Para Inspirar
Investigamos a relação entre a espiritualidade e a jornada para dentro de si, e descobrimos algo presente em todas, ainda de maneiras diferentes: a meditação.
2 de Dezembro de 2020
Religião, fé e espiritualidade são conceitos que, apesar de não terem o mesmo significado, são impossíveis de serem completamente dissociados. Isso porque toda religião envolve uma espiritualidade, mas a recíproca não necessariamente é verdadeira.
O espírito é uma dos pilares edificantes do Plenae e, como tal, não podemos deixar de lado a importância deste e de suas manifestações tanto na vida cotidiana quanto na formação de quem somos.
Assim, quando a conversa vai para assuntos de elevação espiritual como meditação e autoconhecimento, nem sempre a religião está envolvida. Mas é possível chegar a esse caminho tendo a religião como guia?
Para Monja Coen, a resposta é simples: com certeza. Com base em seus ensinamentos budistas , a líder espiritual prega a meditação como uma jornada de olhar para si mesmo e resolver os próprios problemas. Em vídeo para seu canal, ela fala sobre como a mente humana é treinada para focar em apenas uma coisa por vez.
A meditação, diz a monja, ampliaria a lente da nossa mente para uma grande angular, ampliando e muito o foco. Com isso, ela cita o exemplo do próprio Buda, que diziam enxergar em 360 graus. Isso nada mais seria do que o autoconhecimento de usar os próprios sentidos para perceber a realidade, além da visão.
Recentemente, Jack Dorsey, CEO da rede social Twitter, aderiu a uma forma de meditação budista chamada Vipassana . Nela, a pessoa é convidada a focar em si mesma e em sua natureza. Famoso por suas práticas heterodoxas de saúde e bem-estar, Dorsey fez isso por 10 dias para comemorar seu aniversário no ano passado, indo até um templo budista em Myanmar, no sudeste asiático
Além disso, o Reiki é prática que conta com cada vez mais adeptos no Brasil, e é completamente sobre autoconhecimento e poder da mente sobre o corpo. Mikao Usui, seu decodificador, era um monge budista. De acordo com ele, o Reiki envolve a canalização da energia pelas mãos, passando pelos chakras. Para isso, o reikiano precisa conhecer a si mesmo e livrar-se de sentimentos e ideias impuros e perigosos.
Outras religiões orientais também são notórias pelo foco nos caminhos do autoconhecimento através da meditação, como o Hindu. O conceito de moksha , um dos pilares entre os dogmas e melhor traduzido como o Nirvana (que, sim, é diferente do conceito budista e também da banda grunge norte-americana), significa a libertação do ciclo de reencarnação, ou seja, a transcendência para algo que é cosmicamente maior do que a vida terrena, e as maneiras para atingi-lo trespassam o autoconhecimento de ponta a ponta.
É do Hindu que vem o jogo milenar chamado de Maha Lilah . Funcionando como uma espécie de jogo de tabuleiro, o jogador precisa conhecer a si mesmo, verbalizando em voz alta as questões que mais lhe afligem e rolando um dado de seis lados até tirar o número 1. Só então é possível avançar para outras casas, passando por obstáculos até a casa final de número 68. É um jogo sobre autoconhecimento no caminho à iluminação.
Mas e do lado de cá? De que maneira as religiões ocidentais nos auxiliam nessa eterna caça de nós mesmos, como bem cantou Milton Nascimento? A meditação também é uma prática presente nas religiões monoteístas. Moisés, Maomé, Jesus: todos eles meditavam de acordo com suas crenças. Para esses dogmas, geralmente a prática se dá através da oração.
O ato de rezar envolve a concentração em si mesmo e no Deus de sua crença, utilizando de sentidos que geralmente vão além da visão. Como contamos nesta matéria , a meditação pode ser uma concentração em um som, uma imagem ou um pensamento específico.
Embora o objetivo seja um pouco diferente dos orientais, tendo como principal propósito a elevação da alma e a aproximação com Deus (ou Allah), ela também passa por uma jornada de autoconhecimento através de um ponto importantíssimo que une a religião e a espiritualidade: a fé.
Em um vídeo curto para seu próprio canal , o Padre Paulo Ricardo, sacerdote da Arquidiocese de Cuiabá que possui um canal no YouTube com mais de um milhão de inscritos, diz que meditar é como se colocar na presença de Deus e fazer questionamentos importantes tais como: “quem sou eu? Como estou me apresentando diante de Deus? Para que Ele vem?”.
E é pela nossa fé, tão pessoal, que entramos em contato com as verdades amorosas de Deus. O Padre cita também a fé como uma das virtudes teologais. Através dela e do ato da comunhão, você deve olhar para sua própria alma como “a esposa que vê os dons do esposo”.
Outro padre famoso, Marcelo Rossi, possui vídeos em seu canal que muito se assemelham a formas de meditação guiada. A elevação espiritual consiste em algo próximo a uma elevação ao próprio Deus, sendo o caminho tomado o da meditação, pela consciência de quem se é e de seu próprio lugar como criatura na obra divina do Criador.
O Plenae sempre acreditou que a espiritualidade deve ser desenvolvida de acordo com as suas crenças. Não importa a sua religião, o que importa é que ela pode (e deve!) ser usada como ferramenta no seu autoconhecimento, seja pela meditação ou pela oração.
O importante é buscar o equilíbrio para uma vivência mais saudável. E o espiritual é um pilar fundamental do que entendemos que é ser humano e deve ser fortalecido, cada qual à sua maneira.
Para Inspirar
Conheça a história de uma mãe que não viu fronteiras nem físicas e nem simbólicas para que seu filho com Síndrome de Down conhecesse o mundo!
6 de Outubro de 2024
Leia a transcrição completa do episódio abaixo:
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Geyze Diniz: A convivência intensa, a limitação de espaço e a logística do acompanhamento médico da filha mais velha, Ana, que tem Síndrome de Down, não foram impeditivos para a família Zanni velejar pelo mundo. Os pais Estela e Pedro driblaram todos os desafios, instabilidades e surpresas da vida para realizarem o sonho de viver essa grande aventura. Eu sou Geyze Diniz e esse é o podcast Plenae. Ouça e reconecte-se.
Estela: Eu brinco que foi o teste do namoro. O Pedro me perguntou: “Você gosta de acampar? Então, tem um barquinho, que é como se fosse um camping, só que na água”. O barco era bem roots mesmo. A luz era à vela. O banheiro era um balde. Eu sempre gostei de aventura, e naquela viagem ficou claro que a gente tinha muitas afinidades.
Aos poucos, o Pedro foi me seduzindo com a ideia de uma viagem longa. Em algum momento, eu comecei a me interessar e a perguntar mais. “E se o barco afundar? E se tiver uma tempestade? E se tiver uma calmaria?”. Então ele me apresentou um casal de amigos que tinha viajado pelo mundo com as filhas por 12 anos e eu fui me sentindo mais segura com a ideia.
Até que um dia eu falei assim: “Beleza, só que até agora a gente só velejou em Paraty, Ilhabela e Ilha Grande. A gente não tem nenhuma experiência fora, vamos fazer isso?”. E aí a gente passou um mês na Grécia, alugou um barco e teve uma experiência super intensa. Foi nessa viagem que eu falei para ele: “Você quer, então, sair pelo mundo? Eu também quero”.
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Pedro: O meu sonho não era fazer uma viagem sozinho ou só eu e a Estela. Eu queria uma viagem com filhos, com todos os desafios e alegrias que essa experiência traz. Só que tinha um detalhe: a gente não tinha filhos ainda. O nosso combinado foi fazer uma viagem de 3 anos, quando a gente tivesse duas crianças em idade pré-escolar. Porque um dos propósitos da viagem era justamente aumentar a nossa conexão com esses filhos que ainda nem existiam.
E eles precisavam ser pequenos, numa fase em que as crianças ainda querem estar com os pais, em que elas ainda não precisam necessariamente estar na escola. Era uma janela em que a gente ia poder viver plenamente. A gente podia parar de trabalhar e ficar três anos só dedicados a essa experiência em família.
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Estela: Quando a gente tomou essa decisão, eu já estava fazendo tratamento para engravidar. A Aninha veio depois de cinco anos de tentativas. A notícia da gravidez foi maravilhosa, até que a gente descobriu, num ultrassom de rotina, que ela tinha algumas questões de má formação.
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As válvulas e as paredes do coração dela não estavam formadas. O tamanho do feto era menor do que a idade gestacional. O osso nasal era pequeno, e o intestino estava obstruído com várias pregas. Segundo a médica, eram indícios de uma síndrome.
Mas qual síndrome? Podia ser tanto uma Síndrome de Down, que é bastante conhecida e tem uma boa expectativa de vida, quanto podia ser uma síndrome incompatível com a vida. Depois de tanto tempo tentando engravidar, aquela notícia foi um baque bem desestruturante.
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Pedro: E era Síndrome de Down. Depois do parto, os primeiros oito meses foram os mais difíceis. A saúde da Aninha era muito frágil e, em alguns momentos, ela ficou entre a vida e a morte. De todos os problemas, o mais grave era a cardiopatia. Com quatro meses, a Ana foi internada às pressas, com um derrame pericárdio, que é um vazamento de líquido em volta do coração.
Ela precisou ser operada às pressas, ficou na UTI, e os médicos chegaram até a preparar a gente para o pior. É claro que, no primeiro ano da Ana, a gente não tinha cabeça para falar sobre a viagem. Mas um ano e pouco depois, a saúde dela estabilizou e a Estela engravidou do Gabriel. E antes do nosso filho nascer, a gente definiu a data exata para zarpar. A Ana teria 4 anos, e o Gabriel 2.
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Pedro: No final, a parte das terapias da Ana foram a mais fácil de adaptar, porque as profissionais já tinham desenvolvido durante a pandemia a expertise de atendimento virtual. O mais complicado era combinar as nossas paradas com os exames de coração que a Ana precisava fazer. Em muitos casos, a logística envolvia ancorar numa ilha, pegar um avião para um outro lugar, fazer o exame e voltar. E a cada quatro ou seis meses, a gente tinha esse grande evento no nosso roteiro.
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Algumas pessoas nos perguntam: “Ah, mas as crianças vão lembrar da viagem?”. Eu acho que elas não vão lembrar de todas as situações, mas vão ficar sim com a memória afetiva de terem um contato grande com a gente, um contato grande com a natureza. E acho que vão ficar com uma estrutura interna emocional muito bem formada para a vida.
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Estela: Uma das melhores partes da viagem foi acompanhar a evolução da Aninha. Ela tem um atraso motor importante em relação a outras crianças com trissomia do 21. As crianças com Síndrome de Down, em geral, começam a andar mais ou menos com 2 anos. A Ana com 3 anos e meio ainda se arrastava de bumbum. Ela não engatinhava. Ela jogava o bumbum para frente e ia trazendo o corpo com a perninha.
Nos consultórios, os fisioterapeutas montam balanços e simulam vários movimentos, que é para a criança desenvolver equilíbrio e a força motora. E aí, a gente se deu conta que, no barco, a Ana tinha esse balanço 24 horas por dia, enquanto nos consultórios as crianças só têm uma hora por semana. Antes da viagem, por muito tempo, ela ficou no mesmo platô de desenvolvimento. E aí, em seis meses no barco, ela era outra criança, completamente transformada.
Pedro: A Ana tem os pezinhos bem virados para dentro, então ela precisava usar uma palmilha para alinhar os pés. Mas a médica falou pra gente que o melhor tratamento mesmo era ela caminhar na areia. Resultado: a gente não precisou de palmilha a viagem toda.
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Estela: O Pedro e eu somos super planejados, mas a gente aprendeu na viagem a querer controlar menos a vida e a aceitar mais as coisas como elas são. Quando você faz uma travessia do Atlântico, você mais ou menos planeja a data da saída e da chegada.
Mas aí, perto do dia de zarpar, aparece uma previsão meteorológica ruim. E não dá pra cruzar o oceano em 17 dias se você tem quatro dias de combustível. Você precisa de vento. Então, se não tiver uma boa condição de tempo, não pode sair. E é a mesma coisa se você está numa ancoragem e o vento muda. Você tem que mudar de lugar, mesmo que você goste dali e queira ficar por lá mais tempo.
Geyze Diniz: Nossas histórias não acabam por aqui. Confira mais dos nossos conteúdos em plenae.com e em nosso perfil no Instagram @portalplenae.
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