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Qual o limite da longevidade?

Até o momento, a questão-chave da ciência é saber quantos anos de vida a mais ainda podemos ganhar sem a aplicação intensiva de medicina científica.

5 de Julho de 2018


Até o momento, a questão-chave da ciência é saber quantos anos de vida a mais ainda podemos ganhar sem a aplicação intensiva de medicina científica. Já se tem notícias de idosos vivendo muito além da idade média da população. Cresce o interesse na investigação dos genes de quem passa dos 100 anos – às vezes com muita lucidez e saúde. Enfim, o que essas pessoas teriam de tão especial? É o caso de Emma Morano, que morreu em abril de 2017, com 117 anos. Acredita-se que fosse a última sobrevivente do século 19. Emma nasceu em Civiasco, na região do Piemonte, norte da Itália, e cresceu em uma família grande de oito irmãos. Passou por duas guerras mundiais e mais de 90 governos italianos. Emma Morano nunca fez terapia com células-tronco, nem teve o coração impresso em 3D, nem, até onde sabemos, sofreu uma dieta calorífica restrita. Dos quatro fatores reconhecidos para uma vida longa – vida saudável, prevenção e cura de doenças, medicina regenerativa e retardamento da idade –, Emma Morano alcançou os 117 anos apenas com os dois primeiros fatores presentes. O mesmo se deu com a francesa Jeanne Calment, recordista em longevidade, falecida em 1997, com 122 anos e 164 dias.
Jeanne Calment
Emma Morano
Há quinze anos, um estudo de indivíduos extremamente idosos no Japão concluiu que os participantes mais velhos eram mais saudáveis ​​do que os controles, apesar de terem em média 10,8 anos a mais. Apresentavam perfis de fatores de risco biológicos e fisiológicos significativamente superior – melhor função física e cognitiva, além de menor número de doenças relacionadas à idade. Gene da velhice saudável. O estudo endossou o conceito de um fenótipo de “envelhecimento saudável”, pelo qual certos indivíduos podem, de algum modo, retardar ou evitar grandes doenças e incapacidades clínicas até o final da vida. Da mesma forma, pesquisas posteriores descobriram que os supercentenários – aqueles que sobrevivem 110 anos ou mais – apresentaram um fenótipo de envelhecimento excepcionalmente saudável, onde grandes doenças crônicas e deficiências foram significativamente atrasadas, muitas vezes além dos 100 anos. Os indivíduos tiveram poucas doenças cardiovasculares e não relataram história de câncer ou diabetes. Jeanne e Emma podem ter alcançado idades tão avançadas simplesmente por uma questão genética e também de sorte. Longe do acaso, os avanços científicos do século 21 caminham para decidir a longevidade dos netos delas. Uma questão que depende também das políticas públicas, por meio das quais serão decididas as pesquisas que devem ou não seguir. Não há como ignorar que a ampliação da população centenária tem grandes implicações sociais, inclusive de seguridade. No ambiente público, a participação nos debates permitirá a evolução de políticas baseadas na promoção da longevidade com qualidade de vida. Além disso, é imprescindível acompanhar atentamente e assegurar que governantes utilizem os investimentos sempre para garantir os melhores cenários para os indivíduos e a sociedade. Leia o artigo completo aqui.

Fonte: Sarah Harper Síntese: Equipe Plenae

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O que é positividade tóxica - e como ela afeta negativamente nossa mente

Ver somente o lado bom de todos os eventos cotidianos pode condicionar o seu cérebro mais resistente às realidades da vida

2 de Setembro de 2020


O ano é de 2020 e o mundo é então acometido por uma pandemia que já apresentava seus primeiros sinais ao final do ano anterior no território asiático - mas foi solenemente ignorada por todo o resto do planeta. De repente, nos vimos confinados em nossas próprias casas e, em muitos casos, acompanhados somente de nós mesmos e nossos pensamentos.

Por mais importante que a atitude positiva seja importante para tornar nossas rotinas mais leves, não podemos negligenciar nossas próprias emoções negativas, que fazem parte dessa dança chamada viver. Não só em situação pandêmica, mas em ocorrências comuns da vida - como o fim de um relacionamento ou a morte de um ente querido - todas elas pedem que se respire fundo e abrace a sua tristeza interior para que a ferida seja curada.


Entrevistados pelo portal Huffpost britânico, alguns psicólogos comentaram sobre o assunto e explicaram de forma científica o porquê devemos dar vasão mesmo aos sentimentos negativos que habitam dentro de nós. Essa negação já possui até mesmo um termo científico: positividade tóxica. Confira os principais pensamentos reunidos a seguir.


Simplificação do cérebro humano

Para a assistente social e diretora de desenvolvimento de programas do Newport Institute, Heather Monroe, a positividade tóxica pode simplificar o cérebro e a maneira como ele processa nossas emoções. Isso, a longo prazo, pode incentivar uma pessoa a inibir ou calar seus sentimentos e, por fim, desenvolver alguma doença de natureza emocional.

“Acreditar que, se ignorarmos as emoções difíceis e as partes de nossa vida que não vão bem, seremos muito mais felizes pode simplificar demais o cérebro humano e ser prejudicial a nossa saúde mental” diz. Isso porque sentir-se conectado e ouvido pelos outros é um dos antídotos mais poderosos contra a depressão e a ansiedade, segundo a especialista.

Multitarefas também pode ser tóxico

Está tudo bem em não conseguir realizar todos os seus sonhos e vontades de uma vez só. Durante a pandemia, fomos bombardeados com a ditadura da alta produção. Redes sociais e posts nos incentivando a estarmos em constante produção, seja de uma nova receita, ou tirando um velho projeto da gaveta ou aprendendo a fazer artesanato e falar um novo idioma.

Mas, como dissemos nessa matéria, o ócio é também muito importante para sua criatividade e para o respiro de seu cérebro. Mais do que isso, encher-se de tarefas ao longo do dia é negar seus próprios sentimentos e não parar para ouvi-los.

Para o psicoterapeuta Noel McDermott, também entrevistado pelo portal Huffpost britânico, “mesmo em tempos normais, concentrar-se no seu eu interior é sempre um desafio, pois todos temos nossos demônios”. Mas na pandemia, isso ficou ainda mais evidente. “Um dos maiores exemplos de positividade tóxica é a negação da natureza traumática da pandemia”, afirma.


Deslegitimação e invalidação de sentimentos

Estar preocupado ou chateado com alguma situação faz parte do funcionamento cerebral humano. É inclusive o que nos mantém vivos, alertas aos perigos que o mundo oferece, desde quando ainda éramos homo sapiens vagando pela natureza selvagem.

Evidentemente, os riscos hoje são diferentes - mas ainda assim, se nos geram preocupação, é porque acionam esse dispositivo mental que carregamos dentro de nós enquanto espécies ao longo dos milênios. A preocupação exacerbada pode gerar um estresse que, a longo prazo, também nos faz mal.

Mas simplesmente ignorá-la e fingir que ela não existe não parece uma boa solução. Afinal, é preciso fazer as pazes até mesmo com o estresse, como explicamos aqui. Até porque, em situações atípicas como no caso da pandemia, é preciso que o cérebro reconheça a situação em que está exposto para então se acostumar.

Segundo a terapeuta novaiorquina Jenny Maenpaa, é preciso estar atento à sua própria auto sabotagem. Assumir uma atitude positiva e otimista não necessariamente implica em ignorar todo o resto. “Você pode combater a positividade tóxica reconhecendo que diversas emoções complexas podem existir ao mesmo tempo dentro em você” afirma ao portal britânico Huffpost.

Cegueira sociológica

Por fim, a positividade tóxica pode ser nociva ainda em debates sociológicos, como racismo ou desigualdade social. Uma vez que o indivíduo está determinado a enxergar somente o que há de bonito na vida, ele acaba por ignorar muitas vezes o sofrimento do outro.

É irônico pensar que justamente as pessoas mais positivas possam ser menos empática, ainda que não propositalmente. Durante a pandemia, ao tentar pregar “vamos focar nos recuperados” insistentemente, o otimista pode estar fechando os olhos para a dor de quem perdeu um ente querido, e que pode ter ficado de fora desse foco positivo.

McDermott compara a um caso de abuso doméstico, onde a vítima não pode ser aconselhada com base somente na psicologia positiva como uma maneira de gerenciar o abuso, pois assim ela permanecerá nessa situação. “Ela deve ser aconselhada a tomar medidas para ter a segurança física e também a tomar medidas psicológicas para se recuperar do abuso” explica.

Permita-se ser e sentir

Educar o seu cérebro para manter-se grato pode te levar ao bom envelhecimento, como nos contou o neurologista Fabiano Moulin. Mas é importante que você se permita vivenciar o movimento e sentir todas as emoções que o cérebro humano é capaz de sentir. Isso vai te ajudar a elucidar questões e enxergar sob diferentes pontos de vista.



Uma vez admitido o desconforto, lide com ele de forma a educar o seu corpo, e não ignorando-o. Técnicas de respirações, como as que ensinamos aqui, podem te ajudar nessa empreitada. Entender as diferentes técnicas de meditação descritas aqui também devem ser bem-vindas para esse momento imersivo.

Cuidar da saúde mental em tempos de pandemia parece tarefa impossível, mas ouvir suas próprias queixas é o primeiro passo rumo ao autocuidado e ao autoperdão.

“Quando nos permitimos ter várias verdades aparentemente conflitantes em nossas mentes ao mesmo tempo, eliminamos a tensão entre elas e damos espaço a todas as nossas emoções, positivas e negativas”, explica Maenpaa ao Huffpost.

Todo tipo de expressão é válida: se você for mais reservado, escreva um diário. Dê corpo e alma a tudo que habita dentro de sua mente, para então identificá-los. Só assim você será capaz de lidar de maneira racional e sincera consigo mesma e com seus sentimentos. Esteja livre para sentir e, então, ser.

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