Para Inspirar

Ruth Manus em "As curvas da vida"

O primeiro episódio da décima sexta temporada ouve a história das relações possíveis da escritora Ruth Manus.

4 de Agosto de 2024



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Ruth Manus: Eu nunca tive nenhuma rejeição a ideia de ser mãe. Mas, eu tive dúvidas, especialmente na minha vida adulta. Eu me perguntava como ia conseguir conciliar a maternidade e profissão. Agora, uma coisa que eu nunca planejei foi ser madrasta

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Geyze
Diniz:
A advogada e escritora Ruth Manus tem nove livros publicados e um texto que encanta os seus leitores. Entre os temas das suas crônicas estão a sua relação com a maternidade e com a “madrasternidade”, um termo que ela cunhou. A história familiar de Ruth é como a de muitos entre nós: fora do script tradicional. Eu sou Geyze Diniz e esse é o podcast Plenae. Ouça e reconecte-se. 

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Ruth
Manus:
Quando a gente é criança, a gente planeja ser sereia, aeromoça, jogadora de futebol, tia, astronauta... Mas ser madrasta nunca esteve nos meus planos. Só que a vida é assim né? Cheia de curvas que vão nos levando a lugares inesperados. E uma dessas curvas me levou até a Francisca.  

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Eu tinha 25 anos quando a conheci. Ela tinha 3.
E o nosso encontro foi em Lisboa, onde ela mora e para onde eu me mudei quando me casei com o pai dela. Eu me preparei para o primeiro encontro com a Francisca. Eu lembro que fui fazer compras com umas amigas e
falei: “Olha, eu quero parecer o avesso da madrasta que os contos de fadas fazem o desfavor de construir”. Então eu me vesti de cor-de-rosa. Na minha bolsa, tinha bala de ursinho e Kinder Ovo, como se fossem meus. Eu criei uma personagem para que ela me visse como alguém que pudesse ser próxima, agradável, confiável.  

 

E a Francisca não me recebeu de braços abertos. Ela era uma criança desconfiada, muito intensa, que são características que hoje eu acho que são algumas das melhores coisas que ela tem. Ela não parece um filhote de labrador, que nem eu, que acha tudo legal, quer ser amigo de todo mundo. Ela tem a seleção dela. Para nós duas, era tudo novo. Eu nunca tinha sido madrasta. Ela nunca tinha sido enteada. Mas, com o tempo, a gente conseguiu construir a nossa relação de amor. 

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A “
madrasternidade, como eu gosto de dizer, é um lugar cheio de tabus, mas que eu acho que es mudando, inclusive com a coisa da guarda compartilhada. Porque as madrastas agora tão na linha de frente do cuidado. Elas buscam as crianças na escola, ligam para mãe do amigo, compram o lanche do recreio. Fazem tudo que os pais fazem, às vezes até mais ou menos, dependendo da dinâmica da casa.

Mas, i
sso sem nenhum reconhecimento, muitas vezes, da família, da escola ou até do comércio. Porque eu inclusive acho que deveria existir o Dia da Madrasta para ter esse reconhecimento
Uma vez eu escrevi que ser madrasta é fazer tudo aquilo que uma mãe e um pai fazem, mas sem a garantia do amor incondicional. Só que depois eu entendi que o amor incondicional é mais uma idealização do que uma realidade na relação de muitos pais e filhos.

Eu descobri também que as crianças muitas vezes amam
profundamente a madrasta ou o padrasto e sentem medo real de perdê-los. Porque os enteados não têm nenhuma garantia de que esse vínculo vai continuar se o casamento da mãe acabar ou se o casamento do pai acabar. Então, para mim, mais difícil do que ser madrasta só ser enteada, porque o poder não es na mão da criança. O poder está na mão do adulto. 
 

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Eu e a
Francisca somos bem parecidas. Ela é geminiana, que nem eu. A gente faz aniversário com uma semana de diferença. E hoje, eu percebo que ela não tem o meu sangue, não se parece esteticamente comigo. Mas ela tem o meu senso de humor, ela tem meu jeito de falar.
 

Outro dia eu postei uma foto de um
, de um Nescau que eu pedi na padaria bem clarinho, do jeito que eu gosto e ela sempre criticou. E aí ela comentou no post: “Ruth, não foi assim que eu te eduquei”. Enfim, eu vejo que eu plantei algumas sementes que de fato ficaram, o humor é meu.
 

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O meu relacionamento com o pai dela durou sete anos. A Francisca tinha quase 11 na época do divórcio e a única pergunta dela foi: “Mas
, Ru, você vai embora?”. E eu respondi: “Olha, eu provavelmente vou passar mais temporadas longas no Brasil. Mas eu sempre volto”. E há quase quatro anos eu venho cumprindo essa promessa de sempre voltar.
 

Eu não tive o luxo do divórcio
no qual eu podia me importar só comigo mesma. Quando eu me separei, algumas pessoas próximas e que conheciam bem a nossa relação, me disseram coisas do tipo: Não, a Francisca agora é problema dele. Você tem que se preocupar em cuidar de você!”. E eu só conseguia pensar: “Não, a Francisca não é problema dele. A Francisca é problema meu e eu quero que continue sendo também um problema meu."

Quando eu conto
para as pessoas que eu converso com a Fran todos os dias, que a gente troca mensagem, que eu viajo só para es com ela nas férias, só falta as pessoas me estenderem um tapete vermelho. Do tipo: “Nossa, que pessoa incrível!”. Isso é uma coisa que me incomoda demais! Eu sou adulta. Eu fiquei sete anos na vida dela. Seria uma surpresa, aí sim, se eu tivesse abandonado emocionalmente uma criança. Eu não mereço palmas porque eu permaneci. A gente precisa problematizar o abandono, e não aplaudir quem faz o mínimo.
 

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Quando eu voltei
para o Brasil, eu sabia que, em algum momento, eu ia conhecer um novo parceiro. Que era só uma questão de tempo. Mas eu realmente não queria alguém que já tivesse um filho. Eu não queria correr o risco de sentir a dor que eu estava sentindo por aquela ausência de acesso ao dia a dia da Fran. Eu não queria outra vez amar uma criança, fazer parte da rotina dela e, de repente, ter um parceiro que decida ir embora, como meu ex-marido foi, e eu me ver à deriva. 
 

E aí eu conheci o Agustin, meu marido, num aplicativo de relacionamento. A gente combinou um café e estava tudo indo muito bem, até que ele me contou que tinha um filho, exatamente da idade da Francisca. E aí, eu dei uma bugada. Eu pedi licença, fui até o banheiro, fiquei um tempinho processando aquele plot twist. Eu só pensava: “Não, não é possível. De novo, de novo as curvas da vida me levando numa direção que eu não estava esperando. Só que de novo eu aceitei. 
 

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E aí, a minha experiência como madrasta do Caetano foi muito mais fácil. Por muitas razões. O Caetano é super tranquilo, é easy going, era mais velho, já tinha conhecido outras namoradas do pai. Eu, do outro lado, cheguei com uma bagagem que facilitou também a construção do nosso vínculo.  

Foi mais suave também a minha relação com a mãe do meu enteado. Eu passei muitos anos estudando o feminismo e ressignificando a minha relação com outras mulheres. Quando eu conheci a Francisca, eu caí um pouco naquelas ciladas da competição, de achar que eu tinha que ser mais legal que a mãe dela. Depois do divórcio, a mãe da Francisca virou uma grande amiga. E hoje, eu quero que o Caetano tenha a melhor mãe possível, porque eu quero ser a melhor madrasta possível. 

Quando eu conheci o Agustin, eu já sabia que eu queria ser mãe. Eu tive essa consciência depois do meu divórcio com o pai da Fran. Eu lembro que eu andava na rua e, se eu visse um casal, ok. Porque eu sabia que eu ia ter isso em outro momento. Mas quando eu via mulher grávida ou pessoas com filhos pequenos, eu ficava desolada, porque eu não sabia se eu ia ter isso em algum momento. Então ficou claro que, se eu tinha aquelas crises, a maternidade era uma prioridade para mim. 

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No meu primeiro encontro com o Agustin, eu falei na lata, falei:Quero casar de novo, quero ter filho”. Muitas mulheres dizem que têm medo de assustar os caras com quem tão saindo dizendo isso no primeiro encontro. Mas, gente, que mané assustar o cara! Se um homem de 30 anos tem medinho, duvidazinha, honestamente cai fora! Porque ele precisa se resolver antes de se relacionar com alguém. Essas são respostas importantes. 

Mas, o fato foi que o Agustin não se assustou com a minha assertividade. Quando a gente começou a namorar e, depois decidiu ter um filho, eu acabei engravidando rapidamente. Quando o Joaquim nasceu eu não vivenciei aquele amor à primeira vista, que muita gente narra. A minha experiência como mãe não foi maravilhosa logo de cara.

Muita gente fala
que o dia do parto foi o dia mais feliz da vida, mas eu, honestamente, fui mais feliz em qualquer visita ao Hopi Hari do que no dia do meu parto
Não que eu tenha tido um parto especialmente ruim. Foi uma cesárea planejada. Só que minha pressão subiu, o Joaquim teve uma instabilidade respiratória. Então, assim que ele saiu da minha barriga, colocaram ele num daqueles bercinhos aquecidos, e não no meu peito, como eu imaginava.

Ele ficou longe de mim por 4 horas
que foram as 4 horas mais longas e aflitivas da minha vida. Então lá no hospital, eu estava preocupada se ele estava respirando. Estava preocupada com a minha dor. Estava preocupada em não ser transferida para uma semi-intensiva e ficar ainda mais longe dele. E aí no dia seguinte chegam as visitas, chegam os desafios com a amamentação, e era o Joaquim que não tinha pega, o leite que não era suficiente ... Cara, não tinha espaço pra romantização ali.
 

 
Quando a gente teve alta e voltou para casa, o clima não melhorou automaticamente. Eu admiro as mães que amam os bebês imediatamente, porque eu, honestamente, nunca me apaixonei à primeira vista por ninguém, todos meus amores foram construções. Aquele bebê ainda era um estranho para mim, eu estava começando a conhecê-lo.

E
como qualquer recém-nascido, ele só chorava, ele não ria, ele ainda não tinha, né, nenhum tipo de interação. Então eu falo que o primeiro mês foi um grande incêndio que eu ia apagando sem parar. Um dia eu cheguei a dizer para uma amiga: “Eu acho que o Joca merecia uma mãe que o amasse mais do que eu”.
 

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Eu me sentia uma mãe esquisita, porque eu não cabia muito bem em nenhum lugar. Eu não embarquei naquela loucura consumista do mêsversário, do ensaio gestante, de festa de um ano com bolo de três andares. Na verdade, essas coisas nem fazem parte da minha bolha. Mas, eu também não segui os modismos do meu universo, né, que eu brinco que é meio intelectual meio de esquerda.

Porque e
u não tive um parto normal. Porque eu não consegui amamentar tanto quanto eu gostaria, né, amamentei exclusivamente por dois meses, depois mais dois com complemento. Eu não segui o método BLW para introduzir a comida porque dois meses depois do parto eu já estava trabalhando. Eu não tinha tempo de ficar catando brócolis no chão. Eu amassei a batatinha no garfo, ia dando na colher e tudo bem.
 

[trilha sonora] 

Eu acredito, honestamente, que a maternidade também é feita de alívios. Porque quando a gente está aliviada, a gente es segura é muito mais fácil o amor conseguir emergir. Quando o Joca começou a sorrir, quando a minha cicatriz fechou, quando ele começou a ganhar peso… Aí sim, foram se abrindo outros capítulos. Cada pessoas tem um tempo, e esse foi o meu.

Não que a minha vida hoje seja perfeita. Continua um caos, mas é o caos da maternidade possível, que existe entre o romantismo e o terrorismo. Eu venho encontrando o meu caminho. É desgastante
, é cansativo, mas é muito divertido também. Eu me divirto muito sendo mãe. Quando a gente tem criança em casa, a gente aprende a voltar a brincar. E eu lembrei o quanto eu gosto disso.
 

A maternidade me ensinou também que eu tenho uma força que eu desconhecia. Eu lembro da primeira vez que eu fui sozinha ao shopping com o Joca. Coloquei o carrinho no carro, dirigi, estacionei, tira carrinho, pega criança, põe no carrinho, fecha o carro, procura o elevador...

E d
e repente eu olhei para aquilo e falei: “Meu Deus, eu consegui fazer isso”. E pode parecer ridículo, né? Sentir que é uma grande conquista ir até o shopping com um neném. Mas quem já fez qualquer banalidade com um neném pela primeira vez, sabe como a gente se sente poderosa. 
 

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Sendo mãe, eu passei a entender também o papel da madrasta sob uma outra perspectiva. Quando existe a figura de uma mãe presente, quando tem uma limitação de até onde eu devo ir. O Caetano sempre foi cabeludo e outro dia ele quis cortar o cabelo. E eu falei: “Cara, essa decisão não é minha.” E ele não tem mais de 18 anos para tomar essa decisão sozinha. Meu marido não atendeu o telefone, então eu liguei para mãe dele e perguntei: “Eu posso levar o Caetano no cabeleireiro? Você quer conversar com o cabeleireiro para dizer o que que é para fazer?”.  

Eu espero que não, mas se um dia meu filho tiver uma madrasta, tem decisões que eu quero que sejam minhas. Eu fui e sou madrasta de crianças com guarda compartilhada. Elas estão comigo 50% do tempo. E eu entendi que uma coisa é a gestão doméstica do dia a dia. Mas, outra coisa é a gestão do indivíduo, das decisões de saúde, de educação, do que pode e do que não pode. 

[trilha sonora] 

Existem muitas famílias possíveis e muitas formas de se sentir completo. Tem uma autora britânica que eu gosto muito, a Dolly Alderton, que escreveu um livro chamado “Tudo o que eu sei sobre o amor”. Ela nunca se casou, nem tem filhos, mas refletindo sobre o assunto ela percebeu que o amor da vida dela são as amigas, e que há muitas formas possíveis de se ter uma família. 

Ser mãe me fez entender quem quer ter 11 filhos. Mas também me fez entender perfeitamente quem não quer ter filho nenhum. Eu acho que eu nunca vou ser a mãe que vai ficar evangelizando mulheres para que elas tenham filhos, porque a minha vida hoje é muito legal. Mas, a minha vida sem filho também era muito legal. Era muito bom ser a única protagonista da minha vida. Mas, também é muito bom dividir esse protagonismo com alguém, então tudo tem dois lados 

A minha família hoje eu considero que são dois filhos que não são meus, de dois homens diferentes, que têm suas próprias mães, o meu marido e o meu filho biológico. Os meus momentos mais felizes são com eles. Às vezes sou só eu e o Joca. Às vezes eu, Joca e Agustin. Às vezes eu, Joca, Agustin e Caetano. Às vezes eu, Joca, Agustin, Caetano e Francisca. Enfim, são momentos que me enchem os olhos e são níveis de alegria que eu não conhecia. 
 

Um desses momentos muito felizes foi o batizado do Joca porque eu convidei a Francisca para ser madrinha dele. E eu sou muito grata ao meu marido, ao Agustin, por ter aceitado essa ideia e também sou muito grata à mãe da Fran, que veio para o Brasil com ela para cerimônia.

A gente fez um ritual muito
maluco de batizado lá em casa. Minha mãe levou uma imagem de São Francisco, já que os padrinhos são a Francisca e o Francisco, que é um amigo do meu marido. E a gente pegou vinho do Porto, fernet e cachaça, para simbolizar o encontro do Brasil, de Portugal e da Argentina, já que o meu marido é argentino. E o Joca foi batizado assim, com essa mistura de bebidas e culturas.
 

 

[trilha sonora] 

 
Eu lembro que uma vez eu postei uma foto em que estava o Agustin, o Joca, o Caetano, a Fran e eu. Quando eu olhei, eu falei: “Cara, essa é a minha família”. É aqui eu completa. Uma foto só minha, do Joaquim e do Agustin não é minha família. Uma foto com eles e com Caetano ainda não é a minha família. Mas uma foto com todo mundo, na qual esteja a Fran também, aí sim é a minha família completa. Não é a família obvia construída do jeito tradicional. Mas foram os presentes que as curvas da vida me deram. E que eu felizmente aceitei. 

[trilha sonora] 

Geyze
Diniz
: Nossas histórias não acabam por aqui. Confira mais dos nossos conteúdos em plenae.com e em nosso perfil no Instagram @portalplenae. 

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O contato com o verde faz bem?

Conheça onze efeitos benéficos na saúde mental e do corpo resultantes do contato com o verde

16 de Maio de 2018


Onze estudos dizem que sim. Conheça onze efeitos benéficos na saúde mental e do corpo resultantes do contato com o verde
    1. Potencializador da memória. A Universidade de Michigan aplicou dois testes de memória em alunos. Depois de realizar o primeiro exame, pediram para que o grupo se dividisse em dois. Um saiu para passear no parque e outro, na cidade. Na volta, todos foram submetidos ao segundo teste de memória. Os alunos expostos ao ambiente verde melhoraram em 20% o desempenho. O grupo da cidade não apresentou evolução. O mesmo resultado foi observado em teste semelhante aplicado em pacientes deprimidos, ou seja, os resultados melhoraram depois de passarem um tempo na natureza.
    1. Restaurador da energia mental. Você já teve a sensação do cérebro estar meio desconectado? Pesquisadores da Faculdade de Psicologia da Universidade de Pádua, na Itália, dizem que se trata de "fadiga mental". O remédio seria a exposição mais assídua à natureza por mais breve que seja. Eles fizeram testes com três grupos que foram expostos a diferentes imagens: de cidade, formas geográficas e natureza. Os retratos de belezas naturais foram os únicos que estimularam melhora. Segundo pesquisadores, a imagem provoca sentimentos de admiração, que estimulam os impulsos mentais.
    1. Alívio do estresse. O hospital de Zhejiang, na China, comparou dois grupos de jovens expostos a ambientes diferentes. Um grupo passou duas noites em uma floresta. O outro ficou na cidade. Exames comparativos mostraram que os voluntários expostos ao verde apresentaram níveis mais baixos de cortisol – hormônio usado como marcador de estresse – e diminuição da frequência cardíaca. Outros testes apontam que funcionários de escritório têm o estresse reduzido e maior satisfação no trabalho se ali houver uma janela com vista para a natureza.
    1. Diminui inflamações. A inflamação é um processo natural que o corpo usa para responder às ameaças. Pode ser uma contusão, como um dedo quebrado, ou patogênico, caso de uma gripe. Em ambos os casos, quando a inflamação fica excessiva, ela está associada a diferentes graus com ampla gama de doenças, incluindo distúrbios autoimunes, intestinais inflamatórias, depressão e câncer. A exposição a locais verdes pode ser uma maneira de ajudar a manter tudo sob controle. Indivíduos que passaram mais tempo em contato com a natureza apresentaram níveis mais baixos de inflamação do que aqueles que permaneceram na cidade. Ainda no Hospital Zhejiang, o teste foi repetido com outra população, 12 pacientes idosos. Um grupo passou uma semana em ambientes arborizados e o outro foi enviado à cidade de Hangzhou. Os voluntários que ficaram em contato com a natureza reduziram as inflamações e a hipertensão arterial.
    1. Melhora da visão. Pelo menos em crianças, um grande número de pesquisas apontam que atividade ao ar livre pode proteger os olhos, reduzindo o risco para o desenvolvimento ou a progressão da miopia. A base foi um estudo australiano com 2 mil crianças em idade escolar acompanhadas por dois anos. Os menores que ficaram mais tempo ao ar livre, tiveram menor prevalência de miopia, principalmente na faixa dos 12 anos. Outro estudo, esse em Taiwan, envolvendo três entidades, Faculdade de Medicina da Universidade de Chang Gung, Hospital Memorial de Kohsiung e Faculdade de Medicina de Kohsiung: pesquisadores analisaram duas escolas vizinhas, onde a miopia era igualmente comum. Orientaram um dos colégios a incentivarem as atividades ao ar livre durante o recesso. A outra instituição de ensino foi apenas monitorada. Depois de um ano, a taxa de miopia na escola monitorada foi de 17,65%, enquanto na outra – onde os alunos foram expostos mais ao ar livre –, 8,41%.
    1. Aumenta a concentração. Pesquisadores da Universidade da Califórnia – Terri Harting e Gary Evan – e da Soluções em Planejamento e Design – Marlis Mang – mandaram um grupo de estudantes acampar, outro circular pela cidade e uma parcela ficou apenas relaxando. Quando retornaram, o grupo da natureza mostrou melhor resultado em uma tarefa de revisão. Outros estudos encontraram respostas semelhantes - até mesmo ver uma paisagem pela janela pode ajudar. O efeito do verde é tão forte que crianças com distúrbio de atenção se concentram melhor depois de apenas 20 minutos em um parque.
    1. Potencializa a criatividade. Pesquisadores da Universidade de Kansas e de Utah dizem que quatro dias de imersão na natureza, sem qualquer conexão com aparelhos multimídias e tecnológicos, aumentam em 50% a criatividade.
    1. Previne o câncer. Estudos preliminares sobre essa conexão sugerem que passar um tempo na natureza – em florestas, em particular– estimula a produção de proteínas anticancerígenas. Esses níveis continuam elevados até sete dias depois do contato com a natureza. Estudos no Japão também descobriram que áreas com maior cobertura florestal têm taxas de mortalidade mais baixas de uma grande variedade de cânceres, mesmo depois de controlar hábitos de tabagismo e status socioeconômico.
    1. Fortalece o sistema imunológico. Estudo realizado no Japão, pelo Departamento de Higiene e Saúde Pública, da Faculdade de Medicina de Nippon, analisou um grupo de homens e mulheres que passaram duas noites e três dias em um região florestal. Foram colhidas mostras de sangue e urina no segundo dia, no terceiro e no sétimo (quando já tinham voltado da viagem). Os testes provaram o aumento de imunidade. Repetidos os mesmos exames 30 dias depois, constatou-se que o banho de verde ainda mantinha seu efeito.
    1. Um remédio para o mal-humor. Ansiedade, depressão e outros problemas de saúde mental melhoram no contato com a natureza, especialmente quando associados ao ar livre. Um estudo descobriu que as caminhadas na floresta estavam especificamente associadas com diminuição dos níveis de ansiedade e mau-humor. Pesquisas também apontam que caminhadas ao ar livre poderiam ser “úteis clinicamente como um suplemento aos tratamentos existentes” para transtornos depressivos mais intensos. “Todo ambiente verde melhora a autoestima e o humor”, segundo uma análise sobre dez estudos do chamado “exercício verde”. Em todos eles, “foram os pacientes mentais que apresentaram maior aumento da autoestima”. A presença de água intensificou ainda mais os efeitos positivos.
  1. Evita morte precoce. Pesquiadores da Faculdade de Harvard usaram dados de um grande estudo realizado sobre a saúde das enfermeiras. Das 108.630 participantes, 8.604 morreram entre os anos de 2000 e 2008. Com acesso aos endereços, mensuraram a quantidade de área verde ao redor de cada voluntária com a ajuda de informações de imagens de satélite. Os resultados mostraram que as enfermeiras com 1.250 m² de área verde morriam menos, principalmente de câncer e doenças respiratórias.
Leia o artigo completo aqui. Fonte: Lauren F. Friedman e Kevin Loria Síntese: Equipe Plenae

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