Entrevista com

Rosângela Carvalho Marcondes e Miréia Borges

Influenciadoras digitais

Como entrar na maturidade com o pé direito?

Entrevistamos duas figuras conhecidas na internet que estão entrando na terceira idade com o pé direito e têm muito a nos ensinar!

24 de Agosto de 2021



Para celebrar a longevidade, dedicamos todo o mês de outubro de 2020 ao tema, com vídeos e uma série de reportagens com longevos de toda a parte do Brasil, e você confere ambos aqui. Dentre as entrevistadas, duas acabaram não entrando, mas chamaram atenção: mais novas do que os outros participantes, porém já com bastante bagagem de vida. 


Há ainda mais dois fatores que as uniam: as duas possuem uma presença online marcante e uma mente muito, mas muito jovem. No nosso Plenae Entrevista de hoje, conheça o que pensam sobre a vida a paulista Rosângela Carvalho Marcondes, 64 anos, dona do perfil @it_avo com mais de 8k de seguidores, e a gaúcha Miréia Borges, 63 anos, à frente do perfil @mireiabrg com 14,8k seguidores.


Para você, o que é longevidade e o que há de tão bom nela?

Miréia: Longevidade é conseguir chegar o mais longe que a gente puder de forma sã e com bastante saúde, autonomia e cabeça. A gente tem muita experiência, já sabe algumas coisas, o que fazer e o que não, já adquiriu paciência, e tem uma percepção da vida muito diferente, de antes, quando era mais jovem. 

Rosângela:  São escolhas que fui fazendo e ainda faço pra que eu possa desfrutar esse tempo que me foi concedido. Tenho uma vida disciplinada, por conta disso eu estou realizando uma longevidade com qualidade e alegria - eu gosto de ser esse “novo velho”. E como somos um capital humano inestimável, é muito motivador essa experiência de envelhecer num país jovem. 


Quais foram seus principais aprendizados até aqui?

Miréia: Hoje eu vejo que eu consigo fazer mais coisas estando nem aí pro que os outros pensam, e quando eu era mais jovem eu ficava preocupada com o que iam achar. Também tenho mais liberdade, mais tempo para ler, para curtir bastante música, curtir os amigos, sair para comer e beber alguma coisa. A aprendizagem não termina, estamos sempre aprendendo.
Rosângela: Considero fundamental se manter aprendendo, mas principalmente quando mais velho, porque com isso nós socializamos, criamos relações mais duráveis, nos fortalecemos e nos inspiramos. O aprendizado tem sido infinito, sou uma estudante eterna 


O que você diria para o seu eu de 30 anos atrás?

Miréia: Não fique tão estressada, ouça mais as pessoas - sobretudo os mais velhos - leia mais, passeie mais, e viva mais tranquila. Para quando chegar nos 50, 60 e poucos, ver que a vida tem muito ainda a oferecer. Se importe mais com um filme, uma peça, um livro - você leu aquilo correndo, sem ler as entrelinhas. 

Rosângela: Eu daria parabéns, porque eu já estava naquele momento de tudo certinho, emprego fixo que todo mundo idealiza, e eu tive a coragem de dar um basta, sair da minha zona de conforto e me aventurar.


O que você acha dos jovens atuais e que dica daria a eles?

Miréia: Eu gosto muito de uma música dos Titãs chamada Epitáfio, que resume bem o que é mesmo a vida. É preciso estar atento e ser leve. E também mais resiliente. Sou de uma geração que teve que batalhar muito, principalmente como mulher, para ser ouvida e vista - e acho que a minha geração acabou criando os filhos sem saber lutar, brigar pelo seu espaço.

Rosângela: Eu sempre lembro de falar pras minhas filhas “não vai faltar lugar pros bons e seja honesta com seus sonhos”. Pergunte com muito carinho pra você o que de verdade você ama. Ao longo da vida você vai ajustando, mas o principal é saber do fundo do coração o que te faz feliz e o que te faz confortável. Não precisa de desespero, mas é preciso mais foco, acredito que isso falte um pouco hoje em dia.


Qual é o peso das relações sociais e familiares para a sua vida? Acredita que elas influenciam positivamente?

Miréia: Eu tenho uma família muito unida, filhos que entram e saem o tempo todo aqui de casa, netos também, e acho isso muito importante, pois eles me dão suporte. Mas quando eu me tornei mais pública, uma influenciadora requisitada para algumas coisas, eu vi que eles não aceitavam muito o fato de eu estar ocupada ou de eu aparecer em alguns lugares. Minha relação com meus amigos também é fundamental. Tenho um grupo de amigas do colégio que se encontra até hoje para jantar, pra rir, chorar e pedir opinião. Faz toda a diferença.
Rosângela: Muito! Relações familiares saudáveis e conexões verdadeiras. Ter amigos de verdade e também um networking bem inteligente, com critério. Os relacionamentos são fundamentais, eles fazem a gente crescer pessoalmente e profissionalmente, o ser humano é um ser social, não dá conta de ser sozinho, se não morre. Com eles eu me inspiro, faço parceria, troco e aprendo. Então é muito importante estar sempre aberto para conhecer. 


Sobre o futuro da sociedade, você o encara com otimismo? O que você acha que poderia mudar para melhorá-lo?

Miréia: Eu não vejo muita mudança, não vejo com otimismo ainda, principalmente no Brasil. A nossa educação, que seria fundamental, assim como a família e a educação dentro do lar, isso falta aqui. Sinto que a geração depois de mim tem negligenciado um pouco o afeto com o filho, o sentar ali pra escutar, saber o que está acontecendo na escola, estar presente e ensinar a empatia.
Rosângela: Eu encaro com otimismo. Eu sempre acreditei que somos únicos, especiais e que podemos mudar o mundo. Nós, que estamos envelhecendo, temos a missão de inspirar os mais jovens. Precisamos ser divulgadores das coisas boas, não negando o que há de feio no mundo, mas mostrando também o que há de bonito, que há um caminho verdadeiro. Eu acredito em uma humanidade que está caminhando para algo juntos, de respeito e camaradagem.


Você acredita que a sua região influenciou positivamente para o seu bom envelhecimento?

Miréia: Eu não acho que ela foi tão positiva. O Rio Grande do Sul é um estado muito com mentalidade muito fechada. Fui uma desbravadora quando tinha 50 anos, quando comecei a falar da mulher que não era invisível, e fui muito criticada. E aqui é muito frio, e também muito calor, então aqui nós somos sobreviventes.
Rosângela: Morar em São Paulo é um privilégio porque temos muitas universidades e várias delas oferecem as oficinas 60+. É uma oportunidade também de viver o intergeracional, os centros culturais que promovem eventos e palestras. Tudo isso é muito favorável para o envelhecimento - não vou dizer pra todos, mas aos que estiverem interessados. Igrejas, centros culturais, universidades, tudo isso aqui colabora para que os velhos tenham um envelhecimento mais interessante.


Qual é o seu ingrediente “mágico” para viver mais? Seu remédio que não vende em farmácia. 

Miréia: Uma boa música e dar muita risada. Quando eu estou muito estressada, boto uma música muito alta e danço com os olhos fechados, canto e depois peço desculpa pros vizinhos. Às vezes até recebo um comentário de um ou outro dizendo que gostaram da escolha da música. Rosângela: Sorriso. Porque eu acho que é tão gratuito, mas é tão forte, porque ele conecta. Eu sempre acho que um sorriso não custa nada e faz uma baita diferença, eu costumo achar que é uma pílula, faz parte do meu pacote de otimismo e de felicidade.


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#PlenaeApresenta: Carlinhos de Jesus e a autoaceitação como caminho

O Plenae Apresenta a história do dançarino Carlinhos de Jesus, participante da nona temporada do Podcast Plenae!

15 de Agosto de 2022



Você se orgulha das suas marcas? O dançarino Carlinhos de Jesus sim. Mas essa aceitação veio com a maturidade, depois de anos tentando vencer o invencível: o vitiligo. No primeiro episódio da nona temporada do Podcast Plenae, tivemos uma aula sobre corpo, ou melhor, sobre a aceitação do mesmo.

Portador de uma síndrome rara chamada vogt-koyanagi-harada, o artista viu primeiro sua visão perder força, logo ele, que precisava tanto enxergar o palco para assim acertar seus passos de dança diante de uma plateia. “Eu dava muitas topadas na rua, porque não enxergava os obstáculos na minha frente. A minha visão de perto também foi afetada. O grau ia aumentando rapidamente e eu comprava aqueles óculos de camelô pra ler. Quando eu precisei pegar uma lupa para ler um texto, eu percebi que estava com um problema”, relembra.

Muitas e muitas idas ao oftalmologista, sem nenhum diagnóstico cravado ou problema resolvido. Nessa altura, Carlinhos já desenvolvia técnicas como medir o palco antes de entrar para saber quantos passos poderia dar para cada lado sem cair ou topar em algo.

Foi quando, em uma viagem para Cuba em uma consulta arranjada, ele descobriu o nome do que tinha e recebeu duas notícias, uma boa e uma ruim. A boa é que essa síndrome iria passar com o tempo, sobretudo depois dos 50 anos - e de fato, melhorou muito hoje aos 69.

A ruim é que ela poderia causar vitiligo, uma doença autoimune dermatológica que tem como sintoma a perda de melanina em algumas partes do corpo, causando manchinhas brancas que podem se estender ao longo da vida. Manchinhas essas que Carlinhos já tinha notado em diferentes partes do corpo, mas não tinha dado muita atenção.

“Realmente tinham aparecido umas manchas brancas nas minhas mãos, no pescoço, no rosto, na virilha. Eu moro em Copacabana. Atravesso a rua e chego no mar. Então, a minha primeira suspeita era uma coisa chamada pano branco, uma micose comum de praia. Eu procurei alguns dermatologistas, passei umas pomadas, mas não adiantou. Alguns médicos tinham apontado que podia ser vitiligo, mas ninguém bateu o martelo, até o doutor Hilton Rocha descobrir o que eu tinha”, conta. 

O mais curioso é que o vitiligo pode se agravar conforme as emoções daquele indivíduo, ou seja, se ficar nervoso ou triste, elas podem piorar. “Como eu levo uma vida muito agitada, com vários momentos de estresse, a pele marca essas passagens. Cada nuvem estampada no meu corpo traz a lembrança de um trabalho que eu fiz. Uma é da coreografia que eu criei pra Comissão de Frente da Mangueira em 98. Outra da Comissão de Frente de 99. Tem uma da primeira vez em que eu subi no palco com a Marília Pêra. E por aí vai”, pontua. 

Foi depois de confidenciar a dois amigos próximos a sua condição que ele percebeu que não há nada de errado com ela. Era preciso aceitar algo que não teria cura e mais, algo que fazia parte da sua história e de quem ele era. “Eu escondia tanto a doença, que eu escrevi um livro sobre a minha vida e nem citei o vitiligo. Não era tanto por mim, mas porque eu me preocupava com a opinião alheia. Eu tinha medo das pessoas acharem que era algo contagioso. Ou que me vissem como um relaxado que não se cuidava e pegou micose”, desabafa. 

Hoje, Carlinhos responde cada vez menos às críticas e exibe suas “nuvens”, como ele apelidou suas manchinhas por aí, sem medo de ser feliz e servindo de inspiração para tantas outras pessoas portadoras de “nuvens” também. “Eu fui entendendo que o preconceito tá nos olhos de quem vê. É do outro, não é meu. Ah, você está olhando pra minha mancha? Eu tô olhando o seu desrespeito. E da mesma maneira que eu rejeito o olhar de julgamento, eu também não quero um olhar de piedade. Eu não sou um coitado. Eu tô trabalhando, tô vivendo, tô respirando, tô amando. Eu só quero ser visto como eu sou, com naturalidade”, diz.

Para ele, ter manchas é tão parte de seu corpo quanto ter braços, bigode e olhos. E é com essa naturalidade e alegria que ele encara o que, para muitos, pode afetar seriamente a autoestima. Um show de inspiração Ouça agora este lindo relato na sua plataforma de streaming favorita ou apertando o play por aqui mesmo. 

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