Para Inspirar

O que acontece com o nosso cérebro quando estamos apaixonados?

O meteoro da paixão deixa rastros psíquicos bastante relevantes quando está operando, e também quando vai embora.

24 de Agosto de 2020


Borboletas no estômago, sorriso constante e pensamentos distantes, sempre endereçados na pessoa amada. Bom seria se a paixão fosse sempre esse conto de fadas correspondido e leve que as histórias gostam de contar.

Mas o que verdadeiramente acontece com nosso cérebro quando estamos apaixonados? Segundo a explicação neste vídeo do neurocientista e professor Pedro Calabrez, os efeitos no nosso metabolismo podem ser maiores do que você imagina. “A paixão, do ponto de vista do cérebro, se assemelha a uma espécie de demência temporária, hipermotivacional, com características de estresse, obsessão e compulsão” explica.


A boa notícia é que do ponto de vista científico, ela é sempre passageira e tende a durar no máximo de 12 a 18 meses. Isso porque os efeitos que ela causa - e que você conhecerá a seguir - são de uma intensidade cujo nosso corpo não sustentaria por muito tempo sem entrar em colapso.

A paixão me pegou! Tentei escapar, não consegui

Você resistiu bravamente àquele rostinho e, ainda assim, foi acometido por uma paixão derradeira. O que acontecerá agora?

O amor é provavelmente o tema que mais instigou a mente humana ao longo dos séculos. E ele nada mais é do que o fruto de alterações do funcionamento do cérebro, se dividindo em fases específicas.

A primeira é justamente a paixão. Ela é marcada por uma grande intensidade e curta duração. Como todas as nossas outras emoções, é regulada pela ação de hormônios e neurotransmissores - que são substâncias químicas que exercem efeitos gerais no corpo e no cérebro.

Os estados que surgem na paixão, como a saudade ou a alta motivação, são frutos de certas alterações na circuitaria cerebral, como explica o neurologista. Nesse estágio, é comum a presença de dois hormônios: ocitocina e vasopressina, que possuem uma função muito específica quando estamos apaixonados: ao sentimento de apego.


Está rolando uma química entre nós

Prepare-se para o turbilhão de emoções que essa química irá gerar

Substâncias que provocam sintomas intensos e avassaladores em todo o corpo, como aumento da pressão arterial, frequência respiratória e dos batimentos cardíacos, ou a dilatação das pupilas e rubores da pele começam a surgir.

A oxitocina e vasopressina mencionadas lá atrás, também afetam um outro circuito muito importante do nosso cérebro: o de recompensa . Nele, estão envolvidos elementos de motivação e prazer, semelhantes ao que sentimos quando realizamos uma tarefa difícil, ou comemos algo que gostamos muito.

Esse sistema todo envolve a ação de um neurotransmissor muito famoso, a dopamina - que também possui ações diversas no nosso corpo, mas durante a paixão está intimamente associada ao prazer e a motivação que citamos, e portanto, levando à recompensa.

Outro hormônio envolvido nos sintomas da paixão é o cortisol , tipicamente envolvido em episódios de estresse. Eles se elevam e, por isso, há a euforia, ansiedade e insegurança durante a paixão.

O coração bate com mais força e intensidade, você sente menos sono e até mesmo o sistema digestório se altera. Os níveis de serotonina, por sua vez, caem em até 40% .Justamente ela, que é a responsável por nos acalmar e trazer a velha e boa sensação de bem-estar. O apaixonado ainda apresenta um grau de obsessão, sobretudo por meio de pensamentos invasivos e repentinos sobre a pessoa.


“Há uma inibição de atividade nas estruturas pré-frontais, que se localizam  imediatamente atrás da sua testa.” crava o neurologista Pedro Calabrez. E para que vale a atividade do córtex pré-frontal? 

Há diferentes funções envolvidas nele, mas a mais importante para o nosso contexto é a de frear nossos impulsos, antecipar consequências das nossas ações e trazer lucidez na tomada das decisões. Ela também pode afetar a sua capacidade de concentração - mas a memorização vai muito bem, obrigada. Por isso é tão comum lembrar de cada detalhe da pessoa amada.


O que restou de nós?

A paixão, como afirmou o neurologista, acaba. Irremediavelmente, ela vai embora e cabe ao casal ver o que vai fazer com o que restou

Em razão ao estrondoso sucesso do primeiro vídeo, Pedro Calabrez lançou a continuação dele, intitulado “O Cérebro Pós-Paixão”. Para ele, caso a sua paixão se torne amor e não se evapore no tempo, ela entra então na segunda fase conhecida como “amor companheiro”.

O primeiro sintoma dessa mudança de estágio é a diminuição de todos aqueles hormônios atrelados à paixão. Por isso mesmo o amor companheiro é menos intenso e mais brando. A ação da dopamina, por exemplo, retorna aos seus níveis normais e, por consequência, nossa motivação também.

O aspecto obsessivo também desaparece, graças ao retorno dos valores basais do nosso nível de serotonina. O cortisol reduz e, com ele, o nível de estresse também. A inibição do córtex pré-frontal finalmente acaba e ele volta a operar normalmente, trazendo de volta o poder da tomada de decisões mais “sóbrias”.

Porém, o hormônio ocitocina permanece em níveis elevados durante o amor companheiro. O que é super positivo, já que ele está relacionado ao afeto, ao apego, à conexão humana construída entre duas pessoas.

Estamos agora menos emocionais e mais reflexivos. Os efeitos da paixão podem dar lugar ao desinteresse e o arrependimento. Tudo também deixa de ser automático, ou seja, a fixação gratuita pela pessoa, o pensamento exclusivo e o desejo de agradar podem demandar mais trabalho.



“O amor companheiro é marcado por uma forte conexão, que no começo não é intensa no começo, mas com o passar do tempo ela se torna tão forte que ocorre uma espécie de interdependência entre as pessoas” comenta o neurologista.

Justamente por atingir um nível tão profundo de conexão, casais que estão juntos há muito tempo podem sentir de forma muito mais traumática as brigas, decepções e rompimento, e levam mais tempo para superações também.

Quando a paixão acaba, o investimento de energia para que aquela relação dure pode diminuir drasticamente. Portanto, para que ela obtenha sucesso, dois elementos são determinantes: a consistência e o esforço . “A dedicação durante o paixão não é mérito, justamente devido à essa orquestra fisiológica que está acontecendo, que está te inclinando fortemente tudo isso” diz Pedro.

E você, está pronto para enfrentar o vendaval de emoções que a paixão proporciona? Mais do que isso: está pronto para o comprometimento sério que o amor companheiro demanda? Lembre-se: a qualidade das nossas relações é um fator de suma importância para nossa saúde, como dissemos nessa matéria. Escolha seus parceiros com sabedoria e tranquilidade.

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O que é ser mulher?

Hoje, decidimos refletir sobre o que é ser mulher.

8 de Março de 2023


Ao longo dos últimos 7 dias, homenageamos mulheres pioneiras. Hoje, decidimos refletir sobre o que é ser mulher. Quando descobri que seria tia de menina, fui invadida por um turbilhão de sentimentos conflitantes. Não era só a alegria de mais um bebê a bordo e nem tampouco o ineditismo de ter um sobrinho, afinal, eu já era tia de um menino. Mas essa notícia ressoou diferente em mim, um tipo de frase que te faz pensar em sua própria caminhada.

Que lindo seria ter mais uma mulher no mundo, pensei de imediato. Ter mais uma de nós, somando nessa alcateia de lobas espalhadas por todo o canto, norteando, fortalecendo e dando sentido à sociedade. Mas que percurso exaustivo ela trilharia, pensei também. Quantos desafios seriam postos para ela desde pequena, uma lição prematura de que a jornada tende sempre a ser dupla, em todos os sentidos. Foi como me olhar no espelho e me perceber de uma forma inédita.

É difícil cravar o primeiro momento em que uma mulher entende que é mulher. É complexo pontuar essa grande epifania, o estalar de dedos que expõe de maneira irrefutável: você é uma mulher. Há quem nunca sinta essa virada de chave, há quem sinta já nos primeiros dias de existência.

A experiência feminina é profunda, dinâmica e absolutamente individual. Mas deve-se dizer que, uma vez constatado o fato de que se é uma mulher, não há mais volta. Isso porque essa constatação é carregada de dores e delícias, é um trajeto sem placas de retorno, para o bem e para o mal.

Já se passaram quase sete anos desde que o mundo conheceu o sorriso da minha sobrinha e, de lá para cá, assisti de camarote todos os seus ziguezagues e legitimei cada um deles. O que eu não esperava era ver na prática uma grande lição, entoada por outra grande mulher há tantos anos, se desdobrando diante dos meus olhos: não se nasce mulher, torna-se mulher.

E esse desabrochar que Beauvoir descreveu, e que pode ou não acontecer para cada uma de nós, é um espetáculo à parte, que vale a pena ser assistido. Porque não há nada mais potente do que uma presença feminina que diz, sem rodeios: eu não irei a parte alguma, pois aqui é o meu lugar.

O que é ser mulher? O que é ser mulher? O que é ser mulher? O que é ser mulher?

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