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Introdução: Bem-vindo ao Podcast Plenae, um lugar onde você encontra histórias reais para refletir. Ouça e reconecte-se.
No episódio de hoje, a jornalista Mariana Ferrão, fundadora da Soul.Me, conta que, pra ela, o corpo é uma ferramenta de conexão com a sua própria essência. A história dela representa o pilar Corpo. No final do relato, você ouvirá reflexões do monge Satyanatha, nosso convidado especial dessa temporada, para ajudar você a se conectar com o seu momento presente. Aproveite este momento, observe seus sentidos e abra-se para uma nova visão sobre o mundo e sobre você mesmo.
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Mariana Ferrão: Quando eu era pequena, minha mãe me chamava carinhosamente de “brutamontes”. Enquanto ela media 1 metro e 49 e fazia bem o tipo mignon, eu tinha a ossatura grande, sempre tive. Ela achava que, por eu ser grande demais pra minha idade, eu não tinha coordenação motora e aí eu vivia roxa, batendo nas quinas da casa.
Minha mãe me colocou pra fazer fisioterapia aos 3 anos de idade. No começo eu achei muito chato, porque eu sentia que eu tinha algum defeito que precisava ser corrigido, mas a fisioterapeuta soube me cativar com exercícios acrobáticos. Eu me pendurava em um espaldar e brincava com elásticos e com aquelas bolas de pilates, que naquela época não eram tão comuns como hoje. Desde muito cedo eu entendi que, quanto mais eu me mexia, mais feliz eu ficava.
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Como muitas mães, a minha mãe fez a tentativa de me matricular no balé clássico. Eu devia ter uns 3, 4 anos e posso dizer que eu odiei. Primeiro, porque eu não era flexível como as outras meninas. Segundo, porque eu tinha muito cabelo e minha mãe, muito pouca paciência. Fazer um coque e enrolar aquela redinha em volta desse cabelo todo era um parto. Por fim, naquela época as professoras também faziam a gente enrolar uma faixa na cintura e eu tinha barriga, então aquele pano ficava me apertando, era horrível. Definitivamente, o balé não era pra mim.
Pra surpresa de todo mundo, quem mais se apaixonou pela experiência foi a minha mãe. Ela nunca gostou de dançar. Era uma pessoa sem vaidade, que usava cabelo curto, não se arrumava nem sabia passar maquiagem. Então, pra ela, a dança representou uma descoberta do feminino.
Pra mim, o grande aprendizado foi o de me deixar ser conduzida. Eu sempre fui uma pessoa com muita autonomia, que toma todas as decisões sozinha. Mas a dança, a dança é um diálogo corporal. O cavalheiro escuta a música, interpreta o que ouve e conduz a dama. É um exercício de entrega que me ensinou a afrouxar as rédeas da minha própria vida.
Na dança de salão, eu experimento o meu corpo a partir da visão do mundo do parceiro, em um movimento que cria uma empatia sem parâmetro. E a gente não tá acostumado a dar esse tempo da contemplação de permitir que o outro diga pra gente como ele tá vendo o mundo.
Eu descobri o quanto eu gostava de ser surpreendida pelo cavalheiro, porque às vezes você pega uma pessoa que faz tudo igual e aí, o movimento fica previsível. Mas eu tive um parceiro muito bom, que virou meu namorado depois, o Rafael, três anos mais novo do que eu. O Rafael tinha ouvido absoluto e me ensinou de fato a ouvir música. Ele me falava assim: “Olha, agora a gente vai dançar esse samba agora só no surdo / agora só no pandeiro / agora só no bumbo”. E aí, quando você começa a apreciar cada instrumento e a junção de todos eles formando a melodia e o ritmo, as possibilidades da música e da dança se tornam infinitas.
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Mas aos 20 anos eu deixei a dança de salão depois que a minha mãe faleceu subitamente, de um AVC, aos 48 anos.
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Ficou muito pesado pra gente ir à academia, porque a gente se lembrava muito dela.
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Pra me sentir mulher de novo, eu escolhi o zouk, um ritmo sensual que eu não sabia dançar. Até por uma questão de moral, eu sempre tive dificuldade com o zouk, sabe? De falta de liberdade com o meu feminino. É uma dança bem íntima, com bastante movimento de quadril. Quando eu engravidei de novo, eu dancei até o quinto mês de gestação.
A experiência da segunda gravidez foi completamente diferente da primeira. Além da dança, eu fiz corrida na água e fisioterapia pra fortalecer o assoalho pélvico, a estrutura que sustenta os órgãos internos. Eu consegui um parto natural, que eu tanto queria, e foi a experiência mais transformadora da minha vida.
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Em um dos ensaios, meu parceiro me virou no ar e me empurrou no chão num espacate. Eu tive um estiramento que rompeu fibras musculares do meu fêmur pra parte posterior da minha coxa. Eu me senti abusada fisicamente, porque o meu corpo não queria fazer aquele movimento. E eu ainda dancei dois ritmos com muita dor, antes de ir pra repescagem da competição.
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Eu fiquei em silêncio meditando na energia daquela dança. Senti algo muito, muito forte dentro da minha barriga. A dança seguida dessa meditação foi uma prova pra mim de que, às vezes, a gente tenta fica tentando imaginar racionalmente os caminhos por onde precisa ir. Mas na verdade, o corpo tinha me mostrado que ele tem muito mais alternativas do que a mente é capaz de conceber e eu entendi que aquilo ali era um retrato da vida. A vida tem caminhos impensáveis e não adianta a gente tentar controlar. Eu tinha que ir no fluxo, assim como eu tinha ido no fluxo da música.
Satyanatha: Chegamos ao fim do relato da Mariana. O descompasso com o corpo é quase um descompasso com a música da vida. Se a gente vive somente no estado mental e negligencia o material, por exemplo, fica fora de ritmo.
A Mariana até praticava exercícios e seguia uma alimentação correta, mas durante um tempo não ouvia o corpo no sentido de conhecer como ele funciona. E a nossa dimensão física tem necessidades próprias, que precisam ser respeitadas. O corpo é o nosso parceiro, não um simples veículo para nos empurrar ao longo da vida.
Para muitas pessoas, a identidade está ligada ao corpo. Se o físico está machucado, você pensa: eu estou machucado, eu estou fraco. O oposto também é verdadeiro. Quando você se nutre bem, dorme adequadamente, pratica exercício, então pensa: eu estou bem, eu sou forte.
Na verdade, as pessoas mais equilibradas percebem que a identidade é um estado de equilíbrio entre físico, mental, emocional e alma. Quando essas quatro dimensões estão em harmonia, temos uma identidade plena.
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Finalização: Nossas histórias não acabam por aqui. Acompanhe semanalmente novos episódios e confira nosso conteúdo em plenae.com e no perfil @portalplenae no Instagram.
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