Para Inspirar

Maha Mamo em "Orgulho de ser brasileira"

A sétima temporada do Podcast Plenae está no ar! Confira a história da ex-expatriada Maha Mamo. Aperte o play e inspire-se!

6 de Março de 2022


Leia a transcrição completa do episódio abaixo:


[trilha sonora]


Maha Mamo: Você sabe o que é um apátrida? Uma pessoa consegue a sua nacionalidade de duas maneiras: pelo lugar onde nasceu ou pela origem dos seus pais. Se você nasceu no Brasil, é brasileiro, não importa de onde os seus pais vieram. Mas, na maioria dos países da Europa, não é bem assim. Quem nasce na Itália, só consegue um passaporte caso os pais sejam italianos. Milhões de pessoas pelo mundo não têm nenhuma dessas escolhas. Eu sou uma delas. Eu sou Maha Mamo. Eu passei quase a minha vida inteira como alguém sem pátria. 


[trilha sonora]


Geyze Diniz: De origem libanesa, Maha Mamo é uma ativista que passou a maior parte de sua vida sem nenhum tipo de documento. Sem identidade, ela não teve acesso a direitos básicos como educação, saúde e liberdade de ir e vir. Maha era apátrida, um indivíduo que não é titular de qualquer nacionalidade. Sem encontrar uma solução no Líbano, Maha Mamo buscou ajuda em todas as embaixadas existentes em Beirute, até ser aceita pela brasileira. 


Neste processo, ela descobriu que, como ela, 10 milhões de pessoas no mundo são apátridas, e transformou o seu problema em uma causa de vida. Conheça a história emocionante de Maha Mamo. Ouça, no final do episódio, as reflexões do especialista em desenvolvimento humano Marc Kirst , para te ajudar a se conectar com a história e com você mesmo. Eu sou Geyze Diniz e esse é o podcast Plenae, ouça e reconecte-se.


[trilha sonora]


Maha Mamo: Eu nasci no dia extra de um ano bissexto. No dia 29 de fevereiro. Dizem que é sinal de uma vida fora do padrão. No meu caso, é verdade. Eu morei na minha terra natal, o Líbano, por 26 anos, sem nenhum documento. No Líbano, você só recebe a nacionalidade se o seu pai for libanês. Meus pais são sírios. A minha mãe é muçulmana e meu pai, cristão. Na Síria, o casamento inter-religioso é ilegal. Por isso, eles se mudaram pro Líbano. Tentaram se casar lá, mas só conseguiram na igreja, não no cartório.


Sem um registro de casamento, eles não puderam passar a nacionalidade deles pra minha irmã, pro meu irmão e nem pra mim. Nós nascemos apátridas. Nós não tínhamos passaporte, RG, CPF ou mesmo certidão de nascimento. Nenhum documento que prova que a gente existia.


O primeiro problema da minha vida foi estudar. Quando a minha mãe começou a procurar escolas, a primeira pergunta foi: cadê os documentos? Como não tinha, mandavam a gente embora. Minha mãe implorou pros diretores, pediu muito favor, até um colégio armênio aceitar a nossa matrícula. 


Conforme eu fui crescendo, ficou cada vez mais claro que a falta dos documentos era um problema sério. Por exemplo, eu tenho urticária, uma alergia severa. Quando me ataca, preciso correr pro hospital. Cada vez que eu ia, precisava levar comigo a minha melhor amiga, Nicole, pra ser atendida com o documento dela. Meu maior medo era andar na rua e ser parada pela polícia. Sempre que eu via uma blitz, corria pro outro lado, porque eu não tinha um documento pra apresentar. 


A ficha caiu mesmo quando eu comecei a pensar no que eu queria estudar na universidade. Naquela idade em que você projeta o futuro e faz planos, eu percebi que os meus sonhos eram impossíveis de serem realizados. Eu queria fazer medicina, tinha boas notas, mas não fui aceita por nenhuma universidade. Em uma universidade de Beirute, a recepcionista, simplesmente, jogou os papéis na minha cara e disse: “Volta quando você tiver seus documentos. Porque se você é libanesa você consegue estudar, se você é síria você consegue estudar, quem é você?”.


E aí, eu fiz uma lista com todas as universidades do Líbano e procurei uma por uma, até que uma me aceitou. Mas eles não tinham curso de medicina. Aí eu tive que estudar Sistemas de Informação, me formei e fiz até um mestrado, um MBA. Mas e depois? Como eu poderia me casar? Como vou conseguir um emprego? Como que eu teria coragem de ter filhos na mesma situação que eu? Mesmo com muitas barreiras, eu tinha que continuar tentando.


[trilha sonora]


Como no Líbano não encontrei esperança, comecei a sonhar com outros países. Escrevi a minha história e mandei pra todas as embaixadas que existiam no Líbano. Eu assinava as mensagens com o meu nome e, como sobrenome, escrevia “Someone Unkown”, ou seja, “Alguém Desconhecido”. 


[trilha sonora]


Eu passei dez anos esperando a resposta de algum país. Até que, em 2014, o Brasil aceitou. Me aceitou e aceitou meus irmãos. Não porque nós éramos apátridas, mas porque o país tinha aberto as portas para os refugiados sírios.


O Brasil, para nós, era uma opção muito distante. Eu não sabia nada sobre o país, exceto o carnaval, o futebol e, infelizmente, a violência. Mas pra onde eu iria? Onde moraria? Como ia viver? Comecei uma pesquisa nas redes sociais. Conheci uma família de Belo Horizonte, em Minas Gerais, que aceitou me acolher e acolher meus irmãos. 

 

Eu deixei pra trás meu pai, minha mãe, meus amigos, minha vida toda no Líbano. Eu decidi embarcar para o desconhecido, pro Brasil. 


[trilha sonora]


Apesar do medo, tinha a excitação da novidade. Nos primeiros dias, tirei fotos, registrei as minhas digitais e assinei muitos papéis. Ganhei CPF, carteira de trabalho e um protocolo de solicitação de refúgio. 


O segundo passo foi buscar trabalho. Quando eu cheguei, eu falava quatro línguas: inglês, árabe, francês e armênio. Tinha um mestrado, mas o único trabalho que consegui foi entregar panfletos na rua. Mesmo assim, eu, meu irmão, a gente estava feliz por trabalhar legalmente pela primeira vez na vida. 


Comecei a aprender português, porque eu precisava me integrar na sociedade. Eu precisava entender a cultura, a maneira de pensar das pessoas, o comportamento delas. Alguns tempo depois, consegui um emprego melhor, como gerente de operação em exportação e importação de gado. Mas não era um emprego bem remunerado. No Líbano também era assim. Eu ganhava menos do que deveria, por causa do meu status. 


Até então, eu achava que só eu, meu irmão e minha irmã estávamos nessa situação. Só que eu comecei a pesquisar sobre o assunto e encontrei uma campanha da Acnur - Agência da ONU para refugiados, eu chamo dos apátridas também, chamada  “I belong”, ou “eu pertenço” em português. Fiquei em choque quando descobri que existem 10 milhões de pessoas no mundo inteiro sem pátria. 


Eu morri de medo quando descobri que o Brasil não tinha lei para essas pessoas. Não tinha nem sequer a definição da palavra apátrida. 


[trilha sonora]


Mas meus irmãos e eu tínhamos esperança que um dia a lei mudaria no Brasil. Em maio de 2016, fomos aprovados como refugiados. Conseguimos nosso primeiro sonho. Eu consegui obter o meu primeiro Registro Nacional de Estrangeiro, RNE, que é um certificado de residência para estrangeiros no Brasil. Que tinha a minha foto, o meu nome e o direito de permanecer no país por 5 anos, legalmente. 


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Mas a vida tem caminhos tortuosos. Exatamente um mês depois dessa felicidade toda, eu perdi o meu irmão, eu perdi Eddy.


[trilha sonora]


Meu único irmão foi assassinado por adolescentes drogados, numa tentativa de assalto. Meu irmão morreu como um apátrida. Pelo menos, ele teve uma certidão de óbito. Porque, normalmente, pessoas sem pátria vivem e morrem como uma sombra, como alguém que nunca existiu.


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A morte do meu irmão virou uma chave na minha cabeça. Quando ele faleceu, entendi que a vida é muito curta e nós não temos garantia em nada. Eu não queria morrer sem a minha nacionalidade. Comecei a me questionar: Quem sou eu como ser humano? Onde eu pertenço? Pra que eu realmente quero essa liberdade de ir e vir, de fazer o que eu quiser? Entrei num looping de medo, de incerteza e questionamentos. Caí bem no fundo do poço. 


[trilha sonora]


Aí eu entendi. Eu entendi que no tempo de vida que a gente tem, precisa lutar por alguma coisa. Eu comecei a elevar a minha voz e compartilhar a minha história com todo mundo. Muito mais do que eu fazia. Comecei a dar entrevistas, fazer  palestras pra qualquer um que quisesse ouvir. Onde me dão espaço pra compartilhar a minha história, eu vou, na imprensa, em escolas, nos salões da ONU, no parlamento de países. Conto que a apatridia é um problema de direitos humanos. Eu luto pelo meu irmão, pela minha irmã, por 10 milhões de pessoas que têm o direito de existir.


[trilha sonora]


O Brasil me deu isso. No dia 4 de outubro de 2018 eu renasci. Aos 30 anos, eu e minha irmã ganhamos a nacionalidade brasileira. Fomos as primeiras na história do Brasil a ser reconhecidas como apátridas pelo Estado e a conquistar  a nacionalidade. Nossos registros mostram os números 001 e 002 . Depois da gente, mais pessoas foram reconhecidas como apátridas no país. E o Brasil virou exemplo pro mundo inteiro. 


Eu tenho consciência que com meu trabalho eu não vou conseguir dar nacionalidade para 10 milhões de pessoas. Mas se eu mudar a vida de uma pessoa, duas pessoas, pra mim já é suficiente, a minha missão está cumprida. Não estou falando somente sobre os meus companheiros de luta. Eu espero que as minhas palavras alcancem todos aqueles que sonham com uma vida mais justa e, por algum motivo, foram privadas desse sonho. Eu quero que minhas palavras ajudem os outros a não perder a esperança. 


Se receber um não, que aprendam, como eu fiz diversas vezes, a buscar outras portas. Porque todo mundo tem o direito de pertencer. Hoje eu tenho orgulho de anunciar que eu sou brasileira. Hoje, eu pertenço. 


[trilha sonora]


Marc Kirst: Tivemos o privilégio de ser tocados, provocados e inspirados por uma história incomum para a maioria, mas de muitas formas, presente em todos nós. A luta de Maha Mamo por encontrar seu próprio lugar no mundo, seu papel único e intransferível, nos convida a questionar o contexto e as prioridades da nossa própria caminhada. 


O desafio de ter que provar e formalizar sua própria existência, pode parecer distante pra muitos, mas faz parte das regras da mesma sociedade moderna que diariamente julga o valor e a importância de cada um de nós, por outros tipos de documento. Como as marcas vestidas, as instituições frequentadas e os bens materiais acumulados. Para além destes rótulos sociais, que nos representam na superfície, com que frequência somos acolhidos por quem somos em essência? 


Com seu exemplo, Maha Mamo desperta a coragem necessária para lutar pelo nosso próprio lugar autêntico no mundo, onde nos sintamos parte de algo maior, apesar de qualquer julgamento externo. Fortalecendo os próprios valores e convicções, com persistência e resiliência, acabamos de ouvir a história de alguém que não só conquistou seu sonho, mas como consequência, facilitou o caminho de inúmeras outras pessoas passando pela mesma dificuldade. E você? Qual luta pessoal tem o potencial de transbordar para todos ao seu redor? 


[trilha sonora]


Geyze Diniz: Nossas histórias não acabam por aqui. Confira mais dos nossos conteúdos em plenae.com e em nosso perfil no Instagram @portalplenae.


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Dormir bem é a melhor coisa que você pode fazer pela sua saúde

O sono insuficiente é um dos fatores de estilo de vida mais significativos que influenciam o desenvolvimento ou não da doença de Alzheimer.

11 de Fevereiro de 2019


Você acha que dormiu o suficiente na semana passada? Consegue se lembrar da última vez que acordou sem um despertador, sentindo-se revigorado, sem precisar de cafeína? Se a resposta a alguma dessas perguntas for "não", você não está sozinho. Dois terços dos adultos em todas as nações desenvolvidas não conseguem obter as oito horas recomendadas de sono noturno. O sono insuficiente é um dos fatores de estilo de vida mais significativos que influenciam o desenvolvimento ou não da doença de Alzheimer. Durante o sono, um sistema de eliminação de resíduos do cérebro, chamado de sistema glifático, trabalha em alta velocidade. Quando você entra em sono profundo, esse sistema de higienização elimina do cérebro uma proteína conhecida como beta-amilóide, ligada ao Alzheimer. Sem sono suficiente, você fica sem essa limpeza. A cada noite que passa de sono insuficiente, o risco de Alzheimer aumenta, como a combinação de juros em um empréstimo. Sempre achei curioso que Margaret Thatcher e Ronald Reagan, dois líderes que bradavam dormir apenas quatro ou cinco horas por noite, tenham desenvolvido Alzheimer. O atual presidente dos EUA, Donald Trump, que também vocifera dormir pouco, pode tomar nota. Hormônios da fome. Talvez você tenha notado o desejo de comer mais quando está cansado? Isto não é coincidência. Pouco sono aumenta a concentração de um hormônio que faz com que você sinta fome, ao mesmo tempo em que reduz outro hormônio que sinaliza sensação de saciedade. Ou seja, mesmo satisfeito, você vai querer comer mais. O desempenho atlético também está relacionado ao sono. O sono é talvez a maior “droga” legalizada que melhora o desempenho e que poucas pessoas aproveitam. Durma menos de oito horas de sono por noite e, especialmente, menos de seis horas por noite, e o seguinte efeito acontece: o tempo até a exaustão física cai de 10 a 30%, assim como a produção aeróbica. Em relação a dormir nove horas por noite, dormir cinco a seis horas por noite aumentará em mais de 200% as chances de lesão em uma temporada. Câncer. Dormir menos de seis horas por noite rotineiramente também compromete o sistema imunológico, aumentando significativamente o risco de câncer. Tanto é assim que, recentemente, a Organização Mundial de Saúde classificou qualquer forma de trabalho noturno por turnos como um provável carcinógeno. O sono inadequado - mesmo reduções moderadas de duas a três horas por apenas uma semana - perturba os níveis de açúcar no sangue tão profundamente que você seria classificado como pré-diabético. Aumenta ainda a probabilidade de as suas artérias coronárias se tornarem bloqueadas e quebradiças, abrindo caminho para doenças cardiovasculares, acidentes vasculares cerebrais e insuficiência cardíaca congestiva. Surpreendentemente, basta uma hora de sono perdido, como demonstrado por um experimento global realizado em 1,6 bilhão de pessoas em mais de 60 países duas vezes ao ano, também conhecido como horário de verão. Quando perdemos uma hora de sono, há um aumento de 24% nos ataques cardíacos no dia seguinte. Quando ganhamos uma hora de sono, há uma redução de 21% nos ataques cardíacos. Doenças psiquiátricas. A interrupção do sono foi ainda associada a todas as principais condições psiquiátricas, incluindo depressão, ansiedade e tendências suicidas. Em minha pesquisa nos últimos 20 anos, não conseguimos encontrar uma única condição psiquiátrica importante em que o sono é normal. A ciência está, assim, provando a sabedoria profética de Charlotte Brontë, que afirmou que “uma mente agitada faz um travesseiro inquieto”. Adicione as consequências físicas e mentais acima, e um vínculo cientificamente validado se torna mais fácil de aceitar: quanto mais curto o seu sono, mais curta a sua vida. Descobertas recentes demonstram que indivíduos que rotineiramente dormem cinco horas por noite têm um risco 65% maior de morrer a qualquer momento, em comparação com aqueles que dormem de sete a nove horas por noite. O elástico da privação do sono pode se estender apenas até o momento em que se rompe. Erros médicos. Cientistas como eu começaram a fazer lobby com médicos para começar a "prescrever" uma boa noite de sono (embora certamente não sejam pílulas para dormir). É talvez a medida mais indolor e agradável de ser seguida. A ironia aqui é que, na prática médica, o sono inadequado leva a cuidados de saúde inadequados. Médicos juniores que trabalham em turnos de 30 horas ou mais farão 460% mais erros de diagnóstico do que quando bem descansados. Esses mesmos médicos cansados ​​cometerão 36% mais erros médicos graves, em comparação com aqueles que trabalham 16 horas ou menos. Médicos experientes podem sofrer o mesmo comprometimento de habilidades médicas. Um cirurgião assistente sênior que tenha dormido apenas seis horas ou menos na noite anterior tem 170% mais chances de causar um erro cirúrgico sério em um paciente, em relação a quando ele dormiu adequadamente. Acredito, portanto, que é hora de nós, como indivíduos e como nações, reivindicarmos nosso direito a uma noite inteira de sono, sem constrangimento ou o terrível estigma da preguiça. Compreendo perfeitamente que essa prescrição da qual escrevo exige uma mudança em nossa apreciação cultural, profissional e global do sono. No entanto, não me lembro de nenhum governo lançar uma campanha nacional de saúde pública centrada na importância essencial do sono como prevenção e tratamento de doenças. Simplificando: o sono - uma oportunidade consistente de sete a nove horas a cada noite - é a coisa mais eficaz que podemos fazer para redefinir nossa saúde cerebral e corporal a cada dia, e a razão pela qual eu reverencio e adoro dormir (cientificamente e pessoalmente). Matthew Walker é professor de neurociência e psicologia e diretor do Laboratório do Sono e Neuroimagem na Universidade da Califórnia em Berkeley. Também já foi professor de psiquiatria em Harvard. É autor de Por que Nós Dormimos: A Nova Ciência do Sono e do Sonho (Ed. Intrínseca, R$ 59,90, 400 págs.) Leia o artigo completo aqui .

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