Para Inspirar
As tradicionais crenças populares invadem também o meio esportivo. Conheça as “fézinhas” mais famosas dos jogadores e também dos torcedores!
1 de Dezembro de 2022
Nada mais brasileiro do que a cultura das “fézinhas”: uma superstição no dia a dia não faz mal a ninguém, afinal, e fortalece a confiança naquilo que não se vê. Existem as mais populares, como desvirar o chinelo pela saúde da mãe, bater três vezes na madeira para evitar notícia ruim, entrar com o pé direito em um evento importante ou evitar passar por debaixo das escadas.
Existem as mais complexas, conhecidas como simpatias, muito popular entre as avós e que perderam um pouco de força na modernidade, mas que não morreram e não deixam de ser superstições. Dar água na concha para criança que demora a falar, por exemplo, é um clássico da infância.
"Superstições são tão antigas quanto as religiões. No começo, as superstições foram identificadas como ‘religiões ruins’. A palavra vem do latim superstitio e significa originalmente algo como ‘ter muito medo dos deuses’, ainda na época do Império Romano. Alguém que rezava muito, tomava muito banho, era excessivamente temeroso em relação aos deuses… Isso era superstitio. Mas, com o passar do tempo, esse conceito mudou para classificar outras religiões como ruins”, conta o psicólogo americano Stuart Vyse. Ex-professor da Universidade de Rhode Island, nos Estados Unidos, à revista Saúde.
A superstição só migrou da “religião ruim” para a “ciência ruim”, como é conhecida até hoje, durante o Iluminismo. Tudo que era uma crença pautada em algo irracional era assim classificada. Vale dizer que, apesar de ser um movimento global, como por exemplo a astrologia, cada região possui as suas próprias crenças, como o mau olhado na América do Sul, ou a crença em cores e números, mais forte na Ásia.
Mas qual é o papel da superstição no nosso cérebro? Há um conceito na psicologia chamado “ilusão do controle”, que te contamos melhor nesse artigo. “Quando você joga dados ou faz coisas que são completamente aleatórias, a superstição dá a noção estar realizando algo a mais para conseguir alcançar aquilo que é desejado”, diz Stuart. Ou seja, é uma espécie de efeito placebo cerebral, que te dá mais confiança, ainda que seja subjetivo.
Superstição dos torcedores
Mas se há um evento que reúne as maiores crendices populares, esse evento é o futebol. Seja para seu time do coração ou para a seleção, todo torcedor fanático tem um ritual para fortalecer seu time, ainda que sejam só coincidências. Em quase todas as entrevistas feitas para esse artigo, a crença de que gritar gol antes traz má sorte foi a vencedora. Em segundo lugar, entrar sempre com o pé direito em caso de ir assistir ao jogo no estádio. E, por fim, a importância que se dá à camisa usada no dia do jogo.
“Tem uma camisa do Fortaleza que eu só uso pra passear. Se eu usar em dia de jogo, o Laion perde”, conta Humberto Mota, torcedor do Fortaleza. “Não estrear blusa em jogo importante. Se está valendo vaga/título, nunca usar uma blusa nova e sem história”, complementa sua amiga de time, XX.
Essa não é uma especificidade somente dos torcedores do Fortaleza. A corintiana Carolina Marconi revelou sentir o mesmo. “A superstição básica é fazer exatamente tudo igual ao que fez no dia do primeiro jogo que o Brasil ou o time ganhou, incluindo usar a mesma roupa até o fim do campeonato/copa”, conta.
O são paulino Rafael Teixeira diz que acorda já com a camiseta da sua “seleção”. “Eu sempre visto a camisa do SPFC no dia, mesmo antes do jogo, e fico com ela o dia inteiro. Não importa qual camiseta, só precisa ser do São Paulo”. Isso se aplica aos torcedores da Seleção Brasileira, porque o torcedor Vinicius Buono complementa: “Eu assisto todos os jogos da copa no mesmo lugar com a mesma roupa (que não lavo entre um jogo e outro)”. Ele também faz “figas” com os dedos para afastar a sorte do adversário em caso de um passe de sucesso, movimento que ele diz ter aprendido com seu pai.
O palmeirense Marcelo Favilla vai além. Mais do que usar a mesma camisa em todos os jogos ao longo do campeonato para “acumular a sorte”, como ele mesmo define, ele ainda possui mais duas crenças muito fortes. A primeira delas é a mais importante: em dia de jogo do “porco”, deve-se comer porco antes do jogo, seja lá qual for a opção.
“Em dia de jogo do Palmeiras, eu tenho que comer carne de porco, independente do horário e de qual opção, nem que seja um bacon no almoço, uma linguiça de noite, pernil antes de entrar no jogo ou se eu assistir em casa um salame, é tradição aqui de todos nós”, conta.
A posição demarcada para assistir o jogo, superstição comentada em alguma das falas anteriores, marca presença para Marcelo também. “Se a gente está vendo o jogo em casa e estamos meu pai, eu e meu irmão sentados em determinado lugar, e aí sai um gol, então não podemos mais mudar de posição depois do segundo tempo, temos que ficar sentados exatamente daquela forma e a gente meio que mantém isso até o final do campeonato”, diz. Matheus Sertório, igualmente palmeirense, traz a religião para sua superstição. “Faço o sinal da cruz três vezes antes e durante o jogo, sem falta”, conta. Ele também, é claro, não abre mão de usar a mesma camisa em todos os jogos, como de praxe.
E falando em palmeirense, o seu rival histórico, os corintianos, também têm suas próprias fézinhas. Lucas Baranyi conta que, sempre quando o juiz apita, é preciso gritar “Vai Corinthians''. Já Lourdes Scarano, aos 90 anos, não abre mão de assistir ao jogo na TV, mas com o radinho ligado. “Ele é antigo e me dá sorte”, conta. “Quando o Corinthians disputou o mundial em dezembro, eu tirei a árvore de natal da sala porque era verde”, complementa Victor Basilio, revivendo a velha disputa de cores entre os times.
Ex-corintiano e atual fã de carteirinha dos jogos da copa, Victor Cianci diz ficar tão tenso antes dos jogos, que há uma verdadeira preparação - também considerada uma superstição, já que se repete todos os jogos. “15 minutos antes do jogo eu me isolo de todos e fico ouvindo alguma música bem ‘seleção’, para entrar no clima e colocar a cabeça no jogo”.
Misticismo profissional
Além dos torcedores, os próprios jogadores têm suas crenças também. Isso pode atuar diretamente na ilusão de controle, ou seja, se esse jogador entrar em campo após ter feito o seu ritual, ele se sentirá mais confiante, uma espécie de efeito placebo. Segundo artigo, o atacante Neymar sempre fala com seu pai e faz uma oração em conjunto antes de cada partida. Além disso, ele coloca o nome do filho e o número da sua camisa (dez) nas caneleiras e entra em campo sempre com o pé direito, toca o gramado com as mãos e faz o sinal da cruz. Como dissemos, a religião é um dos pilares de muitas das superstições. O capitão da seleção brasileira, Thiago Silva, também faz o sinal da cruz três vezes quando entra em time, além de se ajoelhar em frente à sua camisa e rezar.
O português mundialmente conhecido e idolatrado, Cristiano Ronaldo, pede para ser o primeiro a entrar em campo. Há boatos que dizem que ele não gosta de jogar sem antes cortar o cabelo. O zagueiro francês Laurent Blanc, que estava lá no 3x0 contra o Brasil na final da copa de 1998, beijava a careca do goleiro do time, Fabien Barthez antes de a bola começar a rolar.
E ainda falando de jogadores pelo mundo, o zagueiro inglês John Terry conta que, quando jogava no Chelsea, se sentava sempre no mesmo lugar do ônibus do clube, escutava o mesmo disco e estacionava o carro no mesmo lugar no estacionamento do estádio Stamford Bridge. Ele não é o primeiro britânico supersticioso, já que o meio-campista Jack Grealish prefere estar com as canelas desprotegidas do que usar a meia e a caneleira na altura normal. Isso porque, em um ano onde a meia encolheu depois de lavar, ele entrou assim em campo e sentiu que teve sorte, como conta em entrevista.
Há crenças que são partilhadas de forma coletiva. Como é o caso da equipe que nos trouxe o pentacampeonato em 2002. Denilson contou, em entrevista, que era preciso sempre tocar pagode no ônibus, a mesma playlist, a caminho do jogo. Inclusive, em uma das partidas, eles esqueceram de uma das músicas e voltaram rapidamente ao ônibus só para cantar o refrão. Superstição da forte!
Se você pensa que é só entre os jogadores, está enganado. Técnicos também acreditam no que parece "bizarrice" para muitos. Como é o caso do ex-técnico do time do Botafogo, Cuca, que acreditava que o ônibus que levava os jogadores para a partida não podia jamais dar ré. Luiz Felipe Scolari, o “Felipão”, usava sempre o mesmo agasalho em todos os jogos - mas resta saber se a crença se mantém depois do fatídico e inesquecível 7x1.
Um dos técnicos mais famosos por sua superstição é o Zagallo, “pai” de quatro dos nossos cinco títulos. Aficionado pelo número 13, ele chegava até mesmo a anotar em um bloco frases com 13 letras que mostrassem seu otimismo. O mais curioso é que, apesar de usar o número em tudo, há muitas pessoas que temem essa mesma combinação, tanto que, em alguns países, alguns hotéis e prédios não têm o 13º andar, nem o número 13 em assentos de teatro e plataformas de trem. Existe até a fobia do número 13, que recebe o nome de Triskaidekaphobia.
Até mesmo a família dos jogadores entra na onda das crenças. Mãe do goleiro Cássio, titular do Corinthians, conta que, no dia que o time conquistou um de seus títulos mais importantes - o da Libertadores -, a família se manteve sentada nas mesmas posições de sempre, como já era de costume, mas ela foi além e jejuou o dia inteiro, uma espécie de “promessa” em troca do título.
A verdade é que superstição e futebol são assuntos tão individuais e que mexem tanto com os sentimentos de uma pessoa, que é impossível questionar. Nos resta aceitar, respeitar e, porque não, se divertir com as histórias que contam por aí. Se todas as crenças juntas forem capazes de nos trazer o título do hexacampeonato, que vença a melhor!
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Conversamos com profissionais do "setor dois e meio" para entender o que há entre uma empresa e uma ONG - e como é possível empreender com propósito
9 de Julho de 2021
ONGs, OSCIPs, Institutos: você já deve ter ouvido falar em pelo menos uma dessas nomenclaturas. O chamado “Terceiro Setor” são “as iniciativas privadas de utilidade pública com origem na sociedade civil.” Ao contrário do que muitos pensam, não se trata de um trabalho somente composto pelo voluntário, mas sim, assalariados também.
A diferença está no objetivo: além de não lucrarem, essas instituições têm como objetivo máximo servir o público e a sociedade, sem necessidade de vínculos diretos com o Estado (Primeiro Setor) e o Mercado (Segundo Setor). Mas há uma nova área crescente que não se enquadra em nenhuma delas: o chamado “setor dois e meio”.
Um caminho entre Mercado e Organizações Não-governamentais, esse setor se constitui por negócios sociais ou negócios de impacto social. “Ambos são empresas que solucionam problemas sociais e/ou ambientais através do modelo de negócio delas. A diferença entre elas é que os negócios sociais investem necessariamente todo o lucro que eles obtém e o negócio de impacto não necessariamente”, explica João Galvão Ceridono, gestor de parcerias na Quintessa .
O trabalho de sua empresa, uma aceleradora de negócios de impacto, é fazer a ponte entre empreendimentos com potencial e seus investidores - sejam eles famílias benfeitoras ou empresas que buscam agregar valor aos seus business . Além de criarem esse elo, eles também ajudam esses negócios a se desenvolverem de forma rápida e saudável.
E qual é o perfil desses empreendimentos? “Todos eles estão resolvendo problemas que a nossa sociedade possui em diferentes áreas: saúde, educação, resíduo, energia, água, microfinanças, logística, diversos exemplos. Pegamos faturamento de 100 mil por ano até muito mais. Isso não importa tanto”, diz.
Para ele, investir em uma carreira que não envolvesse o tema social nunca foi uma escolha. “Sempre tive essa consciência de que vivi muitos privilégios e que isso precisava ser devolvido para sociedade. E que também não existe outra opção para o mundo a não ser pensar em novos formatos de se fazer negócio, isso é completamente necessário para que a gente não se afunde em um monte de crise”, pontua.
Mas João não acha que negócios sociais são o único caminho para fazer a diferença. “O propósito é uma forma de ver o mundo, eu acho que depois que você é picado pelo 'bichinho' da sustentabilidade e do impacto, de pensar em como suas ações estão refletindo nas outras pessoas e no ambiente, você passa a ver tudo por essa lente”, diz. “Por isso que eu acho que é um estilo de vida mesmo, não é só dentro do trabalho. Isso envolve o seu consumo, seus investimentos e até a sua locomoção”.
Além disso, ele acredita que é preciso cada vez mais pessoas com essa visão de futuro social e coletivo dentro de empresas privadas. A mudança, afinal, precisa ser generalizada, e é possível achar o seu propósito em uma grande instituição.
Há inclusive um aumento no chamado ESG (Environmental, social and corporate governance), que em resumo, representa a área de uma grande empresa que incorpora questões ambientais, sociais e de governança em suas práticas. Para especialistas, a pandemia ajudou a colocar em evidência a necessidade de as empresas trabalharem esses pontos, mas concluem que muitas companhias ainda precisam sair do campo das intenções, como diz matéria no jornal Estadão.
Marcelo Douek, sócio fundador da Social Docs , vê como uma das dores do Terceiro Setor a comunicação. “O que acontece na prática é que há projetos muito valiosos para a sociedade como um todo, mas apesar de terem histórias maravilhosas, são muito mal contadas”.
Pensando nisso, ele criou sua produtora de mini documentários e vídeos institucionais, que também presta consultoria de comunicação, para dar voz a essas instituições e para que elas tenham sua narrativa organizada e publicada.
“Eu, como comunicador, entendi que fazia muito mais sentido comunicar causas. Acho que os negócios de impacto estão aí para serem negócios melhores para o mundo e não os melhores negócios do mundo. É algo que me pergunto sempre: como uma empresa que produz vídeos pode ser melhor pro mundo?”, questiona.
Em sua concepção, Marcelo acredita que os negócios sociais já nascem com propósito, enquanto as empresas ficam em busca dos seus - e nem sempre acham. “Se eu tivesse que resumir em uma palavra o que significa trabalhar com propósito, seria plenitude. Poder exercer a profissão que escolhi em prol do outro faz eu me sentir encaixado no lugar, é a resposta para o que eu vim fazer aqui”, conclui.
David Hertz, fundador da Gastromotiva e participante da quinta temporada do Podcast Plenae, ouviu esse mesmo chamado da vida e decidiu se movimentar. Servir a sociedade de alguma maneira, colocando sua função à disposição, pode ser um caminho valioso - se não o mais! - para encontrar sua missão de vida. Esteja atento aos sinais!
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