Entrevista com

Layla Vallias

Fundadora da Hype50+

A juventude de olho na longevidade

20 de Fevereiro de 2020



Formada em Marketing com especialização em Marketing Digital, a fundadora da empresa de consultoria Hype60+, Layla Vallias, é uma das principais vozes no país quando o assunto é Economia Prateada. Isso porque, além de ter todos os seus empreendimentos focados nesse público maduro, ela também atua como grande fonte de informação do segmento. Conheça um pouco mais sobre ela no nosso #PlenaeEntrevista

Quando decidiu empreender? Sou formada em Marketing, e especializada em Marketing Digital pela NYU. Mas apesar das formações, minha paixão acabou se voltando toda para o desenvolvimento de produtos, porque tinha muita vontade de resolver os problemas das pessoas de forma prática. É importante também ressaltar que eu venho de uma família de empreendedores. Trabalho desde muito cedo, todos meus irmãos empreendem, meus pais, eu mesma comecei com 16 anos. Vim para São Paulo empreendendo em empresa familiar, por exemplo. Para mim sempre foi muito claro: eu teria que um dia fazer meu próprio negócio. 

E a ideia de empreender para o público mais velho, como surgiu? Meu pai estava se aposentando, e isso para mim foi uma ruptura muito grande, porque ele era um grande exemplo, uma figura muito ativa, que não se preparou para mudar de vida. Então ele não soube lidar com essa nova fase da vida, por ser já mais velho, não achou que viveria tanto, achava que morreria aos 70. Conversando com uma amiga de Singapura, vendo o que estava acontecendo lá, Japão, Holanda, Estados Unidos, acabei me dedicando e a estudar muito esse nicho de mercado. Percebi que nenhuma empresa no Brasil fazia pesquisa com pessoas com mais de 45 anos de idade, e quando falavam, era ocupando uma posição fragilizada, quase que de desprestígio. Esse foi o grande gatilho para mim.

 Como nasceu a sua primeira empresa, a Hype 60+? Trabalhei em uma das maiores organizações de apoio a empreendedorismo e empreendedores de alto impacto do país, e colhi muitos insumos por lá do que viria a ser o meu primeiro empreendimento. Além disso, conheci minha sócia nessa empresa também. Em 2016, o Hype nasce com o propósito de potencializar o mercado sênior no Brasil. A gente atua principalmente como uma ponte entre marcas e agências com o público que mais cresce no país. Mas, no começo, tivemos que fazer muito mais do que só consultoria, porque estávamos criando o mercado praticamente do zero. Para isso, tivemos que mapear startups; Fazer um glossário que enviamos para jornalistas com termos mais adequados para se referir a esse público; Fizemos um guia de experiência de usuário; Produzimos campanhas ao lado de ONGs, e projetos que traziam a jornada do envelhecer; Trouxemos tudo que é feito fora do país para termos comparativos e modelos; Ficamos muito próxima de jornalistas, porque a imprensa tem um papel educativo importantíssimo; E finalmente, produzimos uma pesquisa gigante, o Tsunami 60+, em parceria com a Pipe Social, onde trouxemos números inéditos no país sobre como essa parcela da população que não para de crescer consumia ou se portava hoje em dia. Foi amplamente usada pela mídia e é a maior até hoje. Tivemos um papel parecido com o de advocacy , mas não muito em governo, porque fomentamos esse assunto muito forte e educamos todo o mercado.

 O que você descobriu nessa trajetória quase que de evangelização? Quando eu comecei a trabalhar nisso, os estudos que existiam ou eram muito qualitativos e acadêmicos, ou eram muito pequenos, de amostra. O que não faria uma pessoa pensar realmente. Então fomos fazer pesquisa para quebrar isso mesmo. Tudo que a gente fez teve um papel educacional. A única ideia de empreendimento focado no público maduro antes era criar asilo, ninguém enxergava o potencial desses consumidores voltados para viagem, planejamento financeiro, fintechs , lingeries. Existe uma pluralidade que me encantou muito logo de cara, e me encanta até hoje. Me voluntariei em iniciativas depois do pontapé da minha experiência com meu pai, comecei a me apaixonar. Fiz muito trabalho pro bono para ONGs, e consegui que o mercado financeiro notasse e tornasse a e evolução da economia prateada quase como uma causa mesmo. Hoje fico muito feliz quando vejo a palavra maduro sendo usada, por exemplo, porque fizemos uma pesquisa que revelou ser esse o termo pelo qual eles gostariam de ser chamados assim. Esse tipo de conquista parece pequena, mas significa muito. 

Para você, o que torna essa geração tão diferenciada? Eles são os antigos baby boomers , estão revolucionando tudo hoje em dia assim como revolucionaram tudo há anos. Foram eles os grandes precursores da parada gay, pílula anticoncepcional, minissaia e tudo mais. É óbvio que eles seriam idosos diferentes também, até por começarem a encarar que vão viver por muito mais tempo do que imaginavam. Por isso foi muito necessário fazer a pesquisa, porque hoje temos comprovando com fatos e dados o que essas pessoas querem. Até hoje vou em empresas que tradicionalmente trabalham com público maduro e que ainda acham que eles não são digitais.Eles estão nas redes sociais, em aplicativos de relacionamento, vendo filmes e séries pelo celular, tirando fotos… Eles estão em tudo, é só querer olhar para o lado. 

Já aconteceu, ao longo da sua trajetória, uma falta de reconhecimento ou até preconceito por ser jovem e estar falando sobre longevidade? Não ser reconhecida é super recorrente na minha vida, porque como falei, sou empreendedora desde cedo. Meu primeiro emprego foi com comércio exterior, eu era fiscal no porto. Imagine, uma menina nova no meio de muitos homens. Já o ageísmo inverso acontece ainda hoje, foi difícil eu conseguir me desvencilhar disso emocionalmente. Entender que eu não estava ocupando lugar de fala nenhum, e que fazia sentido sim eu oferecer algo para esse mercado. não só para falar com pessoas mais velhas, mas também para conscientizar os mais jovens, trazer essa reflexão de que decisões que tomamos aos 18 anos não vão ter tanta importância assim, porque vamos viver 130 anos se duvidar. É importante falar para o público maduro, mas também para os jovens, que nossa longevidade Isso vai impactar tudo, a maneira como trabalhamos, como ocupamos a cidade e até como a gente existe. 

Conte um pouco mais sobre a sua mais nova empresa. Eu estou investindo em uma startup nova, que tem como objetivo melhorar a qualidade de vida das pessoas acima de 50 anos no Brasil, ajudando elas a se planejar e se organizar para esse novo formato de vida, que hoje prevê muito mais anos pela frente. Financeiramente, organização financeira e organização de documentos importantes. O território que estamos entendendo é esse de plano de vida mesmo. 

Como um cidadão comum pode apoiar a “causa” da longevidade e dos maduros no dia a dia? A primeira coisa começa dentro de casa: converse com pessoas maduras queridas, ali dentro você já vai ver que muitos estereótipos serão quebrados. Eu tive uma experiência com crianças em uma palestra que dei em uma escola, onde nós pedimos para as crianças conversarem com seus avós, perguntando coisas simples. Foi muito surpreendente porque muitas delas estavam quase todo dia na casa dos avós e nunca tiveram uma conversa significativa com eles. Converse com adolescentes que estão na fase da vida de escolher sua profissão, para que eles levem em consideração a enorme gama de possibilidades que se têm na economia prateada. Para quem já está trabalhando, olhe o seu banco de dados: existe um número significativo de consumidores maduros? Eu estou atendendo eles bem? A gente precisa se questionar o tempo inteiro, se uma pessoa de 5 não é igual a uma de 15, porque uma de 60 seria igual uma de 80? Isso é quebrar paradigmas. Faça amigos maduros, se relacionar com eles é muito relevante, te dá uma outra visão. Você começa a entender que a vida é cíclica, são muitas oportunidades. Você pode começar do zero várias vezes, e isso, por si só, é incrível.

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Entrevista com

Morena Leite

Chef de cozinha

A relação entre a cozinha e o afeto

Entrevistamos a chef Morena Leite para entender como um ritual tão parte de nossos dias pode dizer tanto sobre nós mesmos

17 de Novembro de 2020



Aos 40 anos, Morena Leite acha a autodefinição uma tarefa complexa. Isso porque ela é muitas em uma só: mãe, esposa, filha, amiga e ainda uma empresária de sucesso. Chefe no renomado Capim Santo, Morena também comanda a cozinha do Santinho, assina o cardápio do Hotel Janeiro, faz a curadoria do Festival Fartura e ainda é presidente do Conselho Instituto Capim Santo, que leva escolas de gastronomia gratuitas para jovens desfavorecidos socioeconomicamente.


Para ela, falar sobre comida e sobre cozinhar é mais do que falar somente sobre nutrição ou questões fisiológicas que envolvem o nutrir. É falar também de cultura, de afeto, de vontades, de autonomia. Confira o #PlenaeEntrevista a seguir e ressignifique a sua relação com seu próprio alimentar.


Como sua história com a gastronomia começou?

Sou prova de que a relação entre comida e família é muito forte. Cresci numa cozinha e na minha vida eu entendi que a comida podia ser um veneno ou remédio. Cresci com uma mãe cozinheira muito dedicada ao trabalho, e a cozinha, no começo da vida, era algo que “roubava” ela de mim, eu travava essa disputava. A forma que encontrei de chamar atenção da minha mãe foi me afastando da comida, até que desenvolvi um distúrbio alimentar e entendi que o caminho era oposto: para me aproximar da minha mãe, eu tinha que me aproximar também da comida. Então fui estudar gastronomia. Aí que me conectei e transformei uma questão da minha vida. 


Ao longo da sua carreira, o que a cozinha te ensinou de mais valioso sobre relações e pessoas?

Eu acredito que nosso paladar e nossa personalidade caminham juntos. Pessoas mais fechadas para experimentar tendem a ter essa postura também em suas relações, assim como os compulsivos costumam ser ansiosos. Através da alimentação, a gente pode curar muitas coisas do nosso comportamento e da nossa personalidade. Acho que hoje, por falta de tempo - apesar da mudança que a pandemia também propôs - a gente perdeu o hábito de comer junto. As pessoas têm horários muito diferentes, acordam muito cedo, não se encontram. E esse momento de comer à mesa sempre foi um momento de transmissão de valores. Então acho muito importante essa comunhão, o momento de sentar à mesa e comer junto. A comida a gente não se nutre apenas fisiologicamente, mas também emocionalmente, afetivamente, culturalmente.


Quais são os benefícios de uma comida feita à 4 mãos, ou seja, trazer os filhos também para essa responsabilidade?

Cozinhar juntos traz uma questão de segurança e de solidez muito forte. Tenho observado famílias que têm tanto a questão da cultura e do status social, mas também uma questão de saúde: comer é para alguns uma questão de prazer, e para outros de saúde. Eu vejo o quanto os pais se envolvem na alimentação dos filhos nas escolas que trabalho e assino cardápios. Mas isso também tem que ser espontâneo, como tudo na vida. Não se pode forçar alguém a cozinhar se ela não tem afinidade. Até porque, tão importante quanto cozinhar junto, é comer junto, como eu mencionei anteriormente. Tem gente que não tem o hábito de ir lá e cortar e cozinhar, mas adora ir num restaurante, numa feira. Tem gente que não tem essa conexão. A relação com a comida é a primeira que a gente tem desde o primeiro dia de vida até o último. Então ter uma relação saudável, equilibrada e prazerosa e bem importante.


O que muda quando cozinhamos nossa própria comida?

Eu tenho visto uma geração mais nova de 13, 14 anos virando veganos. Isso já demonstra esse olhar mais atento à sua própria nutrição, ouço relatos até mesmo de pessoas que não saem mais para comer, só comem suas próprias comidas. É muito esse cuidado de saber se nutrir, saber se cuidar, ser autossuficiente e não ter um monte de gente te cuidando que a geração mais jovem já apresenta. Quando sabemos produzir aquilo que vai nos fazer bem, é muito benéfico. Porém, eu acredito sempre no equilíbrio, saber não ser tão rígido. Eu acho que é bom cozinhar a própria comida, mas também receber o carinho na comida de alguém, da sua mãe, vó. A comida também tem energia, ela vem com a energia de quem cozinhou e isso também é cuidar de si mesmo. Tudo tem que ter flexibilidade.


E qual é essa relação entre a cozinha e o autocuidado?

Antes de amar o próximo, temos que amar a nós mesmos. É como o avião, você tem que colocar a máscara em você para depois colocar no outro. E se alimentar direito é se cuidar e ter amor próprio. Acredito muito na frase: a gente é o que a gente come. Como disse, nossa personalidade reflete diretamente no nosso paladar. Ele é desenvolvido num primeiro momento no útero materno, com o que a mãe se alimenta na gravidez, depois na amamentação que ainda é a continuação desse laço afetivo com a criança. Num terceiro momento, tem muita relação ao lugar onde ele foi criado, ao seu país, sua cultura e até sua religião. E aí o quarto momento que é de escolhas, que é resquício de tudo isso que o indivíduo conheceu e viveu. A comida de repente não é só prazer, é uma fonte de energia, e aí você começa a se perguntar: isso vai me fazer bem, vai fazer bem para o planeta? Da onde vem essa comida? Você começa a ter toda essa responsabilidade nesse cadeia porque na realidade está também preocupado consigo mesmo.


Como uma pessoa que tem o dia a dia muito corrido pode se aproximar da cozinha de maneira mais afetiva?
Você pode cozinhar em um dia da semana, num domingo à noite, por exemplo. Eu deixo tudo em potinho preparado para minha filha e, no dia a dia, chego em dois minutos e só finalizo, faço os acompanhamentos. Eu penso num cardápio da semana, deixo ele pré-produzido. É uma forma de já até prever a minha semana. Você compra um peixe e já porciona ele, você já cozinha a batata doce e deixa congelada. Tudo em potinhos. E o momento da refeição, não importa se vai demorar 10 minutos ou 1 hora, contato que você esteja presente nele, encaixado no contexto da sua vida. Pode ser até uma refeição mais rápida, mas praticar o ritual de se alimentar e de se nutrir plenamente, sem celular ou afins, é muito importante.

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