”

Gabriela Boccaccio, jornalista e enteada de Juliana Souza

“Eu conheci a madrasta do meu filho, a Ingrid, há 5 anos, foi a primeira madrasta que ele teve e o nosso primeiro encontro não foi a parte mais fácil. A minha primeira impressão foi meio que de ego ferido, e eu tinha muito medo de como seria essa relação do Klauss, meu filho, e ela também tinha as questões dela comigo. A parte boa é que ela era professora de criança, então eu sabia que ela saberia lidar com ele e ter didática. De 5 anos pra cá, muita coisa mudou. A gente teve conversas muito difíceis pra gente conseguir estreitar nossa relação e começamos a ser meio que o porto seguro uma da outra. Depois eu participei de um reality show e ela foi muito essencial pra mim nessa parte, me ajudou, me aconselhou, estava lá quando eu precisei. Existe sim um preconceito muito grande, as pessoas estranham bastante nossa relação, então a gente vê que não é comum na sociedade. Mas eu acho que isso está muito ligado com a relação de como acabou e como resolveu a relação da mãe e do pai. E é importante sempre ter em mente que tudo isso é pro bem da criança, eu acho que quem mais perde em situações ruins entre mãe e madrasta é o filho. Desde que a gente conseguiu se resolver, eu sempre disse que ela tinha abertura para brigar, pontuar, educar, porque ela fazia parte disso, ela também é da nossa família. Ela sempre teve total liberdade para ajudar e estar ali presente. Hoje ela ajuda demais, ele fala que muitas coisas que ele faz é por conta da tia e eu acho isso ótimo”

Ana Bianca Sessa, criadora de conteúdo e mãe do Klauss, enteado de Ingrid

"Esse mês meu pai e minha madrasta fazem 20 anos juntos. Ganhei ela quando tinha 10 anos, são dois terços da minha vida. Meu pai já tinha tido alguns relacionamentos, mas foi a primeira vez que tive uma conexão muito forte - tanto eu, como meus irmãos. Eu tenho muito forte a primeira lembrança da minha madrasta me dando um abraço muito forte e me pedindo desculpas na sequência, dizendo 'é que eu amo dar abraços'. E eu também sou uma pessoa que amo abraçar. Ela não tem filhos, e acho que isso fez diferença porque ela sempre teve eu e meus irmãos como filhos, mas sem tentar substituir ou competir com a minha mãe. As dificuldades que tivemos foram tão pequenas que é até difícil de lembrar, ela pegou muito a minha adolescência e da minha irmã, uma fase que é preciso paciência. Uma coisa que ela agregou muito é que o relacionamento dos meus pais nunca foi bom e ela sempre fez a mediação, colocou panos quentes, isso era positivo para todos os envolvidos. Tanto que a minha mãe sempre confiou muito na minha madrasta e quando eu tinha 15 anos, eu e minha irmã viajamos com ela por uma semana na Itália, só nós três. Hoje eu moro com ela e meu pai em Portugal e me refiro como 'meus pais', para facilitar. Quando descobrem que ela é na verdade não é minha mãe, rola uma surpresa, até pela nossa relação tão próxima. Mas, para mim, ela é sim como uma segunda mãe. Nosso laço é tão forte que eu tenho certeza que ainda que o relacionamento dela e do meu pai terminasse, por exemplo, eu continuaria tendo contato com ela. A mãe dela se tornou a minha ‘avó’, para se ter uma ideia. Eu sei que não é comum nas famílias porque sempre ouvi que eu tinha ‘muita sorte’ de ter uma madrasta tão legal, não era a realidade das minhas amigas. Eu não acho que seja sorte, para mim esse deveria ser o normal. Ela é minha ‘mãedrasta’, evoluiu comigo e, para mim, não tem muito segredo.”

Marina Meira, marketeira e enteada de Patrizia

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O que é o 'ikigai', o segredo japonês para um vida longa

Pessoas com senso de propósito vivem mais e são mais felizes

21 de Novembro de 2019


Você sabe por que se levanta pela manhã? Se consegue responder a isso, então, você já encontrou seu ikigai, um conceito japonês antigo que pode ser a chave para uma vida longa, feliz e saudável. Não existe uma tradução direta para o termo.

O mais próximo que se pode chegar é a descrição feita por Ken Mogi, autor do livro Ikigai: Os cinco passos para encontrar seu propósito de vida e ser mais feliz (Astral Cultural, 2018). "Ikigai é a sua razão de viver", diz o neurocientista japonês. "É o motivo que faz você acordar todos os dias."

O conceito vem de Okinawa, um grupo de ilhas ao sul do Japão com uma população de moradores centenários bem acima da expectativa de vida média, mesmo para os padrões japoneses. Muitos acreditam que o ikigai é o segredo de sua longevidade. O termo é bem conhecido em todo o país, como explica Mogi, e a ideia representada por ele está se espalhando para outras partes do mundo.

Segundo o autor, é "muito importante identificar as coisas que você gosta de fazer e que te dão prazer, porque elas dão propósito à vida e levam a uma existência longa e feliz". "E não se trata apenas de viver por um longo tempo, mas de aproveitar a vida e saber o que você quer fazer com ela", afirma.

O ikigai também é algo muitas vezes relacionado à vitalidade. "É a felicidade que vem de sempre ter algo para fazer, de estar ocupado", diz Francesc Miralles, que, junto com Héctor García, escreveu Ikigai: Os segredos dos japoneses para uma vida longa e feliz (Intrínseca, 2016).

Como achar seu 'ikigai'?


"Em geral, somos tão obcecados com o sucesso e grandes metas que a vida acaba se tornando intimidadora. O legal do ikigai é que você pode partir de coisas pequenas até chegar aos grandes objetivos de vida", diz Mogi Mas todo esse bem-estar em potencial depende de um pequeno detalhe: encontrar um ikigai.

E se você não sabe o que mexe com você? "Você precisa observar a si mesmo", recomenda Mogi. "Parta do zero, olhe-se no espelho: que tipo de pessoa é você? Pense no passado e no que te dá prazer. Isso te dará uma pista. Como neurocientista, eu acredito que as coisas que nos dão prazer são reflexos do tipo de pessoas que nós somos."

Mas ampliar seu horizonte para objetivos maiores pode ser mais complexo. "Se você não sabe o que quer da vida, comece fazendo uma lista do que você não quer, quais situações te deixam desconfortável ou infeliz, quais atividades prefere evitar", aconselha Miralles.

"Você pode descobrir que há várias coisas que te deixam feliz: aprender coisas novas, cuidar do jardim, ajudar outras pessoas, resolver problemas, fazer música... ou vender coisas, falar em público." Miralles admite que encontrar um ikigai não é sempre um processo simples. "Há pessoas que sabem o que querem ser desde a infância, mas a maioria de nós não sabia o que queria."

E há o peso do cotidiano: "Vamos à escola, buscamos emprego, lidamos com obrigações e pagamos contas... e, com isso, podemos nos distanciar de nossos impulsos naturais". Para ajudar a encontrar sua paixão, o escritor sugere seguir o conselho do cientista da computação e palestrante motivacional Randy Pausch (1960-2008): "Resgate seus sonhos de infância. Quais eram? Desenhar por horas? Dançar? Correr? Pense em quando era pequeno e no que te deixava feliz e você não faz mais".

Quantos 'ikigais' você pode ter?

Há muitas formas de ter prazer. Na verdade, é importante ter vários ikigais, dos mais simples aos mais ambiciosos. "A maioria das religiões só acreditam em um deus. Mas, no Japão, acreditamos que há 8 milhões de deuses", diz Mogi. "Isso influencia como os japoneses veem o ikigai: não acreditamos que há só uma coisa importante, não perseguimos apenas um objetivo, pode haver milhares de coisas diferentes que podem nos dar prazer."

Mogi dá um exemplo como isso se aplica em sua vida prática. "Meu ikigai menor é correr 10 km em Tóquio todos os dias. Mas, como cientista, minha maior alegria é ter ideias novas e, talvez, dar uma contribuição para o mundo. Isso também é meu ikigai".

Há alguma prova de que o 'ikigai' funciona?

Mogi está convencido de que sim, e aponta estudos realizados pela Universidade Toho, em Tóquio, que investigam o sentido e significado da vida e sua correlação com a taxa de mortalidade em idosos.

De acordo com estudos realizados com idosos que levam um estilo de vida equilibrado, há uma correlação entre longevidade e ter uma razão de viver: seu sistema imunológico - e, em especial, um tipo de glóbulo branco, o neutrófilo - atua melhor, ajudando a mantê-los saudáveis por mais tempo.

Em uma outra pesquisa, a neuropsicóloga americana Patricia Boyle, do Centro Rush para Mal de Alzheimer, em Chicago, acompanhou 900 idosos que corriam o risco de desenvolver demência em um período de sete anos. Ela concluiu que aqueles com uma boa noção de seu propósito de vida tinham 50% menos chances de ficar doentes.

“O cérebro humano tem uma habilidade incrível de regular as funções do corpo.Em alguns casos, pode se curar por conta própria, como demonstrado pelo efeito placebo", afirma Mogi. "Se você acha seu ikigai, as pequenas coisas que dão significado à vida podem te ajudar a preservar sua saúde por mais tempo."

Quem são os mestres do 'ikigai'?

Quando Francesc Miralles e Héctor García visitaram Ogimi, um vilarejo de Okinawa, eles chegaram à mesma conclusão sobre a relação entre a longevidade e o ikigai. Ogimi tem 3 mil habitantes e está no Livro Guinness dos Recordes por ter a população mais velha do mundo. Também é um epicentro do ikigai.

Não é uma surpresa, portanto, que Okinawa seja conhecida como a "Terra dos Imortais". As pessoas dessa região do Japão tiram proveito do clima subtropical, têm uma dieta rica em frutas e vegetais, moram em comunidades onde se valorizam os laços pessoais e se mantêm ativas fisicamente por toda a vida.

Miralles e García se interessaram pela "história do vilarejo de centenários, onde tantas pessoas vivem além dos 100 anos". "Queríamos descobrir o porquê disso", diz Miralles. "Como parte de nosso trabalho de campo, perguntamos aos idosos de Ogimi o motivo de estarem sempre alegres, por que cuidavam uns dos outros, o que os fazia ter laços tão fortes uns com os outros... e uma palavra era mencionada com frequência: ikigai."

Um dos aspectos que diferenciam o ikigai de simplesmente ter um hobby é que não se trata de obter uma gratificação instantânea. É algo que impulsiona a pessoa rumo ao futuro e a faz seguir em frente. Miralles diz que há outros lugares do mundo com condições de vida semelhantes às de Ogimi, mas não com a mesma proporção de moradores centenários. Então seria o ikigai o segredo da longevidade? "Acredito que essa seja a diferença."

Fazendo o 'ikigai' funcionar para você

É claro que nem todos nós podemos levar uma vida idílica em Okinawa, "mas todos podemos 'criar nossa Okinawa' onde estamos", segundo Miralles. Ele destaca que, ainda que essa região seja bem diferente do resto do país, outras partes do Japão adaptaram o conceito às suas vidas, mesmo em ambientes urbanos.

Para trazer o ikigai para sua vida você não precisa se mudar, mas apenas entender a essência do conceito e torná-lo parte do seu cotidiano. Então, se você quiser ter uma vida longa e saudável, vale a pena tentar descobrir seu ikigai. "Não é apenas bem-estar. O Ikigai também é uma esperança para o futuro", afirma o neurocientista japonês.

Fonte: Eva Ontiveros, para BBC
Síntese: Equipe Plenae
Leia o artigo original aqui .

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