Para Inspirar

Os atalhos para o bem-estar

Como “hackear” hormônios e neurotransmissores responsáveis pela sensação de bem-estar e felicidade.

15 de Fevereiro de 2023


Serotonina, dopamina, ocitocina e endorfina: você com certeza já ouviu falar nesses termos, seja aqui no Plenae ou em outros lugares. Essas são substâncias produzidas pelo nosso próprio corpo e que são responsáveis por trazer sensações positivas como alegria, bem-estar e até ajuda a esclarecer ideias e tomar decisões.

Por isso mesmo que, constantemente, as pessoas estão em busca de produzi-los cada vez mais e mais, uma espécie de busca por atalhos para se sentir bem. Isso não é errado e nem condenável, mas pode gerar frustrações, já que não se trata de algo tão simples assim.

Entrevistamos Iago Navas Perissinotti, médico neurologista da Universidade de São Paulo, para entender quais são os caminhos internos do nosso corpo para a liberação de cada um deles e também suas diferenças.

Neurotransmissor X Hormônio

Os neurotransmissores são substâncias produzidas pelos neurônios e vão agir em outros neurônios. Já o hormônio é uma substância produzida por um determinado órgão, cai na corrente sanguínea e vai reagir em outro lugar do organismo. 

A insulina, por exemplo, é produzida pelo pâncreas e cai na corrente sanguínea. Sua ação se dá em diversos órgãos do corpo, como o fígado, os músculos e todos os órgãos do corpo. Ele ainda facilita a entrada de glicose dentro das células e promove o crescimento celular e a nutrição para as células. 

A dopamina

Como todos os neurotransmissores, a dopamina tem ações complexas - até porque, eles podem ter ações bem diferentes e em múltiplos locais do cérebro. ”Existe uma certa ideia dita na psiquiatria que é a teoria monoaminérgica, que você teria depressão, por exemplo, se você tivesse uma baixa de serotonina ou dopamina. Na verdade não é assim que acontece”, explica Iago. “Aumentar a dopamina para ficar feliz é uma visão muito simplista e que é um pouco difícil a gente tentar traduzir”.

Os efeitos da dopamina são amplos, incluindo até mesmo a área motora - no caso da doença de Parkinson. Mas seu principal efeito, como explica Iago, se dá em uma região do cérebro que se chama núcleo accumbens, área conhecida por ser o centro do prazer. E isso vale pra todo tipo de prazer, tanto o prazer de comer alguma coisa gostosa, o prazer sexual, atingir um determinado objetivo, tudo isso ativa a dopamina nessa região do cérebro.

“Ela é bastante potente, essa ativação é basicamente o que nos move a fazer qualquer coisa. Então pode-se dizer que a dopamina é basicamente o neurotransmissor da felicidade. Sua atuação é extremamente curta, como toda sensação de prazer e satisfação, e passa logo. Por isso a busca constante pela felicidade poderia ser traduzida como uma busca constante por uma estimulação de dopamina”, diz o especialista.

Estudos em ratos demonstram que, se é colocado um eletrodo no núcleo accumbens, possível de ser ativado por esse animal com uma espécie de alavanca ou botão, ele para de comer ou de fazer qualquer coisa para só ficar apertando esse botão a todo tempo, na ânsia de sentir essa felicidade constante.  

“Por isso mesmo que todas as substâncias que agem no núcleo accumbens são relativamente perigosas, com potencial de abuso muito grande, mas há outras formas para se estimular essa produção, procurando coisas que nos dão prazer, até de uma forma bem genérica”, diz. 

Em termos de atalhos - que é o foco desse artigo - é um caminho que, embora ainda não comprovado cientificamente, tem apresentado evidências bem positivas. Trata-se do “jejum de dopamina”, ou seja, evitar os pequenos prazeres, aqueles menores que procuramos a todo o tempo. 

Parece estranho, mas faz sentido: evitando esses pequenos prazeres, acredita-se que os grandes prazeres, quando acontecerem, serão intensificados e potencializados. Esse jejum é uma proposta que tem o objetivo de deixar mais sensível o seu núcleo accumbens, resguardando-o para sensações de prazeres mais duradouras e intensas e para conquistas mais significativas. “Entra naquela habilidade de adiar recompensas”, diz Iago.

Ocitocina

Diferente dos outros, a ocitocina não é um neurotransmissor, e sim um hormônio, mais especificamente produzido pela glândula da hipófise, também localizada no cérebro. Sua principal função é promover a saída de leite das glândulas mamárias, ou seja, muito importante para as mães que estão amamentando.

Porém, no cérebro ela também tem apresenta funções que estão relacionadas ao cuidado, a sensação de amor fraternal, materno, paterno. “Estudos comprovam que animais com mais ocitocina tendem a ter mais cuidado com filhotes, são mais sociáveis”, conta Iago.

Ainda na busca pelos atalhos para chegar até essas substâncias, no caso da ocitocina,  segurar um bebê ou ter um animal de estimação pode ser bastante eficiente. Até mesmo ter uma planta pode ajudar, mas em menor grau. ”Segurar um bebê no caso das mães, isso vai estimular a injeção de leite, mas para os demais, pode estimular a sensação de cuidado. E é isso que dá aquela sensação de felicidade que a gente sente quando está perto de um filhote, por exemplo.”

Endorfina

Um dos neurotransmissores mais populares, produzido no cérebro, mas que também cai na corrente sanguínea. Seu nome, tão semelhante ao da morfina - um potente e popular analgésico - não é à toa. “Elas têm os mesmos efeitos, só que a endorfina é produzida em uma quantidade muito menor. Além disso, ela não é externa, e sim endógena. Portanto, não vai dar efeitos de dependência, mas traz a sensação de alívio da dor física e também emocional, além de uma sensação de bem-estar”.

A principal forma de estimular a endorfina é a atividade física, de forma certeira e eficaz. Para quem sofre com dores crônicas, exercitar-se é ainda mais necessário, não só por conta da questão do fortalecimento das articulações e músculos, mas para a produção dessa substância que vai performar tão bem no alívio da dor. 

Serotonina

Dentre todas, eis a substância mais complexa. A serotonina é um neurotransmissor que tem diversos receptores, cada um com uma função diferente. Mas, de maneira geral, ela é um neurotransmissor ativador do sistema nervoso central, então ela vai estar envolvida, por exemplo, no ficar mais acordado, mais atento às coisas.

“A serotonina tem muito a ver com estados de humor e com o grau de ativação global do nosso cérebro. Não há uma forma simples de aumentá-la como os outros citados anteriormente, mas existem alguns caminhos possíveis de serem trilhados que não envolvam, necessariamente, o aumento por meio de remédios”, pontua o neurologista.

Ter uma vida ativa e boas noites de sono, praticar atividade física, manter boas relações, estar exposto à luz e até a alimentação são alguns dos atalhos sugeridos pelo especialista. No caso da luz, a explicação está muito ligada à depressão sazonal que te contamos aqui nesse artigo, causada principalmente pela privação de luz solar que algumas pessoas enfrentam no inverno em países frios, por exemplo 

“Mas essa pessoa pode encontrar ajuda na terapia luminosa, que é basicamente expor o indivíduo a uma luz com vários comprimentos de onda, como se fosse uma luz solar. Essa prática já apresentou evidências positivas de melhora”, conta. Alguns alimentos que possuem um aminoácido chamado triptofano podem também servir de atalho.

“Apesar de não ter nenhuma evidência em animais de que suplementar triptofano tenha benefícios em aumentar a serotonina, já se sabe que a deficiência dele pode causar uma deficiência de serotonina. Queijos e castanhas, principalmente, são ricos nesse aminoácido, mas qualquer coisa que tenha proteína também”, conclui.

Existem, por fim, tumores e tipos de câncer que podem aumentar a serotonina de uma forma global e isso não é uma coisa benéfica. Excesso de antidepressivo, por exemplo, pode causar uma síndrome chamada síndrome serotoninérgica, que é esse excesso tão danoso para nosso corpo. 

Como diz o ditado, tudo em excesso faz mal, até mesmo o que em doses controladas pode nos fazer um bem danado. Esteja atento para evitar a falta, mas também evitar o muito, e busque cada dia mais uma vida com equilíbrio em todos os aspectos.

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A receita da vida longa, segundo uma Prêmio Nobel de medicina

As descobertas nesse campo renderam à bióloga americana Elizabeth Blackburn , de 68 anos, o prêmio Nobel de Medicina de 2009.

1 de Março de 2019


A gente entrega o avançar da idade por meio de rugas, cabelos brancos, juntas emperradas… Pois nossas células acusam o mesmo quando se observam seus telômeros. Telômeros são as extremidades dos cromossomos, as estruturas das nossas células onde fica empacotado o DNA. Com os anos, os pezinhos dos cromossomos ficam mais curtos, fenômeno ligado ao envelhecimento e à maior exposição a doenças. As descobertas nesse campo — bem como a identificação da enzima que protege os telômeros, a telomerase — renderam à bióloga americana Elizabeth Blackburn , de 68 anos, o prêmio Nobel de Medicina de 2009. A professora, que atua na Universidade da Califórnia em San Francisco, nos Estados Unidos, se juntou à psicóloga Elissa Epel, da mesma instituição, para compartilhar os achados científicos que conectam a integridade dos telômeros aos nossos hábitos e à maneira de encarar a vida. O resultado é o livro O Segredo Está nos Telômeros , recém-lançado no Brasil pela editora Planeta. Na entrevista a seguir, ela conta um pouco da receita da vida longa, guardada em nossas próprias células. Seu livro fala da importância de uma dieta equilibrada no comprimento dos telômeros. Na contramão, existem alimentos ou ingredientes que deveríamos consumir com moderação pensando nas nossas células? Eu destacaria os carboidratos refinados, refrigerantes açucarados, alimentos processados e carne vermelha. A incidência de doenças crônicas, caso de obesidade, câncer e problemas cardiovasculares, está crescendo mundo afora. Podemos dizer que todas elas estão associadas ao encurtamento dos telômeros? Estou certa disso. Como o estresse mental e a ansiedade são capazes de danificar nossos telômeros e encurtar nossa expectativa de vida? Tanto a ansiedade como a depressão estão ligadas a telômeros mais curtos. E, quanto mais severas elas são, mais curtos são os telômeros. Essas condições extremas do estado emocional têm um efeito no maquinário de envelhecimento das células, que envolve os telômeros, a mitocôndria [organela celular] e processos inflamatórios. Doenças do coração, pressão alta, diabetes, todos esses problemas de saúde tendem a aparecer mais cedo e mais rapidamente em pessoas ansiosas ou deprimidas. A ansiedade é um tema relativamente recente no campo de pesquisas sobre os telômeros. Sabemos que pessoas que vivenciam a aflição de um transtorno de ansiedade tendem a apresentar telômeros significativamente mais curtos. Quanto mais tempo a ansiedade persiste, mais curtos ficam essas estruturas. Mas, a partir do momento em que a ansiedade é resolvida e a pessoa se sente melhor, os telômeros eventualmente retornam ao seu comprimento normal. Esse é um importante argumento a favor da identificação e do tratamento da ansiedade. E a depressão? Piora ainda mais as coisas para os telômeros? A conexão entre a depressão e os telômeros tem uma sólida base de evidências científicas. Um estudo impressionante, de larga escala, envolvendo quase 20 mil mulheres chinesas, descobriu que aquelas deprimidas tinham telômeros mais curtos. Quanto mais grave e duradoura é a depressão, mais curtos ficam os telômeros. Até que ponto técnicas de controle mental, como mindfulness e meditação, nos ajudam a viver mais e melhor? Estudos já descobriram que pessoas que tendem a focar mais suas mentes no que estão fazendo têm telômeros mais longos quando comparadas àquelas cujas mentes divagam. Outras pesquisas demonstram que ter aulas ou treinamentos de mindfulness ou meditação está ligado a uma maior capacidade de manter a integridade dos telômeros. O foco mental é uma habilidade que qualquer pessoa pode cultivar. Tudo que você precisa fazer é praticar. É possível que um dia tenhamos uma pílula capaz de proteger ou regenerar nossos telômeros, uma espécie de elixir da longa vida? Eu adoraria se alguma coisa do tipo existisse! Mas eu manteria uma dieta balanceada e a mente tranquila. Leia o artigo completo aqui . Fonte: Diogo Sponchiato Síntese: Equipe Plenae

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