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O autoconhecimento é um processo lento, que demanda imersões intensas e muito comprometimento. Contudo, não há um único caminho possível para alcançar essa etapa tão importante para a experiência humana com qualidade. Uma vez dominado, o autoconhecimento abre portas para que você encaminhe sua vida com mais assertividade para onde se quer chegar, além de trazer mais equilíbrio para seus dias.
Um dos muitos possíveis caminhos para isso é fazer um Mapa do Nascimento.
“Os fundamentos desta metodologia estão na constatação de que todo problema pode ser resolvido na sua origem, pela raiz”, diz Adriano Calhau, especialista em Psicologia Perinatal e criador do Mapa do Nascimento, um processo que consiste em buscar autoconhecimento pelo seu próprio nascimento.
“O trabalho do Mapa do Nascimento primeiramente é um diagnóstico de como essas circunstâncias iniciais da vida programaram em nós uma espécie de roteiro que tendemos a repetir e atrair para sempre. Estudar as circunstâncias do nosso nascimento nos possibilita identificar a dor raiz e os ciclos viciosos criados pelo sistema de defesa do ego para evitar a todo custo sentir novamente essa dor. É um mapa da nossa primeira impressão, que depois no período da infância, contribui para a criação das nossas principais crenças sobre nós e também sobre o que é a vida”, continua.
Quando nascemos, estamos inermes, ou seja, “aquele que não tem armas ou meios de defesa”, segundo o dicionário. Essa “inermia” que sentimos nos primeiros minutos de vida é justamente o foco dos estudiosos do Mapa do Nascimento. “Nós fazemos a leitura da primeira impressão, da programação primária. Os atendimentos individuais comigo são feitos a partir de um questionário aberto, que contém aproximadamente 30 questões. Nele, a pessoa descreve fatos e circunstâncias de como aconteceram sua concepção, gestação, parto e as primeiras horas”, diz.
A quem se destina
É a partir dessas informações que é possível compreender as causas de muitos sentimentos e sensações que as pessoas muitas vezes carregam dentro de si, segundo ele. A maioria desses sentimentos e repetições estão ligados ao nosso período primário da relação, aquela que é feita somente com mãe e pai. Entre os sentimentos mais comuns estão:
Sentimentos de não merecimento
Dificuldade de criar relacionamentos íntimos
Dificuldade de conexão com os pais
Dificuldades em se aceitar
Não se sentir pleno na vida (não queria estar nesse mundo)
Sentimentos de solidão, abandono e vazio da vida
A partir dessas sensações, partimos para ação, e muitas delas são bastante nocivas. As pessoas que apresentam os sentimentos mencionados acima costumam agir com:
Medo do futuro e preocupação
Dificuldade de fazer as coisas sozinho ou de receber ajuda
Procrastinação e estagnação
Padrões persistentes de ansiedade
Medos profundos e paralisantes (claustrofobia, morte, medo do escuro, medo de não dar conta da vida)
“Existe essa padronização e percepção geral, mas é apenas com a leitura individual do Mapa do Nascimento e algumas sessões da Terapia do Nascimento, que é possível conhecer a fundo as causas e particularidades de cada um e iniciar um processo de ressignificação, focando nas forças e aprendizados”, diz. Segundo Adrix, há diferentes públicos alvo possíveis. São eles:
Pessoas traumatizadas no início da vida com concepção não desejada, gravidez conturbada, prematuros, cesariana ou parto difícil;
Pais e mães que querem conhecer melhor seus filhos e descobrir como ajudá-los a superar desafios;
Mulheres que querem engravidar ou que tem muito medo de engravidar;
Grávidas que querem conhecer melhor o processo de nascimento para ter uma boa gravidez e parto;
Todos aqueles que querem conhecer melhor a si mesmo e já tentaram muitos tipos de terapias, mas não conseguiram encontrar as principais causas de sua dor e sofrimento.
A ciência na jogada “Por algum motivo, muitos profissionais da saúde não se dedicam a estudar os impactos do nascimento na vida das pessoas. O justificado motivo científico seria o fato de que a mielina (substância que protege os neurônios) ainda não está formada. Constantemente, isso é utilizado para justificar o fato de não haver lembranças sobre o nascimento”, conta Adrix. Porém, há sim alguns estudos feitos na área. A própria concepção de “inermia”, que mencionamos lá no começo, foi cunhada pelo psicanalista David Zimerman, em sua obra mais famosa, “Fundamentos Psicanalíticos: teoria, técnica e clínica”. Para ele, a palavra “trauma” vem do grego e significa algum tipo de ferida infligida precocemente ao psiquismo da criança e que pode levá-la a um estado de desamparo. Além disso, os conceitos de trauma e de desamparo aparecem com significados equivalentes e a repercussão dos traumas no psiquismo da criança é proporcional à precocidade de seu estado de inermia (a falta de defensividade). Ou seja, esses traumas psicológicos ficam representados no ego da criança, de modo que acontecimentos posteriores, aparentemente banais, podem evocar essas representações traumáticas, trazendo desamparo, pânico desproporcional ao que aconteceu e intensa angústia. Vale dizer que todos os traumas estão ligados - de uma forma ou de outra - a violência cometida contra o ser humano. “No ano 2000, o neurocientista austríaco Eric Kandel recebeu o prêmio Nobel de Medicina por ter estudado o mecanismo de memória em um caracol. Ou seja, ficou comprovado de que sequer é preciso ter um córtex cerebral para que se tenha memória. Durante a última década, descobertas revolucionárias na área da neurociência e da psicologia também abalaram teorias antigas a respeito das primeiras fases do desenvolvimento, demolindo nossas mais respeitáveis tradições sobre como somos formados e também para a criação de filhos”, explica o especialista. Universidades como Yale, Princeton e Rockefeller tiveram seus estudos sobre o tema alcançados internacionalmente. Todas elas revelaram que, a partir do momento da concepção, o cérebro da criança é conectado ao seu meio ambiente, e essa interação não é apenas um aspecto do desenvolvimento do cérebro, como se pensava, mas sim, um requisito absoluto que faz parte do processo desde os primeiros dias no útero. “Até recentemente, a maioria dos psicólogos concordava que, antes dos três anos de idade, a experiência tem uma influência limitada sobre a inteligência, as emoções e a estrutura do cérebro. Porém, as últimas descobertas da neurociência provam que essas ideias são incorretas. O cérebro é sensível à experiência ao longo de toda a vida, mas são as experiências tidas durante os períodos críticos da vida pré-natal e imediatamente seguinte ao parto que organizam o cérebro”, diz. Nosso cérebro e, por extensão, nossa personalidade, emerge dessa interação complexa entre os genes com que nascemos e as experiências que temos. Ou seja, a genética entra sim no balaio do que nos compõe, mas não é a única determinante. Todo processo biológico deixa uma impressão psicológica e todo evento psicológico modifica a arquitetura do cérebro. “É sabido que o nosso DNA é 50% da mãe e outros 50% do pai, mas a ciência nos últimos anos descobriu algo tão importante como os nossos genes que se chama Epigenética. Esse novo estudo comprova a influência do ambiente sobre os genes, no momento em que eles são transmitidos. Por isso é tão importante conhecer qual foi o ‘terreno’ e qual foi a ‘intenção’ de como a nossa semente foi plantada. Agora sabemos o que sempre nos pareceu verdade intuitivamente – que a separação entre psique e corpo, ou natureza e educação, é impossível”, completa.
Em resumo, são as primeiras experiências que determinam em grande parte a arquitetura do cérebro e a natureza e extensão das faculdades mentais dos adultos. E a Psicologia Pré e Perinatal já está de olho nisso. Ela, que começou dar seus primeiros passos na década de 70, e incorpora pesquisa e experiência clínica em áreas de ponta, como epigenética, embriologia, saúde mental infantil, apego, trauma precoce, neurociências do desenvolvimento, estudos da consciência e outras novas ciências - e recentemente foi assunto da importante revista americana - a Time Magazine - com a capa "Como os 9 meses moldam o resto da sua vida".
Sua base defende que todo feto possui a capacidade de transformar experiências em “memórias”; essa memória é arquivada na mente inconsciente do feto, mesmo que ela ainda esteja em desenvolvimento; e todos esses registros farão parte de sua bagagem inconsciente para o resto da vida do ser e exercerão influência sobre a sua personalidade, sobre sua conduta e sobre seu comportamento.
Depois do diagnóstico
Para realizar o Mapa do Nascimento, ainda não há uma formação específica, mas a psicologia, como você pode perceber, é um bom caminho para iniciar nessa trajetória. Após a sua consulta, o método Mapa do Nascimento possui etapas bem claras de ressignificação que são:
Diagnóstico da dor original surgidas nas circunstâncias do seu nascimento
Compreender o surgimento das crenças raízes e também da forma de sentir, agir e reagir
Utilizar a dor original para descobrir dons e virtudes capazes de transformar as crenças em novas experiências
Ter uma visão clara do aprendizado essencial de Vida e qual o foco da ação correta.
“Isso pouco a pouco vai criar no sistema cerebral novos caminhos sinápticos e um novo modo de ver e agir diante do mundo”, conclui Adrix. Uma dica de ouro é, após o diagnóstico, absorver aquelas informações - lembrando que nenhum campo de estudo no mundo é uma verdade absoluta e incontestável - e levar para a sua terapia. Com a ajuda de um especialista, você conseguirá lidar melhor com aquelas informações e aplicá-las em seu comportamento de maneira efetiva. Bom mergulho!
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