Para Inspirar
Estar unido por um mesmo objetivo, que é torcer por um time, fortalece os laços de amizade, familiares e até consigo mesmo
4 de Dezembro de 2022
Seguimos celebrando a copa e a evolução do Brasil para a próxima etapa do torneio. E pensando nas várias formas de como o futebol se relaciona com o Plenae, pensamos em falar delas, que são a alma das competições: a torcida! Como torcer para um time pode fortalecer as relações? Listamos a seguir 5 provas a seguir!
Benefícios psicossociais
Esse talvez seja o mais claro e mais óbvio, mas vale sempre ser reforçado. Torcer para um time não é somente um agrupamento aleatório de pessoas assistindo uma partida. Todos que estão ali se reconhecem em um mesmo objetivo, se identificam uns com os outros e se fortalecem nessa identificação.
O psicobiólogo da Unifesp Ricardo Monezi, especialista em medicina comportamental, explica ao portal Minha Vida, que o ser humano se sustenta em três pilares importantes: biológica, psicológica e social. No caso do futebol, esse evento social tão importante para o brasileiro e outras nações, a parte psicológica e a parte biológica da pessoa são afetadas positivamente.
A parte social é justamente esse sentimento coletivo, de querer estar perto um do outro, respeitar os espaços e fortalecer os laços. Mas há também os benefícios psicológicos. Durante o jogo, por exemplo, o torcedor experimenta múltiplos sentimentos: raiva, alegria, tristeza, euforia. Isso acaba influenciando em seus batimentos cardíacos (que ficam mais acelerados), áreas do cérebro (que ficam em estado de alerta) e a memória (que se ativa para analisar o passado dos jogos, campeonatos e jogadores).
Os benefícios físicos ficam por conta do coração. No caso dos batimentos cardíacos, uma pesquisa realizada pela Universidade de Leeds acompanhou 25 torcedores com idades entre 25 e 60 anos durante três jogos, e observou que essa animação na hora da torcida oferece os benefícios de um exercício cardiovascular moderado, como uma caminhada rápida.
Durante a análise, os batimentos dos participantes chegaram a 130 por minuto, 64% a mais que o normal. Um gol do time aumentou a frequência em 27%, e um gol do adversário, em 22%. Assistir no estádio, e não pela TV, aumentava em 11%.
Gerenciamento das emoções
O primeiro aspecto desse ponto é o mindfulness, ou seja, estar totalmente presente naquele momento, de corpo e também de cabeça. Nada mais importa senão aquele passe, e isso traz benefícios imensos para sua concentração, cognição, autopercepção, além de tornar áreas do cérebro mais ativas e melhorar o gerenciamento de emoções e sentimentos.
É nesse gerenciamento que você também terá que lidar com as emoções negativas, sejam elas coletivas ou individuais, mas não tem como fugir: torcer te obriga a estar frente a frente com todas elas. No que diz respeito às relações, é aí mesmo que você terá que controlar a sua fúria, por exemplo, ou poderá se apoiar no outro para lidar com uma frustração ou tristeza. É um gerenciamento emocional individual, mas com o apoio do outro.
Compartilhar sensações
Uma vez sentida todas essas emoções positivas, a parte que influenciará nas relações será justamente o compartilhamento delas. Ao cantar um hino ou uma música de torcida, ao se organizar para entrar junto no estádio, o abraço feliz pós-gol do seu time ou o abraço triste pós-gol do adversário, o envio de mensagens pré-jogo para combinar táticas e horários: tudo isso é compartilhar emoções, sejam elas boas ou ruins, como ansiedade, raiva, frustração ou alegria, vitória e alívio.
Vale lembrar que pesquisa realizada pela Universidade de Leeds e mencionada anteriormente também observou que, no caso de uma vitória, o humor dos torcedores se mantinha positivo por até 24h depois do jogo. E como sabemos, estar feliz é um remédio potente para a saúde, pois desencadeia uma série de hormônios positivos para a sensação de bem-estar, além de fazer bem para a cognição, saúde cardíaca, dentre outros fatores a longo prazo. Estar feliz em conjunto então, é sentimento redobrado!
Sentimento de coletividade
Esse tópico se conecta ao anterior, mas vai além. É no compartilhamento dessas emoções que você se sente parte de algo maior, de um grupo, uma tribo específica. Isso é a coletividade, e essa sensação é tão importante para nós humanos que até mesmo na idade da pedra, nossos antepassados andavam em grupo, a fim de se proteger, se aquecer e se fortalecer nesse sentimento de união, onde não importa crença, cor ou opção sexual - ali, todos são um só, como deveria ser sempre.
Além disso, quando estamos no meio de uma torcida, a compaixão é despertada no coração do torcedor de forma sutil, como explica novamente o especialista Ricardo Monezi. "Torcer pelo time gera uma compaixão relacionada à vontade de expressar o amor pela por um grupo ao qual você e outras milhares de pessoas pertencem. Isso acaba gerando maior companheirismo e união entre as pessoas que gostam de futebol, sobretudo quem tem um time em comum."
Solidariedade aflorada
Esse é um fator que fortalece não só o seu pilar Relações, como também o seu pilar Propósito - assim como os anteriores esbarraram no seu pilar Mente e Corpo, de forma que torcer se mostra positivo para muitos aspectos de sua vida. Mas voltando à solidariedade, ela vem desse lugar da coletividade, de compartilhar uma mesma história ou objetivo comum.
Esse reconhecimento faz com que as pessoas fiquem mais solidárias e mais propensas a oferecer ou receber ajuda, compartilhar informações e opiniões, além de dividir os sentimentos como explicamos acima. Quando o seu time vence, muito provavelmente você irá querer comemorar em grupo, e essa vontade de união é o que aflora a sua solidariedade e também sua empatia e simpatia.
"Poderíamos aproveitar esse exemplo de torcida de futebol para nos unir mais às pessoas com as quais convivemos. Isso contribuiria para renovar e reforçar nossa vida social, que é fundamental para uma boa qualidade de vida", sugere o psicobiólogo Ricardo.
E isso se manifesta também quando acabamos torcendo pelo time mais “fraco”. Esse comportamento é algo tão universal que foi até mesmo comprovado em um clássico estudo dos economistas Jimmi Frazier e Eldon Frazier e Eldon Snyder realizado em 1991, como revelou a revista Superinteressante. Os pesquisadores propuseram um cenário hipotético para 100 estudantes, sendo dois times de um esporte não especificado, A e B, se enfrentando em uma melhor de 7.
Nesse sistema, vence quem ganhar primeiro 4 partidas. Sabendo que o time A tinha o campeonato na mão, 80% dos estudantes escolheram o time B. Quando foram informados que o time B surpreendentemente havia ganhado as 3 primeiras partidas, metade dos seus torcedores virou a casaca e passou a torcer para o agora desfavorecido A.
Segundo os pesquisadores, o efeito pode ser chamado de “economia emocional”. O torcedor é, antes de qualquer coisa, um hedonista - ou seja, quer sempre sentir o máximo de prazer possível. Se o seu time não está envolvido, como explica o artigo, você sempre irá fazer um cálculo inconsciente de custos e benefícios em busca de mais emoção – e a emoção inesperada (a chamada “zebra”) é sempre maior do que a esperada. Perceba como um ato tão “comum” para nós brasileiros, que é a torcida, pode influenciar em tantos aspectos da nossa vida e fortalecer os nossos laços. E aí, já se sente mais empolgado para torcer pelo Brasil agora?
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