Para Inspirar

Pai Denisson e Mãe Kelly em "Deus é uma energia que a gente acessa através do amor, não através do julgamento.”

O segundo episódio da décima sexta temporada ouve a história dos encontros da fé de Pai Denisson e Mãe Kelly.

11 de Agosto de 2024



[trilha sonora] 
 

Pai Denisson: Eu costumo perguntar: “Levanta a mão aí quem já fez uma oferenda”. As pessoas ficam com as mãos abaixadas.  Aí eu provoco: “Quem comeu peru no Natal?” O povo levanta a mão. “Quem já pulou sete ondas?”. De novo levanta a mão. “Vocês já usaram branco no réveillon? Já colocaram flores na praia? Já abriram espumante na virada do ano? Viu como vocês fizeram magia? Porque tudo isso é rito da umbanda”. 

[trilha sonora]
 

Geyze
Diniz:
A curiosidade e respeito por todas as formas de espiritualidade ajudaram o Pai Denisson e Mãe Kelly a entenderem que tinham um caminho espiritual para trilhar. Ambos se encontraram e se sentiram acolhidos na Umbanda. Hoje, eles estão à frente do Instituto CEU Estrela Guia que tem como objetivo o combate à fome e a desigualdade social. Eu sou Geyze Diniz e esse é o podcast Plenae. Ouça e reconecte-se. 

[trilha sonora]
 

Pai
Denisson:
Quando eu tinha 5 anos, uma senhora disse para minha mãe: “Seu filho leva jeito para palhaço. Ele inventa piadas, tem umas tiradas, diverte todo mundo. Leve ele num programa de palhaço. E olha, seu filho também tem uma mediunidade aflorada. Você precisa levar ele num centro espírita”.  

A minha mãe me levou num programa de palhaço, e o palhaço quis me contratar, mas ela não deixou. Depois, a minha mãe me levou no centro espírita kardecista, mesmo sendo ateia. Ela me deixou na porta e ficou do lado de fora. E a partir daquele momento, a religião entrou com força na minha vida.
 Um dia, numa véspera de Natal, o meu pai estava fazendo a barba no banheiro, e eu pedi para ele: “Pai, me leva ao centro espírita?”. 

Eu
sabia que ia ter um evento pra crianças. O meu pai estava se arrumando para levar um presente para o patrão dele, e ficou bravo. Ele parou e falou para minha mãe: “O que você colocou na cabeça desse menino? Tão fazendo lavagem cerebral nele?”
 Mesmo a contragosto, meu pai me levou no centro espírita, me batendo no caminho. Só que ele acabou ficando das 2h da tarde às 11h30 da noite, na véspera de Natal. Dali em diante, a minha família toda começou a frequentar o centro. 

[trilha sonora]
 

Mãe Kelly:
Eu nasci numa família católica. A minha mãe era tão religiosa, que por pouco eu não vim ao mundo. Ela queria ser freira e chegou a entrar num convento, mas o meu avô não permitiu que ela seguisse o seu sonho. Então, a minha mãe se casou, continuou seguindo a fé com muita devoção.  

Embora ela fosse católica praticante, a minha mãe gostava de estudar sobre espiritualidade e outras religiões também.
Ela tinha amigas da igreja evangélica, da umbanda, do budismo e do judaísmo. 
Eu não ia na igreja católica só por ser uma obrigação familiar. Eu ia porque adorava participar de tudo: das missas, dos encontros, das festas religiosas. Nos anos 90, eu era estudante de engenharia civil, quando conheci o movimento carismático.  

Eu fui a uma missa do padre Marcelo Rossi, n
a igreja onde ele começou e fiquei encantada. A música, a maneira de fazer a oração e o jeito do movimento me chamaram atenção. E eu me tornei voluntária da paróquia do padre Marcelo.  Em junho de 99, eu visitei o Santuário de Fátima, em Portugal. Foi algo que mexeu muito comigo. Apesar de ter vivido a minha vida inteira na igreja, eu nunca tinha passado pelo que eu passei lá.  

Assim que eu entrei
na cidade de
Fátima, comecei a chorar copiosamente, sem entender por quê. No santuário, eu me ajoelhei para rezar por todos que amo e pedi: se um dia eu me casasse, que fosse com um homem de Deus. Eu não determinei religião. Eu só queria uma pessoa que tivesse uma conexão com Deus. Meses depois, eu comecei a namorar com o Pai Denisson.

[trilha sonora]
 

Pai
Denisson:
Um dia, eu estava no centro espírita, e um médium incorporou um obsessor, que é um espírito que fica do nosso lado, impedindo o nosso crescimento, cerceando a nossa felicidade.  Esse obsessor me falou: “Eu indo embora da sua vida, porque eu percebo que você é uma pessoa amorosa, que faz o bem. Mas aqui não vai resolver. Você precisa procurar um centro de umbanda sério”. 

Eu saí de lá atordoado. Além do medo, obviamente, do desconhecido, eu tinha preconceito. Eu falei: “O que eu vou fazer numa religião de gente atrasada, que bebe, que fuma? E
u estudei a vida inteira os ensinamentos de Allan Kardec, e agora eu preciso ir para um centro de umbanda? Que retrocesso!”
 

Na mesma semana, eu fui visitar um cliente da minha empresa, e a secretária olha
pra mim e diz assim: “Você precisa procurar um centro de umbanda sério”. Não, de novo isso, não. Não é possível. Eu só rezava.
No dia seguinte, recebo uma pessoa no meu trabalho, que me fala: “Do lado da minha casa tem um centro de umbanda sério, e eu encaminho muitas pessoas pra lá”. Eu perguntei: “O senhor me leva lá? Mas, não pode falar para ninguém”. 

[trilha sonora]
 

Mãe Kelly:
Eu tinha um segredo, nem o Pai Denisson sabia. Desde criança, eu tinha visões e conversava com pessoas que tinham desencarnado. Quando eu tinha de 2 ou 3 anos, a minha avó paterna morreu. Um dia, eu comecei a contar para minha mãe e para minha tia coisas que tinham acontecido antes de eu nascer que só elas sabiam. A minha avó desencarnada me contava e eu repetia para elas. Eu também tinha uma habilidade que só mais tarde descobri que se chama mediunidade de efeitos físicos.  

Teve um dia, na faculdade, em que meus colegas
estavam fazendo aquela brincadeira do copo. Eu dizia para onde o copo ia se mexer, e o copo obedecia o meu comando. Eu falei para o pessoal: “Eu posso fazer as cadeiras se mexerem”. Aí eu olhei para uma das cadeiras que estava num canto da sala e ela se mexeu. E todo mundo saiu correndo.  E aí, na porta da sala, eu vi a figura de um homem com traços indígenas. Comentei isso com uma amiga, e ela disse: “Não tem ninguém ali”. Eu achava estranho, mas até então, acreditava que era um fenômeno psicológico. 

[trilha sonora]
 

Pai
Denisson:
A primeira vez que eu fui a um terreiro, eu cheguei com muito medo, já querendo ir embora. Eu fui participar de um ritual que se chama gira.  A gira tem esse nome porque ela faz a roda da vida girar, tira a pessoa da estagnação. A espiritualidade movimenta as ideias, o corpo, as células, todas as moléculas que estão ao redor, para que aquela pessoa tenha um novo campo de atuação, de amor, de fé, de desenvolvimento, de conhecimento, de senso de justiça.

Não existe uma gira igual a outra, porque mudam-se as pessoas, muda-se a vibração dos pensamentos e sentimentos.
É claro, naquele primeiro dia, eu não sabia de nada disso. Eu só estranhei aquela fumaceira de ervas defumadas e música tocando. Aí, uma pessoa começou a falar comigo. Mas não era exatamente uma pessoa. Era uma entidade espiritual que tinha traços indígenas falando através daquele médium.

E essa entidade começou a descrever tudo que estava acontecendo na minha vida, e disse assim: “A sua esposa é muito especial, ela vai vir aqui”.
 Só que ela nem sabia que eu estava ali. Eu passei três anos frequentando o centro de umbanda escondido da Mãe Kelly, com medo do julgamento dela, e arriscando o meu casamento. 

 
Mãe Kelly: Um dia, o Pai Denisson me trouxe sete velas marrons e disse que o padre tinha me mandado acender uma vela por semana, para me ajudar a conseguir um emprego. Eu não entendi direito, mas acreditei nas palavras dele, e arrumei um emprego quando acendi a terceira vela. Pouco tempo depois disso, eu o Pai Denisson estávamos em casa e eu tive uma visão, que me disse que o Pai Denisson estava frequentando um centro de umbanda. Eu descrevi como era o centro, sem nunca ter ido lá, e disse que queria ir também.  Até então, eu não sabia quase nada sobre a umbanda, só tinha ido na Festa de Cosme Damião.  

Na primeira vez que eu entrei no terreiro, eu falei em voz alta p
ara o Pai Denisson:
Eu me encontrei. O meu lugar é aqui”.  Como eu tenho mediunidade de clarividência, eu sentia e via as entidades presentes naquele terreiro. O mesmo homem de traços indígenas que eu vi na porta da sala da faculdade estava ali. Eu me assustei e descobri que aquele homem era o Caboclo das Sete Encruzilhadas, uma entidade que trabalha com as forças da natureza e com o conhecimento em todos os sentidos. 

Eu
sentei num banquinho de madeira e senti a espiritualidade à minha volta. Senti uma explosão de paz e alegria dentro de mim. Pela primeira vez, todas aquelas manifestações que aconteciam comigo desde criança me fizeram sentido. E a umbanda me completou naquele momento e me completa até hoje. 

[trilha sonora]
 

Pai
Denisson:
A umbanda me encantou pela forma como eu fui acolhido pelo terreiro. Nunca me perguntaram qual era a minha profissão, quanto eu ganhava. Nunca me pediram nenhuma contribuição. Eram pessoas muito simples, que me colocaram debaixo da asa, sem querer nada em troca. Era um altruísmo puro. Eu me senti visto como um ser humano, e esses valores me preencheram. 

Aos poucos, eu fui entendendo que a umbanda é a manifestação do espírito
para a prática da caridade. A gente entende a caridade da maneira mais vasta possível, no sentido de acolher, não julgar, propagar a fé, alimentar e socializar.
 A umbanda é como o povo brasileiro: miscigenado. Ela é a primeira religião considerada 100% brasileira, e ela mistura saberes indígenas, africanos e europeus.  

Se a gente pegar os povos originários, eles manifestam a espiritualidade através de ritos de passagem, de ervas, de vegetais e de minerais. Os africanos trouxeram o conhecimento das oferendas, da
boa fé, da liberdade, da música, dos orixás, que são forças da natureza. Dos europeus vieram a feitiçaria, as velas e o estudo da vida após a morte.
 

Mãe Kelly:
Na medida que a gente foi se envolvendo com os estudos da umbanda, começamos a explorar também outras formas de espiritualidade. Eu e o Pai Denisson viajamos em busca de conhecimento para o Tibete, Nepal, China, Índia, México, Egito, Israel, Peru e outros lugares sagrados. Buscamos conhecimento em contato com templos e os sacerdotes do budismo, do islamismo, do xintoísmo, do catolicismo, do judaísmo, do espiritismo e dos povos originários.  

Com estas
vivências, cada vez mais sentimos que as religiões tinham sinergia com a umbanda. E em vários lugares a gente recebeu sinais de que a gente tinha um caminho espiritual para trilhar.  Em 2015, nós fundamos o Instituto CEU Estrela Guia. Desde o primeiro dia, em nosso espaço sagrado, conhecido como terreiro, buscamos o equilíbrio entre a mente e o coração, entre a razão e a emoção e entre o pensar e o sentir, com o compromisso de buscar e compartilhar conhecimento. 

O trabalho s
ocial faz parte de todas as atividades do Instituto. Através de distribuição de alimentação de pessoas em vulnerabilidade alimentar e social. Hoje a gente doa diariamente comida para cerca de mil pessoas em situação de rua e em comunidades carentes. E a gente também desenvolve cursos de culinária, de reaproveitamento de alimentos para pessoas em vulnerabilidade social e alimentar. 

O desenvolvimento do corpo mental acontece por meio dos cursos de Teologia da Umbanda, vivências
de ervas e cristais.
 E o desenvolvimento do corpo espiritual, através dos ritos das giras, ritual para realização de trabalhos espirituais por meio de médiuns incorporando entidades 

[trilha sonora]
 

Pai
Denisson:
Junto com os nossos trabalhos, começaram também os episódios de intolerância religiosa, que hoje a gente chama de racismo. Eu sempre uso o filá, que é um tipo de chapéu que os sacerdotes de umbanda colocam na cabeça. O filá, na realidade, é um acessório do islamismo que foi incorporado por religiões de matrizes africanas. 

Só por causa desse chapéu, eu recebo olhares de reprovação. Quantas vezes a gente distribui comida e as pessoas falam assim: “Ah, é comida da macumba
. Não quero”. 
Uma vez, era dia 12 de outubro, e a gente estava distribuindo doces paras crianças na rua. A Polícia Militar abordou a gente com armas em punho. Do outro lado da rua, tinha um pastor evangélico dando marmitas sem ser incomodado. 

Em outra ocasião, o nosso terreiro foi invadido. Cortaram os fios da instalação elétrica, que são de alta tensão, e deixaram atrás de uma árvore. Quem tocasse morreria na hora.
Cortaram nossas plantas, que para a gente são sagradas, quebraram nossos objetos religiosos e destruíram nossas oferendas. 

[trilha sonora]
 

Mãe Kelly:
O meu primeiro episódio de intolerância religiosa foi dentro da minha família. Meus familiares não aceitaram a minha escolha. A minha mãe não chegou a saber que eu tinha me tornado umbandista. Em 2009, após uma cirurgia ela ficou em coma vegetativo, que durou 14 anos. Quando ela desencarnou, eu como Sacerdotisa me ofereci para fazer os ritos fúnebres, mas a minha família não permitiu.

Então, o Pai
Denisson pediu para o padre Júlio Lancellotti, que é nosso amigo, realizar esses ritos fúnebres, e ele aceitou o convite.
Eu acredito que a minha mãe não teria tido a mesma atitude. Afinal, foi ela quem me ensinou o conceito de tolerância. Minha mãe também me ensinou a fé, a lutar pelos meus propósitos de vida e a respeitar a todos...  A Umbanda é uma religião livre, nossos mentores e guias nos oferecem o que há de melhor para nossas vidas, respeitando nosso livre arbítrio. 

[trilha sonora]
 

Pai
Denisson:
 Quando a gente es aberto para o outro, a gente para de se prender às nossas crenças limitantes. As religiões são criações humanas. A vida nos dá chances de aprendizado de diversas formas, não somente pela religião. Deus é uma energia que a gente acessa através do amor, não através do julgamento. Se a Terra é só um pontinho no universo, quem sou eu para dizer que eu sou melhor do que o outro?  

Já passou da época
da gente superar conflitos religiosos. Imagina se Deus quer conflito em nome dele? Deus nos dá determinadas liberdades para que a gente tenha opções. Se a gente não tivesse liberdade, Deus seria um tirano. Os caminhos e as encruzilhadas servem pro nosso desenvolvimento. Todo ser humano tem algo a nos ensinar. 
 

[trilha sonora]
 

Geyze
Diniz
: Nossas histórias não acabam por aqui. Confira mais dos nossos conteúdos em plenae.com e em nosso perfil no Instagram @portalplenae. 

[trilha sonora]
 

 

Compartilhar:


Para Inspirar

Quando a maternidade solo é uma escolha

Inspirados no episódio de Mariana Kupfer, investigamos a maternidade solo opcional no Brasil, seus números e os propósitos dessas mães

7 de Outubro de 2020


Quando se fala em maternidade solo, tristes imagens povoam o nosso imaginário. Isso porque, segundo levantamento do IBGE, mais de 80% das crianças brasileiras têm uma mulher como principal responsável - e 5,5 milhões delas não têm o nome do pai no registro de nascimento. Essa realidade tão difícil e recorrente acomete, sobretudo, as mulheres mais pobres, que não escolheram estarem sozinhas, mas sim, foram abandonadas pelo pai da criança.

Mas e quando a maternidade solo é uma opção pessoal? Como vimos no episódio da apresentadora Mariana Kupfer na segunda temporada do Podcast Plenae - Histórias Para Refletir, a ciência pode ser a principal parceira da mulher nessas circunstâncias, e hoje há diferentes opções de caminhos que ela pode tomar para realizar o sonho da maternidade.

O instinto materno

Parte-se do princípio de que instinto pertence a ordem do biológico, portanto, é um impulso interior incontrolável e inconsciente, muito relacionado às necessidades da sua sobrevivência ou da sua espécie. Sendo assim, o instinto materno como verdade absoluta e irrefutável vem sendo contestado em algumas instâncias.

“A maternidade envolve uma série de estruturas como política, economia, cultura. A psicanálise não acredita no instinto materno, mas sim na pulsão, que atravessa o âmbito dos nossos mais íntimos desejos” explica a psicanalista e pesquisadora de comportamento, Luisa Lancellotti. “A gente vai falar que a mãe nasce junto com o bebê, pois sem ele, ela não poderia ser mãe - seja ele adotivo, biológico ou de consideração. Portanto, trata-se de uma construção” diz.

Esse nascimento da mãe se dá antes mesmo do nascimento desse filho. Pela nossa cultura, ela já começa a nascer a partir do resultado positivo do exame, na sexologia e até mesmo na escolha do nome ou no momento de decorar o quarto. “Se eu posso escolher ser mãe, algo me diz que isso passa pelo desejo, então não há um instinto - se não, todas as mulheres gostariam de ser e a gente vê na clínica que isso não é verdade” explica a psicanalista.

E por onde esse desejo interno em ser mãe que algumas mulheres nutrem passa internamente? “Essa questão é infinita, pois a pulsão não tem um objeto fixo, diferente de um instinto. Pode ser por cuidado, pode ser uma questão de reparação da própria infância, diz respeito somente a vida daquela pessoa, portanto, não existe uma resposta fixa. E não cabe a nós debater esse porquê, mas sim entender que ela tem esse direito de decidir.” comenta Luisa.

Sendo assim, o “ser mãe” vai ter um significado próprio, diferente para cada uma. Por isso mesmo, a psicanálise defende que não existe uma mãe ideal, mas sim uma mãe possível. “Esse conceito foi condenado por anos, mas na realidade ele traz liberdade, pois as mães sempre se sentiram muito culpadas por tudo. Além disso, a sociedade não pode dizer o que é bom e o que é ruim, até porque não conhecemos a vida dessa mãe e como ela exerce essa maternagem dela.”

Figura materna X Figura paterna

Também amplamente discutido pela psicanálise, as figuras maternas e paternas, diferentemente do que se pensa, não representam pessoas necessariamente, mas sim, funções sociais. A figura materna pode ser exercida pela mãe, por uma avó, por uma enfermeira - e até mesmo por alguém do sexo masculino.

Isso porque essa pessoa é quem investirá o que os estudos psicanalíticos entendem por libido, que é essa energia e cuidado que a espécie humana literalmente necessita para sobreviver nos primeiros anos.

O problema é que o bebê se torna tão dependente dessa conexão que, muitas vezes, se confunde com essa “mãe”. “É muito gostoso fusionar com a mãe, seria ótimo se pudéssemos viver com aquele cuidado incondicional (considerando a perspectiva do bebê) da primeira infância, mas isso é nocivo a longo prazo” explica.

E é aí que entra a figura paterna. “Ela funciona como uma intervenção, uma possibilidade de enxergar outras perspectivas, e pode ser representada por qualquer pessoa, não necessariamente um pai” explica Luisa. Na literatura, essa figura paterna pode ser um chefe ou até mesmo a lei, por exemplo, pois ambos representam essa ruptura e castração.

O importante é que essa criança tenha contato com vários tipos de cuidado, porque isso a fará mais criativa e espontânea. “Em algumas tribos africanas, durante muitos anos, a criança era criada pela tribo inteira. Isso fazia com que ela circulasse esses vários universos e cuidados e se adaptasse melhor” conclui a psicanalista.

Caminhos

Valendo-se do princípio de que a maternidade é um desejo e uma escolha individual de cada mulher, e de que ela é completamente apta a desempenhar essa função sozinha se esse for o seu desejo, quais são os caminhos que ela poderá tomar a partir dessa decisão?

A adoção é, evidentemente, um dos caminhos possíveis para essa mãe. Mas se o seu desejo for a gestação, a reprodução assistida, que muitas vezes é uma opção também de casais - neste caso, que enfrentam alguma dificuldade reprodutiva - pode ser um dos caminhos.

“O primeiro passo é o check-up completo, para analisar a saúde da paciente. O segundo, se for uma reprodução independente, é escolher o sêmem no banco, seja nacional ou internacional” explica o doutor Dani Ejzenberg, ginecologista e obstetra, especializado em reprodução assistida.

Uma vez escolhido o sêmem, ela poderá optar por dois caminhos: a inseminação intra uterina, que é um caminho mais simples e possui uma taxa de sucesso de 12 a 15% por tentativa, ou a fertilização in vitro, que possui uma taxa de sucesso maior, de 50 a 60% - a depender de sua idade ou da sua doadora.

A inseminação é quando o espermatozoide é colocado no corpo dessa mulher para que ele siga de forma natural ao seu óvulo. Já a fertilização in vitro é quando esse processo de fecundação acontece em laboratório e, posteriormente, esse óvulo é colocado dentro da mulher que irá gestá-lo.

“Os tratamentos de reprodução assistida têm um risco muito reduzidos, apesar de não inexistentes. As maiores complicações que elas podem enfrentar são provenientes de suas gestações avançadas, que já poderiam acontecer de qualquer maneira” explica Dani. Isso porque, segundo ele, a maioria das mulheres que procura esse tipo de método, já ultrapassou os 40 anos de idade.

Segundo o doutor, a procura pelos métodos têm aumentado cada vez mais. As mulheres solteiras ainda não são maioria, mas já representam uma parcela significativa delas. “Em geral, são pacientes já estabelecidas profissionalmente, com boa condição social, já passaram dos 35 anos, tiveram relacionamentos não frutíferos e agora se consideram maduras o suficiente para engravidar” explica.

E esse pai costuma fazer muita falta? “Não, pois em geral, as famílias apoiam e são parceiras, que acabam desenvolvendo esse papel. Mais importante do que um pai, é essas mulheres terem uma rede de apoio, pessoas que vão desenvolver papéis importantes na educação dessas crianças”. Se lembra da figura paterna que explicamos? Pois bem.

“A legislação brasileira é uma das mais liberais do mundo, e permite que a pessoa sozinha possa ter filho, tanto homem quanto mulher. Uma pessoa gestar pra outra no Brasil também é permitido, se for feita de forma voluntária e não cobrada, e pode-se adotar sozinho também” diz o doutor. Há diversos caminhos para se ter filhos, mas somente você poderá decidir isso.

Sendo assim, fazemos das palavras de Mariana Kupfer, as nossas. “Mãe não é um estado civil, é um estado de amor”. É uma escolha pessoal e um papel que pode sim ser desempenhado individualmente - quando ele se trata de uma opção. Tem a ver com o seus desejos e propósitos e, ainda assim, toda mãe é ótima dentro de suas capacidades, porque mais importante do que a perfeição, é o amor investido.

Confira os dados a seguir: 


    
- Esses dados abrangem mães solos por opção, por abandono e ainda as viúvas;

- A fertilização in vitro é, dentre as opções médicas, a mais segura em taxa de sucesso;

- O Brasil é um dos nomes mais importantes na prática da fertilização - mas por aqui, ainda é bem caro;

Fatores culturais e êxito na carreira fazem com que mulheres de todo o mundo adiem o momento da gestação.

Compartilhar:


Inscreva-se na nossa Newsletter!

Inscreva-se na nossa Newsletter!


Seu encontro marcado todo mês com muito bem-estar e qualidade de vida!

Grau Plenae

Para empresas
Utilizamos cookies com base em nossos interesses legítimos, para melhorar o desempenho do site, analisar como você interage com ele, personalizar o conteúdo que você recebe e medir a eficácia de nossos anúncios. Caso queira saber mais sobre os cookies que utilizamos, por favor acesse nossa Política de Privacidade.
Quero Saber Mais