Estoiquê? 
O que você vai encontrar por aqui: 
  • O que é o estoicismo
  • Os dois pilares fundamentais da escola de pensamento
  • Como aplicar algumas lições estóicas na vida moderna
  • Os novos estóicos
  • Três exercícios práticos
Boa leitura! 
Você sabe o que é o estoicismo? Já ouviu falar no manual de Epicteto? Se tudo isso soa grego para você, saiba que está no caminho certo. A Escola Estóica é uma corrente de filosofia que surgiu na Grécia há mais de dois mil anos, caiu no esquecimento por séculos e ressurgiu com força total recentemente. 

Considerada uma filosofia prática, os estóicos ficaram conhecidos por cultivar a serenidade em meio às adversidades de um mundo repleto de incertezas. Ter o discernimento daquilo que podemos ou não controlar, buscando minimizar os sentimentos negativos que surgem diante dos revezes da vida, está entre os ensinamentos mais importantes da corrente. Eles entendiam que a raiva ou a frustração, por exemplo, traziam mais prejuízos para o indivíduo do que o problema a ser enfrentado e, por isso, criaram uma série de estratégias para manter a calma e a racionalidade diante dos obstáculos. 

Neste momento tão desafiador que estamos vivendo, acreditamos que vale a pena conhecer um pouco mais sobre os estóicos e sua filosofia do bem-viver. Esperamos com isso ajudar você a encontrar mais serenidade, aceitação, resiliência e, quem sabe, um novo caminho que te ajude a ser mais feliz! 
Fundo no assunto
A calma em meio ao caos


É possível dizer que o estoicismo nasceu de um evento trágico. Zenão de Cítio, um comerciante bem-sucedido, viajava com toda sua mercadoria à Grécia quando seu barco naufragou levando com ele todos os seus bens materiais. Em Atenas, atraído pelos escritos de Sócrates, procurou os filósofos da época e, com o tempo, começou sua própria escola filosófica no Pórtico Pintado, Stoa Poikile. Por lá, seus adeptos ficaram conhecidos como “os filósofos do pórtico” - stoikos. 
  
Apesar de sua origem grega, o estoicismo ganhou força mesmo em Roma e foi uma das escolas de pensamento mais influentes da antiguidade por mais de cinco séculos após sua fundação. Do imperador Marco Aurélio, ao senador e dramaturgo Sêneca, chegando ao escravo Epicteto, foi desse período que obtemos hoje nossa principal influência da corrente. 

É provável que você tenha entrado em contato com suas ideias sem nem saber que elas tinham uma escola de pensamento estruturada por trás, afinal, sua influência se estendeu não só no pensamento ocidental como um todo, mas está presente no cristianismo, na psicoterapia, e até no coaching moderno. Em seu Ted Talks, Massimo Pigliucci, filósofo e autor do livro “How to be a Stoic” (“Como ser um estóico”, ainda sem tradução para o português) nos conta sobre os dois pilares fundamentais do estoicismo: 

Para os estóicos, agir de forma virtuosa é a chave para uma boa vida e, por isso, conduziam suas ações de acordo com as quatro virtudes cardeais gregas, definidas por Platão: 
  • Sabedoria: ter o conhecimento do que é bom para você e o que não é;
  • Coragem: enfrentar situações difíceis fazendo o que é certo;
  • Justiça: ser razoável, íntegro e honesto ao lidar com o outro;
  • Temperança: evitar o excesso, agir de forma equilibrada e com autocontrole.
     
  

“Das coisas existentes, algumas são encargos nosso e outras não”. Assim, para os estóicos, devemos focar nossos esforços naquilo que podemos controlar e aceitar o restante da melhor forma possível. Em nosso poder estão nossas escolhas voluntárias, nossas ações e julgamentos. O resto não está sob nosso controle e podemos caracterizá-los segundo nosso nível de influência: parcial (saúde, relacionamentos, patrimônio) e nula (tempo, nossa origem, situações externas).
        
A partir destes dois pilares, os estóicos desenvolveram uma série de estratégias tanto para manter a serenidade diante de possíveis infortúnios, como para ampliar a sensação de satisfação e alegria na vida.  Uma de suas estratégias está relacionada com o conceito de ancoramento. Segundo William Irvine, professor de psicologia e autor do livro “The Stoic challenge” (“O desafio estóico”, ainda sem tradução para o português), os antigos estóicos entenderam que nossa mente está condicionada a perceber uma situação a partir de um ponto de referência. Assim, praticavam o que ficou conhecido como visualização negativa (imaginando como uma determinada situação poderia ser pior do que é), pois observaram que isso aumentava o sentimento de contentamento e gratidão com o que tinham. 

O objetivo aqui não é lamentar e ficar antecipando uma tragédia, pelo contrário: é trazer novas perspectivas para a situação atual e relembrar que nada está garantido, nem mesmo a vida (memento mori), portanto devemos aproveitar o tempo com o que realmente importa. Faça um teste: feche os olhos e imagine por alguns segundos que você perdeu a capacidade de ver as cores. Imagine como seria ver o mundo somente em diferentes tons de cinza. Tome seu tempo e depois abras os olhos e observe seu entorno. 

Provavelmente se sentirá grato pela capacidade de enxergar cores brilhantes ao seu redor. Como explicamos nesta matéria, nossa felicidade está muito atrelada ao nosso bem-estar subjetivo. Como isso está associado à interpretação que damos às diferentes circunstâncias, temos em nosso controle o poder de criar perspectivas que tragam maior satisfação com o momento presente, seja ele qual for. E, como sabemos e explicamos aqui, o controle é uma mera ilusão, segundo a psicóloga Ellen Langer - o que não significa algo necessariamente negativo. 
        
Outro ponto importante no estoicismo é a crença de que uma situação em si mesma não é boa nem má, nem mesmo a doença ou a própria morte, e são nossos julgamentos que transformam a situação em uma pedra de tropeço ou uma alavanca para avançar. 
        
Neste sentido, outra estratégia utilizada pelos estóicos é a de encarar um contratempo como um teste de suas virtudes. Para passar na “prova” é necessário manter a calma e encontrar a melhor resposta possível para a situação. William Irvine sugere imaginar uma figura fictícia (deuses estóicos, um professor, um coach) que, para o seu próprio bem, apresenta um desafio a ser superado para que você possa desenvolver sua resiliência, sua criatividade, sua racionalidade e serenidade. 

Eles entenderam que a forma como “nomeamos” determinada situação muda completamente nosso estado emocional. Assim, ver as dificuldades como testes para pôr à prova nossas habilidades não só diminui as emoções negativas, mas pode, inclusive, despertar emoções positivas ao superá-las. Recentemente falamos sobre isso por aqui, ao trazer os estudos do psicólogo Tal Ben- Shahar que diz que podemos transformar nossos estresses em aliados ao mudar nossa conduta diante deles. 
O que dizem por aí
De Ryan Holiday a Stoicon - O estoicismo moderno


     
O ressurgimento do estoicismo é considerado um fenômeno hoje em dia. Basta ver a quantidade de livros, artigos, vídeos, eventos e comunidades on-line sobre o tema. Alguns atribuem a Ryan Holiday o crédito desta filosofia ter caído no mainstream e o colocam como ponta de lança do chamado “estoicismo cool”. 

Em seu site The Daily Stoic, Ryan relaciona parte da popularidade desta filosofia com os movimentos de autoajuda pautados na atenção plena (mindfulness) e sua busca por “viver o momento presente”. Para ele, o estoicismo tem tudo a ver com “estar no agora'' e suas práticas para alcançar equanimidade são muito similares. Ainda assim, é surpreendente a adesão global a este movimento cultural, que cresce especialmente no universo online.

O projeto Modern Stoicism reúne acadêmicos, filósofos e psicólogos (em especial da linha da Terapia Cognitiva Comportamental) com o objetivo de promover cursos, pesquisas e organizar eventos como o Stoic Week e o Stoicon, que vêm sendo realizados desde 2013. The Stoic Fellowship é uma plataforma que busca promover e conectar comunidades estóicas ao redor do mundo e já conta com mais de 70 comunidades em seu mapa, inclusive no Brasil.
Das palavras para a ação

     

              
Acreditamos que não precisamos nos tornar estóicos de carteirinha para nos beneficiar de seus ensinos. Para o estoicismo, as ações tinham mais valor que as palavras, portanto, deixamos aqui alguns exercícios que podem te ajudar a aumentar sua resiliência e enfrentar os desafios da vida de forma mais serena:


Tire um momento para refletir sobre o seu dia. Em especial, observe as situações difíceis e anote como você se sentiu e reagiu a elas, quais foram as soluções encontradas. William Irvine sugere que você, inclusive, se dê duas notas: uma para sua resposta emocional (se você ficou calmo, ganha um 10), e outra para como você solucionou o problema usando sua racionalidade. Isso te ajudará no seu desenvolvimento pessoal.


Para os estóicos, a mente humana facilmente se esquece de que nada na vida está garantido e acabamos não dando valor ao que temos.Tire breves momentos para visualizar o que pode dar errado com um plano futuro ou ser tirado de você, mas cuidado: não fique ruminando a situação, são só alguns minutos. Isso não só ajuda a nos preparar para os inevitáveis contratempos da vida, como aumenta nossa gratidão com o momento presente. 


Aqui a ideia é nos expor a situações que gerem desconforto físico e/ou emocional e, assim, aumentar nossa resiliência e nos tornarmos mais "fortes". Os estóicos entendiam que a exposição ao desconforto, feita de forma sistemática, tem o efeito de aumentar nossa zona de conforto em situações indesejáveis. Por exemplo, uma pessoa que toma banhos gelados de tempos em tempos, lidará melhor emocionalmente caso o chuveiro quebre e falte água quente.
Quer saber mais? Separamos alguns conteúdos que podem te ajudar a fazer um mergulho ainda mais profundo, não deixe de conferir!