Segundo o artigo publicado pelo IPEA, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, nesse processo de renascimento da ciência psicodélica, avanços no campo da neurociência contribuíram para refutar antigas justificativas de demonização desses compostos. Hoje, é possível dizer que eles apresentam baixo risco de danos à saúde quando usados com conhecimento e responsabilidade. Ao mesmo tempo, mostram resultados positivos no tratamento de distúrbios mentais como depressão, ansiedade, traumas severos e vícios.
Especialmente no campo da psiquiatria, os psicodélicos têm gerado grande entusiasmo. Desde o lançamento do Prozac, nos anos 80, uma “crise” vinha se instaurando no ramo, já que muitos estudos mostram não só os riscos e limitações de um modelo de tratamento com prescrição de drogas de uso contínuo, assim como a ineficácia dessas drogas para uma parte considerável de pacientes. Por outro lado, com poucas sessões de terapia assistida utilizando psicodélicos, os indivíduos analisados mostraram redução significativa de sintomas, muitas vezes superiores aos tratamentos convencionais, recebendo o selo de “terapia inovadora” da FDA (Food and Drug Administration).
O que as tecnologias de conhecimento do cérebro identificaram é que eles atuam nesse órgão aumentando a quantidade de alguns neurotransmissores, especialmente a serotonina, propiciando mais conectividade entre neurônios, reduzindo a atividade de determinadas regiões cerebrais e intensificando outras. Drogas como o MDMA, já em fase avançada de estudos clínicos, possuem moléculas capazes de diminuir a atividade da amígdala, região responsável por sensações de medo, agressividade e ansiedade. Em contrapartida, ela é capaz de aumentar a atividade do córtex pré-frontal, área ligada ao processamento complexo de pensamentos, sensações, sentimentos, tomada de decisão e comportamento.
De forma simplificada, o potencial transformador de uma experiência psicodélica recai na sua capacidade de gerar novos estados e processos neurais, emocionais e cognitivos, oferecendo “novas rotas” de pensamento que podem alterar de forma duradoura percepções, crenças e narrativas sobre si e a vida. Como te explicamos neste tema da vez, nosso cérebro é plástico e possui uma incrível capacidade de se reorganizar e modificar algumas de suas propriedades estruturais e funcionais em resposta às experiências de vida.
A figura a seguir mostra os dados colhidos, por ressonância magnética, da quantidade de conexões neurais de um grupo de pessoas que em (a) tomaram um placebo e em (b) receberam uma dose de psilocibina.
Na lista de países que mais produzem estudos de impacto sobre psicodélicos, ocupamos lugar de destaque no ranking global. Estudos crescentes e rigorosos vêm sendo desenvolvidos sobre o uso da ayahuasca no tratamento para depressão, tanto no Instituto do Cérebro, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como na USP de Ribeirão Preto. Em 2019, a publicação dos resultados de uma pesquisa realizada com LSD, indicando potencial da substância para frear o declínio mental causado por envelhecimento, também colocou o Brasil em evidência. O Instituto Phaneros, com suas pesquisas de terapia assistida com MDMA, incluiu o país na pesquisa internacional para teste do protocolo terapêutico da MAPS. Ainda, o país avança nos estudos com a ibogaína para tratamento de dependência química, com ótimos resultados. |
|
|