Para Inspirar
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16 de Abril de 2019
Para Inspirar
Na décima primeira temporada do Podcast Plenae, emocione-se com a cumplicidade e parceria de Adriana e Giovanna Araujo.
3 de Abril de 2023
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Adriana Araújo: Quanto mais valente eu tentava me mostrar pra minha filha, mais forte ela se exigia ser. E quanto mais madura e tranquila eu a via, mais serenidade eu buscava oferecer. A gente se abasteceu dessa troca. Esse pacto conduziu a nossa vida por um caminho de amor e companheirismo que eu nunca havia experimentado. Mas o custo foi alto. Nós duas amadurecemos à força. Uma abriu mão de parte da juventude. A outra, da infância. E as inseguranças e fragilidades ocultas que estavam ali inevitavelmente apareceriam.
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Geyze Diniz: Ainda na gravidez, Adriana Araújo descobriu que sua filha, Giovanna, nasceria com uma síndrome rara. Foram 10 cirurgias para que Giovanna pudesse caminhar com as próprias pernas, e para Adriana foi um trabalho contínuo de entender suas emoções, força e vulnerabilidade.
Eu sou Geyze Diniz e esse é o podcast Plenae. Ouça e reconecte-se.
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Adriana Araújo: No dia 7 de outubro de 1997, eu acordei com um novo papel no mundo, o de mãe. Ainda na maternidade, com a minha bebê dormindo no bercinho de acrílico ao meu lado, eu amanheci num choro incontrolável.
Até hoje é difícil definir esse choro. Quando eu volto àquele momento pra encontrar as nuances de cada sentimento que havia ali, eu vejo um choro de decepção comigo mesma. De inconformidade e frustração por não ter conseguido dar à minha menina o formato que o mundo classifica como normal. Um choro de choque, de enxergar as diferenças anunciadas no borrão do ultrassom, agora tangíveis. Um choro de não fazer ideia se a minha menina poderia andar e correr. De não saber como seria a vida da criança frágil e de pernas tortas que dormia tranquila no berço da maternidade. Um choro de intuição de que seria difícil, muito difícil de que julgamentos e preconceitos inevitavelmente surgiriam. Um choro de quem envelheceu uma década em horas, de quem sabia que dali pra frente tudo seria diferente.
Eu volto no tempo e entendo as razões de cada choro na maternidade. Mas algumas daquelas lágrimas eu não choraria de novo. As lágrimas da culpa eu tentaria não chorar, ainda que elas ainda existam no meu coração, 25 anos depois.
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Giovanna Araújo: Não teve um momento específico em que eu percebi que era diferente das outras pessoas. Pra mim, era simplesmente um fato da vida, até porque na infância eu nem ligava muito pra minha imagem. Às vezes, os colegas perguntavam por que a minha perna e os meus dedos eram daquele jeito, daí eu explicava. Mas eu nunca deixei de ser aceita no grupo por causa disso. Sempre tive muitos amigos, sempre me encaixei nos lugares onde eu frequentei. Eu sei que outras pessoas podem sofrer bullying por ter uma diferença, mas essa não foi a minha experiência.
A minha aparência atípica virou uma questão pra mim quando eu cheguei na adolescência. Eu me incomodei com as cicatrizes nas minhas pernas, por causa de tantas cirurgias. Me incomodei por ter dificuldade de usar salto. Mas, no geral, eu acho que eu ligo tanto pra aparência quanto qualquer pessoa da minha faixa etária. Na minha geração, as pessoas se comparam demais com as outras, por causa das redes sociais.
Eu fui percebendo que, na verdade, as pessoas não estão preocupadas com os outros. Elas estão pensando em si, nas próprias vidas. Com o tempo, a minha insegurança passou.
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Adriana Araújo: Em 2020, eu publiquei um livro sobre a minha história como mãe da Giovanna. Mas antes de ser um livro, foi uma conversa comigo mesma. Eu precisava olhar pelo retrovisor pra processar as emoções e visitar as memórias dessa jornada. A caminhada nem sempre foi fácil. E, durante muitos anos, eu não tive tempo pra parar e refletir sobre os percalços que nós enfrentamos.
Aí, eu comecei a escrever a história na forma de e-mails que eu enviava pra mim mesma. E à medida que os textos foram ganhando corpo, surgiu um desejo de transformá-los num livro familiar. Eu pensava em fazer uma encadernação bonita e dar de presente pra Giovanna, pra minha família e, especialmente, pros médicos que foram essenciais na vida da minha filha.
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Adriana Araújo: Logo no começo do livro, eu aviso: “Essa não é uma história de vítimas nem de heroínas. É apenas a história de duas meninas que caminham juntas”.
Eu não fui educada pelos meus pais para me vitimizar. Eu não gosto dessa posição, não acho que é isso que te faz seguir em frente. Essa compreensão ficou ainda mais forte depois que a Giovanna nasceu. Muitas pessoas olhavam pra ela e falavam: “Ah, coitadinha, tadinha”. É uma expressão cultural, que o povo fala sem nem perceber o quão danosa ela é. E aí, virou uma batalha pessoal ensinar a minha filha a não se vitimizar, nem deixar que as pessoas a tratem com essa visão.
Mas, na outra ponta, mães de crianças com alguma deficiência também costumam ser colocadas no papel de heroínas, uma posição que até pode fazer bem pro ego. O fato de eu trabalhar em televisão pode reforçar esse rótulo. Só que, na verdade, não existem heróis. Na tentativa de dar conta da minha missão, eu botei uma armadura, peguei uma espada na mão e fui em frente com toda a força que eu tinha. Mas isso não significa que eu fui forte o tempo todo. Eu fraquejei muitas vezes, tive momentos de fragilidade, de tristeza, de medo. De muito medo.
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Adriana Araújo: Desmistificar o papel da heroína não foi só pros leitores do livro, foi pra nós duas também. Eu me tornei mãe aos 25 anos, enquanto tava construindo uma carreira na televisão. E a Giovanna intuitivamente, ela percebeu que o desafio era enorme e colaborava muito, muitas vezes com silêncio. Ela nunca manifestou revolta. Nunca perguntou por que era diferente. Nunca reclamou dos remédios, das cirurgias, dos cortes, das suturas, das agulhadas. Já eu esperava birra, irritabilidade, nervosismo. Recebi serenidade e silêncio.
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Adriana Araújo: O livro também serviu como um auto abraço. Foi uma maneira de dizer para mim mesma: “Ok, eu poderia ter feito algumas coisas de outra maneira, os bastidores poderiam ter sido apresentados a minha filha mais cedo. Mas eu entreguei o que eu dava conta”. Eu cheguei aos 50 anos com a Giovanna em uma das melhores faculdades de medicina do país e eu tenho um baita orgulho disso. Tá faltando só um ano para ela se formar e é uma felicidade pra mim vê-la encaminhada e bem. Eu ofereci aquilo que foi possível, que eu tinha condições de oferecer naquele momento.
Geyze Diniz: Nossas histórias não acabam por aqui. Confira mais dos nossos conteúdos em plenae.com e em nosso perfil no Instagram @portalplenae.
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