O Plenae Apresenta a história de Rene Silva, que fez da comunicação o seu ofício, o seu propósito e uma plataforma para tantos outros.
26 de Agosto de 2024
Você deve ter crescido acostumado a ver noticiários na TV,
jornais, revistas e, na última década, redes sociais – tudo isso sem grandes
problemas ou dificuldades para acessá-los ou se ver ali representado, certo?
Mas essa não é a realidade de todas as pessoas do mundo, sequer do Brasil.
No quarto episódio do Podcast Plenae, conhecemos a história
de Rene Silva, representante do pilar Propósito, mas também representante de
toda uma comunidade. Isso porque, graças à sua iniciativa “Voz das comunidades”,
moradores de diferentes complexos cariocas hoje podem contar com uma plataforma
que amplie suas reclamações, seu cotidiano e, por que não, suas conquistas.
Mas, para entender essa história, é preciso conhecer um pouco
mais do passado de Rene que, assim como muitas crianças carentes, viram na
escola um refúgio. “A minha família morava bem no alto do morro, e dava para
ver os rastros dos tiros atravessando de um lado pro outro. A gente tinha que
chegar em casa cedo e fechar tudo para diminuir o risco de morrer. Mesmo assim,
de vez em quando, alguma bala perdida entrava em casa. (...) O melhor refúgio
pros meus sonhos era a escola pública que eu frequentava. A diretora e os
professores conseguiram criar um ambiente acolhedor pros alunos, apesar do
entorno violento”, relembra.
Nessa mesma escola, os alunos do Ensino Médio eram
encarregados de cuidar da rádio e do jornal, ambos comunitários. Rene, de tanto
insistir e por demonstrar um interesse tão espontâneo, se tornou o colaborador
mais jovem, aos 11 anos de idade. Foi ali que a primeira sementinha da
comunicação começava a ser plantada.
“Aquela atividade me fez começar a enxergar várias coisas que
eu não notava antes. Eu passei a perceber os problemas sociais no caminho de
casa pra escola e da escola pra casa. Tinha esgoto a céu aberto, rua sem
asfalto, poste sem iluminação, campo de futebol que precisava de reforma,
pracinha em mau estado… não faltava assunto. Era o tipo de coisa que, se
acontecesse no Leblon, ia aparecer na TV e nos jornais. Mas, numa favela, a
grande mídia não dava a menor bola, e o poder público, menos ainda”, pontua.
Depois de apenas três meses contribuindo pro jornal da
escola, veio o jornal comunitário. A primeira versão do que seria todo o seu
futuro foi uma folha de papel A4 dobrada. Cada edição tinha quatro páginas e
foi feita graças a ajuda da diretora, que conseguiu um computador usado, uma
impressora e uma máquina fotográfica.
“Eu escrevia os textos, tirava as fotos, diagramava as
páginas, imprimia o jornal e distribuía os exemplares pelo bairro”, diz. E
assim nasceu o Voz da Comunidade, ainda tímido e no singular, mas com um longo
caminho pela frente e que já apresentava retorno, acelerando melhorias que
antes levavam 3 meses e passaram a levar 3 semanas.
A virada de chave partiu, infelizmente, de um acontecimento intenso:
em 28 de novembro de 2010, 3.500 homens da Polícia Civil, da Polícia Militar,
da Marinha e da Polícia Federal ocuparam o Complexo do Alemão em cenas que
marcaram o noticiário nacional e rodaram o mundo todo. Mas, novamente, ninguém
olhava para o entorno daquele acontecimento, ou seja, a população que assistia
de perto o acontecimento e temia pela sua própria vida.
“As pessoas no Brasil inteiro queriam saber como estava a
vida dentro da comunidade, e eu comecei a postar as notícias no Twitter, na
conta do Voz. Eu escrevia coisas do tipo: ‘Nesse momento, as escolas e
as creches da comunidade pararam de funcionar; o ônibus parou de circular; o
comércio fechou’. A cobertura da mídia estava muito focada nas apreensões de
drogas, nas mortes, essas informações que as autoridades passam. Mas eu estava
reportando o impacto daquela operação no cotidiano de milhares de pessoas que
moravam ali e não conseguiam sair para trabalhar ou voltar pra casa. A situação
estava cada vez mais tensa dentro da comunidade. E eu tinha acesso a
informações exclusivas, que a grande mídia não tinha”, diz.
De uma hora para outra, Rene ganhou milhares de seguidores
por ter virado narrador em tempo real daquela megaoperação. Quando os
jornalistas descobriram que ele tinha apenas 16 anos e tinha um jornal, eles
começaram a chamar Rene a todo o tempo, e ele virou uma espécie de
correspondente de guerra.
Depois disso, as barreiras da comunidade foram rompidas e a
grande mídia se tornou parceira do jornal Voz das Comunidades, agora já no
plural. As redações dos jornais, das rádios e das TVs começaram a abrir espaço para
assuntos que aconteciam dentro das favelas, não focando só nos problemas, mas para
as notícias boas também.
“O Voz cresceu e construiu uma credibilidade nesses
anos. Se a gente der uma notícia sobre o Complexo do Alemão, os portais vão
publicar imediatamente, porque confiam no que a gente fala. As pessoas sabem
que a gente apura as notícias e faz um trabalho muito sério. Com o tempo, a
gente construiu uma equipe de jornalismo que apura o que tá acontecendo e
descobre se uma informação é verdadeira ou não”, explica.
O resto da história você conhece não só no nosso episódio
completo, mas também acompanhando o trabalho que ele e outros tantos fazem e contribuem
para dar visibilidade aos que menos tiveram e que mais merecem nos tempos
atuais. Aperte o play e inspire-se!
Entrevista com
Sócias-fundadoras da IT brands
Conversamos com as sócias da IT Brands, empresa que tem como propósito trazer o consumo sob uma perspectiva mais responsável
22 de Julho de 2021
Segundo artigo publicado no jornal Mercado e Consumo , a pesquisa “Shopping During The Pandemic”, realizada pela Ipsos com entrevistados de 28 países, revelou que 47% dos brasileiros têm feito mais compras online do que faziam antes da pandemia de Covid-19. No mundo todo, o índice é de 43%.
Porém, uma outra pesquisa - essa, realizada pelo Instituto Akatu e publicada no G1 , apontou que 76% dos 1.090 entrevistados – homens e mulheres com mais de 16 anos – não praticam o consumo consciente. “Entre os mais conscientes, 24% têm mais de 65 anos, 52% são da classe AB e 40% possuem ensino superior”, revelam os dados.
Aqui no Plenae, já conversamos com a jornalista Michelle Prazeres , que nos contou mais sobre o movimento slow , sua origem e seus desdobramentos, e como é urgente desacelerarmos em uma sociedade que nos obriga a acelerar - incluindo nosso volume de compras.
João Galvão Ceridono, gestor de parcerias na Quintessa , concorda com a afirmação, e disse em entrevista ao Plenae que “depois que você é picado pelo bichinho de sustentabilidade e de impacto, de pensar em como suas ações estão refletindo nas outras pessoas e no ambiente, você passa a ver tudo por essa lente”, e isso passa a ser “um estilo de vida, não é só dentro do trabalho, envolve o seu consumo, seus investimentos e até a sua locomoção”.
Pensando nisso, entrevistamos as sócias-fundadoras da It Brands , Luciana Giannella e Eva Bichucher, uma empresa que tem como lema propor “um novo olhar sobre o consumir”. Confira a seguir!
Contem mais um pouco sobre o trabalho da It brands
Eva: O IT brands existe há 7 anos e nosso propósito sempre foi apresentar marcas autorais, pequenos produtores mais exclusivos aos nossos clientes. Começamos muito no setor de moda e fomos ampliando para artesãos de casa, alimentação e também do mercado de bem-estar. Dentro dos nossos eventos, onde apresentamos toda essa curadoria, às vezes temos marcas mais fortalecidas e famosas, mas mesmo elas têm esse compromisso de estarem alinhadas com a sustentabilidade, seja usando um tecido sustentável, reciclando ou sendo veganas.
Luciana: Nascemos com os eventos, promover essas feiras de curadoria era o principal negócio. Eles são sempre grandes e duram 2 dias. Só em São Paulo, já realizamos 25 eventos, é o nosso principal lugar de atuação. Hoje, nos definimos como uma plataforma de lifestyle que integra conhecimento, mente, corpo, e até espírito, que é onde temos o wellness muito forte.
Como a moda circular e o slow fashion se relacionam com a IT brands?
Luciana: O movimento tem total sinergia com a nossa filosofia, faz parte do nosso estilo de vida e a primeira coisa, quando falamos em sustentabilidade, é que a gente promove marcas que produzem em poucas quantidades. Isso promove a exclusividade, o oposto dessa produção em massa que a gente vê, e isso por si só já produz impacto positivo para o planeta. Além disso, toda sua cadeia é mais responsável, com uma reciclagem de tecidos, por exemplo.
Eva: quando a IT brands nasceu, a gente nem tinha essa consciência tão grande do slow fashion como temos hoje, enquanto movimento sólido, era uma coisa mais intuitiva. Nosso propósito sempre foi ter um público mais nichado que antes era super consumidor e nós fomos desconstruindo aos poucos, trazendo novas possibilidades. Nem todas as marcas que estão com a gente são atreladas ao slow fashion , mas a gente consegue trazer sempre nomes com princípios.
Luciana: E aí tem os desdobramentos, algumas estão fortemente atuando no slow fashion , no slow food , no feito a mão. São etapas, temos uma curadoria bem grande, são 250 marcas e procuramos ser sempre bem criteriosas dentro dos nossos segmentos.
Para vocês, qual é a importância de um consumo mais responsável?
Eva: o que a gente vive hoje não é mais uma escolha, todos temos que ser responsáveis. Acho que é basicamente isso: você ser e pensar como o produto é feito e o impacto que ele gera, como você consome, saber mais do seu processo é algo que tem que ser automático, incorporado em nossas vidas.
Luciana: nós vivemos um momento planetário que já não é mais uma escolha mesmo, é um chamado. O planeta não sustenta mais alguns comportamentos, então já é um caminho sem volta, o futuro é esse e a pandemia deixou isso ainda mais claro. Existe uma expressão em inglês que chama “wake up call” (chamado para acordar, em tradução livre), que traduz bem.
Eva: antes, quando víamos algo e achávamos barato, era um ganho. Hoje você se pergunta: por que é tão barato? Por que tem tanto? Vale a pena essa compra? Você fica muito mais feliz de consumir uma coisa que tem um propósito maior.
Luciana: a gente também acha que o próprio valor é sustentabilidade. Quando o valor é completamente desproporcional ao custo, a gente presta muita atenção. Uma coisa é quando o produto é exclusivo, que pressupõe um preço mais alto, feito a mão, que tem um processo de produção mais específico por trás e que acaba impactando no valor. Mas esse preço tem que ser proporcional à sua entrega.
Quais são os primeiros passos para quem busca colocar essas ideologias em prática?
Luciana: o primeiro passo é, de fato, entender o que ele tem em casa faz sentido manter ou doar. Um dos nossos braços é o “give away, ” (dar, em tradução livre). Trata-se da venda de peças doadas, em bom estado, muitas vezes novas, e a gente propõe esse reuso. O próprio Terceiro Setor faz muito esse trabalho de receber e encaminhar doações. O segundo passo é buscar conhecimento e entender como esse produto foi feito, o que está por trás dessa marca que você gosta tanto, como ela produz, qual é a procedência, quais são as costureiras envolvidas, se é uma cooperativa ou se está ajudando alguma comunidade.
Eva: hoje, com esse acesso amplo que temos a informações, temos que pesquisar mais sobre os impactos, como ler o rótulo de tudo. Isso automaticamente já vai impactando nas suas escolhas, é natural e inconscientemente ir fazendo escolhas melhores, até no seu mercado, sua comida, passa a comprar mais no seu bairro e se interessar pela história daquele produto.
Como reconhecer uma marca responsável nesse segmento?
Eva: acho que não tem um segredo só, vai muito da comunicação dessa marca também. Claro que tem marcas que só de entrar na loja você já percebe ou lê na etiqueta que o tecido é sustentável ou que uma porcentagem da renda é revertida, por exemplo. Ou quando você vai em um evento tipo a nossa feira, já fica muito mais óbvio, porque todo mundo ali é engajado. Em shopping, acho que realmente uma bandeira que eles poderiam ter era comunicar mais mesmo, e aí não tem outra maneira, vai do consumidor pesquisar.
Quais são as pessoas referências para vocês?
Eva: há várias marcas que nos inspiram e fazem esse trabalho. Mas se existe alguém que a gente se inspira é a Gwyneth Paltrow, da plataforma Goop Lab . Ela é um modelo de inspiração no discurso, no jeito como apresenta sua curadoria que é impecável. É muito como a gente busca fazer, não perdemos nada desse assunto quando ela traz, já fomos visitar as lojas.
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