O muralista internacionalmente conhecido começou pichando muros de seu bairro até ganhar os principais pontos turísticos do planeta.
13 de Setembro de 2021
Da marginalidade para os holofotes de prestígio, o nosso representante do pilar Contexto da sexta temporada do Podcast Plenae, é ele: Eduardo Kobra. O muralista que já já viajou os 4 cantos do mundo e deixou sua marca registrada em todos eles, conta sobre seu passado como pichador e seus primeiros passos no mundo da arte.
Vindo de uma infância periférica, o Cobra - até então, com C - recebeu esse apelido como uma homenagem de seus amigos, uma gíria que denominava algo “muito bom”, no caso, os seus desenhos. “O desenho surgiu na minha infância de maneira espontânea e intuitiva. Não foi por influência de ninguém. Eu desenhava muita história em quadrinhos, super-heróis, caricaturas. Via um desenho num gibi e tentava reproduzir”, conta o artista.
“Como qualquer criança da periferia, o meu acesso à educação, à cultura e ao entretenimento era limitado. Quando eu visitei um museu pela primeira vez, já tinha uns 30 anos”, continua. Por causa desse acesso tão limitado à cultura que uma criança periférica enfrenta, Eduardo iniciou suas primeiras atividades no meio através da pichação, atividade ilegal, mas bastante comum entre jovens de classe baixa.
Mas depois de fugir da polícia algumas vezes, e até ser capturada em outras, ver seus parceiros de rua sendo presos ou sofrendo acidentes, Kobra - agora já com K, para cravar sua marca - conheceu sem querer o hip hop, as letras de protesto e, junto, o grafite.
“O hip hop me apresentou o grafite, uma arte de rua que é um dos pilares do movimento, junto com o rap, o DJ e o break. Eu me descobri. Durante alguns anos, eu fiz uma transição da pichação ao grafite. Eu não considero que tenha sido uma evolução. Eu só fui pro grafite porque eu já desenhava, e eu adorei descobrir que eu podia desenhar num muro”, explica.
A arte da grafitagem também se aproximou dele por meio do livro de uma fotógrafa que registra murais mundo afora. Foi quando ele começou a ir atrás do seu sonho, que era viver de sua arte, mas enfrentando, é claro, muitas dificuldades. “Saí da casa dos meus pais, porque eles não aceitavam as minhas escolhas, e entrei num quadro depressivo profundo. A intoxicação da tinta ajudou a afundar a minha saúde, porque naquela época eu não usava máscara.”
De passo em passo, o artista conseguiu pequenos trabalhos até chegar ao parque Playcenter, que foi o seu grande salto. O resto é história! Hoje ele pinta do Taiti a Nova York e já foi até mesmo modelo para aquela fotógrafa, que um dia lhe abriu as portas da mente sem nem imaginar.
Seu maior objetivo atual é poder dar asas às crianças que assim como ele, foram privadas da cultura mas sonham em ser artistas. Confira esse relato potente no seu streaming de música favorito. Aperte o play e inspire-se!
O Plenae Apresenta a história de Daniel Munduruku, que encontrou na força das palavras uma forma de manter sua cultura viva
19 de Agosto de 2024
Contar
histórias é uma das práticas mais antigas da nossa espécie e que já nos
garantiu até mesmo a sobrevivência. No caso dos povos originários ou de
minorias oprimidas, compartilhar narrativas é uma forma de manter a sua cultura
viva e atravessando gerações, diante de todas as tentativas diárias de apagamento
cultural que sofrem.
Daniel
Munduruku, representante do pilar Contexto na décima sexta temporada do Podcast
Plenae, é parte fundamental dessa dinâmica. Ele elevou a outras potências a velha
roda de histórias ao redor de uma fogueira e publicou livros, ministrou
palestras e segue rodando o mundo garantindo que seus ideais e pensamentos
estejam vivos e caminhantes por aí.
Mas, como você que nos lê pode imaginar, nem sempre foi fácil
– e ainda não é. “Eu sofri muito preconceito na escola por causa da minha
origem. Mas eu acho que, de certa maneira, ser escritor me libertou um pouco
dessas memórias ruins. Eu consigo escrever sobre a minha infância e
adolescência sem nenhum ranço daquele período”, relembra.
Originário de um povo cujo significado é “formiga vermelha”,
a mais temida das formigas, ele relata em seu episódio que os Mundurukus eram
os mais temidos na região Amazônica, e hoje estão espalhados em três estados:
Amazonas, Mato Grosso e Pará.
Dentre os ensinamentos que aprendeu em sua aldeia, ainda na
infância, o silêncio é o mais valioso. “Não tinha energia elétrica, e aprender
a ficar em silêncio era parte da nossa educação. O silêncio era necessário pra
gente não despertar a fúria dos outros seres da natureza, sejam eles animais,
sejam eles espirituais”, conta.
Além do silêncio, ter os sentidos apurados também foi uma
lição ensinada e não pela figura de um professor, já que em sua cultura não há
um único detentor do saber, mas sim os saberes coletivos. Sobreviver, para as
crianças, era quase uma atividade lúdica e sem o peso que lhe cabe,
entendimento que só chegou muito tempo depois.
A obrigação imposta pelo Regime Militar no Brasil de que os
indígenas em idade escolar se integrassem aos trechos urbanos e estudassem ao
lado de crianças brancas foi um divisor de águas na vida de Daniel, que
relembra da época como um período de angústia e confusão.
“Aos 15 anos, eu já tinha completado o Ensino Fundamental II
e recebido um diploma de gráfico off-set. Pros militares, era hora de começar a
trabalhar. Pros indígenas, eu já era considerado adulto. Se eu voltasse pra
aldeia, seria a hora de me casar e ter filhos. Mas eu não queria nem uma coisa
nem outra. Eu tinha o desejo de ajudar e fazer com que a sociedade brasileira
entendesse melhor a realidade dos povos indígenas. E pra isso eu precisava
estudar mais”, diz.
Para conseguir subverter ambas as lógicas, Daniel fingiu ser
interessado em seguir a vida religiosa. “Os padres disseram que eu era muito
jovem pra tomar essa decisão, mas me permitiram continuar estudando. Aos 18
anos, eu entrei no Seminário Diocesano de Belém. Terminei o Ensino Médio,
estudei filosofia e saí da ordem, porque o que eu queria mesmo era ser
professor”.
Foi quando ele se mudou para São Paulo, no início dos anos 90,
começou a dar aulas no Ensino Médio e se deparou com a possibilidade de fazer
um mestrado em antropologia na USP - o começo do resgate de suas minhas origens,
vale dizer, já que seu objeto de pesquisa era, justamente, o povo Munduruku.
“Eu cheguei na aldeia com uma consciência crítica muito elaborada sobre a
realidade dos indígenas. Os Mundurukus estavam sendo muito assediados por
garimpeiros e eu me vi num conflito: estudar ou me envolver mais diretamente na
luta pela sobrevivência do meu povo. Eu acabei perdendo o prazo para defender a
dissertação e fui jubilado. Eu não tinha cabeça para fazer pesquisa naquele
momento”, desabafa.
Apesar de terem chegado a uma solução pacífica nesse conflito
em questão, a chama tinha sido acesa de vez dentro do militante e professor.
Foi no poder da contação de histórias e inspirado por um aluno de 9 anos de
idade que Daniel concluiu que escrever livros e passar adiante suas ideias
seriam sua principal e mais potente arma.
Para saber mais sobre a encantadora história de força e
resistência dos Mundurukus e de Daniel especificamente, você terá que ouvir
todo o episódio, disponível aqui e no também no Spotify. E acredite: é uma
viagem sem volta. Aperte o play e inspire-se!
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