Para Inspirar

O que é o 'ikigai', o segredo japonês para um vida longa

Pessoas com senso de propósito vivem mais e são mais felizes

21 de Novembro de 2019


Você sabe por que se levanta pela manhã? Se consegue responder a isso, então, você já encontrou seu ikigai, um conceito japonês antigo que pode ser a chave para uma vida longa, feliz e saudável. Não existe uma tradução direta para o termo.

O mais próximo que se pode chegar é a descrição feita por Ken Mogi, autor do livro Ikigai: Os cinco passos para encontrar seu propósito de vida e ser mais feliz (Astral Cultural, 2018). "Ikigai é a sua razão de viver", diz o neurocientista japonês. "É o motivo que faz você acordar todos os dias."

O conceito vem de Okinawa, um grupo de ilhas ao sul do Japão com uma população de moradores centenários bem acima da expectativa de vida média, mesmo para os padrões japoneses. Muitos acreditam que o ikigai é o segredo de sua longevidade. O termo é bem conhecido em todo o país, como explica Mogi, e a ideia representada por ele está se espalhando para outras partes do mundo.

Segundo o autor, é "muito importante identificar as coisas que você gosta de fazer e que te dão prazer, porque elas dão propósito à vida e levam a uma existência longa e feliz". "E não se trata apenas de viver por um longo tempo, mas de aproveitar a vida e saber o que você quer fazer com ela", afirma.

O ikigai também é algo muitas vezes relacionado à vitalidade. "É a felicidade que vem de sempre ter algo para fazer, de estar ocupado", diz Francesc Miralles, que, junto com Héctor García, escreveu Ikigai: Os segredos dos japoneses para uma vida longa e feliz (Intrínseca, 2016).

Como achar seu 'ikigai'?


"Em geral, somos tão obcecados com o sucesso e grandes metas que a vida acaba se tornando intimidadora. O legal do ikigai é que você pode partir de coisas pequenas até chegar aos grandes objetivos de vida", diz Mogi Mas todo esse bem-estar em potencial depende de um pequeno detalhe: encontrar um ikigai.

E se você não sabe o que mexe com você? "Você precisa observar a si mesmo", recomenda Mogi. "Parta do zero, olhe-se no espelho: que tipo de pessoa é você? Pense no passado e no que te dá prazer. Isso te dará uma pista. Como neurocientista, eu acredito que as coisas que nos dão prazer são reflexos do tipo de pessoas que nós somos."

Mas ampliar seu horizonte para objetivos maiores pode ser mais complexo. "Se você não sabe o que quer da vida, comece fazendo uma lista do que você não quer, quais situações te deixam desconfortável ou infeliz, quais atividades prefere evitar", aconselha Miralles.

"Você pode descobrir que há várias coisas que te deixam feliz: aprender coisas novas, cuidar do jardim, ajudar outras pessoas, resolver problemas, fazer música... ou vender coisas, falar em público." Miralles admite que encontrar um ikigai não é sempre um processo simples. "Há pessoas que sabem o que querem ser desde a infância, mas a maioria de nós não sabia o que queria."

E há o peso do cotidiano: "Vamos à escola, buscamos emprego, lidamos com obrigações e pagamos contas... e, com isso, podemos nos distanciar de nossos impulsos naturais". Para ajudar a encontrar sua paixão, o escritor sugere seguir o conselho do cientista da computação e palestrante motivacional Randy Pausch (1960-2008): "Resgate seus sonhos de infância. Quais eram? Desenhar por horas? Dançar? Correr? Pense em quando era pequeno e no que te deixava feliz e você não faz mais".

Quantos 'ikigais' você pode ter?

Há muitas formas de ter prazer. Na verdade, é importante ter vários ikigais, dos mais simples aos mais ambiciosos. "A maioria das religiões só acreditam em um deus. Mas, no Japão, acreditamos que há 8 milhões de deuses", diz Mogi. "Isso influencia como os japoneses veem o ikigai: não acreditamos que há só uma coisa importante, não perseguimos apenas um objetivo, pode haver milhares de coisas diferentes que podem nos dar prazer."

Mogi dá um exemplo como isso se aplica em sua vida prática. "Meu ikigai menor é correr 10 km em Tóquio todos os dias. Mas, como cientista, minha maior alegria é ter ideias novas e, talvez, dar uma contribuição para o mundo. Isso também é meu ikigai".

Há alguma prova de que o 'ikigai' funciona?

Mogi está convencido de que sim, e aponta estudos realizados pela Universidade Toho, em Tóquio, que investigam o sentido e significado da vida e sua correlação com a taxa de mortalidade em idosos.

De acordo com estudos realizados com idosos que levam um estilo de vida equilibrado, há uma correlação entre longevidade e ter uma razão de viver: seu sistema imunológico - e, em especial, um tipo de glóbulo branco, o neutrófilo - atua melhor, ajudando a mantê-los saudáveis por mais tempo.

Em uma outra pesquisa, a neuropsicóloga americana Patricia Boyle, do Centro Rush para Mal de Alzheimer, em Chicago, acompanhou 900 idosos que corriam o risco de desenvolver demência em um período de sete anos. Ela concluiu que aqueles com uma boa noção de seu propósito de vida tinham 50% menos chances de ficar doentes.

“O cérebro humano tem uma habilidade incrível de regular as funções do corpo.Em alguns casos, pode se curar por conta própria, como demonstrado pelo efeito placebo", afirma Mogi. "Se você acha seu ikigai, as pequenas coisas que dão significado à vida podem te ajudar a preservar sua saúde por mais tempo."

Quem são os mestres do 'ikigai'?

Quando Francesc Miralles e Héctor García visitaram Ogimi, um vilarejo de Okinawa, eles chegaram à mesma conclusão sobre a relação entre a longevidade e o ikigai. Ogimi tem 3 mil habitantes e está no Livro Guinness dos Recordes por ter a população mais velha do mundo. Também é um epicentro do ikigai.

Não é uma surpresa, portanto, que Okinawa seja conhecida como a "Terra dos Imortais". As pessoas dessa região do Japão tiram proveito do clima subtropical, têm uma dieta rica em frutas e vegetais, moram em comunidades onde se valorizam os laços pessoais e se mantêm ativas fisicamente por toda a vida.

Miralles e García se interessaram pela "história do vilarejo de centenários, onde tantas pessoas vivem além dos 100 anos". "Queríamos descobrir o porquê disso", diz Miralles. "Como parte de nosso trabalho de campo, perguntamos aos idosos de Ogimi o motivo de estarem sempre alegres, por que cuidavam uns dos outros, o que os fazia ter laços tão fortes uns com os outros... e uma palavra era mencionada com frequência: ikigai."

Um dos aspectos que diferenciam o ikigai de simplesmente ter um hobby é que não se trata de obter uma gratificação instantânea. É algo que impulsiona a pessoa rumo ao futuro e a faz seguir em frente. Miralles diz que há outros lugares do mundo com condições de vida semelhantes às de Ogimi, mas não com a mesma proporção de moradores centenários. Então seria o ikigai o segredo da longevidade? "Acredito que essa seja a diferença."

Fazendo o 'ikigai' funcionar para você

É claro que nem todos nós podemos levar uma vida idílica em Okinawa, "mas todos podemos 'criar nossa Okinawa' onde estamos", segundo Miralles. Ele destaca que, ainda que essa região seja bem diferente do resto do país, outras partes do Japão adaptaram o conceito às suas vidas, mesmo em ambientes urbanos.

Para trazer o ikigai para sua vida você não precisa se mudar, mas apenas entender a essência do conceito e torná-lo parte do seu cotidiano. Então, se você quiser ter uma vida longa e saudável, vale a pena tentar descobrir seu ikigai. "Não é apenas bem-estar. O Ikigai também é uma esperança para o futuro", afirma o neurocientista japonês.

Fonte: Eva Ontiveros, para BBC
Síntese: Equipe Plenae
Leia o artigo original aqui .

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Quantos anos um estilo de vida saudável adiciona à longevidade?

Segundo estudo, mulheres ganham dez anos vida saudável, e homens, oito

27 de Janeiro de 2020


Diversos estudos nos lembram que, por mais desafiador que seja, seguir hábitos saudáveis ​​- comer direito, exercitar-se regularmente, não fumar, manter um peso saudável e controlar a quantidade de álcool ingerida - pode nos ajudar a viver mais. Mas anos extras de vida não são tão atraentes se alguns ou a maioria deles vêm acompanhados de doenças cardíacas, diabetes ou câncer.

Em um estudo de 2018, um grupo internacional de pesquisadores liderados por cientistas de Escola de Saúde Pública de Harvard descobriu que a adoção de cinco hábitos saudáveis ​​poderia estender a expectativa de vida em 14 anos para as mulheres e em 12 anos para os homens:

-  Adotar uma dieta rica em plantas e pobre em gorduras
-  Exercitar-se em um nível moderado a vigoroso por várias horas por semana
-  Manter um peso corporal saudável
-  Não fumar
-  Consumir não mais que uma bebida alcoólica por dia para mulheres e duas para homens.

Para acompanhar esses dados, os pesquisadores queriam saber quantos desses anos adicionais eram saudáveis, livres de três doenças crônicas comuns: doenças cardíacas, diabetes tipo 2 e câncer. Em um estudo publicado recentemente no periódico BMJ, eles relatam que um estilo de vida saudável pode realmente contribuir para anos extras de vida - e mais livres de doenças.

Os resultados sugerem que as mulheres podem estender sua expectativa de vida sem doenças após os 50 anos em cerca de 10 anos, e os homens podem adicionar cerca de oito anos a mais do que as pessoas que não têm esses hábitos. "É importante observar a expectativa de vida livre de doenças, pois isso tem implicações importantes em termos de melhoria da qualidade de vida e redução dos custos gerais de assistência médica", diz Frank Hu, chefe do departamento de nutrição da universidade e principal autor do artigo.

“Prolongar a vida útil não é suficiente, queremos estender o tempo de saúde.” Para descobrir esses padrões, os pesquisadores analisaram dados coletados de mais de 111.000 mulheres e homens dos EUA com idades entre 30 e 75 anos, entre 1980 e 1986. Os participantes responderam questionários sobre seus hábitos de vida e saúde a cada dois anos até 2014. Com base em suas respostas, cada participante recebeu uma pontuação de “estilo de vida” de 0 a 5, com pontuações mais altas representando melhor aderência a diretrizes saudáveis.

Os pesquisadores tentaram correlacionar essas pontuações com quanto tempo os participantes viveram sem doenças cardíacas, câncer ou diabetes. As mulheres que relataram seguir quatro ou cinco dos hábitos saudáveis ​​viveram em média 34 anos a mais sem essas doenças após os 50 anos, em comparação aos 24 anos para as mulheres que disseram não seguir nenhum dos hábitos saudáveis.

Homens que relataram cumprir quatro ou cinco dos hábitos de vida viveram em média mais 31 anos livres de doença após os 50 anos, enquanto aqueles que adotaram nenhum deles viveram em média mais 23 anos após os 50 anos. Hu diz que nenhum dos cinco fatores se destacou como mais importante que os outros; os benefícios em salvar as pessoas de enfermidades e em prolongar a vida foram semelhantes nos cinco.

Além disso, as evidências sugerem que as contribuições de cada fator são aditivas - o número de anos de vida livre de moléstias adquiridas aumentou com cada hábito saudável adicional seguido pelos indivíduos. "As pessoas não devem ser desencorajadas a adotá-las se acharem um ou dois fatores difíceis de seguir", diz Hu.

E como todos os participantes do estudo tinham mais de 30 anos, as descobertas também sugerem que "nunca é tarde para mudar", diz Hu. "É sempre melhor adotar hábitos de vida saudáveis ​​o mais cedo possível, mas mesmo adotá-los relativamente tarde na vida ainda trará benefícios substanciais à saúde mais tarde."

Fonte: Alice Park, para Time
Síntese: Equipe Plenae
Leia o artigo original aqui.

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