Para Inspirar

Fernanda Lima em “Corpo livre, mente aberta”

Na quinta temporada do Podcast Plenae - Histórias para Refletir, Fernanda Lima conta como encontrou-se depois de tanto procurar-se

11 de Julho de 2021


Leia a transcrição completa do episódio abaixo:

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Fernanda Lima: Meus pais são educadores físicos e me incentivaram a mexer com o corpo desde que eu me conheço por gente. Eu experimentei um monte de modalidades, sem me especializar em nenhuma. Joguei no time de vôlei da escola, fiz ginástica olímpica, ginástica rítmica, natação, patinação, futebol, handebol, balé, surfe… Passei a infância e a adolescência pulando de galho em galho. Mas eu já era adulta quando conheci a atividade que transformou mais do que meu corpo, a minha mente: a yoga.

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Geyze Diniz: Famosa apresentadora de TV, bonita por natureza e capa de revista desde os seus 14 anos, Fernanda Lima descobriu o sucesso quando ainda era uma menina. Mas foi ao amadurecer que conseguiu encontrar a real beleza da sua felicidade, através da yoga. 

Conheça a história de autoconhecimento, resiliência e, acima de tudo, conexão entre corpo e mente, de Fernanda Lima. Ouça, no final do episódio, as reflexões do rabino Michel Schlesinger para te ajudar a se conectar com a história e com você mesmo. Eu sou Geyze Diniz e esse é o Podcast Plenae. Ouça e reconecte-se. 

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Fernanda Lima: No começo da década de 90, todas as meninas queriam ser modelo. Eu não. Aos 14 anos, eu era BEM moleca, não gostava de me arrumar e me achava assim um pouco sem graça fisicamente. Eu me via como uma adolescente qualquer, de cabelo e olho castanho e rosto comum. Mas eu tinha uma vizinha, em Porto Alegre, que queria participar de um concurso de modelo. Ela, sim, levava jeito. Ela parecia a Barbie. Pra mim, já era a vencedora. Então eu fui com ela ao shopping, pra fazer a inscrição no concurso. Mas quando a gente chegou lá, perguntaram se EU não ia me inscrever também. Eu falei: “Não, de jeito nenhum, só vim acompanhar a minha amiga”. 

Mas eles insistiram. Disseram que eu tinha tudo a ver com a moda, para eu chamar meu pai pra ele me autorizar a participar do concurso, já que eu  era menor de idade. Eu achei aquilo tudo uma loucura, mas acabei voltando lá com o meu pai e eles convenceram o meu pai de que eu tinha potencial e assim eu fui inscrita. 

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Embora eu morasse numa capital, eu me sentia um bicho do mato naquele universo das modelos. Eu olhava pras outras candidatas e pensava: “Eu sou a mais nada a ver”. As meninas eram muito magras, muito altas, tinham olhos azuis, cabelos compridos, vestiam roupas super da moda. Eu achava que elas olhavam pra mim e não entendiam o que tava fazendo lá. E acabou que eu ganhei a seletiva em Porto Alegre e cheguei na final, em São Paulo. O meu prêmio foi sair na capa da revista Capricho

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As coisas na vida acontecem de um jeito que a gente nem sempre entende. A carreira de modelo praticamente caiu no meu colo. Embora não fosse o meu sonho, eu até que gostei da ideia de viajar, conhecer o mundo, falar outras línguas e ainda ganhar um dinheiro. Acima de tudo, gostei muito da ideia de ter liberdade. Então, decidi apostar na carreira e, um pouco contra a vontade dos meus pais, comecei a passar umas temporadas em São Paulo, na casa dos meus tios. 

Os trabalhos foram aparecendo e eu fui trabalhando. Me desgarrei um pouco mais da minha família e fui morar um tempo no Japão e em Milão. Mas não foi exatamente uma história de conto de fadas e glamour. No fundo, eu me sentia um objeto como modelo. 

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Eu comecei a me encontrar profissionalmente quando a MTV me convidou pra apresentar um programa chamado Mochilão [trilha sonora]

Eu participei de uma temporada gravada no Havaí e adorei! Eu senti que o mundo da comunicação tinha muito mais a ver comigo. Eu também fui chamada para fazer um programa ao vivo na Rede TV. Foi uma baita oportunidade profissional. Nesse meio tempo também comecei a fazer faculdade de jornalismo. Eu tinha 22 anos e esse também foi o início da minha crise existencial. 

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Junto com a visibilidade na TV veio o julgamento alheio. Diziam que eu não era boa o suficiente, que eu precisava me esforçar mais, que o meu sotaque me atrapalhava. Aquilo começou a me assustar. Ao mesmo tempo, tinha muita gente que começou a se aproximar de mim só porque eu fiquei conhecida. Eu fui me tornando uma pessoa BASTANTE desconfiada. Quando as câmeras desligavam, eu ia pra casa e eu me sentia extremamente sozinha. Eu descobri que existia um vazio na fama. E aquelas descobertas me despertaram para uma batalha interna. De repente, eu tinha sucesso, eu dinheiro, eu tinha homens interessantes, mas eu não estava feliz. 

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Esse clique me veio no carnaval de 2001. Eu tinha convites pra ir pra Angra dos Reis, pra Campos do Jordão, pro Uruguai, pro Rio de Janeiro, pra festas, camarotes, shows… Mas no fundo, no fundo, eu não queria fazer nada daquilo. Eu não queria estar com nenhuma das pessoas que me convidaram pra passear. Eu queria era ficar sozinha, em silêncio. E eu não entendia por que eu não tinha vontade de participar daquele mundo de badalação. Afinal, quantas meninas não gostariam de estar no meu lugar? 

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E foi no meio dessa crise que eu conheci a yoga. 

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Por indicação de uma amiga, eu experimentei uma aula de ashtanga, um tipo de yoga bem exigente. Eu tenho um bom preparo físico, mas eu saí dessa aula suada da cabeça aos pés. Foi 1 hora e meia de uma prática dinâmica, com bastante alongamento, muita torção e uma respiração intensa. Eu senti como se tivesse entrado numa espécie de transe. Eu lembro que eu saí da aula à noite. Estava chovendo muito em São Paulo. Eu entrei no carro em êxtase, com uma sensação de felicidade que eu não consigo descrever. Eu dormi o melhor sono da minha vida nessa noite. Na manhã seguinte, acordei me sentindo plena. Peguei um chá, sentei no quintal, fiquei olhando pro sol e pras plantas e pensei comigo mesma: “Tá tudo aqui dentro”. A solidão, o medo, a desconfiança de tudo e de todos tinha ido embora. A minha felicidade finalmente estava dentro de mim, e não fora.

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Assim, decidi recusar todos os convites pras viagens do carnaval. Segui a minha intuição e fui passar 10 dias num retiro de silêncio na Serra da Cantareira, em São Paulo. A gente dormia às 9 da noite e acordava às 4 da manhã. Praticava yoga, meditava e seguia uma dieta vegetariana. 

A parte mais difícil era não poder fazer contato visual com ninguém. Eu não entendi essa restrição, no início. Conforme eu fui vivendo a experiência, compreendi que o olhar, o diálogo e a cumplicidade também são ferramentas pra gente se sentir amada e aceita. Sem o contato visual, eu era obrigada a olhar pra mim e esquecer a aprovação alheia.

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Essa foi a minha primeira experiência de autoconhecimento. Naquele ambiente de paz e tranquilidade, eu me senti normal e em paz. Parece que virou uma chave dentro de mim. Dali em diante, a minha vida floresceu. Eu acredito que muitas pessoas tenham essa epifania a partir de uma experiência religiosa. Como eu nunca pratiquei a religião, pra mim, foi uma descoberta que veio com a yoga.

Eu entendi que Natal, réveillon e carnaval são só recortes culturais do tempo. Eu não precisava estar em lugares especiais com pessoas diferentes pra me sentir bem. Eu podia ficar em paz sozinha, na minha casa, numa boa. Foi crucial eu ter feito essas descobertas naquele momento em que eu podia ter me deslumbrado com a fama. Eu lembro que meu pai sempre me dizia: “Mantenha os pés no chão, minha filha”. E o conselho dele fazia todo sentido. Com a yoga, eu sinto que eu plantei uma raiz. Criei uma solidez que me acompanha até hoje e que é cultivada todos os dias. 

Me aprofundei na prática dos asanas, que é o nome das posturas, e deixei de comer carne. Aceitei que eu não preciso beber socialmente só pra me sentir inserida no grupo, já que eu não gosto assim de álcool. Passei a acreditar no meu poder interno e na minha sensibilidade. Eu tomei decisões sérias que contrariavam opiniões ao meu redor. Foi assim que eu pedi demissão da MTV, por exemplo. Eu estava no meu melhor momento na emissora, mas eu sentia que não tinha mais o que fazer lá dentro. Dali pra frente, eu só ia me repetir. E mesmo sem ter nenhuma proposta de trabalho, eu quis sair. Fiz um sabático e depois me mudei pro Rio pra ir ao encontro do meu namorado, que é hoje meu atual marido. E um tempo depois eu fui contratada pela Globo.

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Desde então, a yoga e a meditação são meus pontos de equilíbrio. Quando eu me sinto assim fora da casinha, eu pego o meu tapete e tchau. A prática me tira do externo e traz pra dentro. A yoga vira um estado de espírito, porque não tem como eu fazer os asanas, as posturas, uma hora e depois sair gritando com os meus filhos. É incompatível. No momento em que você começa a praticar, automaticamente você vai se conhecer, ter mais controle sobre as suas respostas emocionais e mais clareza sobre as escolhas na vida.

Com o tempo virou uma prática familiar. Quando eu conheci o Rodrigo, meu marido, ele não gostava de yoga, mas com a nossa convivência ele começou a praticar também. Hoje, ele é tão viciado quanto eu e sabe exatamente quando precisa ir pra salinha fazer umas posturas. 

E a gente também transmite os ensinamentos pros nossos filhos. Quando eu sinto uma energia ruim entre as crianças, eu obrigo elas a sentarem no chão e respirarem comigo. Eles não entendem muito bem o exercício, mas eu faço isso pra plantar uma sementinha. Um dia, quando eles precisarem, e com certeza eles vão precisar em muitos momentos, eles podem usar esse recurso. Eu sempre falo pra eles: “Quando tudo mais falhar, respira e entra em contato com você”. 

[trilha sonora] Eu também tento passar esse conhecimento pelo meu Instagram. Como o ashtanga é difícil pra quem não tem hábitos corporais, eu resolvi postar vídeos ajudando as pessoas a fazerem exercícios de respiração. Afinal, é um recurso que todo mundo tem e, se for bem utilizado, faz muito bem pra nossa saúde física e mental. O nosso modo de viver com a cabeça enlouquecida, buscando recompensa no prazer material e no consumo, é um caminho que , no fim, não traz nenhuma paz interna e que tá levando o planeta à destruição. A gente PRECISA parar pra refletir sobre isso. O autoconhecimento é o caminho pras pessoas entrarem em contato consigo mesmas e descobrirem que a plenitude e a felicidade na verdade tão dentro, e não fora da gente.  [trilha sonora] Miguel Schlesinger: A sociedade de aparências sempre existiu. Antigamente, as pessoas deviam colocar as melhores joias, roupas e perucas, para se exibir na corte do rei. Quem olhava de fora, provavelmente achava que os membros da nobreza eram felizes. Mal sabiam o que acontecia na vida privada de cada um deles. Essa dinâmica está ainda mais potente hoje, por conta das redes sociais, mas a verdade é que ninguém é feliz pelo o que tem ou aparenta ser, e sim pelo que é. A Fernanda Lima só encontrou a felicidade quando olhou para dentro de si mesma. O veículo dela foi a yoga, mas outras pessoas podem trilhar este caminho pela arte, pela religião, pela terapia, por exemplo. O que eu não recomendo é ficar na superficialidade. Quando Moisés sobe ao Monte Sinai para receber os 10 mandamentos, Deus diz para ele: “Vá até o topo da montanha e esteja lá”. Dessa passagem bíblica a gente aprende que é possível ir até o topo da montanha e não se estar lá. Estar lá significa olhar para dentro e buscar a plenitude que existe no interior de cada um de nós.  [trilha sonora] Geyze Diniz: Nossas histórias não acabam por aqui. Confira mais dos nossos conteúdos em plenae.com e em nosso perfil no Instagram @portalplenae. [trilha sonora]

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Evento Plenae: O poder do inconsciente e o desafio da mudança de hábito

Mudança de hábito é sempre um desafio – muitas vezes dos mais difíceis. Vários fatores interferem no exercício de uma nova rotina ou na tentativa de trocar o estilo de vida.

22 de Junho de 2018


Mudança de hábito é sempre um desafio – muitas vezes dos mais difíceis. Vários fatores interferem no exercício de uma nova rotina ou na tentativa de trocar o estilo de vida. “Nem sempre percebemos os fatores inconscientes que podem sabotar nossas tomadas de decisão”, observa o físico norte-americano Leonard Mlodinow, 64 anos, autor do livro Subliminar, como o inconsciente influencia nossas vidas, publicado pela Zahar. O físico esteve em São Paulo para o lançamento da plataforma Plenae, em maio, onde deu a palestra intitulada “O poder do inconsciente e o desafio da mudança de hábito”. Nela, abordou a importância de compreender a mente para que se possa tomar o verdadeiro controle sobre as próprias ações. “É importante diferenciar esse conceito do freudiano. Na neurociência moderna, o inconsciente é explicado pela própria arquitetura do cérebro”, afirmou Mlodinow. Ele tem a responsabilidade de processar a informação automaticamente. Por exemplo, controla os movimentos involuntários, como os batimentos cardíacos. “Você não precisa pensar para o coração bater.” “O inconsciente também é responsável pelos pensamentos analíticos, pelas percepções e pela maneira que construímos nossa realidade”, explicou Mlodinow. “Como resultado, as pessoas pensam, sentem e agem de maneiras, muitas vezes, não planejadas, reagindo aos estímulos que não tinham percebido.” “Mesmo que você honestamente acredite poder deixar seus preconceitos de lado, você não pode”, afirmou o palestrante. “O cérebro recebe o mundo filtrado pelas crenças, desejos e circunstâncias em que o evento acontece. As expectativas influenciam o que vemos. A percepção do mundo físico, as visões, sons e cheiros, como tudo ao redor e até as memórias são uma ilusão”, diz Mlodinow. “É um ato de criatividade realizado pela mente e em grande parte pelo inconsciente.”
Como exemplo, ele explica que nossa visão periférica não é completa. Apenas parte está, realmente, em foco. O cérebro preenche o resto da imagem como uma espécie de "Photoshop natural", pois consegue extrapolar o que deve estar ao redor. Realidade virtual. Se nem nossa visão é real, os julgamentos também são influenciados por fatores que não percebemos. Uma olhadela rápida no rosto de dois candidatos, um décimo de segundo, é muitas vezes suficiente para determinar o ganhador de uma eleição. É o que provou um estudo realizado pela Universidade de Princeton, nos Estados Unidos. “Somos mais superficiais do que gostaríamos de admitir”, disse o físico. A influência da aparência. No estudo por ele relatado, foram exibidas fotos ao grupo que deveria indicar apenas pela aparência quem seria mais competente para ocupar um cargo no Senado. Os participantes não tinham nenhuma informação a mais sobre as pessoas retratadas. Portanto, não puderam ser influenciados por valores, afiliações partidárias ou mesmo discursos. Na verdade, muitas das fotos eram de políticos. Depois das eleições, os pesquisadores perceberam que os que foram apontados como competentes pelo grupo ocuparam 70% das cadeiras do Senado. O contato físico. Assim como chimpanzés caçam piolhos nos companheiros, o homem também valoriza o toque mais do que percebe. “Não estou falando de abraços ou toques românticos”, diz Mlodinow, “mas daqueles pequenos contatos físicos de meio segundo que fazem parte da interação cotidiana”. Ele citou uma experiência realizada na França, onde um jovem passou uma tarde em uma esquina, abordando mulheres desconhecidas. Ele pedia o número do telefone delas com um discurso-padrão. O jovem tocou discretamente no ombro de metade das mulheres com quem falou – o que fez aumentar a margem dele de sucesso de 10% para 20%. Garçons ou garçonetes que tocam os clientes recebem 30% a mais de gorjetas. Compreender essas influências pode nos ajudar a exercer mais autonomia na vida cotidiana, segundo o palestrante. Dica. Segundo Carl Jung, “esses aspectos subliminares de tudo o que acontece parece ter papel pequeno nas nossas vidas cotidianas, mas são as quase invisíveis raízes dos pensamentos conscientes”. Segundo Mlodinow, ter consciência desse processo ajuda a tomar decisões mais livres de preconceitos e distorções promovidas pelo inconsciente – e assim ter mais controle sobre a vida. Veja a palestra na íntegra aqui.

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