#PlenaeApresenta: Izabella Camargo e os limites do corpo

Vítima de uma Síndrome de Burnout, a jornalista divide como foi ver de perto seu corpo sucumbindo ao cansaço da mente, e até onde a carreira pode ser um vício

28 de Dezembro de 2020



O episódio de Corpo da terceira temporada do Podcast Plenae - Histórias Para Refletir, é narrado por ela, que viu como a mente e o corpo podem ser um só de perto: a jornalista Izabella Camargo.

Depois de quase 3 décadas de carreira na comunicação, Izabella viu seu físico sendo acometido cada vez mais por diferentes doenças, até que descobriu o nome do que tinha: a Síndrome de Burnout.

“Eu aprendi que burnout é um nome novo para um problema antigo. Existe registro de 1869, com o nome de neurastenia. Naquela época, não existia nem luz elétrica, mas já havia pessoas estressadas e angustiadas pelo excesso de trabalho na modernidade”, conta ela.

Apesar de não ser nova, a Síndrome de Burnout vem sendo cada vez mais constante em um mercado de trabalho imediatista e hostil que não pode parar. Mas, apesar de acometer milhares de brasileiros, ela ainda é rodeada de preconceitos.

“A síndrome é cercada de julgamento e preconceito, porque por muitos séculos medidas higienistas tacharam como loucas pessoas com qualquer desequilíbrio mental, de lapso de memória a esquizofrenia”.

Depois de alguns anos trabalhando em jornais da madrugada, Izabella chegou ao seu limite e passou a ter apagões. Seu pior mal não foi só o excesso de trabalho, mas a privação de sono que a vaga lhe impunha.

“Eu colocava o trabalho na agenda antes de mim mesma. Só que pra acumular mais e mais tarefas, eu tinha que abrir mão de alguma coisa. E essa coisa era eu e as minhas horas de sono. Eu passei a dormir muito pouco. E a privação de sono fez a mente e, por consequência o meu corpo, saírem do eixo.

Antes de chegar ao diagnóstico final, ela visitou diferentes médicos. “Os alimentos levaram a culpa, e eu cortei lactose e café, como se a comida fosse a minha inimiga. As pessoas acham que, se alguém tem uma doença, é porque não buscou ajuda. Só que nem sempre procurar ajuda resolve a origem do problema”

“Quando eu dizia pros outros o que estava acontecendo, parecia reclamação. Mas na verdade eu estava pedindo socorro. Quem rege o corpo é a mente. O meu cérebro já tinha dado todos os sinais de que algo não ia bem”.

Após um afastamento de dois meses, Izabella retornou ao seu emprego com a ânsia traiçoeira que mora em todos os que sofrem de Síndrome de Burnout, e foi demitida. Essa ânsia opera como um vício, mas o objeto viciante nesse caso é a própria carreira. Mesmo após ver tão de perto, ela ainda tomou outros tombos pelo mesmo motivo, e hoje entende que seu gatilho é o excesso de trabalho.

Hoje, Izabella vive escrevendo para ajudar os outros a não chegarem ao limite como ela chegou. “O burnout é um desequilíbrio invisível, diferente de um pé quebrado. Além de cuidar da minha saúde, eu tinha que lidar com o julgamento alheio”.

Para ela, o suporte emocional e a compreensão de quem está perto é de extrema importância. “Na minha opinião, a melhor maneira de oferecer ajuda é dizendo: ‘Quando você estiver confortável, eu estou aqui para te ouvir’, ou: ‘Como eu posso te ajudar’”.

Conheça mais sobre esse forte e inspirador relato na terceira temporada do Podcast Plenae - Histórias Para Refletir.

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#PlenaeApresenta Morena Leite e a comida como ponte para outros mundos

O terceiro episódio da décima sétima temporada é sobre alimentação para além de um cardápio e tudo que sua existência pode representar.

21 de Outubro de 2024



A comida vai muito além de algo feito para garantir a nossa sobrevivência - apesar de ser, de fato, fundamental. Nossa espécie, aliás, é a única que faz o preparo de seus alimentos, pensa a respeito do que vai comer e se reúne ao redor de uma mesa para degustar essa refeição. É um marco cultural importante para nós que comemos e, para quem prepara, é um trabalho ainda mais conectado com outras profundezas. 

A chef Morena Leite é prova disso. Representado o pilar Espírito, em seu episódio viajamos por toda a infância que antecedeu o sucesso que ela hoje usufrui à frente do Capim Santo, conceituado restaurante em São Paulo capital. A verdade é que a cozinha sempre esteve presente em sua história, mas de um jeito não tão óbvio.

“A comida tem um papel importante na minha família. Desde que meu pai teve um câncer, aos 27 anos, a minha mãe se aprofundou nos estudos sobre alimentação, e aí eles começaram a seguir uma dieta macrobiótica e antroposófica”, conta. Seus pais, como ela conta, são do interior de São Paulo, mas se mudaram para Trancoso, na Bahia, quando Morena nasceu, no começo dos anos 80. 

“Eles faziam parte de um grupo de jovens chamados biribandos. Eram pessoas de diferentes cantos do Brasil e do mundo que optaram por morar numa aldeia de pescadores. Essa mistura fez de Trancoso um vilarejo único. A ideia era criar uma comunidade numa roça, com todo mundo morando junto, inspirado no modelo de um kibutz de Israel”, diz. 

Mas essa proposta não foi pra frente. Era preciso uma disciplina que, naquele momento, seus pais ainda não possuíam por serem muito jovens e não quiseram seguir as regras impostas. Mas ali não era o fim do caminho: foi ao sair dessa aldeia que eles compraram um terreno e começaram a plantar de tudo que consumiam: taioba, milho, coco, abóbora, biribiri, jaca, cacau, entre outras. Ali nascia o que viria a ser o Capim Santo, ainda muito pequeno perto do que é hoje. 

“A minha mãe foi tomando gosto por fazer granola e pão integral, e aos poucos o hobby dela virou uma profissão. Ela começou a servir comida em casa, com os legumes cultivados no quintal, os peixes entregues pelos pescadores e os grãos integrais da dieta macrobiótica, que vinham de São Paulo. Todo dia minha mãe fazia um prato, e recebia umas 10 ou 12 pessoas para comer. Em 1985, meus pais acabaram abrindo um pequeno restaurante, o Capim Santo”, relembra.

Nessa época, o estabelecimento também servia de hospedagem, uma espécie de pousada. Isso colocava Morena diretamente em contato com pessoas de todos os lugares do mundo, acendendo uma chama interna de querer se conectar com o máximo de culturas possíveis. 

E já aos 15 anos, ela embarcou para a Inglaterra e conseguiu exatamente o que queria: dividiu o quarto com uma cambojana budista, uma russa judia e uma turca muçulmana. “Através da maneira que elas comiam eu podia entender um pouquinho mais sobre a cultura de cada uma. Então, eu percebi que o meu interesse por povos, países e religiões passava pela gastronomia”, conta.

A partir daí, o seu futuro parecia mais claro. Ela voltou para o Brasil com o entendimento de que a cozinha era o seu lugar e que estar nesse ambiente era um antídoto inclusive para sua distração constante, problema que marcou toda a sua infância. É o mindfulness que o ato de cozinhar exige e ajuda tantas pessoas. 

“Acho que pra muitas pessoas a comida é só um meio de sobrevivência e de satisfação do paladar, mas pra mim é muito mais do que isso. O alimento tem uma relação com a cura. Além de ter aprendido com minha mãe o prazer de cozinhar e alimentar todo mundo. Eu me encontrei na gastronomia também por ser uma atividade mão na massa, literalmente”, pontua.

A espiritualidade da gastronomia veio naturalmente depois. Morena se conectou com a comida dos orixás, ensinada pelo umbandismo, e entendeu que está tudo conectado de certa forma. A natureza, ter sido criada tão perto do mar e cercada pelo verde, a comida já tão presente no dia a dia com a sua família, tudo isso está interligado de forma mágica e poética e conduziu os seus caminhos para onde ela está hoje. 

E para conhecer mais desses caminhos, ouça o episódio completo disponível aqui no site ou no seu Spotify. Vale a pena conhecer cada curva dessa estrada traçada por Morena Leite. Aperte o play e inspire-se!

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