Para Inspirar
Conheça os fatores que podem indicar se o seu ambiente de trabalho é um lugar saudável de se estar
26 de Agosto de 2021
O ambiente de trabalho ideal deveria ser como um relógio: cada pequena engrenagem fazendo a sua parte para que o todo funcione corretamente. Porém, na prática, não é bem assim que acontece.
Além de todo o estresse que já é comum de um emprego, muitos locais acabam fazendo da vida de seus trabalhadores um inferno. Para usar um jargão atual, é um ambiente de trabalho tóxico, que, das 9 às 18 horas por 5 dias da semana, suga a vida e a alegria daqueles que ali trabalham.
Competitividade e pressão por resultados e números são normais nesse tipo de local, o que já torna o ambiente propício a estresses gerais, por menores que sejam, os chamados microestresses que contamos aqui. Discussões e divergências não só podem como devem acontecer, contanto que o respeito seja sempre mantido e a comunicação não-violenta impere.
Quando saber que passou dessa linha?
Existem indícios mais óbvios. Racismo e sexismo não deveriam ter mais espaço na nossa sociedade, sobretudo em um local onde falamos de carreira. Infelizmente, esse tipo de coisa ainda é comum em muitos lugares, da mais antiga e obsoleta fábrica ao mais moderno escritório.
Para se ter uma ideia, 60% dos negros alegam ter sofrido racismo no trabalho, segundo pesquisa da consultoria Etnus. Isso representa 7 a cada 10, um número altíssimo. Esse preconceito pode vir das formas mais "inocentes", como um comentário sobre o cabelo da pessoa, até uma promoção negada sem motivos ou um salário inexplicavelmente menor. É o chamado racismo estrutural, apontado como a principal entrave da população negra no mercado de trabalho.
O problema vai além disso, também. É quando muita dessa toxicidade se dá de maneira velada, camuflada entre piadinhas, brincadeiras, frases curtas, comentários, atitudes… Tudo aparentemente inofensivo a quem faz, mas violento a quem sofre. Como saber, então, se meu ambiente de trabalho é tóxico?
Se você se sente com as energias completamente drenadas e sugadas ao fim do dia, se costuma “levar pra casa” o trabalho mesmo após o encerramento do expediente, se algum colega ou chefe parece pegar mais no seu pé do que o aceitável por qualquer motivo, se você se sente fisicamente doente por tempos prolongados graças ao estresse, adquirindo uma Síndrome de Burnout, se o ambiente inibe suas dúvidas, criatividade e sugestões e faz você se sentir inseguro consigo mesmo: isso tudo pode ser sintoma de que seu trabalho é, de fato, tóxico.
São comuns às lideranças tóxicas alguns sinais clássicos e óbvios como acessos de fúria, broncas exageradas e aos gritos, humilhar os subordinados, demandar a execução de tarefas pouco ou quase nada relacionadas ao trabalho, questionar sobre a vida pessoal do trabalhador, impor metas impossíveis, duvidar ou fazer com que os outros duvidem de si mesmo, falta de comunicação com os funcionários e com seus superiores, entre outros. Tudo isso também indica que algo está tremendamente errado.
Mas algumas práticas mais sutis também devem ser observadas: se apenas os bajuladores são promovidos ou beneficiados, se os horários de expediente são desrespeitados e você frequentemente se pega respondendo e-mails e mensagens em horários capciosos ou até na sua folga, se suas pausas em momento de trabalho são monitoradas e cronometradas minuciosamente.
Todas essas práticas podem acabar por criar uma cultura caótica, desorganizada e desrespeitosa. Em contexto de home office, isso tem ficado ainda mais evidente. Muitas vezes há a exigência de que a câmera e o microfone permaneçam ligados, quando não é obrigatório o compartilhamento de tela. Tudo para monitorar a produtividade.
Já entre os empregados, inveja e fofoca podem levar a comentários maldosos e depreciativos. Frases como “tenho que fazer o trabalho por nós dois”, além de carregadas de arrogância, também servem apenas para desestimular e cultivar o mal-estar. Diametralmente opostos à positividade tóxica, também existem aqueles que parecem se esforçar para ver o copo completamente vazio. Se o excesso de positividade pode ser nocivo, o mesmo vale para a negatividade.
Assediadores, tanto morais quanto sexuais, também são comuns em ambientes hostis. Aquele colega ou (muitas vezes) chefe que sempre vem com muitas mãos e dedos, fazendo piadinhas de teor sexual e inapropriado, principalmente com as mulheres da empresa. Quando possível, eles se fazem valer de suas posições hierárquicas para se blindarem de possíveis consequências, porém o dano psicológico causado na funcionária/colega é irreversível.
Como sair dessa situação
Por muitas vezes, achamos que isso é apenas coisa da nossa cabeça. Que é normal, que estamos exagerando, pois todos passam por isso, afinal, isso é a vida adulta e tais cobranças fazem parte dela. Não é verdade. Sabemos que a realidade é dura e temos que engolir muito sapo, sim, mas se você tem mais dificuldade em pensar em motivos para permanecer no seu trabalho do que para sair, talvez seja hora de reavaliar e começar a buscar alternativas. Reconhecer esse fato é o primeiro passo.
Na era do coaching e do empreendedorismo, até a positividade pode ser tóxica. A ideia de que tudo tem que ser encarado com um sorriso no rosto e transformado em algo edificante e/ou lucrativo pode ser traiçoeira. Olhar o lado ruim das coisas e entender as emoções negativas que se passam com a gente, principalmente em situações tão complicadas como a da pandemia, é saudável e humano.
Porém, hoje em dia, muitos insistem que o caminho é ver sempre o copo meio cheio. Caso você ouse discordar, virá o rótulo de pessimista, de ser alguém que torce contra ou que nunca vai “vencer na vida” por conta de sua negatividade. Essa busca pela vitória, geralmente traduzida em bens materiais, luxo e conforto, já gera pressão suficiente tanto dentro de nossas cabeças quanto no trabalho e ainda pode ser agravada pela toxicidade por parte da chefia ou dos próprios empregados.
Fazer uma autoreflexão, como contamos aqui, é também um caminho valioso para identificar se há algo em sua postura que pode mudar esse cenário antes que você tenha que mudar de emprego. Consigo me posicionar mais? Consigo migrar para outra área? Consigo falar sobre isso abertamente e, assim, solucionar esse problema? Mas lembre-se: não se culpe! Apenas identifique o seu papel nessa história, até mesmo para evitar passar por isso novamente no futuro.
Nunca fomos tão ansiosos, por isso é preciso atenção redobrada no cuidado com a saúde mental. Um ambiente de trabalho tóxico prejudica e muito o nosso psicológico, podendo até acarretar até mesmo em problemas como a hipertensão e a depressão.
Se aquela tristeza que todos sentimos no domingo à noite for algo muito maior para você, talvez seja hora de ligar os sinais de alerta. Por mais que trocar de emprego não seja fácil, é preciso buscar alternativas antes que o seu próprio corpo decida cobrar a conta. Virar a página, muitas vezes, é um ato de coragem.
Para Inspirar
Mais do que o que falar e o que não falar, é preciso saber o que a população negra reivindica e quais são os termos dessa luta. Reunimos alguns para você aqui!
20 de Novembro de 2023
Estamos em
novembro, mês dedicado a pensar ainda mais sobre a população preta e suas
lutas. Sabemos que essa consciência deve expandir para todos os dias e não só
no dia 20, é claro. Mas, por que não aproveitar a chance de refletirmos ainda
mais? Por aqui, já falamos sobre alguns atletas negros para nos inspirar, falamos
sobre o movimento do afroempreendedorismo, 7 formas de apoiar a causa preta noseu dia a dia, um
pouco sobre viés inconsciente e muitos participantes pretos em
nosso podcast!
Agora, decidimos criamos um glossário que pode ser bastante pertinente. Mais do
que falar sobre as palavras proibidas e ofensivas, que tal conhecer aquelas que
representam as lutas dessa, que é a maioria da população – segundo dados mais recentes do IBGE -, mas infelizmente ainda é vítima
de tanta violência? A seguir, separamos algumas para você conhecer!
É o ato
de se apropriar de elementos de outra cultura da qual você não é parte e
desconsiderar, por exemplo, os seus significados e as tradições que há por trás
de um símbolo. Isso pode ser feito por um indivíduo ou até pela
indústria.
É o termo
usado para designar a identidade branca e faz parte de uma construção social,
ou seja, não passa de uma ideia. É essa identidade racial branca que permite
que o sujeito branco se coloque em uma posição de poder, privilegiada e
superior, e que promove a construção social e a reprodução da discriminação
racial.
É quando um
sujeito discrimina outro a partir da cor da pele – e não só do conceito de
raça. Ele é ainda pior para negros de pele escura, pois quanto mais clara sua
pele, menos “negro” ele pode ser considerado. Isso é também um entrave para a
identidade racial, ou seja, o negro de pele clara pode ter dificuldade em se
enxergar como negro, mas também não é tratado como branco na sociedade.
É toda
situação injustificada de diferenciação de acesso e fruição de bens, serviços e
oportunidades, nas esferas pública e privada, em virtude de raça, cor,
descendência ou origem nacional ou étnica, segundo o Estatuto da Igualdade
Racial, Lei 12.228 de 20 de julho de 2010).
Nome dado a um conjunto de línguas, comportamentos, cultura e
características físicas compartilhadas por um determinado grupo de
pessoas.
Ele é como o feminismo, ou seja, um movimento social que defende a
equidade e o respeito às mulheres. Porém, esse segmento traz como protagonistas
principais as mulheres negras e suas particularidades, pois há direitos
específicos que precisam ser reivindicados levando essa parcela da população em
conta e há lutas que mulheres brancas desconhecem, pois são maiores do que a
ideia de gênero.
Relacionada
também ao tópico anterior, a interseccionalidade é o encontro entre dois
pontos. Nesse contexto, ela diz respeito às diferentes opressões da sociedade e
o fato delas não atuarem sozinhas. Ou seja, há alguns tipos de exclusões e
desigualdades que não podem ser examinadas de forma isolada, pois se relacionam
com outros tipos de exclusões e suas interações potencializam a opressão.
Apesar de
ter o mesmo sufixo de branquitude, a negritude é um movimento de caráter
político, ideológico e cultural, e que busca o oposto de seu antagônico: a
valorização e exaltação dos valores culturais dos povos negros
afrodescendentes.
São políticas públicas e sociais que buscam reconhecer e exaltar as
diversidades existentes entre a população negra e não-negra. Seu objetivo maior
é minimizar as distâncias socioeconômicas e culturais entre esses dois polos e
garantir a equidade de oportunidades para todos para um dia eliminar de vez os
efeitos da discriminação contra grupos de minoria.
Nome dado ao
grupo de escravos refugiados em quilombos e seus descendentes, cujos
antepassados fugiram de seus cativeiros e formaram os vilarejos chamados de
quilombos. Esses descendentes hoje possuem direitos específicos, segundo
decreto de novembro de 2003: “são grupos étnico-raciais segundo critérios de
auto atribuição, com trajetória histórica própria, dotados de relações
territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra relacionada com
a resistência à opressão histórica sofrida. (Decreto nº 4.887)
É um
conceito social, já que do ponto de vista biológico, somos parte da mesma raça
(a humana). Ele foi criado historicamente com uma finalidade sociopolítica de
discriminação, criando agrupamentos humanos a partir de suas características
comuns – a cor da pele, por exemplo. Mas ele é sempre determinado pelas
relações de poder existentes em uma sociedade isso varia de uma para a outra:
negro, branco ou mestiço, por exemplo, não é igual no Brasil e na Inglaterra.
Enquanto por aqui nos baseamos em marca (aparência ou fenótipo) em relação a
negros, étnico (em relação a indígenas) e outros, e em outros países pode ser
de origem (ascendência) inclusive para negros.
Pronto! Agora você já sabe algumas palavras
extremamente importantes para somar a essa luta. Sempre que não souber,
pesquise: não há problema em não saber, mas há problema em não buscar esse
conhecimento. Essa é uma luta que exige união para que ela enfim acabe e a
equidade possa reinar entre todos nós.
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