Uma gargalhada cruzou por toda a casa
12 de Agosto de 2024
Uma gargalhada cruzou por toda a casa, ecoando a alegria e deixando o rastro de uma brincadeira que nunca teve fim em cada canto de cada cômodo. O riso veio de uma criança, e poderia ter sido de um bebê, adolescente ou adulto, mas quem contou a piada só poderia ter sido ele: o pai.
Um banho um pouco desajustado, uma refeição preparada de forma espontânea e um chocolatinho escondido ao final e enfiado dentro do bolso. "Não deixa ninguém ver", ele diz, com uma piscadinha que traz uma juventude intensa àquele rosto já levemente envelhecido.
Um voo em seus braços seguidos de um lançamento supersônico diretamente para as molas da cama é o que traz coragem para as veias daquele pequeno ser humano que acredita agora ter asas graças a esse momento sublime de brincadeira antes de dormir.
As intermináveis aulas de física e um método alternativo de ensinar a decorar mesmo as mais complexas e cabeludas fórmulas. Um conselho valioso para lidar com as inseguranças clássicas de qualquer pessoa, no que o filho se pergunta: mas como pode ele, o meu herói, já ter passado por isso também?
O lúdico, a graça, aquilo que é da ordem do brincante e do dinâmico, é também aquilo que compõe o "jeitinho de pai". Não se trata de uma regra, é claro, ou de uma exclusividade paterna, afinal, mães também podem ser tudo isso também. Mas hoje, a homenagem é a eles que vão aos poucos descobrindo uma linguagem secreta e genuína dividida somente entre as duas pontas: um pai e seus filhos. Feliz Dia dos Pais!
Estamos em setembro, mês da campanha de prevenção ao suicídio, e todos os olhares estão de forma justa e legítima voltados àqueles que convivem com o peso de uma vida marcada por um diagnóstico de algum tipo de mazela mental e emocional.
10 de Setembro de 2024
"Desculpa, eu cochilei", se explica a mulher que acabou de dormir em pé ao meu lado no ônibus e, por consequência, caiu sobre mim em uma das clássicas paradas bruscas desse tipo de transporte. "Não tem problema", consolo - e de fato, não tem. Não nos machucamos e vejo, no fundo de seus olhos, um cansaço existencial que me faria perdoá-la por atitudes até mesmo mais graves.
Não consigo evitar e puxo assunto. Em cinco minutos de conversa, compreendo um pouco mais do que há por trás dessa exaustão. Aquela mulher é o retrato de tantas outras que povoam esse país: trabalha com cuidados. Enfermeira do sistema público de saúde, entre seus muitos plantões, há um trabalho não remunerado que ela cita brevemente os cuidados com o seu marido, diagnosticado com depressão.
O ponto em que ela desce chega antes que ela possa desabafar mais sobre isso e a sensação de desamparo que ela me deixou me acompanha por todo o resto do trajeto. Queria ajudar mais, ainda que seja somente ouvindo, essa pessoa que acabo de conhecer mas cuja história me atravessou. Depois do nosso breve encontro e longo adeus, fiquei pensando "quem cuida de quem cuida, afinal?".
Estamos em setembro, mês da campanha de prevenção ao suicídio, e todos os olhares estão de forma justa e legítima voltados àqueles que convivem com o peso de uma vida marcada por um diagnóstico de algum tipo de mazela mental e emocional. E, a cada dia que passa, a sensação é de que novas doenças dessa mesma ordem começam a surgir, de forma que, se olhar atentamente, somos todos passíveis de estarmos enquadrados em uma delas.
Se estamos todos juntos nessa e amanhã pode ser você, que a
gente não se esqueça de olhar para aqueles que abdicaram de si e dedicaram seu
tempo a regar os jardins alheios e esperar que um dia eles possam florir
novamente. Como essa mulher cansada e tantos outros que não puderam mergulhar
para dentro de si em busca de nomear esse tanto de sentimentos que a povoam.
Seja gentil sempre: você nunca sabe pelo que o outro está passando.
Conteúdos
Vale o mergulho Crônicas Plenae Começe Hoje Plenae Indica Entrevistas Parcerias Drops Aprova EventosGrau Plenae
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