Coloque em prática
Por que falar de si mesmo exige certa prática? Como fazê-lo e qual sua importância? Veja o que pensam especialistas sobre o assunto
10 de Setembro de 2020
Segundo o famoso psicanalista francês, Jacques Lacan, nós só existimos a partir do olhar do outro. Portanto, o que sabemos sobre nós mesmos é baseado em evidências que “nos contaram”. Exemplo: você sabe que tem uma personalidade forte pois cresceu ouvindo que tinha. Se considera uma pessoa engraçada pois sempre fez o outro rir. E assim por diante.
Partindo desse princípio, a existência do outro é imprescindível para a nossa própria validação. E falar sobre nós mesmos a partir do que sabemos torna-se tarefa difícil, para alguns, quase impossível. E muito importante, na mesma medida.
Para o professor adjunto de comportamento organizacional na Georgia Tech’s Scheller College of Business , David M. Sluss, é preciso saber contar a sua própria história de maneira linear para adquirir respeito dos seus empregados. Em seu texto para a revista de negócios de Harvard, David acredita que falar sobre si de forma organizada e honesta é o segredo do sucesso para alguém cuja carreira acabou de alçar novos vôos.
Para ele, é preciso compartilhar sobre você de forma pessoal, evitando excessos, mas gerando um vínculo de aproximação que humanize a figura do líder. Além disso, falar somente de suas conquistas no mercado de trabalho pode acabar anulando a sua história pessoal, igualmente interessante. Falar sobre o futuro é também bastante positivo, pois suas projeções e sonhos dizem mais sobre você do que imagina.
Mas, e quando estamos fora do mercado de trabalho? E quando é preciso falar sobre si em outros ambientes?
Falar sobre si é reconhecer-se enquanto sujeito, ainda segundo literatura psicanalítica. Assim como o estágio do espelho - período definido por Lacan de quando o bebê olha sua imagem refletida pela primeira vez e “descobre” ser um ser completo e desassociado de sua mãe -, uma consulta em um psicólogo pode ser igualmente esclarecedor.
É ao ouvir determinados pensamentos seus em voz alta, que estavam ali vagando a nível inconsciente, que você consegue significá-los. E esses pensamentos funcionam como pista de quem você é. “Falar sobre nós é muito importante, pois é assim que vamos pensando sobre nós e nossa vida, e ressignificando aquilo que é necessário, aprendendo a nos ouvir e, com isso, entender como estamos pensando e elaborando as situações” explica a psicóloga Vanessa Torres.
É importante também ressaltar que somos seres em constante mudança e evolução, portanto, é impossível dizer com certeza absoluta quem se é. Afinal, como o sambista Cartola já dizia, “em pouco tempo não serás mais o que és”. Isso quer dizer então que é inútil o processo de autoconhecimento? Negativo.
Ele é, na verdade, importantíssimo. É de suma importância que a gente conheça quem somos, o que queremos e para onde vamos, ainda que todos esses fatores sejam mutáveis ao longo do tempo. Só assim conseguiremos achar propósito para nossos dias e para nossa existência.
Justamente por isso é tão importante a criação de uma narrativa pessoal, que conte um pouco sobre você a partir de si mesmo, e que não fale somente de trabalho, mas de outros fatores que o constituem e formam esse complexo universo que é cada ser humano.
Ao Jornal Nexo , a coach Juliana Bertolucci também nos lembra que falar de si é construir uma identidade perante a sociedade. “A identidade é quem se é num contexto social. Para cada papel que uma pessoa exerce nas diferentes áreas de sua vida, ela constitui uma identidade, que é um aspecto de toda a sua identidade. É importante lembrar que, para além do ato de falar em si, os comportamentos e ações também constróem essas identidades.”
Essa construção de identidade é tão importante que passa até mesmo por lugares sociais burocráticos. Como, por exemplo, a necessidade de se ter documentos que comprovem sua “existência”, perante a lei. Esse é o trabalho até mesmo de ONGs, que buscam promover esse direito básico à crianças socialmente vulneráveis, para que elas tenham por onde começar.
Percebe como falar de si é somente parte de um contexto imenso e complexo? Porém, é parte importante, e é por isso que é preciso saber como fazê-lo.
“Se, segundo o filósofo Pascal, em suas muitas buscas ainda no século 17, eu não consigo captar o que é o eu com clareza e distinção, aquilo que é o eu enquanto essência e elemento imutável, o que eu faço? Eu vinculo o eu às minhas qualidades” explica o professor de filosofia Andrei Martins, em vídeo para a Casa do Saber.
“O homem inventa um eu de três maneiras: para si, para os outros e depois ele acredita que ele é aquele eu que ele inventou” continua. Para a psicanalista Fani Hisgail, o eu não nasce do nada, ele é fruto de uma instância psíquica conhecida por inconsciente.
“Imagine a sua figura diante do espelho. A toda hora que você olhar, verá uma imagem diferente. Isso porque aquilo que está lá não é exatamente aquilo que se é, portanto é sempre uma projeção e somente isso. E nesse sentido, por ser uma projeção, esse eu é um eu idealizado” explica Fani.
É preciso dialogar consigo mesmo, entretanto, esse diálogo não costuma ser sempre amigável. “Esse momento acaba sempre por envolver a censura, a cobrança, o dever, aquilo que deve ser feito, aquilo que se deve ter - sempre a partir de outros ideais, ideais que compõem o nosso eu” diz a psicanalista.
E como desvirtuar-se desse ciclo vicioso, que nos condiciona a ignorância sobre nós mesmos? Você pode contar com a ajuda de profissionais no começo, como é o caso de psicólogos e coaches. Além da visão sistematizada do processo, eles terão o distanciamento interpessoal, ou seja, não te conhecem como um familiar ou amigo, que podem ter a opinião enviesada e já pré-formada sobre você.
“Para começar a construir a narrativa e conhecimento sobre si mesmo, podemos utilizar a técnica da escrita, fazendo um diário dos sentimentos, por exemplo. Você também pode fazer uma linha do tempo colocando os momentos mais importantes da sua vida até hoje” diz a psicóloga Vanessa.
Além de um olhar mais aprofundado sob a ótica da ciência, você também pode beber de fontes mais práticas, como técnicas de storytelling . Já existem diversos cursos acerca do tema, muitos voltados à prática de contar histórias em cenários mais profissionais.
Mas nada impede de que você aplique os aprendizados em sua própria trajetória, certo? Afinal, uma história bem contada é ensinamento antigo, usado pelos nossos antepassados que passaram de geração em geração, como bem nos lembra o professor de inovação e marketing, Augusto Uchôa, em vídeo para a Casa do Saber.
É importante que essa narrativa não se detenha em limites básicos, é preciso que nela entre tudo que faça parte do que você é e da sua vivência: suas crenças, seus sonhos, seus desafios, suas vitórias seus hobbies e seus potenciais. Não tenha medo de expor seus limites, pois eles também contam sobre sua história.
Por fim, aproprie-se dessa narrativa. Não é necessário decorá-la se ela fizer sentido para você. Ela tem que ter começo, meio e fim, e tem que funcionar como um espelho, onde você se vê refletido e contemplado. A partir disso, você conseguirá flexioná-la para usá-la em diferentes situações, mas sendo sempre igualmente verdadeira.
Contar sobre você é ser, e não estar. É assumir suas personalidades, suas mudanças e seus percalços. É importante para o mercado de trabalho, para as relações interpessoais e para sua jornada rumo ao autoconhecimento. É o pilar constituinte do sujeito e por onde ele passou. E você, sabe contar sua história?
Coloque em prática
A prática que muitas vezes foi erroneamente julgada, pode trazer benefícios reais para seu corpo e mente, mas ela ainda não é uma unanimidade.
29 de Agosto de 2023
Quem não ama tirar um cochilo, que atire a primeira pedra! Seja aquela esticadinha depois do almoço ou o famoso “só mais 5 minutinhos” para estender aquele sono bom pela manhã.
As sonecas agora viraram alvo da ciência, que descobriu que há sim alguns problemas envolvidos na prática, mas também muitos benefícios para o nosso corpo e mente. Vamos te falar mais a seguir!
Vivemos em uma sociedade acelerada onde descansar muitas vezes pode ser mal visto. Isso é prejudicial de várias maneiras, afinal, há sete fases do descanso que precisamos respeitar, como te contamos aqui, além das horas de sono necessárias que também são importantes, como te pontuamos neste artigo.
Na ausência de um sono reparador e o excesso de trabalho, podemos vivenciar a Síndrome de Burnout, o que aconteceu com Izabella Camargo segundo seu relato para o Podcast Plenae. Trata-se de uma doença psicossomática, ou seja, o seu corpo falando.
O trabalho remoto, também conhecido como home office, nos permitiu repensar com mais profundidade sobre os limites entre trabalho e suas pausas. Durante a pandemia, muitos de nós flertamos com o sofá diversas vezes ao dia mas, ao mesmo tempo, estendemos os horários de produtividade a níveis nunca antes vistos.
Mas, afinal, se falamos do descanso com qualidade anteriormente, onde entram as famosas sonecas? Elas são boas ou só reforçam a irregularidade do sono? Pensando em solucionar esse mistério, um artigo publicado na revista Sleep Medicine tentou acabar com esse debate, mergulhando no que os autores chamam de “O Paradoxo da Soneca”.
É importante começar reforçando que os benefícios podem variar de indivíduo, situação, duração da soneca, quantidade de cansaço acumulado, etc. Em vídeo, os especialistas trazem os seguintes benefícios:
Cochilos breves podem ser restauradores e reduzir a fadiga durante o dia, podendo neutralizar a sonolência diurna, principalmente depois de uma noite mal dormida.
Os cochilos podem ser particularmente benéficos para trabalhadores em turnos que lutam para dormir o suficiente e precisam estar alertas em horários irregulares.
Uma breve soneca durante o dia também pode melhorar o desempenho no local de trabalho
Pode melhorar funções cognitivas como memória, raciocínio lógico e capacidade de realizar tarefas complexas.
Alguns estudos descobriram que o desempenho físico também pode melhorar após uma soneca
Os atletas podem experimentar melhora na resistência, no tempo de reação e no desempenho cognitivo se tirarem uma soneca durante o dia.
Um estudo observacional descobriu que cochilar uma ou duas vezes por semana estava associado a um menor risco de problemas cardiovasculares como ataque cardíaco, acidente vascular cerebral ou doença cardíaca.
Cochilos aliviam o estresse e melhoram o sistema imunológico em pessoas cujo sono foi limitado na noite anterior.
Os cochilos podem contribuir para o bem-estar de grupos de pessoas, como por exemplo, diagnosticadas com aneurismas intracranianos. Cochilar regularmente reduzia o risco reduzido de ruptura, segundo estudos.
É claro que nem tudo são flores e que há sim alguns malefícios envolvidos em um simples cochilinho. Para adultos mais velhos, por exemplo, cochilar durante o dia pode trazer distúrbios de sono, como acordar frequentemente durante a noite. Um estudo na China também descobriu que cochilar por mais de 90 minutos estava associado à hipertensão em mulheres de meia idade e mais velhas.
Outro estudo, também realizado com chineses, descobriu que tirar cochilos de mais de 30 minutos estava correlacionado com uma maior frequência de doença hepática gordurosa não alcoólica. Mas, para ambos é preciso investigar mais.
Uma análise de vários estudos descobriu que cochilar mais de 60 minutos por dia estava associado a um risco aumentado de desenvolver diabetes tipo 2 e, uma outra pesquisa, essa realizado com pessoas que vivem na França, descobriu que cochilar é mais comum em pessoas que já convivem com a diabetes tipo 2, mas a tipo 1 também, além de ansiedade ou depressão, obesidade e hipertensão.
Até o momento, como você pôde perceber, há os dois lados de uma mesma moeda e não está claro como exatamente os cochilos afetam a saúde. Ainda não se sabe muito sobre a relação entre cochilos e sono noturno, e como a frequência ou duração das inofensivas influenciam o bem-estar de diferentes pessoas.
O que já se sabe com certeza é que cochilos mais longos, como aqueles que duram mais de 30 minutos, podem levar ao sono profundo e esse sono profundo pode começar ainda mais cedo. O torpor geralmente resulta de ser acordado durante um sono profundo.
Portanto, a melhor duração do cochilo para adultos é de cerca de 20 minutos e não superior a 30 minutos, porque isso permite que o sono seja leve ao ponto de aumentar o estado de alerta sem entrar em sono profundo. Acordar de um sono profundo pode causar tontura e até piorar a sonolência.
Nesse caso, é melhor que o cochilo seja mais longo, ou seja, de cerca de uma hora e meia. Essa duração permite que o corpo percorra os estágios do sono e evite a interrupção do sono profundo, especialmente para trabalhadores de emergência e trabalhadores em turnos que estão tentando evitar a fadiga.
Atenção somente à dependência de cochilos no lugar do sono noturno consistente. Isso pode contribuir para um sono fragmentado ou distúrbios do sono, como insônia. Mas, algumas pesquisas sugerem que o cochilo afeta o sono noturno principalmente em adultos mais velhos em vez de adultos jovens e de meia-idade.
Como tudo na vida, o importante é o equilíbrio. Lembre-se que descansar é tarefa fundamental para o bom funcionamento do corpo e é importante para todas as outras funções. Descanse sem culpa mas respeite os seus ciclos circadianos e veja o que funciona para você!