Coloque em prática
Conversamos com especialistas para entender melhor como se dá o processo de aprender e o que é possível fazer para melhorá-lo.
17 de Novembro de 2021
Aprender, essa atividade da aquisição do conhecimento, pode ser bastante desafiador para pessoas com transtornos específicos, como é o caso de quem possui TDAH, assunto brilhantemente desmembrado em uma série para o Fantástico, guiada pelo Dr. Dráuzio Varella.
Mas não é preciso ir muito longe. Com tantos estímulos externos, como as telas, a rapidez das rotinas e das informações, e até fatores ambientais específicos como privação de sono, alto índice de estresse e outras questões emocionais, podem afetar o cérebro de modo que aprender torna-se tarefa dificílima.
“Falar sobre aprendizagem é falar do cérebro humano, um órgão que se adapta de acordo com os estímulos que nós oferecemos a ele ao longo de nossa vida”, inicia André Buric, especialista em neurociência comportamental e fundador do BrainPower - a Academia Cerebral.
“Não é um processo simples e que depende de apenas um fator. Aprender um novo esporte é um tipo de aprendizado e estimula áreas cerebrais diferentes de aprender um novo idioma, por exemplo. Para o cérebro tudo isso é aprendizagem, porém cada tipo de estímulo irá acioná-lo de uma forma diferente”, explica.
Ele ainda reforça a importância de distinguirmos aprendizagem de memorização: o primeiro ocorre devido aos estímulos que nós oferecemos ao nosso cérebro que, por sua vez, modifica sua estrutura graças à neuroplasticidade, de modo que ele passa a processar as informações de uma forma diferente. "Por isso, a aprendizagem do ponto de vista da neurociência nada mais é do que o seu cérebro se adaptando internamente, adaptando as redes e conexões neurais, frente aos estímulos que ele recebe”, pontua.
Já a memorização se refere ao processo de armazenar informações relevantes, seja para a nossa sobrevivência, ou mesmo relevantes para as atividades que nós desempenhamos no dia a dia. E como podemos tornar evidente para o nosso cérebro que algo é relevante? “Algumas maneiras. O assunto ou informação pode te atrair, e isso aumenta a sua chance de armazenar. Ou então você pode precisar desta informação para algum momento ou evento importante, o que torna a informação igualmente importante”, diz.
A repetição é uma destas formas, pois ao repetir algo todos os dias, seu cérebro entenderá que precisa aprender aquilo. Conectar uma nova informação com outras mais antigas que já habitam sua memória ajuda a fortalecer por meio da associação. Aqui nesta matéria explicamos ainda algumas outras dicas práticas, que posteriormente tornou-se um post no nosso Instagram.
Caminhos para melhoria
Quando se pensa em melhoria da aprendizagem, diversos cursos já vêm a mente da maioria das pessoas, focados em mentorias e performances. Mas há fatores externos que devem ser levados em consideração antes de se jogar em uma sala de aula, ambiente que pode, aliás, oferecer gatilhos para pessoas com dificuldades em aprender.
“Primeiro, há uma parte estrutural que é essencial, mas que em geral as pessoas sequer consideram: sua qualidade de vida como um todo. Um indivíduo que dorme pouco, se alimenta mal, não faz exercícios físicos, vive estressado e emocionalmente abalado, naturalmente tem uma chance drasticamente menor de aprender novos assuntos”, explica André.
Em segundo lugar, para ele, é importante permitir uma qualidade de exposição do cérebro com o assunto a ser aprendido. A chance de nos lembrarmos de um assunto que olhamos brevemente, há muito tempo, é bastante inferior quando comparada com uma informação que é constantemente revisitada.
“Muitas vezes vemos estudantes ‘batendo o olho’ na matéria da prova na véspera. Isso pode até ativar a memória de curto prazo, mas por conta da baixa qualidade de exposição do cérebro com o assunto, dificilmente este estudante lembrará do que ele leu alguns dias ou meses adiante”, diz.
Portanto, interagir com esse conteúdo é também tarefa fundamental, seja relendo, seja pesquisando outras fontes, de repente conectando com outros assuntos já anteriormente aprendidos, ensinando outras pessoas. “Ou seja, quanto mais frequência e qualidade de contato com a informação, melhor e mais sólido será seu processo de aprendizagem”, diz André.
Ainda sobre a importância da exposição ao cérebro, vale lembrar que escrever à mão é também uma forma de “desenhar”, e ativa uma cadeia importante de neurônios, como explica esse artigo. Em uma única atividade, você trabalha sua coordenação motora, o pensamento acelerado e a geração de ideias, ajuda na memorização e se quebra, aprende (ou relembra) melhor a grafia das palavras sem o corretor automático.
“Algo importantíssimo para o seu cérebro, é permitir pausas para que você consiga consolidar o aprendizado. Identificar o tempo que você já começou a não aproveitar mais o que está sendo estudado, e forçar uma pausa é essencial. Tanto para você se revigorar para voltar com mais energia, como para o cérebro consolidar o que foi absorvido”, complementa o especialista.
Por fim, não estude por estudar. Lembre-se que, nessa vida, é preciso ter propósito. “Ache sempre um motivo claro por trás de tudo que você busca aprender. Pode ser um motivador interno, como paixão pelo próprio assunto a ser estudado. Ou mesmo um motivo externo, não relacionado ao que está sendo aprendido. O importante é ter um porquê”, conclui.
Como anda sua relação com os estudos nestes últimos tempos? Já te contamos aqui que estudar pode te levar longe! Portanto, mantenha-se em movimento: nunca pare de se interessar por diferentes temas e ir atrás de cada um deles!
Coloque em prática
Conversamos com uma especialista para entender como escrever metas verdadeiras e não perder o foco nos próximos meses.
11 de Janeiro de 2024
Agora que o ano oficialmente começou, é hora de começar a pensar nas metas que te darão norte nos próximos meses. Seja uma meta pequena ou até as maiores, o fato é que para não sentir aquela sensação de frustração no final de dezembro, é preciso começar ainda hoje a não perder o foco.
Conversamos com uma especialista para entender um pouco mais sobre esse processo que é principalmente mental e que não depende de mais ninguém se não você. Leia mais a seguir!
O hábito de traçar metas para o próximo ano sempre existiu, apesar da impressão de parecer ter ganhado mais força nos últimos tempos. É parte de um ritual e, como te contamos neste Tema da Vez, os rituais são muito importantes para a elaboração dos sentimentos da nossa espécie.
“O fechamento de um ciclo e início de um novo ano culturalmente nos trazem a oportunidade de recomeçar, mudar, fazer diferente. A esperança normalmente é um sentimento bastante presente nesses momentos, o que motiva as pessoas a acreditarem num futuro melhor”, diz Thaís Gameiro, neurocientista pela UFRJ e sócia da Nêmesis, empresa que oferece assessoria e educação corporativa na área de Neurociência Organizacional.
Para ela, essa sensação de que a prática é “nova” se dá pelo fato da maior visibilidade e atenção que a atividade ganhou por conta dos meios de comunicação e da velocidade com que as informações chegam até grande parte das pessoas. “Hoje existem ferramentas físicas e digitais que nos ajudam a criar e monitorar nossas metas”, pontuação.
“Nossas metas e objetivos (pessoais ou profissionais) normalmente envolvem conquistas ou desfechos que ocorrerão no futuro, ou seja, na maioria das vezes precisamos adotar comportamentos ou fazer esforços no presente para conquistar resultados que só poderão ser vistos ou mensurados no longo prazo”, explica Thaís.
Esse costuma ser o principal fator de dificuldade, já que nossa capacidade de enxergar os benefícios de longo prazo é mais limitada. Até porque, o sistema de recompensa do nosso cérebro funciona principalmente diante de ganhos imediatos, como te explicamos aqui.
“Somos mais sensíveis a recompensas e respostas imediatas, mais tangíveis e fáceis de serem percebidas pelo cérebro como algo concreto. Quando precisamos enxergar benefícios que só ocorrem no futuro, ficamos vulneráveis a perder o foco do objetivo principal por conta de distrações que oferecem recompensas imediatas, mas que muitas vezes nos afastam da meta desejada”, reflete a neutrocientista.
Esse fenômeno tem nome: viés do presente. Queremos emagrecer para ter mais saúde e também para ter um corpo mais bonito, por exemplo, e sabemos o que é preciso fazer em termos de alimentação. Mas o benefício dessa alimentação só aparece após alguns meses de esforço e determinação.
Até lá, nós acabamos cedendo aos prazeres imediatos de um chocolate ou uma pizza que também possuem o seu valor, mas quando em excesso, nos desviam do nosso objetivo final. Esse mecanismo também está presente na procrastinação, atitude que desmembramos mais neste artigo.
Para cumprir nossas metas ao longo de todo o ano sem desanimar, é preciso antes de mais nada dividir grandes objetivos em metas menores, mais simples e fáceis de serem executadas e acompanhadas, como explica Thais.
“Uma das maneiras de nos manter motivados é perceber que estamos evoluindo, então será importante monitorar periodicamente como está sendo o seu progresso. Por exemplo, se você deseja ler mais em 2024, comece com uma meta de 30 minutos por dia ao invés de 1 livro por mês. Esse simples ajuste poderá ser a diferença entre engajar ou não nessa nova atividade pois, para o cérebro, a primeira meta parece simples e fácil de ser alcançada”, diz.
Outro ponto importante é planejar e “ensaiar” mentalmente quais estratégias você irá adotar para vencer os possíveis obstáculos que podem surgir no meio do caminho. “Quando exercitamos esse planejamento, damos ao cérebro maior repertório de atitudes e facilitamos a tomada de decisão frente aos desafios que podem aparecem e dificultar o cumprimento das metas”, pontua.
É importante ainda criar metas mais reais, e isso será impossível sem que você exercite o seu autoconhecimento e reflita sobre quais metas realmente você deseja alcançar. Tudo bem repetir a meta do ano anterior se ela não foi alcançada, mas pense: por que eu não a completei? Será que ela faz realmente sentido para mim?
Outras questões que você pode levantar nessa jornada são: o que verdadeiramente me motiva? Você acredita que é possível chegar lá? Se sente animado e feliz ao imaginar-se no percurso até o seu objetivo final?
“É importante lembrar que menos é mais! Escolha 2 ou no máximo 3 objetivos que você realmente deseja alcançar e pense nas estratégias que irá adotar. Para alcançar nossas metas é necessário bem mais do que força de vontade, é preciso criar um plano de ação objetivo e definir estratégias. Uma boa meta deve vir acompanhada de ações simples e mensuráveis, que contribuem para alcançar tal objetivo: o que vou fazer, como e quando?”, aponta Thais.
Por fim, mas não menos importante, é importante acolher também as metas não realizadas, que podem causar as intensas frustrações no final do ano, período que já costuma ser mais emotivo.
“Pense nas coisas boas e positivas que ocorreram ao longo do seu ano, faça uma lista das surpresas, conquistas e momentos positivos que você não planejou, mas que aconteceram”, coloca a especialista.
Busque aprender com os erros e obstáculos que impediram seus objetivos passados de serem alcançados e pense em como fazer diferente. Não há nada de errado em não ter “chegado lá”, seja onde esse “lá” for.
O que não pode acontecer é a estagnação diante disso, pois o verdadeiro fracasso é não tentar. Acredite em si mesmo e comece o ano diferente! Há muitas surpresas reservadas para quem ousa chegar no futuro!
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