Para Inspirar

Desmistificando conceitos: o que é o salário emocional?

Mais do que benefícios financeiros, há um movimento cada dia mais sólido de empresas que buscam recompensar seus funcionários de outras formas

26 de Maio de 2021


Que atire a primeira pedra quem não gosta de receber um aumento de cargo e, consequentemente, no salário também. Faz parte do crescimento vivenciar essas etapas para alcançar metas, objetivos e propósitos profissionais, e não há nada de errado em querê-los.

Mas, será que só isso basta para manter muitos engajados em seus empregos? A opinião dos especialistas é unânime: não. E, para isso, existe o salário emocional. “Ele é o aspecto não financeiro e intangível do que é o salário, e tem mais a ver com autonomia, enriquecimento de cargo, horários flexíveis, bom relacionamento entre a equipe - fatores mais do contexto macro do que coisas pontuais que acontecem” explica Beatriz Cançado, especialista em Gestão de Pessoas e mestre em psicologia organizacional pela Universidade de Columbia.

“Existe um certo tanto de salário financeiro que é o mínimo para a pessoa não ficar insatisfeita e isso é um fato que precisa ser seguido. Porém, depois que essas condições são atingidas, não vale a pena eu ficar investindo só nisso. Posso pagar o que for e o colaborador ainda não estará insatisfeito com as condições. Daí pra cima é preciso investir nesses benefícios emocionais”, continua Beatriz.

Marcio Ogliara, professor de educação executiva da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (EAESP) da Faculdade Getúlio Vargas e da Fundação Instituto de Administração (FIA), concorda com a afirmação anterior. “Tenho mais de 30 anos de vivência com RH e há muito tempo já percebemos que não é só o dinheiro. Tem gente que troca de empresa pra ganhar menos, mas porque existem outras compensações onde a pessoa começa ter mais estímulos”, explica.


Fatores envolvidos

E quais seriam esses estímulos? “Acho que a primeira coisa é oportunidade de crescimento e desenvolvimento profissional. Muita gente procura empresas que às vezes têm uma carga de trabalho pesada, mas existe uma oportunidade de aprendizado muito grande”, continua Marcio.

“Ter sensibilidade com relação ao momento do colaborador, que ele tenha espaço para a convivência familiar, espaço de crescimento pessoal, viajar, fazer cursos que interessam a ele pessoalmente: isso tudo é uma dimensão importante que precisa ser trabalhada”, diz.

O professor ainda lembra que esse esforço precisa ser não só da empresa, mas principalmente do gestor, que é quem estará diretamente conectado com esse trabalhador e saberá qual “recompensa” não-financeira. Afinal, o que funciona como salário emocional para um, pode não ser tão interessante para o outro.

“A organização entra nessa relação de uma forma mais macro, tendo uma cultura boa, valores, metas, uma coisa mais estrutural. Já o chefe é que vai conhecer seus subordinados e entender o que aquela pessoa quer: é uma oportunidade de desenvolvimento? Mais autonomia e mais convívio com a família? Horários flexíveis? Ou o transporte é uma questão para ela e o teletrabalho vai ser bom?”, pondera.

É importante lembrar que o trabalho deve ser a junção desses fatores. Para manter um empregado feliz e engajado, é preciso que haja um perfeito equilíbrio entre salário financeiro e o emocional. “Pagar muito abaixo e dar um monte de benefícios funcionou para uma geração de pessoas que se contentavam com isso. Mas elas cresceram, começaram a casar e ter filhos, e viram que é preciso ter dinheiro”, diz Beatriz.

Para isso acontecer de forma honesta e realmente eficaz, é preciso que a relação de todos os envolvidos seja transparente e que a empresa esteja aberta a conversas francas - inclusive sobre dinheiro, um velho tabu do mercado. “Dentro das organizações, uma das coisas mais complicadas é gerir as comparações. O ideal é que sua oferta salarial seja sempre equiparável com as organizações de fora, e que dentro as posições tenham salário equivalente”, explica Marcio.

“O que acontece é que muitas organizações não têm esse equilíbrio interno para fazer essa divulgação. Hoje em dia já existem algumas iniciativas para isso, startups e empresas novas estão se arriscando mais, sem medo dos problemas que a transparência pode trazer. Mas isso, definitivamente, ainda não é um assunto ainda bem resolvido”, conclui.

Para a mexicana Marisa Elizundia, especialista em recursos humanos, em entrevista à BBC , para saber o seu salário emocional, é preciso “identificar quais são os fatores do salário emocional que são mais importantes para você e avaliar se eles coincidem com coisas que sua empresa valoriza” e, em seguida, “avaliar como sua empresa os coloca — ou não — em prática.”

Para entender o que pagaria o seu salário financeiro, você tem que conhecer a fundo suas contas e suas necessidades. Mas, para entender o seu salário emocional, você precisa ser verdadeiro com o seu propósito e suas motivações. Você saberia metrificar a sua felicidade? Traçar essa meta pode ser importante para o seu desenvolvimento pessoal e profissional. Mergulhe em suas vontades!

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Quem cuida de quem cuida?

Estamos em setembro, mês da campanha de prevenção ao suicídio, e todos os olhares estão de forma justa e legítima voltados àqueles que convivem com o peso de uma vida marcada por um diagnóstico de algum tipo de mazela mental e emocional.

10 de Setembro de 2024


"Desculpa, eu cochilei", se explica a mulher que acabou de dormir em pé ao meu lado no ônibus e, por consequência, caiu sobre mim em uma das clássicas paradas bruscas desse tipo de transporte. "Não tem problema", consolo - e de fato, não tem. Não nos machucamos e vejo, no fundo de seus olhos, um cansaço existencial que me faria perdoá-la por atitudes até mesmo mais graves. 

Não consigo evitar e puxo assunto. Em cinco minutos de conversa, compreendo um pouco mais do que há por trás dessa exaustão. Aquela mulher é o retrato de tantas outras que povoam esse país: trabalha com cuidados. Enfermeira do sistema público de saúde, entre seus muitos plantões, há um trabalho não remunerado que ela cita brevemente os cuidados com o seu marido, diagnosticado com depressão. 

O ponto em que ela desce chega antes que ela possa desabafar mais sobre isso e a sensação de desamparo que ela me deixou me acompanha por todo o resto do trajeto. Queria ajudar mais, ainda que seja somente ouvindo, essa pessoa que acabo de conhecer mas cuja história me atravessou. Depois do nosso breve encontro e longo adeus, fiquei pensando "quem cuida de quem cuida, afinal?". 

Estamos em setembro, mês da campanha de prevenção ao suicídio, e todos os olhares estão de forma justa e legítima voltados àqueles que convivem com o peso de uma vida marcada por um diagnóstico de algum tipo de mazela mental e emocional. E, a cada dia que passa, a sensação é de que novas doenças dessa mesma ordem começam a surgir, de forma que, se olhar atentamente, somos todos passíveis de estarmos enquadrados em uma delas. 

Se estamos todos juntos nessa e amanhã pode ser você, que a gente não se esqueça de olhar para aqueles que abdicaram de si e dedicaram seu tempo a regar os jardins alheios e esperar que um dia eles possam florir novamente. Como essa mulher cansada e tantos outros que não puderam mergulhar para dentro de si em busca de nomear esse tanto de sentimentos que a povoam. Seja gentil sempre: você nunca sabe pelo que o outro está passando.

Quem cuida de quem cuida? Quem cuida de quem cuida? Quem cuida de quem cuida? Quem cuida de quem cuida?

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