Para Inspirar
A dor crônica e autoimune ainda instiga os cientistas, mas algumas explicações de causa e tratamento já existem e podem melhorar a vida de quem sofre com isso
24 de Agosto de 2023
Nosso cérebro, esse órgão exaustivamente abordado em artigos aqui no Plenae, é capaz de produzir maravilhas. Ele, aliás, é o que nos difere de todas as outras espécies da natureza: se um dia ele já ofereceu desvantagem evolutiva por ser pesado e não nos permitir correr tão rápido, com o tempo e seu devido uso, ele nos colocou no topo da cadeia alimentar.
Mas, nem só de graças cognitivas nós vivemos e usufruímos. O cérebro, em toda sua complexidade, também nos engana e cria situações e até doenças cujo teor não era físico antes, mas logo se torna. Afinal, como já sabemos, é impossível separar o corpo da mente e, se um adoece, o outro adoece junto.
Um desses adoecimentos que vem intrigando os cientistas cada dia mais é a fibromialgia, cujos primeiros relatos clínicos mais sérios datam de 1970 - praticamente ontem, se tratando da história da ciência. A seguir, vamos desmistificar mais um conceito e mergulhar nesse mistério já não tão misterioso assim!
Presente na Classificação Internacional de Doenças, o CID, a Síndrome da Fibromialgia, ou somente fibromialgia, vem sendo estudado há pelo menos quatro décadas de maneira intensa e muito séria pelos cientistas. Isso porque ela não era considerada uma entidade clinicamente bem definida até a década de 1970, quando foram publicados os primeiros relatos sobre os distúrbios do sono, como conta esse artigo de revisão.
Foi em 1977 que foram descritos os primeiros sintomas nos portadores da moléstia, como locais específicos do corpo com exagerada sensibilidade dolorosa (chamados de tender points), distúrbios do sono (mesmo quando induzidos experimentalmente) e o caráter crônico, ou seja, persistente e aparentemente sem cura.
A questão principal sobre a fibromialgia é a dificuldade em diagnosticá-la, já que não há um exame específico que a rastreie. O veredito dado pelo médico vem da anamnese, que é a conversa que o médico tem com o paciente para analisar o histórico clínico, além de alguns parâmetros de dor específicos como:
Presença na história clínica de dor generalizada, afetando o esqueleto axial e periférico (ossos da cabeça, do pescoço e do tronco), ou seja, acima e abaixo da cintura, com duração superior a três meses;
Exame físico com dor à palpação com força em pelo menos 11 dos 18 tender points estabelecidos;
Sensibilidade generalizada dos músculos, áreas ao redor de tendões e tecidos moles adjacentes;
Rigidez muscular;
Fadiga;
Outros sintomas ainda como dor após esforço físico, confusão mental, transtorno do sono e depressão costumam estar associados ao problema, seja como causa ou consequência. As dores com duração superior a de 3 meses podem sumir e voltar de acordo com alguns gatilhos, como o estresse, o desenvolvimento de doenças ou o acontecimento de eventos traumáticos, segundo artigo do hospital Albert Einstein.
Portanto, não há um teste que comprove ou descarte a fibromialgia. Os pacientes apresentam provas de atividade inflamatória e exames de imagem normais. Ela é diagnosticada a partir da análise desses sintomas mencionados e da exclusão de outras possíveis doenças. Alguns exames podem ser solicitados justamente para a exclusão dessas outras possibilidades, como:
Hemograma completo
Testes de tireóide
Dosagem de vitamina D
Dosagem de anticorpos para a doença celíaca, entre outros.
A fibromialgia, infelizmente, é bastante comum, sobretudo no público feminino. Estudos apontam que ela ocorre 7 vezes mais em mulheres, geralmente jovens ou de meia-idade, do que em homens, crianças ou adolescentes. Um outro estudo, realizado pelo Colégio Americano de Reumatologia, encontrou uma prevalência de 3,4% para as mulheres e 0,5% para os homens e de 2% para ambos os sexos.
Um estudo brasileiro determinou a prevalência de 2,5% na população, sendo a maioria do sexo feminino, das quais 40,8% entre 35 e 44 anos de idade. Ela é o segundo distúrbio reumatológico mais encontrado, superada apenas pela osteoartrite, e frequentemente ocorre em pacientes com outras doenças reumáticas sistêmicas que não estão relacionadas, mas que podem dificultar o diagnóstico.
O mecanismo que ocasiona a fibromialgia ainda não é muito claro para os estudiosos. A hipótese mais aceita é a de que se trata de uma alteração em algum mecanismo central de controle da dor, resultado de uma disfunção de neurotransmissores, como deficiência serotonina, encefalina, norepinefrina e outros ou uma hiperatividade de neurotransmissores excitatórios.
Pode ser que seja ambos os casos, e pode ser ainda que essa condição seja geneticamente predeterminada e desencadeada por algum estresse não específico. Isso varia desde uma infecção viral, estresse psicológico ou até trauma físico. A questão é que a vulnerabilidade ao desenvolvimento da fibromialgia parece ser influenciada por fatores ambientais, hormonais e genéticos.
Junto das dores generalizadas e extrema sensibilidade à elas, pode vir ainda outros sintomas, como:
Sintomas de depressão e ansiedade
Uma deficiência de memória junto de uma desatenção
Dores de cabeça tensional ou enxaquecas mais intensas
Tontura, vertigens e formigamentos
Distúrbios intestinais como a síndrome do intestino irritável
A síndrome das pernas inquietas
E distúrbios do sono como dificuldade na indução, excessivos despertares durante a noite e sensação de sono não restaurador. Esses distúrbios acarretam ainda em outras consequências, como déficits cognitivos, cansaço matinal e a propensão para distúrbios psiquiátricos
Mas afinal, qual o perfil psicológico dos pacientes fibromiálgicos? Muitos estudos apontam para um perfil associado ao perfeccionismo, à autocrítica severa e à busca obsessiva do detalhe, como explica o artigo do Einstein. Mas há um destaque especial: a elevada prevalência de depressão nesses pacientes.
Isso leva os estudiosos a crerem que há uma relação mais forte do que se imagina entre os dois diagnósticos. As características dessa depressão, como a fadiga, os sentimentos de culpa, a baixa autoestima e a vitimização, pioram ainda mais os sintomas da fibromialgia e prejudicam o tratamento. Trata-se então de uma doença psicossomática, que te explicamos por aqui neste artigo.
O tratamento da fibromialgia deve ser multidisciplinar, individualizado e contar com a participação ativa do paciente. O médico especialista deve, primeiramente, oferecer todas as informações possíveis sobre o diagnóstico, para que o paciente entenda e empodere-se do tratamento e entenda como é feito o controle da dor.
Depois disso, os caminhos combinarão as modalidades não-farmacológicas e farmacológicas, devendo ser elaborado de acordo com a intensidade e características dos sintomas. É importante considerar ainda as questões psicossociais envolvidas no contexto do adoecimento, ou seja, qual foi o fator estressante que pode ter desencadeado tudo aquilo?
As medicações utilizadas nesse caso buscam controlar a dor, induzir um sono de melhor qualidade e tratar os sintomas associados como, por exemplo, a depressão. Medicamentos como antidepressivos, analgésicos e anticonvulsivantes podem ser utilizados, além de terapias integrativas não-medicamentosas, que ajudam a reduzir a dor e o estresse.
A fisioterapia, a terapia ocupacional e a psicoterapia - que melhora a relação do paciente consigo mesmo e atua reduzindo as questões emocionais - podem entrar nessa jogada. E se o estresse pode ser um grande gatilho para que as crises ocorram, então, um estilo de vida saudável é uma ótima maneira de combater a sua incidência.
Os exercícios físicos, sobretudo, parecem um atalho muito importante para a diminuição das dores, já que ele ajuda na liberação da endorfina, uma espécie de morfina natural, como te explicamos aqui. Aqui no Plenae, nossa missão é justamente trazer dicas para atingir essa tão sonhada qualidade de vida. Esteja atento ao equilíbrio de seus pilares Corpo, Mente, Espírito, Relações, Contexto e Propósito para, assim, evitar males como a fibromialgia.
Para Inspirar
Mais do que alegrar o ambiente, os animais de estimação desempenham um papel importante para a nossa saúde. Confira mais!
31 de Março de 2021
No segundo episódio da quarta temporada do Podcast Plenae - Histórias Para Refletir, mergulhamos no tocante relato do publicitário e criador de conteúdo, Rafael Mantesso . Ainda casado, ele buscava em um animal de estimação, de forma inconsciente, as mesmas características que possuía em si e não sabia explicar.
Nessa procura, ele encontrou Jimmy, um cachorro da raça bull terrier extremamente dócil, leal, silencioso e um tanto obsessivo, assim como seu tutor. A conexão foi tanta que, mesmo com o fim do casamento de Rafael, a tutela do cão ficou para ele. Porém, todo o restante da mobília da casa foi para sua ex-esposa, deixando assim o ambiente completamente vazio e melancólico.
Para lidar com essa situação, Rafael passou a pegar caixas de papelão no supermercado para preencher o espaço vazio, inicialmente. Porém, depois elas se tornaram cenário dos seus mais criativos desenhos, hábito que ele retomou nesse período complexo.
Tendo Jimmy como parte do cenário e protagonista das cenas, o sucesso foi estrondoso. Rapidamente, a conta de Rafael passou a ganhar milhares de seguidores, propostas comerciais e um contato que mudaria sua vida: uma neurologista da Nova Zelândia que solicitou o uso de suas imagens em seu trabalho sobre a interação de animais de estimação com autistas.
Esse pedido só confirmou o que há muito Rafael já suspeitava: ele possuía a Síndrome de Asperger, uma forma leve do autismo, e desde então, passou a entender porque preferia a companhia de seu cachorro a de outros seres humanos e qual era o papel crucial de Jimmy em sua vida.
O resto da história você confere em seu episódio completo, mas o caso é que animais de estimação exercem uma função verdadeiramente terapêutica a diferentes males dos seres humanos, ainda que a gente nem perceba. E quais seriam esses benefícios afinal?
Não é um achismo: pets podem ser terapêuticos. Esse fato é tão comprovado que há inclusive uma área toda dedicada a isso, chamada zooterapia. Ela tem como objetivo trazer a presença do animal para o tratamento de seu tutor, gerando mais calma e alegria para quem está internado, por exemplo, e até ativando estímulos sensoriais, como o toque e o faro.
Aqui no Brasil, essa terapia é feita há pelo menos 60 anos, mas somente de uns tempos para cá que os maiores hospitais se atentaram a sua eficiência. O hospital Albert Einstein, por exemplo, agora permite a entrada de cães em horário de visita inclusive na UTI.
Dentro dessa prática, há dois caminhos possíveis a serem seguidos: a Terapia Assistida com Animais (TAA), mais complexa e com a necessidade do acompanhamento de um profissional da saúde; e a Atividade Assistida com Animais (AAA), mais livre e abrangente onde a visita do animal é meramente recreativa e a atuação do mesmo será menos intensa.
Ao ter contato com os pets, o nosso cérebro ativa o chamado sistema límbico, uma região localizada abaixo do córtex frontal e também conhecida como nosso “cérebro emocional”. É ali onde nossas emoções são ativadas e, no caso de se relacionar com bichos, há liberação de endorfina, o hormônio que nos gera tranquilidade, bem-estar, entre outros benefícios.
A zooterapia pode ser desempenhada também fora do ambiente hospitalar, como uma espécie de terapia assistida em casa, para pacientes com comorbidades crônicas. Ela acaba sendo um modelo completo e transversal, pois atua tratando dos problemas físicos e psicológicos também.
Ainda se tratando de doenças emocionais, engana-se quem pensa que a atuação animal se dá somente em pacientes depressivos ou ansiosos. Esses dois grupos são evidentemente bastante influenciados positivamente. Mas pacientes com esquizofrenia, por exemplo, também são beneficiados.
Isso porque ter um cachorro ou um gato ajuda na formação de um vínculo afetivo sólido, que é trabalhado diariamente. Até mesmo contato com cavalos, os “pets” maiores, também pode proporcionar essa afinidade tão intensa. Uma pesquisa brasileira demonstrou que muitos pacientes esquizofrênicos ou bipolares se sentiam mais confortáveis na presença de um pet do que de seres humanos, além de um aumento de autoeficácia e autoestima.
Saindo do campo dos neurotransmissores e outros estímulos cerebrais e indo para outras áreas da anatomia, os animais também desempenham papéis importantes. Há uma série de estudos que apontam para o benefício de cachorros e gatos em problemas respiratórios, prevenção de AVC e até rastreio de câncer e hipoglicemia.
Estudos, aliás, não faltam quando o assunto é essa nossa relação com nossos melhores amigos. Uma pesquisa de 1980 realizada pela Universidade da Pensilvânia comprovou um aumento na taxa de sobrevivência nos pacientes cardíacos que eram tutores de animais de estimação. Anos depois, a cardiologista Karen Allen, pesquisadora da Universidade do Estado de Nova York, foi além e comprovou que a parte do grupo analisado que possuía animais apresentou redução no estresse e, consequentemente, na pressão arterial.
Eles também podem fortalecer nosso sistema imunológico, nos protegendo de alergias, sobretudo nas crianças, que ainda estão em formação. Elas são aliás um público perfeito para se ter um pet, como defende esse artigo . Ter um cachorro na infância é benéfico para criar senso de responsabilidade, maturidade emocional, menor risco de obesidade, entre outros!
Ter um pet exige algumas necessidades, como levá-lo para passear, e isso faz com que o seu tutor obrigatoriamente se movimente e se exercite nessa caminhada. Socialização, memorização e concentração são outros benefícios advindos dessa interação entre homem e animal, pois é colocada em prática todos os dias. O aumento de passadas diárias reduz a incidência do enfraquecimento dos músculos e da sarcopenia.
Esses últimos benefícios, aliados ao fato de que ter um pet diminui a sensação de solidão e ajuda no processo do luto nos leva a próxima e última conclusão: além das crianças, os idosos são o perfil ideal e extremamente beneficiados na presença de um pet.
Assim como Rafael Mantesso, comece a pensar em todos os fatores positivos que ter esse companheiro para a vida toda poderia trazer para sua mente, corpo, espírito, contexto, relações e até propósito. De forma completa, o um pet contempla todos os seus pilares Plenae com a certeza de que ele se manterá ali nas horas boas e ruins. Abrace a causa e procure um melhor amigo para chamar de seu!
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