Para Inspirar

Mariana Kupfer em "Mãe não é um estado civil, é um estado de amor"

O sonho da maternidade é capaz de transpor barreiras sociais e físicas. Conheça mais sobre a história de Mariana Kupfer, no Podcast Plenae

4 de Outubro de 2020


Leia a transcrição do episódio completo abaixo:

[trilha sonora]

Mariana Kupfer: A maternidade é a relação mais profunda que já senti e esse desejo de ser mãe não é algo que nasceu na adolescência, quando estava crescendo. Eu me lembro dele vir desde muitos antes, nas brincadeiras de criança, com bonecas, eu sempre era a mãe da minha Barbie. E com o tempo me tornei aquela amiga que cuida das outras. Nas duas situações, acho que a razão tem a ver com essa vontade que sempre correu nas minhas veias e permeava a vida que eu desejava pra mim. Lembro que na adolescência eu tinha algumas certezas, mas duas delas sempre me acompanhavam: eu iria trabalhar com comunicação e iria ser mãe.  [trilha sonora] Geyze Diniz: Eu sempre admirei a coragem e a determinação da Mariana, minha amiga há bastante tempo, na decisão de ter uma filha sozinha. Hoje, vamos ouvir essa história de dedicação e amor entre mãe e filha. No final do episódio, você ouvirá reflexões do doutor Victor Stirnimann para te ajudar a se conectar com a história e com você mesmo. Eu sou Geyze Diniz e esse é o Podcast Plenae. Aproveite este momento, ouça e reconecte-se.

[trilha sonora]

Mas eu não pensava nisso o tempo todo e não tinha ideia de como seria o meu caminho até este momento. Isso começou a ficar claro quando eu tinha entre 32 e 33 anos.  Eu estava numa relação e a pessoa não sabia se queria ter filhos. Mas para mim, que nunca tive essa dúvida, começou a vir forte e de maneira definitiva a vontade de concretizar esse desejo de criança e de adolescente. Embora eu seja uma geminiana divagadora, sou muito objetiva também. E a decisão foi muito rápida para mim.  [trilha sonora]

Como eu sempre fui uma pessoa muito cautelosa com a saúde, daquelas que fazem consultas rotineiras sem falhar, sempre muito organizada e com todos os exames em dia, eu levei primeiro o assunto para o consultório, em um visita ao doutor Marcelo Zugaib, que era meu ginecologista desde os 18 anos. 
Falei: "Nossa, Doutor Marcelo, como eu quero ser mãe!" e na mesma hora, começamos a falar de reprodução solo, independente. Naquela época a ideia era pulverizada mesmo na Europa e nos Estados Unidos, aqui ainda não. Mas eu conhecia algumas pessoas que já haviam passado pelo processo e decidi ir em frente. Era hora de construir a relação de afeto, amor e conexão mais importante da minha vida.  [trilha sonora]
Durante essa consulta, decisiva, o Marcelo falou: "Olha, eu não faço reprodução assistida, mas o Doutor Paulo Serafini, na Clínica Huntington, faz, e é um colega respeitadíssimo". Fui para casa e imediatamente comecei a pesquisar tudo que eu podia sobre a clínica e sobre o doutor Paulo, pioneiro e um dos papas da fertilização in vitro.  [trilha sonora] Depois de descobrir tudo que tinha disponível sobre ele, marquei uma consulta sem compromisso. Era maio de 2009, eu tinha 33 anos, em junho faria 34. E foi maravilhoso. Logo no primeiro encontro, senti aquela empatia, uma coisa imediata. O doutor Paulo, um cara com uma literatura super vasta do assunto, me contou casos, histórias da profissão dele e me apresentou de um jeito leve todo esse universo da reprodução assistida. Eu estava segura e plena da minha decisão. 
Mas tinha no caminho uma decisão importante: o doador. Paulo, que trabalhou por anos na Califórnia, me contou sobre clínicas muito idôneas nos Estados Unidos e de como seria o processo. Ser doador lá é uma profissão, então seria com certeza um homem que passou por muitos exames, pente fino mesmo. 
Fui para casa e fiquei completamente focada, fiz um mergulho profundo no assunto nos sites que ele tinha me passado. Durante todo o fim de semana, eu só parei para comer e dormir. Foram três dias intensos e que não me deixaram mais dúvida do que faria. Se você ficar pensando muito... E se isso, e se aquilo, e se, e se... O que os outros vão pensar? O que que eu vou dizer para a minha filha? Não dá. 
Não tem essa de ter uma fórmula definida. Ser mãe é uma construção, um caminho, e não dá para percorrer um caminho sem ir em frente. Vai ser tortuoso, não tem muita escapatória, tem que decidir e encarar. E é emocionante, mesmo com as dificuldades. A minha gestação, intensa e com uma complicação que me acompanhou o tempo todo, me fez entender tudo isso antes mesmo de pegar a Vitória no colo pela primeira vez.  [trilha sonora]
Vivi momentos difíceis e uma enorme ansiedade quando me vi em constantes enxaquecas, quase sem força, vomitando 30, 40 vezes em um dia. Eu deixava baldes espalhados por toda a minha casa e eu ia me arrastando como uma lagartixa pro banheiro. Aí recebi o diagnóstico: tinha uma Hiperemese Gravídica muito severa. Grande parte dos 9 meses eu fiquei internada e, quando eu estava em casa, sempre tinha uma assistência de home care. Tinha horas que me sentia o mais perto da morte que dava pra chegar.  [trilha sonora]
Medo de perder eu não tive em nenhum momento, mas entendi que teria que lidar com essas sensações até o parto. Tem uma hora que você pensa "eu não vou aguentar", "eu não vou conseguir". Mas conseguimos. Nas horas mais difíceis, eu me agarrava no amor que levava literalmente dentro de mim e seguia em frente. 
Eu sabia que eu estaria sozinha na gestação, mas viver a gravidez com essa condição foi uma provação dupla. Mas vinha uma força, porque eu estava realizando o desejo profundo que eu tinha, por mais difíceis que fossem as circunstâncias. O que me movia era o meu sonho, era a Vitória, era que a minha filha nascesse com saúde. Só precisava cuidar da ansiedade.  [trilha sonora]
Durante toda a gravidez, eu fiz terapia lacaniana e era um outro jeito de vomitar, nesse caso, todas as angústias de não saber tudo que imaginava precisar saber pra ser mãe. Daí, em uma das primeiras consultas, a minha terapeuta olhou para mim e falou: "Olha, isso não é uma receita de bolo, é uma coisa que você vai elaborar". Essa frase está até agora comigo. Grandes aprendizados muitas vezes estão em frases bem simples e eu tento levar isso adiante, compartilhar com outras mães, pela potência que entendi que esse sentimento tem.  [trilha sonora]
Sinto o efeito dessa reflexão tão simples nos muitos contatos que tenho com outras mulheres, que querem ter ou já tiveram filhos, em cada retorno inspirador que recebo depois de lançar meu livro e das tantas conversas que tenho no meu programa. Muitas querem essa receita de bolo, mas eu sempre digo isso: cada família é uma construção, tem o seu universo particular, a sua dinâmica. No caso da mãe solo, você pode, por exemplo, pensar em como vai ser sem ter um pai, como é o caso da Vitória. Mas não tem resposta. Só sei dizer que o que eu vejo vindo da minha filha, que está com 10 anos, das questões que toda criança na pré-adolescência tem, os desafios, os limites, o fato de ela não ter pai é o menos relevante. Ela é muito forte e muito bem resolvida com isso, ainda que falte entender muita coisa.  [trilha sonora]

Se faz falta um pai? Bom, quando você viaja e tem que tirar as malas pesadas da esteira ou do carro, fazer o check-in no hotel, dirigir, nesses momentos, talvez. Com tudo que vivi na maternidade, não tem como fugir do clichê de que o parto é uma experiência sobrenatural e ninguém te prepara para aquilo. Outras mulheres podem te descrever em detalhes por uma hora, por dois dias, por cinquenta, o que é o parto. Mas é só vivendo essa experiência que você entende o que acontece naquele instante. É um presente sobrenatural. Como decifrar um milagre? Não dá. E é realmente o milagre da vida, aquele momento em que você passou 9 meses com dois corações batendo dentro de você e, no minuto seguinte, você consegue sentir esse mesmo coração batendo sozinho, chegando no mundo. 
Essa emoção eu carrego todos os dias, na apresentação de ballet, no jogo de futebol, quando ela chora porque está sofrendo e eu não posso sofrer por ela. Eu tenho que dar a ela o que ela precisa pra lutar, buscando em tudo que tenho em mim e no que estou aprendendo junto com ela. Preciso estar perto pra ensinar e aprender. Mas não é só isso, não é só o contato. 
O sentimento de que é sobrenatural passa por aí, por uma relação que não é física. Eu choro quando ela me escreve uma carta ou quando eu vejo ela realizada, construindo as coisas por mérito dela. Ou quando vejo o carinho das pessoas e vejo elas elogiando a mulher que minha filha está se tornando. 
Ah! Teve uma vez que me emocionei demais, que foi na primeira vez que ela abraçou o Mickey e a Minnie. Pode parecer uma coisa boba, mas ela chorou muito, eu chorei muito e foi lindo. Essa viagem pra Disney foi muito emocionante, porque me deu a sensação de voltar no tempo, me fez lembrar de mim com 8 anos com as minhas irmãs em uma viagem pra Disney com meu pai. Me deu uma nostalgia, uma felicidade boa. Meu choro era de alegria. Caiu a ficha de que eu fiz a produção independente, venci, estou com a minha filha na Disney, feliz de ver que meu trabalho me permite proporcionar para a Vitória o mesmo que meus pais proporcionaram pra mim. E quando ela via os personagens, ela pulava, gritava, chorava de alegria. Foi muito fofo e muito emocionante levar a Vitória até lá.  [trilha sonora] É mágica essa relação tão profunda, que faz a gente viver de modo tão grande momentos que podem parecer pequenos aos outros, porque estão no dia a dia da gente e só da gente, na minha vida e na da Vitória. É uma relação que abre espaços, que se faz dentro de você fisicamente e nunca deixará de estar dentro de você. Uma vida que começa ali e é parte da sua. 
Sempre existirão julgamentos e maldades em qualquer modelo ou concepção familiar e é claro que às vezes a gente fica muito ferida, mexida. Mas eu vou pelo caminho do amor. Ser mãe é agarrar nesse sentimento e caminhar, lembra? Nesse caminho da maternidade a gente acaba entendendo muitas coisas sobre nós, mulheres. E uma das coisas que aprendi fazendo o programa AMAR, entrevistando muitas e muitas mães, é que maternidade não é um estado civil, não é ser casada, não segue um modelo padrão. Você pode estar casada, com uma família de comercial de TV, com RG com nome, sobrenome de um casal, um estado civil, e no fundo ser uma baita solidão. Eu sou mãe solo, mas mãe é mãe.
De novo, lembro da minha terapeuta: "Isso não é uma receita de bolo, é uma coisa que você vai elaborar". E sabe por que que eu insisto nessa reflexão? Porque parece difícil e em alguns momentos pode dar medo, parecer que não vai dar certo, que você não vai conseguir. Mas vai e não dá mesmo para explicar essa certeza, como não dá pra explicar uma mágica, um milagre. É se agarrar nesse amor inexplicável e seguir caminhando.
[trilha sonora]

Victor Stirnimann: Muitas vezes o segredo para uma vida melhor está em transferir a energia de todos os conflitos, todos os problemas para essa conquista maior que é a entrega de nós mesmos, o colocar a necessidade de outra pessoa na frente da nossa. Essa é uma iniciação pelo o amor e um caminho, às vezes até mais difícil do que aquele que a vida vinha oferecendo, mas que se alimenta de uma certeza, uma razão que vem de outro lugar. Nem sempre conseguimos explicar de onde vem o chamado, a fé de que esta é a direção certa, por isso parece até que existe um destino e que ele dirige o nosso futuro. Mas a escolha que conta, a coragem de aceitar o convite e o risco que vem com ele é sempre nossa. E sim, em geral, sempre estamos buscando uma solução, se possível, bem fácil e rápida. E quando nós vivemos esse desafio maior, nosso caminho escolhido, estamos fazendo uma descoberta incrível: não é a solução que nos fortalece, é o convívio com o próprio problema. Isso é o que a Mariana aprendeu na sua escolha de ser mãe independente, isso é o que ela repete ao lembrar o conselho da terapeuta. "Felicidade é se dedicar todos os dias ao desafio que você escolheu". Se realiza quem descobre a escolha que pode fazer, a escolha que precisa fazer. Como disse alguém muito sábio: "O problema é um poema. Escolha bem o seu, mesmo que primeiro tenha sido ele a escolher você." [trilha sonora]

Geyze Diniz: As nossas histórias não acabam por aqui. Acompanhe semanalmente nossos episódios e confira nossos conteúdos em plenae.com e no perfil @portalplenae no Instagram.  [trilha sonora]

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A relação entre vida social e longevidade

O segredo para viver mais pode estar no seu círculo de convivência. Quer entender mais sobre o assunto? Confira abaixo

21 de Maio de 2020


Você já deve ter ouvido falar no conceito de Blue Zones. Nessa matéria , contamos um pouco sobre o que são essas chamadas Zonas Azuis, e por onde elas estão. Em um breve resumo, essas regiões estão concentradas em 5 países, considerados os melhores para se envelhecer por uma série de fatores. Um deles é a Itália, conhecida pela sua bela gastronomia e geografia. Recentemente, o país também destacou-se nos noticiários por ter sido um dos mais afetados na crise do coronavírus. Uma das hipóteses para esse alto número de vítimas se dá, justamente, pelo alto número de idosos que residem no país. Mas o que explica essa alta longevidade da população? Vamos tratar especificamente da Ilha da Sardenha, uma região autônoma dentro do território italiano, que concentra mais de 300 municípios dentro de si. Ela concentra, sozinha, uma população que passa dos 100 anos três vezes mais do que qualquer outro lugar do mundo. É por ali também que vive a família mais velha do mundo , formada por 9 irmãos que, juntos, somam mais de 800 anos! E qual será o segredo que essa misteriosa ilha revela para tanto sucesso? São três: hábitos saudáveis, genética e… Felicidade! Quem chegou a essa conclusão foram os pesquisadores da italiana Universidade de Cagliari em parceria com outros da inglesa Universidade de Southampton Solent . Essa pesquisa consistiu em entrevistar moradores não só de Sardenha, mas também de outras regiões da Itália, para fins de comparação. Todos eles possuíam idades entre 60 e 99 anos, e responderam questões acerca de seus hábitos e histórico familiares, rotina, além da realização de testes de memória e cognição. O resultado, publicado no jornal de saúde especializado em qualidade de vida, Applied Research in Quality of Life , trouxe alguns resultados bem surpreendentes. Além de uma qualidade de vida elevada , com baixos níveis de estresse e uma boa alimentação, os sardenhos também contam com um bom fator genético - mas que só corresponde a 25% desse sucesso longevo. O terceiro fator pode estar atrelado, na verdade, ao seu bom humor e índices altos de felicidade e satisfação com a própria vida. Há até uma denotação característica italiana, chamada “humor sardenho”, usada para classificar as pessoas bem humoradas da Itália. Bom humor e felicidade podem ser atingidos por caminhos individuais de cada ser humano e suas respectivas trajetórias. Mas um desses caminhos pode ser, justamente, ter uma vida social ativa - como é o caso da população de Sardenha - até mesmo pelo seu menor espaço geográfico e maior índice de convivência entre os idosos. Segundo o Estudo do Desenvolvimento Adulto , realizado desde 1938 pela Universidade de Harvard e hoje conduzido pelo psiquiatra americano Robert Waldinger, interações com a família, ter um grupo próximo de amigos frequentes e estar inserido em uma comunidade são fatores muito positivos para a longevidade - e não só para viver mais, mas também com mais qualidade. Uma outra pesquisa, realizada pela Universidade Brigham Young , reforça essa teoria dos benefícios que a vida social pode trazer. Isso porque, segundo dados expostos por ela, a solidão pode causar morte prematura. Quem cultiva bons relacionamentos apresenta 50% de chances de não falecer prematuramente em relação aos lobos solitários. Portanto, ria como os sardenhos! E melhor: ria em companhia! Esteja sempre cercado da família, bons amigos e bom humor. Não se esqueça de que cuidar de suas relações pessoais é também cuidar de sua saúde mental. E suas relações podem - e muito! - serem os combustíveis mais potentes para isso.

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