Para Inspirar

Mariana Rios em “Nutrindo a positividade”

Ouça e leia o episódio da nona temporada do Podcast Plenae, conheça a história da artista Mariana Rios, praticante assídua da Lei da Atração.

28 de Agosto de 2022



Leia a transcrição completa do episódio abaixo:


Mariana Rios: Algo muito peculiar e especial nasceu comigo: tudo que eu desejo e sinto com o coração, eu consigo realizar. Ninguém me ensinou e não li isso em nenhum lugar. Foi algo que se manifestou ainda na infância e, ao longo do tempo, eu fui ganhando prática. Com a força do pensamento e do sentir, eu conquistei muito mais do que eu imaginava. E esse não é um poder especial só meu. Todo mundo pode transformar a sua vida a partir de uma força interna que tá aqui, em nós. Essa força tem vários nomes. Lei da Atração, Universo, fé ou, simplesmente, Deus.


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Geyze Diniz: A atriz, cantora e apresentadora Mariana Rios sempre procurou olhar pelo lado bom das coisas, e criou em si, como ela mesmo diz, uma personalidade à prova de tempo feio. Ao longo de sua vida, percebeu que tudo que desejava e sentia com o coração se realizava e esse Processo era algo muito transformador para não ser compartilhado. Conheça qual é o método de Mariana Rios para conquistar tudo aquilo que deseja. Ouça no final do episódio as reflexões da Neurocientista Claudia Feitosa-Santana para te ajudar a se conectar com a história e com você mesmo. Eu sou Geyze Diniz e esse é o podcast Plenae. Ouça e reconecte-se.


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Mariana Rios: Eu sofri o meu maior trauma aos 4 anos de idade: a morte do meu irmão. Naquele dia, a minha vida mudou. Minha mãe entrou em depressão e, a partir daí, eu me especializei em momentos de felicidade. Pra deixar a minha mãe feliz, eu cantava, dançava e imitava personagens da TV. E cada vez que uma visita falava sobre morte, a minha mãe ficava muito triste e eu entrava em ação. Então, eu subia na mesa e dizia pras pessoas: “Prestem atenção porque agora eu vou me apresentar”.


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A alegria que eu desejei transmitir à minha mãe e a força que eu demonstrava construíram em mim uma personalidade à prova de tempo feio, como eu gosto de falar. Já me disseram que eu joguei a sujeira pra debaixo do tapete, como uma forma de encobrir a dor. Mas eu não vejo dessa forma. Mais de 30 anos depois, ainda dói. A diferença é que eu aprendi a escolher a alegria, não o sofrimento. Eu percebi que o meu estado de espírito impactava as pessoas ao meu redor e por isso eu procurei maneiras de nutrir a positividade. 


Quando o meu irmão morreu, meus pais começaram a seguir a doutrina espírita kardecista, principalmente a minha mãe. E eu comecei a frequentar o centro junto com eles. No espiritismo, eu aprendi que a vida não acaba nesse plano. Que os laços da família não se rompem, nem após a morte. Que a gente não tá sozinho, nem mesmo quando acha que está. Aprendi que nós vivemos em constante estado de evolução, que essa não é e nem vai ser a nossa única passagem pela Terra. É claro que a compreensão disso tudo veio com o tempo, mas a semente foi plantada lá na infância e germinada conforme eu cresci.

 

Na prática, mais do que na teoria, eu aprendi também que a gente é aquilo que a gente emana, que a gente pensa e que a gente sente. Com a minha alegria, de alguma maneira eu conseguia concretizar os meus sonhos. Por exemplo, eu queria uma bicicleta, mas os meus pais não podiam comprar. Então, eu entendia muito bem isso, eu não ficava triste. Eu transformava dentro de mim, da minha imaginação aquela bicicleta em realidade, e pensava que eu já tinha a bicicleta, que ela me pertencia. Tempos depois, a bicicleta vinha, de alguma forma.


Vou dar outro exemplo. Aos 9 anos, eu senti um desejo enorme de comprar um microfone pra ligar no aparelho de som. Só que o microfone custava 100 reais, e a minha mãe explicou que não tinha nem 5 reais sobrando. Então, a minha resposta prra ela foi a de sempre: “Tudo bem, mãe, não tem problema”.


Todos os dias, eu saía da escola e passava na frente da loja que vendia o tal do microfone. Pedia para segurar, me imaginava cantando e a vendedora se divertia. E aí, o que aconteceu? Eu participei do meu primeiro festival de música, que tinha 3 prêmios: de 300 reais para o primeiro lugar, 200 pro segundo e 100 para o terceiro. Então eu mentalizei o terceiro prêmio. Quando eu me vi no palco, recebendo o envelope e o troféu como terceira colocada, eu senti a mesma alegria que eu já tinha produzido com a mentalização.


Daquele momento em diante, eu nunca mais deixei um sonho vagando sem rumo. 


A bicicleta e o microfone são só dois pequenos exemplos, mas eu conquistei incontáveis coisas na vida com a Lei da Atração. Foi com ela que eu consegui me mudar para o Rio de Janeiro, em busca do meu sonho de ser atriz e cantora. Foi com ela também que eu entrei pra TV e fiz parte da minha primeira novela: Malhação


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Há uns anos, eu senti que era a hora de me permitir concretizar um sonho especial: o de ser mãe. Quando eu procurei o médico, ele foi bem claro. Ele disse: “Mariana, você não vai engravidar em menos de um ano, por causa do tempo que você toma anticoncepcional”. Eu respondi pra ele, rindo: “Nada disso, eu vou engravidar logo, logo!”.


Imediatamente depois da consulta, o processo começou a se desenrolar em mim. Eu senti em todas as minhas células a alegria por estar grávida. Em vários momentos, quando eu estava almoçando, tocando piano, fazendo ginástica, por exemplo, o meu corpo era inundado por imagens e sensações dessa felicidade.


Foi aí que eu tive um sonho com o meu irmão, e foi bem estranho, porque eu nunca tinha sonhado com ele, apesar de ter rezado muitas vezes para que isso acontecesse. Eu sonhei que ele chegava em casa e eu ficava muito assustada. Então no sonho eu perguntei pro meu pai o que tava acontecendo, e ele me disse: “Descobriram uma maneira de fazer com que a pessoa volte à Terra, mas por apenas 24 horas. Então, nós temos um dia todo para aproveitar esse encontro, mas só esse dia”.


Meu irmão era um bebê no sonho. Eu peguei aquela coisinha frágil no colo. A gente ficou se olhando, sorrindo um pro outro, em silêncio, e aquilo pareceu muito tempo. Depois, ele fechou os olhos e eu disse pro meu pai, bem assustada, no sonho: “Pai, os olhos dele estão fechando. O que que eu faço!?”. 


Meu pai me respondeu: “Filha, quando ele chegou, eu avisei que ele ficaria aqui por 24 horas, e agora ele precisa ir.”


Eu aceitei e acordei, muito emocionada. Eu chorei tudo o que não tinha chorado em 30 anos depois da morte dele. A experiência foi tão real, que eu tive duas certezas: a primeira é que aquele sonho era um encontro de almas. A minha segunda certeza é de que eu tava grávida.

A verdade é que, lá no fundo do meu coração, eu sabia que aquele bebê ia ficar um pouquinho comigo, arrancar todos os meus sorrisos e ia embora. Mas eu não queria acreditar. Então, eu contei para as pessoas, eu fui super cumprimentada, fui abençoada por todos, e a sensação é que parecia que eu era um balão enorme de gás hélio sumindo no céu, cada vez mais alto.


Pouco tempo depois, eu soube num ultrassom de rotina que o coração do bebê tinha parado de bater. Na hora, eu não ouvia mais o médico falar. Eu só lembrava do sonho. Eu fui ao banheiro do consultório, chorei, mas eu entendi que eu precisava passar por aquela experiência. Por mais dolorida que ela fosse, ela ia me fazer crescer. A passagem do meu filho e do meu irmão me fizeram compreender que nós estamos aqui de passagem. Estamos num planeta-escola, onde a gente encarna pra evoluir espiritualmente. As coisas vão acontecer e você vai precisar lidar com elas. A escolha de como lidar com as adversidades é somente sua.


Cada segundo com aquele serzinho que viveu na minha barriga me fez amadurecer e perceber o amor acontecendo. Ele precisou partir, e eu não me sinto no direito de questionar a decisão de Deus. A única coisa que eu posso fazer é agradecer o presente e deixá-lo ir. 


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Essa percepção tá alinhada ao espiritismo, onde eu encontro respostas para questões existenciais, como a morte. Mas eu me reconheço em várias religiões. Eu gosto muito do budismo, por exemplo. Gosto de entrar numa igreja católica vazia, sentar e usar aquele templo para fazer uma oração. Em casa, eu tenho várias imagens de santos e de Jesus. Cada religião tem um lugar que conversa comigo.


E nesse combo de espiritualidade, eu entendi que nós somos a energia que emanamos. Por isso, todos nós temos o poder de sair de um estado de sofrimento. O vitimismo é uma casa quentinha e gostosa, onde todo mundo te olha com pena. Quem ocupa esse lugar não precisa se levantar pra vencer na vida. E a minha fé tá ligada à compreensão de que a gente tem as rédeas da existência nas mãos. Com o poder do pensamento e do sentir, nós podemos mudar a nossa energia e o olhar pras adversidades. 

 

Eu não sou expert em psicologia, neurociência ou em qualquer outra área do conhecimento humano que estude a aplicação do pensamento na conquista de metas. A minha certeza vem dos resultados que eu alcancei. Eu sei que nós não temos o menor controle do que está fora de nós. Mas a gente pode dominar o nosso mundo interno. E é nele que a gente deve investir tempo, energia e dedicação. A partir do nosso mundo interno, o que está fora se modifica. Essa é a Lei da Atração.


Quando a gente usa o nosso poder do pensar e do sentir para o bem da gente e dos outros, a gente condiciona a mente a estar onde nós queremos, onde nós desejamos estar. O nosso olhar diante a vida transforma o que desejamos ser. Quando sorrimos, por exemplo, o movimento da bochecha diz ao cérebro que estamos felizes. 


A gente tem o poder da mudança a partir da força de Deus, que está dentro de nós. Só você tem o poder sobre você, o outro não tem. Agarre com força seu sonho maior, defina as prioridades e trabalhe uma de cada vez. Você pode conseguir tudo o que deseja. Basta sentir!


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Claudia Feitosa-Santana: Mariana Rios nos revela seu combo de espiritualidade que a guia em como pensar e como dar mais sentido a sua vida. Todos partilhamos essa busca que faz parte da história humana e da qual surgem muitas crenças, todas de ordem metafísica. Por isso, se – como ela, cada religião tivesse um lugar pra conversar conosco, o planeta seria uma morada melhor.


E você, acredita que a sua vida tenha sentido? Se não, já pensou em cultivar uma relação espiritual? Ambos podem nos ajudar a encarar a vida com mais otimismo, reduzindo o sofrimento exacerbado pelo estresse e harmonizando os  paradoxos, os quais vivemos. Por isso, a espiritualidade pode fortalecer a sua vida e, se não prejudica ninguém, fortalece a humanidade também.


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Geyze Diniz: Nossas histórias não acabam por aqui. Confira mais dos nossos conteúdos em plenae.com e em nosso perfil no Instagram @portalplenae.


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Chitãozinho e Xororó em “Os bastidores do sucesso”

Na terceira temporada do Podcast Plenae - Histórias para Refletir, conheça a trajetória de companheirismo e trabalho de Chitãozinho e Xororó

20 de Dezembro de 2020


Leia a transcrição completa do episódio abaixo:

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Chitãozinho: O meu irmão e eu somos muito diferentes. Eu puxei o nosso pai. Sou sonhador, gosto de comunicar. Faço churrasco no final de semana em casa, tomo meus vinhos, gosto muito de ir pra fazenda e curtir a natureza. O meu irmão já puxou a nossa mãe. Ele não sai de casa, é mais retraído e até eu brinco com ele, falo assim: que ele não quer viver, quer durar. Xororó: O Chitão é coração. Muito alegre, extrovertido, gosta de viver a vida em todos os sentidos. Eu já sou contido, penso mais, gosto de tudo certinho. Mas eu acho que essa diferença nos completa e traz o equilíbrio da dupla. No palco, a nossa parceria deu tão certo, que já se vão 50 anos. [trilha sonora] Geyze Diniz: Irmãos, sócios, amigos. Todas essas relações envolvem dedicação. Manter todas elas juntas com a mesma pessoa e alcançar o sucesso envolve muita sabedoria e amor. Hoje vamos mergulhar na emocionante história de uma das duplas mais conhecidas, amadas e longevas do Brasil: Chitãozinho e Xororó. Ouça no final do episódio as reflexões da professora Lúcia Helena Galvão para ajudar você a se conectar com a história e com você mesmo. Eu sou Geyze Diniz e esse é o Podcast Plenae. Ouça e reconecte-se. [trilha sonora] Chitãozinho: Eu sou o filho mais velho de oito irmãos. O Xororó é o segundo, dois anos mais novo que eu. É lá na cidade de Rondon, no norte do Paraná, a gente morava numa serraria, porque o nosso pai era motorista de caminhão e transportava madeira a semana toda. E a nossa casa era uma casa muito pequena, muito humilde, com fogão a lenha, com lamparina, não tinha eletricidade. E rádio a gente só ouvia à noite, no escritório da serraria. A gente sentava na varanda e ficava ouvindo as duplas sertanejas que faziam o programa nas rádios de São Paulo, então, a gente ouvia Tonico e Tinoco, Jacó e Jacozinho, Tião Carreiro e Pardinho, Zico e Zeca… Muitas duplas que são muito importantes até hoje na história da música sertaneja.  Xororó: Nós tivemos uma infância com muita liberdade de correr, brincar, jogar bola empinar pipa, bolinha de gude, rodar pião. Aquela coisa gostosa do interior, que já não se vê mais, principalmente nas grandes cidades. Eu acho que a minha parceria com o meu irmão começou aos 7 anos, ele 9, né, 2 anos mais velho do que eu. Ele era responsável por me levar pra escola e trazer, claro. E era bem distante de casa, tinha uns 2 quilômetros, eu acho. A gente ia por uma estrada de terra, aqueles dois molequinhos. Chitão: Bem, a influência da música veio do nosso pai, seu Mário. Na adolescência, ele fez a primeira dupla com o João Mineiro, que depois, mais tarde, veio a fazer sucesso com a dupla João Mineiro e Marciano. Nosso pai teve que deixar o sonho de ser artista pra trás, e foi pro Paraná, lá ele construiu a família, mas continua sempre cantando e compondo. E nosso pai passava a semana toda viajando, transportando madeira. Quando ele voltava, ele pegava o violão e cantava com a nossa mãe as músicas que ele ficava ensaiando durante a viagem. Como não tinha gravador, eles repetiam as músicas várias vezes. A nossa irmã, a Rosária, um dia rasgou o caderno de música dele, de composição. Ele queria lembrar uma música e ficou muito bravo. Ele já estava pensando em dar uma surra na Rosária, aí eu falei: “Não, pai, se for a música tal, fica tranquilo que nós sabemos cantar”. Aí a gente começou a cantar. O Xororó que tem a voz aguda, começou imitar a mãe, e eu comecei a imitar a voz do pai, que é mais grave. Aí nós começamos a cantar a música "Cortando a Estrada". Xororó: Quando nosso pai nos ouviu cantando pela primeira vez, ele ficou bobo e falou: “Nossa, vocês sabem cantar direitinho. Quem que ensinou?” Nós falamos: “Pai, foi o senhor e a mãe. Quando vocês cantam aqui em casa a gente fica perto ouvindo, e assim a gente aprendeu”. Aí ele falou: “E o violão? Quem ensinou? Vocês sabem?". "É, a gente também sabe um pouquinho, lá, o ré, o dó." Aí mais uma vez ele falou: “Daqui pra frente, eu vou ensinar pra vocês tudo que eu sei." E assim começou a dupla Os Irmãos Lima. [trilha sonora] Chitão: Bem, o nosso pai começou a mostrar a gente pra todo mundo, né: na escola, na igreja, onde tivesse festa ele tava colocando a gente pra cantar. E tinha um programa de calouro na cidade, lá no clube, lá em Rondon que o prêmio que a gente ganhava dava pra comprar pipoca, dava pra comprar ingresso do cinema. E a gente adorava porque era matinê todos os domingos. A gente ganhava o prêmio e já comprava o ingresso e ia assistir o filme. E eu me lembro que uma vez, a gente tava no meio de um filme do Mazzaropi, um filme muito engraçado, e o nosso pai entrou na sala, assim, de cinema achou nós dois em um cantinho lá, tirou a gente da plateia. Eu falei: "Pai, mas nós 'tamo 'vendo filme". E ele falou: "Não, nós vamos ter uma festa de aniversário na casa de um compadre, o fulano de tal, e eu prometi de levar vocês lá pra cantar. E nós saímos chorando do cinema de tanto que a gente gostava. Aí no caminho ele foi consolando a gente, acabou nosso choro e chegando na casa do nosso cumpadre começamos a cantar. E ele fazia sempre isso com a gente, ele adorava ver a gente cantando e adorava ver a plateia se emocionando com a gente, desde criança.   [trilha sonora] Bem, quando eu tinha 12 anos, a gente teve que mudar pra São Paulo. O nosso pai quis sair do interior porque a nossa mãe, ela tinha uma doença, ela era bipolar, que a gente veio descobrir isso muitos anos depois. Mas, aí ele aproveitou para fazer o tratamento da nossa mãe numa clínica em São Paulo e começar a mostrar a gente nas rádios.  Xororó: Na mudança, a nossa mala era um saco, o cadeado era um nó. Eu me lembro direitinho como se fosse hoje. Nós de calças curtas, que era como os meninos usavam naquela época, final dos anos 60. Viajamos na carroceria de um caminhão de Rondon até Londrina. Pegamos um trem e descemos na Estação da Júlio Prestes, em São Paulo. Nosso pai arrumou emprego como motorista de ônibus na cidade de Mauá, no Grande ABC, e nos mudamos pra lá. Ele canalizou aquele sonho da música na gente. Um dia, seguindo o conselho da nossa avó, a mãe dele, né, a vó Maria, ele nos levou para conhecer Geraldo Meirelles, que era um apresentador de programas de rádio e televisão. Quando ele nos ouviu pela primeira vez, ele falou: "Caramba, vocês são muito afinados, mas Irmãos Lima, nem pensar." E sugeriu Chitãozinho e Xororó, que era o nome de uma música do Athos Campos e do Serrinha, que fala sobre dois inhambus, inhambu chitão e o xororó, dois pássaros que cantam muito  bonito. A gente chegou em casa revoltado. Particularmente eu, né, achei que esse nome era horroroso, muito caipira. Caramba, cantar música sertaneja com nome de Chitãozinho e Xororó, nada a ver. O Chitão, pra me zoar, me chamava de Xororó e eu falava: “Que Xororó o quê, rapaz!? Meu nome é Durval!” [trilha sonora] Chitão: Quando eu fiz 14 anos, a gente era muito pobre e passava muita dificuldade e eu não via a hora de completar 14 anos pra ajudar, pra começar a ganhar um dinheiro. Inclusive, eu até parei de estudar pra começar a trabalhar. E aí, nosso pai me arrumou um emprego de cobrador de ônibus na viação Barão de Mauá. Foi meu primeiro emprego, já fui lá tirei minha carteira de trabalho, eu tenho ela até hoje. Mas esse emprego durou apenas um ano, porque a música já tava tomando espaço na nossa vida, graças a Deus. Xororó: O Geraldo Meirelles tinha um programa na Rádio 9 de julho e arrumou pra gente um horário pra cantar ao vivo às sextas-feiras, às sete e meia da manhã. Nós morávamos em Mauá, a emissora ficava na Vila Mariana. A gente acordava às 4h da manhã, 'caminhava' 20 minutos, pegava um ônibus por mais 20 minutos, depois 40 minutos de trem até a Estação da Luz, mais 20 minutos de ônibus até chegar a rádio. Dois moleques sozinhos, com dois violões. Foi lá que a gente cantou pela primeira vez a música Galopeira. Aí, gravamos um disco e a nossa carreira começou profissionalmente. Isso foi em 1970. [trilha sonora] Chitão: Bem, como eu sou o irmão mais velho, eu sempre tomava a frente de tudo. Era meio que o empresário da dupla, marcava shows, fazia contato, marcava entrevista, programas de rádio… Onde tinha música eu queria colocar a gente pra cantar, e eu acho que aprendi isso com o nosso pai, de correr atrás. Eu não gosto de ficar em casa parado, tô sempre falando com alguém. E o Xororó não, o Xororó é completamente diferente de mim. Ele fica em casa, ele compõe, ele ensaia. Ele tem tempo para ser o profissional bacana que ele é. E isso fez a gente demorar um pouquinho pra gente se ajustar, porque no início, chegou uma época, eu fiquei tão me sentindo importante, que eu fiquei meio que autoritário. E isso eu nem percebia. E na medida que o meu irmão foi crescendo, ele também foi ficando adulto, ele foi entendendo que ele também tinha o espaço dele ali dentro. E ele começou a dar as opiniões dele, coisas que eu fazia que ele não concordava. Ele começou a falar e eu demorei um pouco pra entender que ele também tinha os direitos dele. Mas depois a gente aprendeu a respeitar o espaço de cada um e hoje a gente se respeita muito e ele até fala uma frase que eu acho muito bacana: "O meu espaço termina onde começa o seu". E essa é nossa filosofia até hoje.   [trilha sonora] Xororó: Em 72, Seu Geraldo montou uma caravana e fomos nós fazer o nosso primeiro show em praça pública, pra mais de 10, 15 mil pessoas. Éramos dois adolescentes de 16 e 14 anos. A banda de abertura tocou um baita som. Nós entramos em seguida, só com dois violões acústicos, o som foi lá pra baixo. Quando acabou o show, a gente falou com Seu Geraldo: “Seu Geraldo, não dá pra cantar com dois violões. A gente precisa de instrumentos eletrônicos”. O Geraldo falou: "Eletrônicos?" Sim, e aí veio a ideia de montar a nossa primeira banda, um conjunto, como se falava naquela época. Isso era algo inédito pra música sertaneja. Chitão: Mais ou menos em 1972, por aí, nós conseguimos comprar um fusca e a gente saiu fazendo show em circo com esse fusca. Aí nós fomos pro Paraná em 1975 e lá deu uma geada muito forte e arrasou a economia do estado, então o dinheiro que nós ganhamos lá, a gente gastou lá mesmo. E quando nós chegamos em casa nossos irmãos e nossos pais estavam passando muita necessidade. Aluguel atrasado, não tinha comida em casa … O único bem que a gente tinha era o Fusca. Então a gente pensou assim, vamos dar um tempo na carreira, vamos vender esse Fusca e usar esse dinheiro pra pagar as contas e de repente a gente arruma um trabalho. E esquece um pouco a música porque não tá dando pra sobreviver. Eu ia muito lá no Bar do Café, no Largo do Paissandu, pra encontrar o pessoal de circo que vinha pra contratar shows. Então, eu voltei pra lá, eu e Xororó voltamos pra lá pra ver se a gente encontrava com alguém. E pensando seriamente, dentro do carro, um conversando com o outro, ali por perto da Avenida São João, aí eu falei: "Ai Xororó, vamos ter que vender esse carro, e não tem jeito, nossa vida tá muito difícil." E isso no rádio começou a tocar a música Tente Outra Vez do Raul Seixas, ele 'tava' lançando aquele disco. Xororó: Quando a gente ouviu a letra, parecia um sinal. A gente não podia parar. Precisava tentar mais um pouco. O Chitão teve uma ideia de falar com a gravadora e pedir um adiantamento pro próximo disco. Com aquele dinheiro, conseguimos pagar as contas e encher o tanque do Fusca e tentar de novo. Depois daquele dia, tudo começou a dar certo. [trilha sonora] Xororó: Naquela época, as duplas sertanejas que faziam boas bilheterias nos circos apresentavam uma peça antes do show, pra atrair o público, né. Por mais de três anos, nós também fizemos a nossa, né, que se chamava O Pistoleiro da Ave Maria. O meu personagem era um cowboy bebum que se chamava Johnny. Em paralelo, nós gravamos um disco, e as músicas começaram a tocar muito nas rádios. Chegou ao ponto em que o povo não queria mais a peça, queria música. Era só a gente começar a peça e o povo começava: “Canta! Canta!”. Isso foi em 79 com o disco 60 Dias Apaixonado Foi o nosso primeiro Disco de Ouro. A gente vendeu mais de 250 mil cópias! Antes disso, não passava de 10 mil. A nossa consagração veio mesmo em 82, quando gravamos o nosso oitavo álbum: Somos Apaixonados, que ultrapassou a marca de 1 milhão e meio de cópias vendidas. A gente sabia que a segunda faixa daquele LP seria um sucesso. Mas achou que o nome da música não era, assim, tão sugestivo pro título desse disco. Somos Apaixonados parecia mais vendável do que Fio de Cabelo [trilha sonora] Chitão: Fio de Cabelo foi a primeira música sertaneja a ser tocada nas rádios FM. E nós começamos a ser convidados também para participar de programas de televisão que, até então, nunca tinham levado uma dupla sertaneja. A gente era jovem, tinha uma aparência bacana e se apresentava de uma forma bem profissional. Xororó: Eu me lembro que, naquela época, o Silvio Santos chamou a gente pra fazer um programa no SBT todo domingo e ali a nossa imagem ficou muito muito conhecida. Aí nós fizemos muito sucesso mesmo. Então, foi muito importante a música Fio de Cabelo. E a gente sempre cuidou da nossa carreira. Naquela época na televisão a gente começou a usar cabelo grande, usar umas roupas mais incrementadas. E a gente tinha visto o Rod Stewart no Rock in Rio com aquele cabelo arrepiado e comprido atrás. Nós começamos a imitar e como a gente 'tava' na televisão, o nosso corte de cabelo virou sucesso nacional e as pessoas passaram a ir no cabeleireiro e pedir pra cortar o cabelo igual o do Chitãozinho e Xororó. [trilha sonora] Chitão: O nosso pai ele chegou a ver, assim, um pouco do nosso sucesso porque ele faleceu em 83. Ele morreu muito jovem, com 51 anos, e ele chegou a acompanhar a gente, assim, em alguns shows. Então ele começou a sentir um pouco o sucesso da música Fio de Cabelo e, infelizmente, ele se foi muito cedo, mas ele deixou um legado muito bacana. Ele não só, colocou a gente no caminho da música, como eu acho que essa harmonia, né, que existe entre nós se deve muito ao sonho que nós realizamos do nosso pai, que o sonho dele sempre foi fazer de nós dois uma dupla famosa.  [trilha sonora] Xororó: A nossa parceria deu tão certo que eu nunca me vi fazendo um disco solo. Já tivemos muitas brigas feias, sim. Todo irmão tem, né. A gente pensa muito diferente em muitas coisas, mas o nosso privilégio é ter a música como nosso elo, nossa força, nossa paixão em comum. Esse amor supera qualquer desavença. Nas vezes em que a gente se desentendeu, o ranço fica pra trás quando pisamos no palco. Começamos a cantar, aí tudo muda. A música é o nosso remédio, nossa alma, nossa vida.  [trilha sonora]

Chitão: É muito comum, né, as duplas serem formadas por irmãos, porque é muito mais fácil e quando você aprende tudo junto, né, já vem um pacote mais pronto. Esse vínculo, assim, do convívio de viver a dois, não é uma coisa muito fácil. Mas quando se é irmão, a gente briga em família e não guarda rancor, sabe, não guarda mágoa de ninguém. Eu mesmo sou assim. Eu e meu irmão nós somos muito diferentes. Eu tenho um comportamento, ele tem outro. Eu penso de um jeito, ele pensa de outro, só que na música nós somos muito parecidos. E isso prevalece sempre no nosso convívio, então entre nós, mesmo que a gente tenha uma discussão, às vezes, mais severa por um motivo ou outro, não fica rancor. Dali uma semana já acabou a briga e a gente tá em paz novamente.  Xororó: O principal fator pra longevidade da nossa carreira acredito que seja o respeito que a gente entre nós e, mais ainda, pelo nosso público. As pessoas parecem que consideram a gente como se fosse a família delas. A gente sente esse amor do fã quando ele quer uma atenção, uma palavra, uma foto. Eu acredito que a gente tem como missão usar o nosso dom pra tocar os corações. A música pode transportar o ser humano pra outro lugar, de fazer uma pessoa lembrar de um grande amor, de uma viagem. Faz um bem danado pra alma. Esse amor é o que mantém a gente juntos nesses 50 anos e sabe lá Deus quanto tempo mais. Enquanto nossos fãs curtirem o que a gente faz, a gente vai continuar cantando, vai seguir. [trilha sonora]

Lúcia Helena Galvão: Dá pra gente dizer que o Chitãozinho e o Xororó são duas pessoas que sabem aproveitar o melhor que a vida oferece. Da infância pobre, lembram dos jogos e brincadeiras. Do pai, lembram que passava a semana toda ausente, mas lembram do retorno e da bela cantora em dueto com a mãe. E o pai, seu Mário, não deixou só o sonho de artista e as boas lembranças, deixou o símbolo de paternidade que fez com que os dois irmãos jamais se esquecessem que eram irmãos. E esse sentimento permitiu que passassem por cima de todas as dificuldades de convivência. E se todos nós lembrássemos que também temos um único pai, quem sabe o que poderia acontecer conosco? É, esses dois rapazes não sabem só cantar, são muito bons de ouvido também, sabem ouvir a vida. Ouvem e decoram pra não perder jamais a lição, mesmo que as dificuldades arranquem algumas folhas do caderno. E deve ser por isso que tocam tanto o coração das pessoas com a sua cantoria. É a vida recolhida pelo caminho que canta com eles.  [trilha sonora] Geyze Diniz: Nossas histórias não acabam por aqui. Confira mais dos nossos conteúdos em plenae.com e em nosso perfil no Instagram @portalplenae. [trilha sonora]

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