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Anedonia: o sintoma pouco conhecido da depressão

O sintoma pouco conhecido da depressão apresenta uma incidência alta - mais de 70% -, sobretudo em jovens e adultos.

6 de Setembro de 2023


Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 350 milhões de pessoas, de todas as idades, sofrem de depressão no mundo. Se o assunto são transtornos psicológicos, o Brasil assume o número um no ranking da ansiedade, com 18,6 milhões de pessoas sofrendo desse mal. 

Mesmo com os altos números, a saúde mental ainda é um tabu. É fato que hoje o assunto já está sobre a mesa, sobretudo após a pandemia - onde novos termos e sentimentos vieram à tona, como o “languishing, que te explicamos nesse artigo. Esse termo se refere a uma sensação de “definhamento”, uma sensação de vazio e estagnação, como se estivesse vendo sua vida “através de uma janela embaçada”. 

É fato que os sentimentos são tema complexo e não agem da mesma forma em cada ser humano. Mas, há alguns sintomas que merecem mais atenção para um problema maior. E a anedonia é um deles. 


Anedonia e a depressão: o desânimo perante ao conhecido 



Eu costumava amar ir à praia, andar de bicicleta, ler um bom livro, mergulhar em uma série. Agora, já não gosto mais de nada disso ou sequer de qualquer coisa. Você já se sentiu assim em algum momento da sua vida? Esse desânimo generalizado, um desinteresse diante de tudo aquilo que se costumava gostar, é uma bandeira vermelha na jornada da saúde mental.

Quando o indivíduo experimenta essa sensação de perder o interesse por coisas que antes eram muito prazerosas, ele pode estar experimentando a anedonia, um sintoma importante da depressão, mas frequentemente negligenciado, sobretudo na etapa do tratamento. 

Segundo estudos, esse sintoma está presente em mais de 75% dos jovens e adultos com depressão. E se ele perdurar por mais de duas semanas, já se configura como um sinal da depressão, ainda que essa pessoa não se sinta triste, por exemplo. 

Isso porque mesmo a pessoa que experimenta a tristeza, pode sentir momentos de alegria em alguns intervalos. Já a anedonia é um desânimo constante e que pode ainda indicar outros tipos de problemas, como a esquizofrenia, a ansiedade, mal de Parkinson, hipotireoidismo, dependência química, estresse pós-traumático, distúrbios alimentares, demência, entre outros. 

Esse desânimo, como explica Ciara McCabe, professora de neurociências, psicofarmacologia e saúde mental da Universidade de Reading, para a BBC, não se trata somente de perda de alegria, mas também perda de motivação. E esse sintoma pode ser até um sinal de reincidência crônica da depressão, como explica esse estudo. 

“Para alguns, esta falta de motivação foi relacionada apenas a ações específicas, como ir para a escola ou encontrar os amigos. Mas, para outros, era algo mais grave. Eles sentiam que não queriam fazer absolutamente nada – nem mesmo viver”, explica ela ao veículo.


Injeção de ânimo


O que fazer diante desse quadro então? O primeiro passo é consultar um bom especialista que não irá negligenciar esse sintoma. Isso porque muitas vezes o primeiro caminho utilizado é o uso de antidepressivos que podem piorar ainda mais essa sensação de desânimo e apatia, porque atuam em outro mecanismo.

Uma possibilidade é que os atuais tratamentos padrão se concentrem principalmente em tratar o humor depressivo e os processos cerebrais subjacentes ao desânimo, mas não a anedonia”, pontua McCabe. 

A psicoterapia, por exemplo, muitas vezes foca em uma positividade que pode ser tóxica, já que seu foco é reduzir os pensamentos negativos dos pacientes. Mas, como a anedonia é a perda da alegria de viver, tratamentos como a ativação comportamental poderiam funcionar melhor nesse caso, já que o seu foco é ajudar os pacientes a tomar medidas simples e práticas para voltar a apreciar sua rotina.

Mesmo esse caminho não é uma unanimidade, já que a pessoa que sofre com a anedonia pode ter dificuldade com a adesão ao tratamento, visto que ela não sente motivação em fazer nada - e isso inclui as medidas psicoterapêuticas. Um outro caminho seria focar em trabalhar os mecanismos de recompensa, já que estudos relacionam esse sintoma à essa dinâmica cerebral.

“Mas os mecanismos de recompensa do cérebro não são nada simples. Na verdade, eles envolvem diversos subprocessos, que incluem a antecipação, motivação, prazer e aprendizado sobre a recompensa. E a existência de dificuldades em qualquer um desses subprocessos pode colaborar com o desenvolvimento de anedonia”, explica. 


Por fim, vale uma atenção especial a escolha da medicação, que também pode ser errada. Os antidepressivos comuns costumam possuir um foco na serotonina, neurotransmissor que te explicamos melhor por aqui. Mas, nesse quadro, há uma diminuição também dos níveis de dopamina, acetilcolina, colecistoquinina e o glutamato, como explica esse artigo. 

Portanto, os antidepressivos dirigidos aos neurotransmissores envolvidos nos mecanismos de recompensa (que incluem a própria dopamina) ou até com drogas que utilizam a cetamina, que demonstram interação com a dopamina, podem ser mais adequados, segundo Ciara.

Tudo isso só será possível a partir de um diagnóstico correto, o que nos leva de volta à primeira dica dada: a busca por um especialista. Se você sentir essa perda de interesse por coisas que antes lhe pareciam interessantes, sobretudo por um tempo longo (acima de duas semanas) e generalizado, busque ajuda - nem que seja relatando para uma pessoa de confiança que irá te ajudar a dar o primeiro passo. 

Para diagnosticá-la, critérios internacionais são adotados por especialistas, mas o relato do paciente e uma longa conversa clínica - a chamada anamnese - será determinante para cravar. A pessoa pode ou não sentir uma tristeza profunda durante esse quadro, mas de qualquer forma, é um sintoma que afeta profundamente a qualidade de vida do paciente e ninguém precisa sofrer dessa maneira, sobretudo sozinho. Busque ajuda!

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Candomblé: mitos e verdades que você precisa saber

Uma das religiões mais antigas que existe é também vítima de antigos preconceitos e mitos. Neste artigo, te contamos mais sobre o assunto!

22 de Setembro de 2023


No primeiro episódio da décima terceira temporada do Podcast Plenae, conhecemos a história de fé de Carmem Virginia, candomblecista, desde quando ela era sequer capaz de entender o que era isso direito. O chamado veio assim, bem cedo: em uma visita a um terreiro perto de sua casa, por mera curiosidade infantil, veio o encanto sem volta e, posteriormente, a “convocação” espiritual para se tornar cozinheira do terreiro, um papel com bastante significado para a religião. 

De lá para cá, a conexão só aumentou e os laços se estreitaram. O que era para ser um ofício espiritual se tornou ofício de vida, e a cozinha ganhou novos espaços em sua rotina, assim como a religião também. Porém, infelizmente o candomblé, dogma escolhido por Carmem por pura identificação, ainda é vítima de muito preconceito e inverdades por conta da intolerância religiosa.

Hoje, falaremos um pouco sobre o que é mito e o que é verdade em relação ao candomblé, uma das religiões mais antigas, e tão legítima e bonita quanto todas as outras. Leia mais a seguir!

Candomblé é diferente de umbanda

Verdade! Nesta matéria, te explicamos mais profundamente a história de origem de cada um. Mas, basicamente, o candomblé vem de fora do Brasil - suas origens são africanas -, enquanto a umbanda foi criada por aqui, se baseando no Candomblé, mas com outras referências também (inclusive do cristianismo). 

Além disso, o candomblé é mais antigo e cultua orixás, enquanto a umbanda é mais nova e também cultua orixás, mas além deles, há os guias, e um contato importante com o natural.

O candomblé não é para família ou para criança

Falso. A religião, como qualquer outra, prega união, paz e amor. Ela é um lugar para todos e a nossa personagem, Carmem Virgínia, é a prova disso, já que começou a sua iniciação ainda bem nova. Mas, é importante ressaltar que, apesar do seu primeiro contato com a religião ter sido ainda aos 7, foi somente aos 14 que ela ingressou de forma mais séria e comprometida.


Isso porque é preciso responsabilidade e maturidade para iniciar uma jornada espiritual que demande dessa criança, e é preciso ainda que os pais e líderes religiosos estejam atentos aos sinais de maturidade desse praticante. Mas as crianças são, sim, bem-vindas, inclusive, um dos três valores mais importantes dessa religião são os filhos e trazê-los para perto, incluindo nos rituais, é bem-vindo, mas não é obrigatório.

Os candomblecistas não acreditam em Deus

Falso - e essa é ainda mais delicada, já que o conceito de Deus varia muito. Para os panteístas, por exemplo, Deus é tudo aquilo que nos cerca: eu, você, uma simples cachoeira, como te contamos neste artigo. Eles são, inclusive, monoteístas: o deus único para a Nação Ketu é Olorum, para a Nação Bantu é Zambi e para a Nação Jeje é Mawu, como explica este artigo. “São nações independentes na prática diária e, em virtude do sincretismo existente no Brasil, a maioria dos participantes considera como sendo o mesmo Deus da Igreja Católica”, explicam os autores. 


O candomblé é intrinsecamente ligado à natureza

Verdade. Os rituais candomblecistas são realizados em terreiros, que são casas onde os sacerdotes e adeptos se reúnem e encenam uma convivência com forças da natureza e ancestrais. Eles reúnem centenas de pessoas e podem durar horas, no mínimo duas. 

“(...) A natureza é o princípio de existência de culto, os Orixás são as representações ou até mesmo a materialização dessas, seja na forma de possessão (transe mítico) de algum iniciado, ou nas formas de representações simbólicas de bens materiais. (...) Nesse sentido, deve-se ressaltar que, o culto prestado aos Orixás nos terreiros de candomblé, em um determinado momento, ultrapassa os limites de um culto à ancestralidade de um grupo, remetendo-se ao culto à natureza, pois, os membros que compõem as comunidades de santo, ou melhor, os terreiros, acreditam que os homens sejam o resultado da somatória de todas as partes ou elementos que compõem a natureza”, explica este artigo


Animais são judiados e torturados em cerimônias candomblecistas

Falso. “O candomblé possui um ‘Modo Tradicional de Alimentação’, alimentamo-nos da mesma proteína animal comprada no açougue e comida fartamente nas churrascarias, mas somos contra a dor, a tensão da ‘imolação’ e contra o modo como a sociedade em geral consome carne”, explica o professor Dr. Sidnei Barreto Nogueira a este artigo.

“Comemos bodes, galinhas, galos e aves, escolhidos ou criados por nós, tratados, lavados, honrados ritualmente e, depois, essa carne sagrada se junta à comunidade e une a comunidade. O princípio é do repasto e do comer em família e isso começa desde a escolha ou criação do animal que servirá de alimento. O rito não inclui barbárie e faz o animal sofrer, como é comum em abatedouros, não faz parte do rito ancestral”, conclui. 


O candomblé cultua os mortos e pede mal a eles 

Sim e não. “Sim para cultuamos os ‘mortos’ – temos aqui o sentido ocidental e assustador da palavra. Cultuamos os mortos, mas não como a nossa coirmã Umbanda, que também não prega o “MAL”. Somos a religião da memória ancestral, da continuidade, o culto àqueles que estiveram conosco é um museu historiográfico”, explica o professor ao mesmo artigo. 

“Honramos a “morte” que nos toca quando chega a hora e honramos igualmente os nossos entes queridos e isso se dá por meio de um complexo conjunto de ritos e saberes ancestrais”, explica. O candomblé, portanto, cultua os mortos, mas de forma alguma os deseja mal. 


O Exu é a representação do demônio

Não exatamente. Essa representação "maligna", como conta a historiadora e educadora Lisandra PIngo ao jornal da USP, foi feita pela igreja católica e, posteriormente, pelas igrejas evangélicas. “Aconteceu uma espécie de 'reapropriação' dessa atitude, principalmente pelas igrejas neopentecostais”, conta. 

Ela ainda levanta aspectos históricos da questão e relembra que a representação do “demônio brasileiro” (Exu) era diferente do “demônio europeu” (Diabo), e isso estaria muito relacionado a um processo de racismo. 

“O Exu é personagem controverso, talvez a mais controversa de todas as divindades do panteão iorubá. Alguns o consideram exclusivamente mau, outros o consideram capaz de atos benéficos e maléficos e outros, ainda, enfatizam seus traços de benevolência”, diz ela. 

“As muitas faces da natureza de Exu acham-se apresentadas nos odus e em outras formas de narrativa oral iorubá: sua competência como estrategista, sua inclinação para o lúdico, sua fidelidade à palavra e à verdade, seu bom senso e ponderação, que propiciam sensatez e discernimento para julgar com justiça e sabedoria. Essas qualidades o tornam interessante e atraente para alguns e indesejável para outros”, conclui. 

Portanto, colocá-lo somente como uma entidade do mal é também simplificar um pouco do que essa figura tão complexa e cheia de faces representa e que, recentemente, virou até mesmo tema para samba enredo em escolas de samba. O que a religião propõe é que se veja além dessa dualidade de bem X mal, já que ambas as forças habitam todos nós.


O candomblé possui outros nomes ao redor do país

Verdadeiro. Em Recife, a religião é conhecida como Xangô, no Rio de Janeiro recebe o nome de Macumba (que tem sido rejeitado por ter uma conotação pejorativa), tambor de mina no Maranhão e batuque no Rio Grande do Sul. “Até por conta dessas variações, algumas pessoas preferem simplesmente denominar esse conjunto de cultos com o nome de religião dos orixás, deixando de lado as diferenças entre eles”, como explica artigo do Museu Afro. 

Pronto! Agora você mergulhou de vez nesse assunto e conhece um pouco mais sobre a riqueza que o candomblé pode oferecer. Lembre-se sempre: é importante combater a intolerância religiosa, as fake news e pregar o amor que todos os dogmas podem oferecer à sua maneira.

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