Para Inspirar

Bernardinho em "Errei muito mais do que acertei"

O quarto episódio da décima terceira temporada do Podcast Plenae é com Bernardinho, representando o pilar Mente!

8 de Outubro de 2023



Leia a transcrição completa do episódio abaixo:


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Bernardinho: Seria possível viver do voleibol? Quando eu recebi a proposta pra ser treinador, eu fui conversar com meus pais. A minha mãe, mais zelosa, preocupada, ficou desesperada, achou que era uma loucura. Já o meu pai me falou: “Se é o que você ama fazer, vai. Mas faz bem feito e só volta quando der certo”. Ele sabia que ia ser difícil, que eu ia querer desistir. Ao longo da minha vida, sempre que eu me deparo com situações dessa natureza, eu penso: só volta quando der certo. 

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Geyze Diniz: A trajetória do técnico Bernardinho não é só marcada por suas vitórias, mas também por seus aprendizados. Seus erros e acertos dentro e fora da quadra foram importantes lições para ele e para todos que o acompanham. Bernardinho reconhece a importância de aprender e se adaptar para um mundo em constante transformação. Eu sou Geyze Diniz e esse é o podcast Plenae. Ouça e reconecte-se.

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Bernardinho: Nós fomos apresentados ao esporte muito cedo. Era uma estratégia dos meus pais, Maria Ângela e Condorcet, para gastar a energia dos 5 filhos e também para nos educar. Eu pratiquei judô, futebol, natação e tênis, sem talento pra nenhuma modalidade. O vôlei eu conheci por acaso, nas areias de Copacabana, junto com meu irmão, Rodrigo. Não era nada sério, que a gente praticasse com a intenção de jogar pra valer. A gente só queria mesmo era brincar.

Só que um vizinho achou que nós levávamos jeito e aí nos convidou pra fazer um teste no time mirim do Fluminense. Foi lá que eu conheci Benedito da Silva, o Bené, o meu primeiro treinador. Esse cara me ensinou tantas lições que eu carrego até hoje. Uma delas foi aprender a ouvir “não”.

Desde pequeno, eu não gostava de perder. Eu já tinha um espírito resmungão, dava palpite no jogo alheio e cobrava o desempenho dos outros jogadores. E meu alvo preferido era o meu irmão. O Rodrigo não ligava pros chiliques que eu dava. Ele tem um ótimo temperamento e me deixava brigar sozinho. Sempre que isso acontecia, o Bené me expulsava do treino. Eu tinha uns 13, 14 anos e me sentia perseguido, injustiçado. Era aquele pensamento: “Tudo eu! Tudo eu! Sempre eu!”.

Muitos anos depois, já treinador da seleção feminina, fui perguntar pro Bené porque ele fazia isso comigo. Ele disse: “Você queria tanto jogar, que eu te mandava embora e você voltava. O seu irmão não queria muita coisa. Mas ele jogava muito bem e o time precisava dele também”. O Bené sabia, como eu sabia também, que eu não tinha muito talento pro vôlei. Se eu quisesse cavar o meu espaço, eu ia ter que saber lidar com os desafios. E o Bené não tinha medo de falar “não” e de me desafiar.

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Quando eu tinha 15 anos, já capitão da equipe infanto juvenil, fui convidado pra jogar com o time adulto do Fluminense. Fiquei me achando. Eu aceitei o convite, mas nem cheguei a jogar, passei a partida inteira no banco. O problema é que, no mesmo final de semana, o meu time infanto juvenil também tinha um jogo. Quando eu me reapresentei pro Bené, ele me falou: “Você é o capitão da equipe, você abandonou justamente os jogadores que mais precisavam de você”. Eu nunca esqueci disso. Com poucas palavras, o Bené me deu uma lição sobre a importância da humildade e do senso de coletividade.

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Os meus pais não viam com bons olhos o meu interesse crescente pelo vôlei. Nos anos 60, 70, 80 mesmo, o esporte era só uma profissão pra quem jogasse futebol. 

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Os meus pais queriam que eu estudasse, fizesse faculdade e eu fui fazer economia na PUC do Rio. Eu adorei o curso e levei os estudos em paralelo à vida de atleta. Foi uma época em que tive muitas dúvidas sobre o meu futuro profissional. Só que a paixão acabou falando mais alto do que a razão.

Com muito empenho, eu conquistei uma vaga na seleção brasileira que ficou conhecida como a “geração de prata”. Nós ganhamos a primeira medalha olímpica do vôlei brasileiro, em Los Angeles 1984. Os jogadores principais eram Bernard, William, Fernandão, Renan, Amauri, Montanaro, Xandó, Badá. Eu era reserva. Nunca fui aquele cara que entra em quadra pra decidir, mas eu sempre cobrei muito de quem tinha condições para isso.

Desperdício de talento era e ainda é até hoje uma das coisas que mais me incomodam. Eu me considero esforçado. O meu diferencial é que eu não desisto. Isso pode ser uma qualidade, mas por outro lado leva a um certo desequilíbrio. Eu certamente pequei pelo excesso, muitas vezes, por uma quase paranoia permanente por performance, por evolução.

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Quando eu tinha 26 anos, nasce meu primeiro filho, o Bruno. Eu tinha me casado com uma jogadora de voleibol da época, a Vera Mossa. Foi uma época em que eu comecei a olhar pra várias direções, sem saber que rumo tomar na carreira. Eu me tornei sócio de um pequeno restaurante chamado Delírio Tropical, hoje uma cadeia com 10 unidades, e tava gostando de empreender. Eu continuava jogando pra complementar a renda, mas já caminhando pro final da minha trajetória como atleta. 

Só que um convite inesperado mudou os meus planos. Uma amiga, ex-jogadora, Dulce Thompson, me telefonou e perguntou se eu queria treinar o time feminino do Perugia, na Itália. Era uma equipe que estava em último lugar no campeonato italiano. Eu me perguntei: “Como? Eu nunca treinei ninguém”. E ela respondeu: “Mas você tem tudo pra isso. Você conhece o voleibol, tem capacidade de liderança, é perfeccionista, chato, cricri”. Enfim, foi uma daquelas bifurcações que de repente mudam a direção de nossas vidas.

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Meus anos de Perugia foram muito duros, mas ricos demais. Eu aprendi uma nova cultura, aprendi a liderar um grupo de mulheres, aprendi o que é ser um treinador. Mais do que isso, estava aprendendo a ser um líder. Treinador tem a ver com questões técnicas, mas o líder, tem a ver com questões humanas.

Eu lidava com meninas de 16 anos, muito jovens, e com atletas campeãs ao mesmo tempo. Foi também a minha primeira experiência liderando uma pessoa da minha família, porque a Vera Mossa veio reforçar o meu time. Mas eu precisava fazer dar certo. Eu queria provar que aquela loucura de ser treinador ia dar certo. 

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Ao final de três anos, o Perugia não só se salvou do rebaixamento, como foi vice-campeão do campeonato italiano por duas vezes e campeão da Copa Itália. Depois dessa experiência na Europa, eu recebi o convite para assumir a seleção feminina brasileira. Era uma geração desacreditada. Mas tinha um monte de talentos. Fernanda Venturini, a grande levantadora, Ana Moser, uma super  atacante, Marcia Fu, Ana Paula, Ana Flávia, enfim, muitos nomes fortes. Mas elas não ganhavam títulos. O problema da equipe é que não existia um compromisso único, um propósito em comum. Os valores estavam desalinhados. Do ponto de vista pessoal e financeiro, também não estava fácil pra mim, porque eu tinha me separado. Enquanto eu me reerguia, eu trabalhava pra unir as jogadoras e criar um time.

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Às vezes eu ia pelo caminho do sofrimento. A dor une as pessoas. As atletas se uniam para resistir àquele treinador louco que gritava com elas. Não tenho dúvida que, em alguns momentos, eu passei do ponto. E, quando eu passei, eu pedi desculpas. Isso aconteceu, por exemplo, num treino para as Olimpíadas de Atlanta de 96. Nós jogamos um amistoso contra uma equipe masculina no ginásio do Maracanãzinho. O time vinha jogando bem, mas nesse amistoso jogou muito, muito mal. Eu fiquei enlouquecido, explodi várias vezes.

Eu fui pra casa e lembro que nesse dia eu estava sozinho com o Bruno. Ele era uma criança de uns 10 anos. Eu fiquei refletindo sobre a partida. Por que será que elas tinham jogado tão mal? Daí me dei conta que elas tavam cansadas, vinham de uma sequência de treinamentos duros. Existiam alguns elementos que eu não estava levando em consideração.

No dia seguinte, elas iam malhar, não tinha treino com bola. Eu nem ia aparecer no centro de treinamento, até para elas poderem descansar um pouco de mim. Mas eu peguei minha bicicleta e fui. Quando elas me viram, fizeram aquela cara de susto, tipo: “hm, lá vem ele…”. E eu então disse: “Ontem eu explodi com vocês e quero me desculpar em público. Eu errei na forma, mas não na intenção. A minha intenção era tirar o melhor de vocês. Eu sei que ontem vocês não estavam conseguindo por N motivos, mas deram o melhor que tinham. Eu não percebi e cobrei de uma forma exagerada”. Elas se olharam, e nós seguimos. Isso aconteceu algumas vezes. 

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Eu treinei a seleção feminina por 7 anos. Foi nesse período que eu conheci a minha segunda esposa, Fernanda Venturini. Nossa relação profissional no começo era conflituosa. Eu era exigente demais com ela, eu reconhecia um enorme talento naquela atleta. Com o tempo, fui reconhecendo que estava exagerando um pouco na cobrança. Ela foi admitindo que deveria se entregar mais pro grupo. Eu costumo dizer que eu briguei tanto com a Fernanda pra transformá-la numa atleta mais completa, que acabei me casando com ela. Juntos, nós tivemos duas filhas, a Júlia e a Vitória.

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No ano 2000, após as Olimpíadas de Sydney, aceitei o convite para ser técnico da seleção brasileira masculina. O tempo é realmente um professor incrível. Com ele, eu aprendi a dosar a cobrança sobre os jogadores, como foi com a Fernanda.

O meu termômetro são os atletas, aqueles atletas que são referências, que aguentam o rojão. Como um Serginho, um Bruno, um Giba, um Murilo. Quando um desses caras fica calado, cabisbaixo, sem energia… Opa, atenção! Esses jogadores estão com você em qualquer situação, mas eles mudam de atitude se interpretam que você está pegando pesado demais. Eu avalio muito os sinais que eles e elas nos emitem.

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Nos meus últimos anos à frente da seleção masculina, eu tive que mudar ainda mais o meu jeito de interagir com o time. Em 2012, nós fomos vice-campeões olímpicos em Londres. Em 2014, vice-campeões mundiais após um tricampeonato mundial. Aquela geração tinha uma expectativa enorme sobre ela que a medalha de prata parecia uma desgraça. Aquela geração, ela não ganhava prata, ela perdia o ouro. Até que um dia, em 2015, o Bruno, meu filho, atleta e capitão da seleção, bateu no meu quarto e pediu pra conversar. Ele veio falando que “nós” precisávamos mudar. Mas o que ele realmente queria dizer é que “eu”, o treinador, precisava mudar. Ele explicou que aquela geração era diferente. Nem melhor nem pior que as anteriores, só diferente. 

Eu, do alto da minha arrogância, pensava que, se eu tinha vencido tudo, aqueles garotos que se adequassem a mim. Só que não é assim. E o Bruno me disse: “Nós precisamos encontrar um caminho para que você se conecte com eles e consiga extrair o melhor de cada um. Se você não mudar a forma de lidar, nós vamos continuar no ‘quase’. O time tem um respeito reverencial por você. E você continua na base da pressão, pressão, pressão, porque foi uma metodologia que deu certo com a geração anterior”.

Ele tinha razão. O Bruno me deu mais uma lição de humildade. Mais uma na minha carreira. Eu, que insisto tanto pros jogadores não se deixarem levar pela vaidade, tinha sido vítima dela. Tem aquela frase do filme “O Advogado do Diabo”, em que o demônio diz: “A vaidade é o meu pecado favorito”. O ego é o inimigo das boas decisões que nós devemos tomar. 

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Eu baixei a bola e fui buscando formas de interagir com os jogadores. Eu finalmente consegui me conectar com eles durante as Olimpíadas do Rio, em 2016. Nos dias de folga, a gente jantava num dos nossos restaurantes do Delírio Tropical, ali na Barra da Tijuca, perto de onde nós treinávamos. Eu trouxe as famílias para jantar conosco: os pais, as esposas, os filhos, sogras. Durante 1 hora e meia, nós jantávamos e eu ajudava a servir os jogadores e as suas famílias. Aí eu passei a conhecer as famílias, a mãe de um, fazia um carinho no filho do outro. Ou seja, foi criada uma dimensão mais humana no grupo. Eles deixaram de me ver apenas como um louco que obriga todo mundo a acordar mais cedo para treinar.

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Eu acredito que o desconforto gera crescimento, então provocar um certo desconforto é interessante. Mas não pode ser demais, senão a corda arrebenta. 

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Essa pequena iniciativa dos jantares gerou números, porque o objetivo não era só ser bonzinho, simpático, popular, era melhorar o desempenho. E nós ganhamos a medalha de ouro.

A foto mais bonita que eu tenho da minha carreira são meus três filhos abraçados depois que ganhamos a medalha de ouro. O Bruno tá de costas. A Júlia, a do meio, tá com a cabeça debruçada no ombro dele. E a Vitória, a caçula, espremida entre os irmãos, como um sanduíche, chorando. Ver uma menina de 7 anos chorando de emoção não é algo muito comum. As duas realmente se sentiam parte do time naquela conquista.

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Recentemente, eu recebi um convite, um desafio gigantesco de treinar a seleção masculina da França visando as Olimpíadas de Paris em 2024. Durou poucos meses. Eu, que tinha acabado de me separar da Fernanda, pedi demissão do cargo por razões familiares. Eu costumo dizer que na vida todos nós tomamos uma série de decisões e essas decisões têm que estar pautadas em três pilares fundamentais: o primeiro é a saúde, sem a qual não cuidamos das outras duas, que são: família e trabalho. A saúde física, a saúde emocional para que a gente possa realmente estar bem, tomar boas decisões e cuidar da nossa família e do nosso trabalho. Sair da seleção da França e desistir daquele processo eu estava realmente priorizando aquilo que muitas vezes não foi minha prioridade, e erros que eu cometi durante a minha carreira.

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As pessoas enaltecem as minhas conquistas, e ok, que foram significativas. Mas, ao longo da minha vida, eu errei muito mais do que acertei. Para tomar decisões certas, eu cometi erros que me trouxeram muita experiência. Errar dói, mas traz aprendizados. Com o tempo, nós percebemos o quão pouco nós sabemos. 

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Hoje, eu me sinto um aprendiz, um aprendiz assustado. Eu tenho um certo temor de não conseguir aprender tudo que eu gostaria de aprender para me adequar a um mundo em constante transformação. Mas eu continuo tentando. No fundo, eu continuo o mesmo garoto inquieto que começou a jogar vôlei nas areias de Copacabana. 

O que eu preciso fazer pra alcançar o que eu quero? O meu espírito curioso e dedicado continua o mesmo, o mesmo.

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Geyze Diniz: Nossas histórias não acabam por aqui. Confira mais dos nossos conteúdos em plenae.com e em nosso perfil no Instagram @portalplenae.


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Desmistificando conceitos: o que é resiliência e plasticidade?

Amplamente usado nos dias de hoje, o conceito físico e literal de resiliência é pouco conhecido – assim como o de plasticidade. Entenda mais sobre o assunto

25 de Novembro de 2020


A nossa primeira convidada da terceira temporada do Podcast Plenae - Histórias Para Refletir foi a jornalista Veruska Boechat , viúva do jornalista Ricardo Boechat. A “doce Veruska” como era apelidada pelo mesmo e conhecida pelo Brasil, viu seu mundo ruir em fevereiro de 2019, com o acidente súbito que custou a vida de seu marido, companheiro, melhor amigo e pai de suas duas filhas.

Mais do que contar o antes, durante e depois desse acontecimento, Veruska fala principalmente do seu interior e da jornada de força e autoconhecimento que desenvolveu ao enfrentar esse luto tão intenso e pessoal sem deixar os outros aspectos de vida desandarem também.

Outras histórias de superação também já passaram por aqui. Um exemplo disso é o quinto episódio da segunda temporada do Podcast Plenae - Histórias Para Refletir, que trouxe a narrativa de Rodrigo Hübner Mende s e a forma como ele encontrou de conviver e aprender novamente a reconhecer seu próprio corpo.

E o que ambos - assim como outros - têm em comum, apesar de terem sido acometidos por males diferentes? A resiliência e a plasticidade.

A resiliência

Em uma palestra em Davos ministrada por Rodrigo Hübner, ambos os termos foram citados, como em várias outras situações de sua vida. “Como você sabe, resiliência é um conceito da física que diz que, na natureza, alguns materiais têm a capacidade de retornar ao seu estado original após sofrerem uma deformação ou um impacto” explica ele.

O conceito, conhecido como “bouncing back” pelos americanos, explicaria o movimento de uma bola de borracha, por exemplo, que, quando arremessada contra uma parede, ela é capaz de se deformar e recuperar sua forma rapidamente.

“Quando subi no palco, o entrevistador me perguntou: Rodrigo, sabendo que a história da humanidade é marcada por crises cíclicas, você acha que é possível aplicar o conceito de resiliência para superação dessas crises?” conta ele. Sua resposta, entretanto, foi surpreendente.

“Eu pessoalmente acredito que, diante de uma mudança imposta, a tendência humana é querer voltar à situação anterior. Senti isso na pele logo depois do meu acidente. Passei 3 anos fazendo 8 horas por dia de fisioterapia para voltar a ser quem eu era. Ou seja, um jovem fisicamente independente” diz.

Mas será que isso é possível, ou melhor, será que isso é saudável? Rodrigo também responde essa. “Hoje eu percebo que a resiliência é uma capacidade fundamental para nossa essência e propósito de vida. Quer dizer, seja qual for o impacto, a ruptura que surgir na nossa frente, a gente precisa ser capaz de preservar, de proteger nosso objetivo maior”.

Se para garantir a nossa essência, a resiliência é o caminho fundamental para isso, por que ainda é tão difícil fazer isso de forma prática? “Quando a gente pensa na nossa ação, eu prefiro usar um conceito que é o oposto da resiliência: a plasticidade”.


A plasticidade

Plasticidade, ainda bebendo de fontes científicas, “é a capacidade de um material se moldar, se transformar, se desprender da forma anterior” diz ele. “Resumindo, eu propus que as lideranças lá presentes buscassem combinar resiliência do propósito com plasticidade da ação . Que deixassem para trás o ‘bouncing back’ e começassem a pensar em ‘bouncing forward’”.

E o que isso significa afinal? Tomando a explicação do empreendedor social e ativista da inclusão social, é preciso que tenhamos resiliência para garantir que, independente do que nos aconteça, nossa essência jamais seria deformada, ou seja, voltaria à sua forma normal.

Mas, para lidar com as novas situações da vida, é preciso ter plasticidade, ou seja, esse poder de se adaptar e se moldar ao que for de forma orgânica, mesmo após seremos submetidos à uma intensa pressão.

Assim como resiliência, conceito amplamente divulgado e conhecido hoje em dia, a plasticidade também vem ganhando notoriedade. A neuroplasticidade, que é a capacidade do cérebro de desenvolver novas conexões entre os neurônios a partir do comportamento e do estímulo do indivíduo, vem sendo cada vez mais estudada por especialistas - sobretudo no campo da educação e da senescência.

E você, acredita ser capaz de manter uma postura de resiliência e plasticidade ao mesmo tempo? Não se esqueça de que as adversidades da vida sempre irão existir, mas cabe a você decidir como lidará com elas.

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