Para Inspirar

Desmistificando conceitos: as culturas indígenas modernas

O que mudou e quais são os velhos preconceitos que devemos deixar para trás quando o assunto é cultura indígena? Saiba mais!

19 de Abril de 2022


Hoje, dia 19 de abril, comemora-se o Dia do Índio. A data nasceu inspirada em um protesto dos povos indígenas do continente americano ainda na década de 1940, quando um congresso organizado no México se propôs a debater medidas para proteger os índios no território, segundo a BBC.


Nesse dia, é comum ver escolas pintando seus alunos e os enfeitando com cocar. Instituições mais sérias também acabam se mantendo nesse mesmo lugar, de uma celebração superficial de certa forma. Isso porque enquanto estamos celebrando a beleza indígena focados apenas em seus adereços, a comunidade vai perdendo cada dia mais os seus direitos.


A pesquisa “Narrativas ancestrais, presente do futuro”, publicada nesta quarta-feira (13) pela Amoreira Comunicação e também publicada pelo jornal Nexo mostrou, depois de mais de 350 entrevistas - de lideranças indígenas a eleitores conservadores - que a questão indígena ganhou alcance no debate público com a valorização do discurso ambiental e a emergência de lideranças, pensadores e artistas. Mas também mostra que as percepções sobre esses povos são muito distintas, e falta conhecimento sobre o tema para uma parcela da população.


De acordo com o Censo 2010, no Brasil existem, aproximadamente, 897 mil indígenas. Entre essas pessoas, cerca de 517 mil vivem em terras indígenas. Existem hoje 305 etnias e 274 línguas indígenas. A maioria dos indígenas brasileiros não falam a língua indígena (57%).


O indígena hoje 


O fato de o último Censo ter sido feito há 12 anos já demonstra um pouco do descaso que os últimos governantes têm tido com a causa, afinal, em mais de uma década, esses números tidos como oficiais já devem ter mudado. Além disso, a questão territorial está cada dia mais em pauta. 


Há muitas tensões entre o governo atual, regido pelo presidente Bolsonaro, e os indígenas. A BBC, novamente, pontuou ao menos 5 neste artigo - e ainda trouxe a vontade que têm pulsado entre eles de ocupar mais cadeiras no Congresso Nacional.


Mas o que nós, enquanto sociedade, podemos fazer para estarmos mais atualizados e deixarmos os preconceitos de lado quando o assunto é a cultura indígena? Segundo a cantora e jornalista Djuena, é preciso, antes de mais nada, parar de tratar todos os povos como um só, porque isso interfere na individualidade de cada um, além de minar a riqueza que se pode encontrar dentre esses tantos. 


“O que a gente ainda vê é que as pessoas enxergam os povos indígenas como se fôssemos todos iguais. Mas não é assim, há muita diversidade, somos 305 povos no Brasil, sendo falada mais de 200 línguas. Cada um tem sua especificidade, sua particularidade, sua cultura, seus cantos, seus rituais. Mas nós temos uma única coisa em comum: a nossa luta pelo nosso território”, diz.


Djuena, que já apareceu aqui no Plenae, em uma participação no Plenae Drops, tem 38 anos e pertence ao povo de Tikuna, conhecidos também como povo da Magüta. Ela nasceu na aldeia chamada Aldeia Umariaçu II, já na fronteira entre Colômbia e Peru, no município de Tabatinga, a 1107 km de Manaus. 


“Até hoje, em algumas comunidades, nós continuamos fazendo nossos rituais, que é o ritual da moça nova. E a gente acredita muito nessa cultura, que é essa força que eu enquanto cantora carrego dentro de mim. Eu ouço as histórias, sendo contada pelos mais velhos e esse é o caminho que eu continuo seguindo, tenho muita fé na minha cultura. Apesar da igreja ter chegado nas comunidades, assim como em todas as comunidades indígenas do Brasil, ainda mantemos muito nossa identidade graças aos nossos avós que ainda estão firmes, mantendo viva a tradição, a cultura e o ritual”, diz.


Enquanto cantora, ela sente o preconceito na pele por não ser chamada para expor sua arte em grandes locais, a menos que ela mesma faça essa movimentação. “Eu canto na minha língua materna, que é uma língua indígena. Eu não tenho espaço pra mostrar o meu canto, mas no momento em que eu cantar em português, eu vou ter mais espaço para certos festivais, certos lugares”, conta.


As redes sociais e os indígenas


Hoje, ela conta que já conseguiu organizar um movimento cultural de ocupação no Teatro Amazonas, que não recebia a cultura indígena há muito tempo. Em 2017, ela lançou seu primeiro disco solo por lá. E, graças às redes sociais, Djuena consegue mostrar ainda mais do seu trabalho e chamar atenção.


Isso tem sido comum entre eles: resistir e mostrar sua resistência por meio de suas contas nas mais diversas plataformas. “Hoje, com as redes sociais, a gente divulga mais a nossa cultura. Eu sou jornalista, por que eu não posso criar um portal de notícias indígenas? Hoje tem muito influencer digital também mostrando suas culturas. E é preciso, porque em vários espaços há preconceito. Ainda tem muito essa questão de que as pessoas enxergam nós como inferiores e não como protagonistas de nossa própria história”, diz.


Esse movimento ganhou ainda mais força com a pandemia, que obrigou inclusive os povos indígenas a se manterem reclusos em seus territórios, por motivos sanitários. Afinal, há muitos povos que estão instalados longe de capitais ou de qualquer outro contato rápido com atendimento médico, o que poderia dificultar e até dizimar centenas de pessoas caso houvesse contração do coronavírus.


O próprio povo de Tikuna, etnia da Djuena, teve contato com um médico que contraiu o coronavírus, ainda em 2020, marcando a primeira vez que foi registrada no Brasil a possibilidade de o coronavírus ter infectado povos indígenas. E é por isso que eles, assim como todo o resto do Brasil - e do mundo! - recorreram às mídias sociais para continuar a ter contato com a sociedade e expor suas ideias e lutas.


“A pandemia chegou com tudo né, deixando todo mundo em casa. E aí, como é que nós vamos fazer nossa luta? Se não fizermos, ninguém fará por nós. E aí nós nunca tínhamos espaço pros nossos movimentos, porque dessa vez, tínhamos que ficar em casa. E a pandemia colocou todo mundo online, a partir daí só aumentou o que já vinha acontecendo, já existia a mídia índia, uma rede de comunicadores indígenas, entre outras redes. A partir daí, começamos a nos organizar melhor”, conta Djuena.


O que não fazer/falar


O primeiro preconceito a ser deixado de lado, então, é justamente a ideia de que índio não tem celular ou não usa tecnologia. Isso é mentira, afinal, não é porque sua cultura e rituais são diferentes que eles não estão inseridos no século XXI. O próprio termo “índio” também caiu em desuso, dando espaço ao termo “indígena”, que usamos ao longo deste artigo.


Ao G1, o doutor em educação pela Universidade de São Paulo e pós-doutor em Linguística pela Universidade Federal de São Carlos, Daniel Munduruku explicou que a palavra "índio" remonta a preconceitos - por exemplo, a ideia de que o indígena é selvagem e um ser do passado - além de "esconder toda a diversidade dos povos indígenas". 


Vale lembrar que também foi um termo cunhado pelos colonizadores, que tanto exploraram esses povos. "A palavra 'indígena' diz muito mais a nosso respeito do que a palavra 'índio'. Indígena quer dizer originário, aquele que está ali antes dos outros", defende Munduruku. 


"Tribo", como explicou o jornal Alma Preta, também vêm sendo questionado pelos povos originários, já que a palavra também foi criada pelos colonizadores e reduz a pluralidade de cerca de 1.000 etnias indígenas que existiam no país na época do “descobrimento”. É preferível usar “povos”, “aldeia” ou “comunidade”.


Expressões como “programa de índio”, tratar a “cultura” dos indígenas no singular e não no plural, acreditar que eles não trabalham só porque o trabalho deles se dá de forma diferente da nossa, dizer que eles são “sustentados pelo governo” ou “atrasados na cultura”, e pior, achar que está sobrando terra - tudo isso é ofensivo, violento e errado, como explicou José Neto em um vídeo para o Governo do Pará e também o artigo do Ensinar História.


Por fim, perpetuar a crença preconceituosa de que indígenas não fazem nada além de cultivar as terras é também errado. Apesar de eles ainda serem os grandes guardiões de nossas florestas e protegê-las da exploração, os indígenas hoje já são médicos, advogados, artistas, políticos e jornalistas, como a própria Djuena. 


“A gente pode ser o que a gente quiser e as pessoas têm que aceitar isso. Porque afinal, como diz a Sônia Guadalajara, nossa grande líder, o Brasil inteiro é uma terra indígena. Então a gente tem que rever os nossos conceitos, a história de tudo como aconteceu, a colonização fez essas pessoas pensarem que o índio tem que estar no lugar dele. Mas não. A gente pode estar onde a gente quiser”, conclui. 

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Para Inspirar

João Carlos Martins em “O monstro voltou”

Na quarta temporada do Podcast Plenae - Histórias para Refletir, conheça a história de superação do maestro João Carlos Martins

11 de Abril de 2021


Leia a transcrição completa do episódio abaixo:

[trilha sonora]

João Carlos Martins: A pior coisa que aconteceu na minha vida foi perder as mãos pro piano. E a melhor coisa que aconteceu também foi perder as mãos pro piano. Sobraram dois polegares atrevidos. Sobraram também os braços, os olhos, o coração, o cérebro, a fé, que me permitem continuar transmitindo emoção através da música.

[trilha sonora]

Geyze Diniz: Desde a juventude, acidentes e doenças atingiram o pianista João Carlos Martins em seu ponto mais sensível: as mãos. Sua vida é marcada por uma jornada de sucessos na carreira, intercalada por inúmeros tratamentos para contornar os problemas de saúde. Só de cirurgias foram 24. Quando os médicos lhe disseram que não poderia mais ser pianista, aos 63 anos, João Carlos Martins se reinventou como maestro. Nessa temporada, ele conta sua trajetória de luta pelo direito de continuar fazendo o que mais ama: a música. Ouça no final do episódio as reflexões da especialista em desenvolvimento humano, Ana Raia, para te ajudar a se conectar com a história e com você mesmo. Eu sou Geyze Diniz e esse é o Podcast Plenae. Ouça e reconecte-se.

João Carlos Martins: Eu herdei do meu pai, José, a paixão pelo piano. Ele sonhava ser pianista, mas nunca pôde realizar o desejo. Quando ele tinha 10 anos, sofreu um acidente na gráfica onde trabalhava, em Portugal. Uma prensa de tipografia decepou o dedo mindinho. Mas ele continuou fascinado pelo instrumento e pela música clássica. Nós chegamos a ter sete pianos em casa, três de cauda inteira. Eu ganhei o meu aos 8 anos de idade. Comecei a fazer aulas e, seis meses depois, venci um concurso nacional tocando obras de Johann Sebastian Bach. Parecia que eu levava jeito. Mas eu acredito que o dom de Deus só responde por 2% do sucesso profissional de uma pessoa. Os outros 98% são resultado da disciplina e persistência. E isso eu tive. Até demais. Na minha busca pela perfeição, eu exagerei nos estudos. 

Eu tocava escondido com um peso de 1 quilo pendurado em cada braço, pra aumentar a força e a velocidade. Era como um atleta que queria melhorar o desempenho. Aos 11 anos, passava 6 horas por dia no piano, contrariando o conselho do meu professor, o russo José Kliass. Aos 18, chegava a estudar 14 horas por dia, tentando fazer os meus dedos deslizarem nas teclas com o peso certo. Mas eu pagaria um preço pela minha obsessão. [trilha sonora] De todos os problemas de saúde que eu teria na vida, o mais difícil começou a se manifestar nessa época. Eu percebi que tinha algo errado com as minhas mãos no fim de um recital no Teatro Municipal de São Paulo. Toquei músicas de Bach, que se tornou a minha especialidade, e o concerto foi perfeito. O teatro estava lotado, e o meu professor queria que eu desse um bis. Mas eu sabia que, se eu tocasse, o som não sairia tão perfeito. A partir daí, comecei perceber que, no fim do dia, eu tinha movimentos involuntários nas mãos. De manhã, mandava brasa no piano. Conforme as horas iam passando, não sentia o mesmo conforto. Lá pelo começo dos anos 60, eu procurei um médico e ele falou que a causa era psicológica ou excesso de estudo. Não era bem isso. Na verdade, já eram sintomas da distonia focal, uma doença que causa movimentos involuntários, no meu caso, nas mãos. É um problema de origem cerebral, parecido com o Parkinson. Mas, a ciência só descobriria essa informação nos anos 80. O remédio que eu adotei foi transformar o horário do concerto no horário que eu acordo. Então, eu pedia pra ter um sofá no camarim. Eu ia pro teatro lá pelas 3 horas da tarde e dormia até 10 minutos antes do concerto. Quando eu ia pro palco, me sentia como se fossem 6 horas da manhã e tocava como um leão.

[trilha sonora]

Assim, fui levando sem nunca ter nenhum problema durante uma apresentação, até sofrer um acidente em uma partida de futebol. Era o verão de 1965, eu estava em Nova York e vi os jogadores da Portuguesa, o meu time do coração, treinando no Central Park. Fiquei empolgado e me aproximei. O técnico me convidou pra participar do bate-bola. Num lance bobo, caí em cima do braço direito. Uma pequena pedra se alojou perto do cotovelo e afetou as ligações dos dedos, o chamado nervo ulnar. Um mês depois dessa queda, o dedo médio, o mindinho e o anular da mão direita começaram a atrofiar. Além da distonia, agora tinha mais essa. Eu fiz uma cirurgia no New York University Hospital e consegui uma solução paliativa. Passei a usar dedeiras de aço pra tocar. Em algumas apresentações, eu apertava tanto essas dedeiras, que as teclas ficavam manchadas de sangue. Por mais que eu me esforçasse, não conseguia obter os mesmos resultados de antes. O prazer tinha virado sofrimento. Pela primeira vez, o New York Times fez uma crítica negativa sobre o meu trabalho. Eu falei pro meu empresário: “O New York Times tá certo. Eu não tenho mais o perfeccionismo que eu tinha antes. Música tem que ser tocada com perfeição”. Entrei numa depressão profunda. Passei a perceber as minhas limitações e a minha mente ficou dispersa.  [trilha sonora]

Um dia, eu entrei na banheira do meu apartamento em Nova York com uma gilete. Estava decidido a pôr fim na minha vida.  [trilha sonora] Na hora que pisei na banheira, o telefone começou a tocar. Tocava, tocava, tocava. Eu decidi atender. Era o meu antigo professor, ligando do Brasil. Ele disse: “João, eu sei que você tá com problemas com a mão direita. Mas tem muito repertório pra mão esquerda”. Desliguei o telefone e joguei a gilete fora. Decidi abandonar o piano, mas não a vida.  [trilha sonora] Cancelei todos os concertos e voltei pro Brasil. Eu sentia uma revolta enorme dentro de mim. Não queria mais saber de música. Decidi trabalhar com algo que não tivesse nada a ver com esse universo. Encontrei rapidamente o Éder Jofre, lutador de boxe, no prédio do meu pai. Ele também morava lá. Eu falei pra ele: “Éder, você tem que recuperar o título mundial pro Brasil. Se você quiser, eu patrocino a sua luta”. Ele respondeu: “Eu já tô com 37 anos, esquece”.  No dia seguinte, surpreendentemente, ele me telefona e fala: “Vou começar a treinar”. Eu não entendia nada de boxe. Mas comecei a entrar em contato com esse mundo e marquei umas lutas pra ele. E não é que ele ganhou o bicampeonato mundial? Foi em uma luta de 15 assaltos, em Brasília, contra o cubano José Legra. Quando eu vi o juiz levantar a mão do Éder, eu falei pra mim mesmo: “Se esse homem conseguiu recuperar o título com 37 anos, quem disse que eu não sou capaz de voltar a tocar piano?” E recomecei a sonhar.  Fiz mais cirurgia, comecei fisioterapia e voltei a estudar, primeiro num teclado mudo, depois no piano. Recuperei a musculatura dos três dedos atrofiados e me livrei das dedeiras de aço. Passei a fazer recitais em conservatórios de cidades de 20, 30 mil habitantes no interior do Brasil. Era um jeito pra recuperar a prática no palco. Telefonei pro meu empresário em Nova York e falei: “Tô de volta”. Ele disse: “Mas o público já se esqueceu de você”. Eu retruquei: “Escuta: the monster is back”.  [trilha sonora] O meu empresário marcou um concerto no Carnegie Hall e me alertou: “Vai estar vazio”. Era 1978 e fazia 7 anos que eu não tocava naquele palco. No dia do concerto, quando eu estava chegando no Carnegie Hall, vi uma fila enorme. Perguntei pro taxista: “O que tá acontecendo?” Ele falou: “Não sei qual é o raio do pianista que vai tocar hoje que parou o trânsito”. Eu falei: “Sou eu!”

Os 2.800 lugares estavam esgotados. O Carnegie Hall foi obrigado a colocar mais 300 pessoas do lado do piano. O sucesso foi imenso. Depois do concerto, uma das maiores gravadoras do mundo me convidou pra gravar a obra completa de Johann Sebastian Bach pra teclado. Eu levei 17 anos pra concluir a gravação das cerca de 400 peças contadas isoladamente. Até hoje, é a única que existe no mundo.  [trilha sonora]

A última etapa do trabalho aconteceu em Sófia, na Bulgária. O ritmo da gravação era exaustivo. Eu saía do estúdio e ainda ia estudar piano na casa de uma amiga, das 8 às 10 horas da noite. Eu gostava de voltar a pé pro hotel, em uma caminhada de 1 quilômetro e meio. Uma noite, nesse trajeto, fui assaltado por dois ciganos. Um deles me bateu com uma barra de ferro da cabeça, me causando uma lesão cerebral.

A pancada rompeu a ligação entre o cérebro e, adivinha, a mão direita. Afetou também o hemisfério da fala. Se eu falava por meia hora, chorava de dor. Até hoje eu tenho essa dor, mas na época, era insuportável. Fiz tratamento por mais de um ano e só consegui voltar a tocar piano à base de morfina. Não tive escolha e passei por uma cirurgia que cortou o nervo do braço direito. A dor acabou e eu perdi a mão direita.  Ainda consegui tocar só com a esquerda por alguns anos, até que a distonia afetou esse lado também. Quando eu tinha 63 anos, os médicos me disseram que eu não poderia mais tocar profissionalmente. A medicina não tinha mais nada a fazer por mim, era o fim da linha. [trilha sonora]

No dia em que eu recebi a notícia, parecia que o mundo tinha caído sobre a minha cabeça. Eu me lembro de caminhar 10 quilômetros, pensando o que eu iria fazer. Mas a minha vida é uma história de reinvenção. E eu sonhei com o maestro Eleazar de Carvalho, dizendo pra mim: “Jão”. Ele me chamava de Jão. “Vai estudar regência”. Às 7 horas da manhã seguinte, eu estava na porta de uma faculdade pra começar a minha carreira de maestro.

[trilha sonora]

O piano se tornou secundário na minha vida profissional. Descobri que a regência me sacia musicalmente e realiza a minha necessidade de palco. Comecei a entender o significado da responsabilidade social e iniciei a Orquestra Bachiana Filarmônica do Sesi São Paulo. É um projeto que trouxe milhares de crianças e jovens pro universo da música clássica.

 

Há um ano e meio, apareceu na minha vida um designer de produto com uma luva biônica. Ubiratan Bizarro é seu nome. Graças a ela, eu posso encostar novamente os dez dedos no piano. Só no ano passado saiu na imprensa internacional mais de 6 mil artigos sobre esse velho maestro. 

A luva dá conforto, mas não é a solução definitiva. A minha missão agora é aproveitar o alcance que eu tenho para liderar uma campanha unindo música e medicina. Como o homem pode ser capaz de fotografar uma pedra em Vênus e não descobrir qual é o ponto do cérebro para curar distonia e Parkinson? Eu vou dedicar a minha vida até o apagar das luzes, pra tentar ajudar a ciência a encontrar a cura pra essas pessoas.

Quando eu olho pra minha história, vejo claramente que nada foi por acaso. Conheci vales profundos e altas montanhas, como qualquer ser humano. Se eu me levantei após todas as quedas, é porque eu acredito numa força superior e numa força interior com a mesma intensidade. Qual intensidade? A intensidade da esperança!

[trilha sonora]

Ana Raia: A experiência de uma vida real e com inteireza não é composta apenas de eventos bons e alegres. A experiência de uma vida em sua máxima potência inclui todos os tipos de acontecimentos e é conduzida pela curiosidade, pela coragem de seguir paixões, pela garra, resiliência, pelo comprometimento com o crescimento. E essa vida plena e inteira só se dá com flexibilidade para mudar a rota, quando assim for necessário. A vivência do maestro João Carlos Martins exemplifica o que eu disse até agora. No meu ponto de vista, a vida é generosa com o João. Dá a ele bênçãos e sinais. Ele nasce com o dom e a paixão pela música. Com muito esforço, disciplina e persistência, transforma esse talento em excelência e ganha o sucesso, o reconhecimento, ele ganha um sentido pra viver. Mas aí, em um dado momento, a vida lhe tira o meio para dar ritmo e cadência a essa paixão, ao propósito dele. O maestro diz que conheceu vales profundos e altas montanhas. Eu digo que a vida é movimento, é impermanência, é mudança. O João sabe bem disso e dançou conforme a música, mas com protagonismo. Ele recebeu muitos nocautes da vida, mas sempre escolheu levantar, porque a vida não é sobre não cair, é sobre saber levantar. João escolhe viver sua travessia olhando as adversidades como convites para aprender, para se conhecer, evoluir e explorar novos caminhos. Por isso, eu digo: a vivência de João Carlos Martins é sobre viver de peito aberto, mudando o que é possível, aceitando o que não é, mas sempre dançando com a vida. Faça como o João. Dance. E seja protagonista da sua vida.

[trilha sonora] Geyze Diniz: Nossas histórias não acabam por aqui. Confira mais dos nossos conteúdos em plenae.com e em nosso perfil no Instagram @portalplenae. [trilha sonora]

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