Para Inspirar

Mudanças no estilo de vida diminuem risco de demência

Pesquisa revela que probabilidade de desenvolver a doença pode cair em até um terço

17 de Julho de 2019


Quase todo mundo pode reduzir em até um terço o risco de demência vivendo um estilo de vida saudável, sugere uma nova pesquisa com quase 200.000 pessoas. Cientistas da Universidade de Exeter, no Reino Unido, disseram que os resultados foram empolgantes, fortalecedores e mostraram que as pessoas não estão condenadas a sofrer de demência. O que conta como um estilo de vida saudável? Os pesquisadores deram às pessoas uma pontuação de estilo de vida saudável com base em uma combinação de exercícios, dieta, álcool e tabagismo. Este é um exemplo de alguém que marcou bem:
  • Atualmente não fuma
  • Pedala em ritmo normal por duas horas e meia por semana
  • Segue uma dieta balanceada que inclui mais de três porções de frutas e vegetais por dia, come peixe duas vezes por semana e raramente consome carne processada
  • Bebe até 500 ml de cerveja por dia
E um insalubre?
  • Atualmente fuma regularmente
  • Não faz exercício regularmente
  • Segue uma dieta que inclui menos de três porções de frutas e vegetais por semana e duas ou mais porções de carne processada e de carne vermelha por semana.
  • Bebe pelo menos 1,5 litro de cerveja por dia
Pesquisa. O estudo acompanhou 196.383 pessoas a partir dos 64 anos de idade por cerca de oito anos. Os cientistas analisaram o DNA dos indivíduos para avaliar seu risco genético de desenvolver a doença. O estudo mostrou que havia 18 casos de demência por 1.000 pessoas se eles nasceram com genes de alto risco e adotaram um estilo de vida pouco saudável. No entanto, o índice caiu para 11 por 1.000 pessoas durante o estudo, se esses indivíduos de alto risco tivessem um estilo de vida saudável. Não parece ser uma grande diferença? Os números podem parecer pequenos, mas isso é porque as pessoas de 60 anos são relativamente jovens em termos de demência. Segundo os pesquisadores, a redução em um terço teria um impacto profundo nos grupos etários mais velhos, nos quais a doença é mais comum. "Isso pode equivaler a centenas de milhares de pessoas", disse o Dr. David Llewellyn à BBC . O estudo não prova definitivamente que o estilo de vida causa riscos diferentes de demência. Ele simplesmente identifica padrões nos dados. Porém os resultados, publicados no Journal of American Medical Association , se encaixam em pesquisas anteriores e em recomendações da Organização Mundial de Saúde. Posso evitar completamente a demência? Infelizmente, você pode viver uma vida monástica e, ainda assim, desenvolver a doença. O estilo de vida apenas altera o risco. No entanto, ainda não existem medicamentos para alterar o curso desta doença. Reduzir suas chances é tudo que qualquer um pode fazer. Fonte: James Gallagher, para BBC Síntese: Equipe Plenae Leia o artigo completo aqui .

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Para Inspirar

Daniela Lerario em "Uma expedição que mudou minha vida"

Na décima primeira temporada do Podcast Plenae, inspire-se a mudar o mundo com a trajetória de ativismo de Daniela Lerário.

27 de Março de 2023



Leia a transcrição completa do episódio abaixo:

[trilha sonora]
Daniela Lerario: Um dos trechos mais marcantes da travessia foi quando a gente passou pela "Mancha de lixo do Pacífico", que é uma região que hoje já é bem mais explorada e conhecida, mas naquela época era ainda um mistério. 

Eu tinha na cabeça a ideia de uma "ilha de lixo" - que na verdade nunca existiu. Parece mais uma sopa com um monte de objeto flutuante. Pente, escova de dente, madeira, uma roda com a calota e tudo, várias embalagens de plástico flexível - uma tinha data de 1980, imagina.  Em alguns lugares, a quantidade era bem maior, e a gente podia ver aquelas coisas que ainda não afundaram …. A água que a gente coletava pra amostragem - parecia normal, até olhar de pertinho. Depois ela era viscosa, tinha vários pedacinhos de plástico colorido. [trilha sonora] Geyze Diniz: Guiada por sua intuição, Daniela Lerario, há 11 anos, embarcou em uma expedição que mudaria sua relação com o consumo e com a natureza. Foram mais de 40 dias no mar, 12 tripulantes e um único propósito: ajudar o meio ambiente. Eu sou Geyze Diniz e esse é o Podcast Plenae. Ouça e reconecte-se. [trilha sonora] Daniela Lerario: Em 2012, eu me juntei a 12 pessoas de 7 países, numa expedição atrás dos resíduos do tsunami que atingiu o Japão, um ano antes. Essa foi a maior aventura da minha vida, uma viagem de quase 4 meses, sendo 42 dias num veleiro.  Eu soube dessa jornada pelo blog de um capitão norte-americano chamado Charles Moore. Esse cara é um ativista ambiental e velejador que há muitos anos trabalha com proteção e conservação dos oceanos, e fez uma convocação para PANGEA Expedition.  No dia 11 de março de 2011, um terremoto de 9 graus de magnitude no fundo do mar, seguido por um maremoto, arrastou milhares e milhares de toneladas de resíduos da costa do Japão.

 

Eu já trabalhava com gestão de resíduos desde os tempos de estagiária, na faculdade de biologia. E, quando eu vi esse anúncio, foi aquele “pá”. Sem pensar muito, eu decidi me candidatar pra expedição. Daí mandei um vídeo explicando o quanto sou apaixonada pela natureza, pelo oceano e por uma boa aventura. Eu contei o meu histórico profissional sobre resíduos e disse que eu sempre adorei essa coisa de tentar achar solução pra problemas difíceis.  Eu falei também sobre as minhas habilidades. Eu limpo muito bem, gosto de música boa, tenho histórias legais para contar, dificilmente tô de mau humor e eu gosto muito de conhecer gente nova.  Depois de algumas semanas eles me responderam falando: 

“Legal, você tá dentro. Só que você precisa subsidiar a viagem. Se vira”. Puts! A expedição custava uns 7 mil reais, mais a passagem de ida pra Tóquio e a de volta pro Havaí. Ou seja, eu não tinha essa grana. E o maior problema não era nem esse.  [trilha sonora] Fazia menos de dois anos que eu estava num ótimo emprego, numa empresa bem grande com um trabalho bem remunerado. Quando eu recebi a resposta, eu pensei: “Que que eu faço agora? Como é que eu vou sair de um emprego que tá super bem pra embarcar numa aventura dessas, e ainda pagar por isso?”  [trilha sonora] Só que, por mais que parecesse uma loucura, não tinha nenhuma dúvida sobre a decisão que eu estava tomando. Eu tenho uma conexão engraçada e bem forte com a minha intuição. Eu sempre sei o que fazer, e aí, eu coloco energia em como vou fazer acontecer. Até hoje eu tenho o costume de me perguntar o quanto que uma escolha afeta positivamente a mim e a minha família, e se ela conecta com a minha essência e com o que eu percebo de valor. A resposta sempre vem. [trilha sonora] Eu digeri a informação por alguns dias antes de tomar coragem de entrar na sala do VP da empresa na época e dar a notícia pra ele. Ele deve ter me achado completamente maluca. Eu lembro dele olhar para mim e falar: “Me conta, o que que é que você vai fazer nesse navio?”  Eu pensava: “Não é um navio, é um veleiro”. Aí ele disse com um ar meio de reprovação “Olha, menina, se eu tivesse aceitado qualquer coisa que aparecesse na minha vida, eu não estava sentado aqui”. Eu tinha uma certeza: que a única coisa que eu não queria tá era sentada naquela cadeira. Ele até tentou me convencer. Ele disse que poderia guardar meu lugar por alguns meses: “Tá bom, de quanto tempo você precisa? Dois meses? Três, quatro?”. Tipo, vai lá, e faz o seu capricho e volta. Mas eu não podia me comprometer, vai saber o que que tinha lá fora reservado pra mim. [trilha sonora] Numa decisão bem controversa - pros outros - eu juntei as economias, passei o chapéu e fui pro Japão. Chegando lá, eu não conhecia ninguém. A gente foi se conhecer em Tóquio, num alojamento do Corpo de Bombeiros que a expedição tinha cedido pra gente. Eu era a única brasileira no grupo de 12 pessoas.  Na primeira noite, a gente jantou com o Charles Moore, aquele norte-americano que convocou a expedição. Esse cara foi a primeira pessoa que cruzou com a mancha de lixo do Pacífico. Isso foi lá em 1997, quando ele estava participando de uma regata e fez uma mudança de trajeto para cortar o caminho de Los Angeles pro Havaí.  Daí pra frente ele começou a estudar essa região de acúmulo de resíduos. E hoje em dia, a gente sabe bem mais sobre esse tema. Essa mancha, ela ocupa uma área do tamanho do estado do Texas. Para comparar, maior que o estado de Minas Gerais, imagina! E ela não é a única, são outras quatro destas no planeta, talvez até cinco. [trilha sonora] Esses "sistemas de correntes oceânicas rotatórias", que são conhecidos como giros oceânicos, são dois no Oceano Atlântico (Norte e Sul), dois no Pacífico (Norte e Sul) e um no Índico. E eles afetam diretamente o clima global e os ecossistemas marinhos. 

É como se eles fossem grandes ralos, e é lá que vão parar todos os resíduos que, de alguma maneira, caem no mar. São várias as fontes: os rios poluídos, o esgoto mal tratado, um lixão perto da costa, redes de pesca, o lixo que é descartado pelos navios e, claro, as embalagens de uso único. Tipo aquela garrafinha de água que as pessoas deixam na areia. [trilha sonora]  Os resíduos plásticos tão entrando no oceano numa taxa de cerca de 11 milhões de toneladas por ano, prejudicando a vida marinha e os habitats. O plástico é um material feito pra durar e dura. O problema é que a gente deixa ele ir parar no mar. 

Essas zonas de confluência concentram pequenos fragmentos que a gente chama de microplásticos. O plástico vai se quebrando com a ação da maré, dos raios solares e do vento. São pedacinhos bem minúsculos que acabam entrando na cadeia alimentar através dos animais menores - os fitoplânctons, por exemplo - e sobem até os maiores - como os camarões ou peixes - que no final são consumidos por nós. Tinha um cientista, o NIkolai Maximenko, que acompanhava por satélite pra onde iam os resíduos do tsunami do Japão - e eles estavam se movendo em direção à grande mancha de lixo do Pacífico. E era exatamente pra lá que a gente também ia. [trilha sonora] Mas, antes de embarcar no veleiro, a gente fez um período longo de trabalho voluntário pelo Japão. A ideia era mergulhar na cultura local, entender um pouco da lógica da expedição e compreender que os resíduos que a gente ia monitorar vinham de famílias. Foram mais de 18 mil vidas perdidas naquela tragédia. A gente tinha que entrar naquele lugar com muito respeito. [trilha sonora] O líder científico da nossa viagem era o Marcus Eriksen, um ativista fundador do 5 Gyres Institute, uma ONG norte-americana super conhecida no tema de poluição de plástico. Com a liderança dele e alguns outros tripulantes, a gente se voluntariou em Fukushima. Esse nome deve ser familiar pra você. É aquela província onde o tsunami causou o maior desastre nuclear desde a explosão em Chernobyl, na Ucrânia, em 85. Meu pai ficou super preocupado quando eu contei que ia pra lá. Eu lembro dele falando: “Filha, o mundo inteiro tá indo para longe de Fukushima. O que que você vai fazer lá? Não faz essa loucura!” E eu, acho que tão jovem na época, nem pensei no perigo da radioatividade. Eles deram pra gente máscara, bota e uma roupinha especial e lá fomos nós. [trilha sonora] O senso de comunidade dos japoneses é de dar orgulho. Eu fiquei surpresa de encontrar vários japoneses que tinham tirado férias, saído das suas cidades pra ajudar a reconstruir o país de uma forma anônima e voluntária. Eles estavam ali porque era o certo a se fazer. Eu e o Marcus, a gente trabalhou na reconstrução de um jardim da casa de uma senhora que perdeu toda família no tsunami. A gente cuidou do canteiro dela e depois sentou no tatame da sala pra tomar um chá. Ela contou em japonês, meio com sinais, que viu aquela onda gigante vindo em direção da casa e depois perdeu toda sua família. Ela tinha uma origem rural e dava pra perceber que as mãos dela eram de gente que trabalha na terra, sabe? O Marcos pediu permissão e fez um molde de gesso da mão dela. E foi um momento super marcante pra mim, porque essa peça acabou acompanhando a gente durante toda a expedição, representando a conexão da nossa viagem com a vida humana. 


[trilha sonora] Depois dessa etapa, a gente embarcou no que era pra mim o auge da experiência: a travessia. O veleiro Sea Dragon, ou Dragão do Mar, tinha 78 pés, que era mais ou menos 23 metros. Que é grande, mas, mesmo assim, sem nenhuma privacidade pra 12 pessoas. A partir daí, era todo mundo tripulante. A gente dormia em redes enfileiradas e sobrepostas em três camadas, assim como se fosse um triliche. O barco tinha dois banheiros, mas só um tava funcionando. E a bomba de água doce deu problema desde a primeira semana, então a gente não tomava banho e tinha que cozinhar com água do mar pra economizar. Durante toda a expedição, a gente não teve um telefonema e pouquíssima comunicação com o mundo externo. Era um estado de presença absoluta, em que ninguém ficava parado. Todo mundo trabalhava em turnos, eram equipes de 3 pessoas, limpando, cozinhando, fazendo o trabalho científico de coleta e avistamento de resíduos. Várias vezes por dia, a gente lançava no mar um equipamento que parece uma raia com uma bocona bem grande de metal e um saco de rede. Depois, a gente despejava essa amostra numa peneira e fazia uma análise. A gente fez isso 93 vezes durante as 7.000 milhas percorridas. E mais de 90% das amostras tinham fragmentos plásticos. Eu também passei muitas horas olhando pro mar, em busca de algum resíduo flutuante. E a gente tinha que anotar tudo o que aparecia em uma prancheta com as fichas de resíduos com o maior detalhe possível. 

[trilha sonora]

Depois de mais de 40 dias no mar, eu tinha dois caminhos. Ou eu botava tudo aquilo debaixo de uma pedra e fingia que não era comigo ou eu encarava a realidade e pensava: bom, o que que eu posso fazer pra mudar?

[trilha sonora]

Onze anos depois, eu sei que a expedição mudou completamente a minha vida, muito mais do que eu imaginava que ela ia mudar. No lado pessoal, a minha relação com o consumo se transformou completamente. Eu nunca mais comprei caneta com tampa, por exemplo, porque a tampa é um resíduo tão pequeno que provavelmente vai parar no mar. A bexiga, por exemplo, é muito legal, mas nas festas de aniversário dos meus filhos não tem de jeito nenhum. Embalagem de sachê, aquelas pequenininhas, esquece, você nunca vai me ver usando. E se eu tiver que usar eu vou tá com o coração bem apertadinho, com peso na consciência. Todo mundo brinca que ir pro supermercado comigo, por exemplo, é um inferno, porque eu me preocupo tanto com o conteúdo quanto com a embalagem. Eu analiso cada um pra optar por aquelas que têm maior chance de serem efetivamente recicladas no lugar onde eu vivo. São medidas pequenas que entraram na nossa rotina, mas claro que sozinhas elas não vão ser suficientes. Por isso, com a maturidade, eu saí um pouco desse lugar de culpa e procuro focar a minha energia nas ações que realmente vão fazer uma mudança, tipo influenciar políticas públicas.

[trilha sonora]

Do ponto de vista profissional, a expedição pivotou a minha carreira. Ela trouxe oportunidades que rendem até hoje pra mim. De lá pra cá, me tornei sócia de uma empresa, da qual fui CEO por 3 anos. Desde 2018, eu me dedico a um desafio um pouquinho maior, que é o das mudanças climáticas. Eu recebo o tempo inteiro notícias terríveis, estudos cada vez piores sobre as projeções pro futuro da humanidade.


É difícil estar nessa posição. Mas, se eu pensar nisso, eu não saio da cama. Então, eu lido com isso com um otimismo teimoso, que a gente gosta de falar. Eu sou a esperança encarnada. Não é uma visão ingênua, mas de acreditar que, se a gente aprender a colaborar de forma realmente inclusiva e se a gente der pras pessoas o mínimo de oportunidade, é possível reverter esta situação. 

Eu acredito muito na ciência e na capacidade do ser humano de inovar. A gente nunca teve tanto dado disponível e a gente já sabe exatamente o que a gente precisa fazer. É possível um manguezal saudável e produtivo, é possível restaurar, preservar e proteger a integridade e a resiliência do nosso oceano para as gerações futuras Eu sei que nem todo mundo pensa como eu. Mas a gente precisa de mais diálogo, porque nas discussões polarizadas todo mundo perde.  

O meio ambiente somos nós. Nós somos a natureza. Nessa corrida, todo mundo ganha ou todo mundo perde. Ou a gente é parte da solução ou a gente vai continuar sendo parte do problema.

[trilha sonora]

Geyze Diniz: Nossas histórias não acabam por aqui. Confira mais dos nossos conteúdos em plenae.com e em nosso perfil no Instagram @portalplenae.

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