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Atletas e sedentários: qual a diferença entre seus corpos?

Conversamos com um fisioterapeuta para entender o que faz uma pessoa ser considerada sedentária e quais suas limitações comparadas a um atleta.

8 de Outubro de 2021


No quarto episódio da sexta temporada do Podcast Plenae, você conheceu a história do jogador de futebol, Daniel Alves. De Juazeiro do Norte, na Bahia, para o mundo todo, ele se consagrou com um profissional completo, detentor dos mais diferentes títulos dentro da modalidade e também um dos mais velhos ainda na ativa.


Para ele, o segredo do sucesso é a determinação, o foco e o verdadeiro gosto pela competição. Em busca de ser sempre a sua melhor versão e atingir a sua maior performance, Daniel chega aos 38 anos - idade considerada alta para esse tipo de esporte - sem falar em parar e sem diminuir suas conquistas. 


Segundo Maurício de Camargo Garcia, fisioterapeuta, mestre profissional pela UNIFESP e sócio fundador da SONAFE (Sociedade Nacional de Fisioterapia Esportiva) e do CETE (Centro de Traumatologia do Esporte da UNIFESP), essa conquista é uma construção de vários fatores. 


“Na construção de um atleta de alta performance, o aspecto físico é tão importante e presente quanto o aspecto mental, cerebral, emocional. Você consegue identificar, claro, se a pessoa tem uma condição muscular mais favorável ou mais característica de praticar uma atividade física. Mas somente um atleta de verdade sabe lidar, por exemplo, com a questão da dor, que faz parte dessa carreira”, explica o doutor. 


“Se ele se acostumou com ela e se recupera rápido de uma lesão, é aí que vai morar a grande diferença entre um atleta e um sedentário, ou até de um atleta de alta performance para um esportista recreacional. Até porque, para um atleta, estar parado por muito tempo pode implicar em perda de contratos e patrocínio. Sua recuperação é mais rápida porque ele depende disso, é o mental agindo sobre o físico”, diz.


Para o especialista, essa questão da recuperação é a principal diferença entre os dois perfis de pessoa. Além disso, uma lesão em um sedentário, além de implicar em menos frentes da sua vida, se dá também na maioria das vezes por falta de preparo para realizar aquele movimento.


Isso tem acontecido muito nos beach tennis, febre que tomou a cidade de São Paulo e multiplicou o número de esportistas cadastrados: de 2000 para 4500 em menos de um ano, segundo o vice-presidente da Confederação Brasileira de Beach Tennis. “Essa pessoa trata e volta a jogar no tempo dela, não tem a pressão que o esporte profissional traz para o atleta, e isso muda todo o cenário”, comenta Maurício.


Há ainda uma questão mais científica e cabeluda para o tema. Além do aspecto da dor, existem genes que caracterizam um atleta. “É uma proteína chamada Proteína Quinase Ativada (AMPK), envolvida em diferentes ações. Quanto mais você treina, mais você produz mitocôndria, responsável pela energia das células. Então o sedentário tem muito pouco disso e quando ele se lesiona, o tempo dele é diferente, a melhora também. A gente vê um atleta que opera o joelho e depois de 15 dias já está jogando. Tudo que você estimula no corpo de um atleta ou esportista responde muito melhor, existe essa diferença biológica mesmo”, diz o fisioterapeuta.


Então, é possível um atleta se tornar um sedentário no futuro? Como característica biológica, sim. Ele até pode ter a memória muscular, então um possível retorno seria mais fácil, mas isso não quer dizer que vá ser instantâneo, pois há uma diminuição nessa energia celular e muscular.


Os caminhos de transformações


Para definir o que é preciso que um sedentário faça para se tornar um atleta, antes, devemos entender o conceito do sedentarismo. “Ele é, na realidade, a ausência ou a diminuição da atividade física. E isso está associado principalmente ao pouco gasto calórico semanal. Então a quantidade de calorias que uma pessoa gasta por semana acaba definindo se o indivíduo é sedentário ou ativo. De repente, ela gasta bastante calorias porque anda muito e pega metrô. Não são necessariamente esportes, mas esse gasto calórico semanal importante já tira essa pessoa da linha do sedentarismo”, explica o especialista. 


Então, o primeiro passo de quem busca começar a atividade física sem se machucar mora justamente nesse gasto calórico. É preciso mirar no aumento desse gasto, seja caminhando, usando a escada, parando o carro mais longe. O que se encaixar na sua rotina. Uma vez nesse fluxo, a iniciação em algum esporte específico se dará de forma muito mais natural. 


Já o contrário também demanda atenção. Um atleta como o Daniel Alves não pode parar de jogar de um dia para o outro, pois ele se enquadra nos atletas de alta performance, e o choque para seu corpo seria imenso. É preciso um acompanhamento redobrado em quem busca desacelerar. 


“A prática da atividade física reflete em todo o funcionamento do corpo: melhora na circulação sanguínea, estimula a criação de células cerebrais que nos protegem de Alzheimer, Parkinson e até AVC, te mantém alerta e ajuda na produção da serotonina, que afeta diretamente o humor, a depressão. Então a falta de atividades físicas é ruim para todas essas séries de coisas, a começar daí”, diz Maurício.


“A perda de aptidão que eles têm com essa parada gera o que a gente chama de efeito rebote. Ele pode lidar, já de cara, com uma hipertrofia muscular. Começa a perder tônus e começa a ganhar mais gordura no lugar de massa magra. Partindo desse princípio, o coração é um músculo e pode ser prejudicada. A dieta dele pode mudar também e pode sobrecarregar o rim, aumenta a uréia, e até o fígado também com o ganho de gordura. Você também pode diminuir a oxigenação de alguns tecidos e gerar um desequilíbrio orgânico muito perigoso”, conclui. 


Estamos em pandemia há mais de 1 ano e meio e nosso corpo já começa a sentir os efeitos mais visíveis, como revelou esta matéria do jornal El País. De aumento do peso à rigidez muscular, o fato é que precisamos nos movimentar. Segundo a Organização Mundial da Saúde, é preciso focar mais na frequência do que na intensidade, e 30 minutos de atividades físicas por dia é o valor considerado ideal. Não é preciso virar o Daniel Alves, mas exercitar-se deve ser uma de suas prioridades diárias.


Saúde mental, sono e boa alimentação são fatores indissociáveis para quem busca essa mudança de vida. E procurar um especialista, seja ele um fisioterapeuta, nutrólogo ou até endocrinologista, é também indispensável, pois cada corpo demanda uma necessidade. Mas uma coisa é certa: os benefícios são incontáveis!

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A solitude e o silêncio na pandemia

Relembramos matérias que podem ajudar a enfrentar esse tempo de quietude e solitude e, principalmente, podem te aproximar de si mesmo.

13 de Maio de 2021


De repente, o mundo se calou. Diante de um vírus que ainda não conseguimos vencer - apesar de estarmos já um pouco mais perto - e de tantas perdas, que gerou uma espécie de luto coletivo. Com as medidas de distanciamento social, há uma parcela da população que se viu sozinha, pois não dividem a casa com mais ninguém e estão impossibilitadas de receberem visitas.

E então, o silêncio. Por mais que músicas, vídeos e televisão possam preencher esse espaço vazio que a socialização deixou, falar parece ter feito falta para muitos. Isso porque somos seres sociáveis, portanto, estarmos distante e sem nos relacionar, traz consequências até mesmo físicas, como aumento do nível de cortisol, da pressão arterial, declínio da performance do sistema cognitivo, imunológico e da produtividade, além de claro, problemas de ordem emocional.

Mas é possível buscar reverter esse cenário? Isso é claro, uma questão individual, mas há alguns caminhos que podem ser seguidos. O primeiro deles é, sobretudo,  cuidar da saúde mental em tempos de pandemia, que como explicamos nesta matéria , é imprescindível.

Procurar escuta capacitada e profissionais de saúde que estão prontos para receber as suas angústias e trabalhar ativamente sobre elas é o principal caminho. Exercícios físicos , como já sabemos, são grandes aliados da manutenção de nossa mente e corpo, liberando uma série de hormônios que trazem essa sensação de bem-estar tão almejada em tempos difíceis.

Criar uma rotina que sistematize o seu dia pode ajudar o seu cérebro a manter-se em ação, além de te ajudar a distrair-se de possíveis aspectos negativos exteriores. É importante incluir nessa rotina um lazer ativo, desses que te obrigam a movimentar-se fisicamente, ou que realmente geram uma sensação de imersão naquela atividade específica.

Estar atento às suas relações é também de suma importância. Relacionamento, seja ele qual for, demanda investimento de tempo e de sentimentos. É preciso cultivar, como se fosse um organismo vivo, e para isso, é preciso selecionar muito bem com quem você irá realizar essa troca.

Manter essas relações ativas não é necessariamente mergulhar no mundo das redes sociais, que podem gerar uma sensação de FOMO - o medo de estar perdendo algo - e de falta de pertencimento. Mas é sim conversar verdadeiramente com um velho amigo, seja por telefone, vídeo chamada ou até em um encontro seguro.


A solitude

Há também uma outra via, mais complexa e longa, mas muito valiosa: procurar fazer as pazes com a sua própria companhia, onde a solidão pode dar espaço para a sensação de solitude e atenuar a sensação de abandono e tristeza. Isso porque, apesar de estarmos distantes por motivos maiores, ser sozinho também pode ser uma escolha pessoal que traz bastante satisfação para quem assim o faz.

A palavra solitude inclusive possui origem no latim, e significa “a glória em se estar sozinho”. Ela é quase como um estado meditativo e pode ser um poderoso caminho que possui o fortalecimento de sua espiritualidade como destino final. Se tratando de meditação , há uma em específico que chama a atenção para o silêncio: a Vipassana.

A técnica, dentro da literatura budista , tem como característica uma busca por concentração e tranquilidade, mas também uma investigação profunda sobre si mesmo. Como toda prática, ela inclui o silêncio como principal meio para se atingir os objetivos.

A diferença aqui é que ela não é como uma meditação cotidiana, dessas possíveis de serem feitas em alguns minutos - e que também possuem inúmeros benefícios. O Vipassana consiste em um silenciamento longo e profundo feito por dias, tendo até mesmo retiros dedicados a isso por todo o mundo, inclusive no Brasil.

Seus benefícios, assim como os benefícios já conhecidos do silêncio , são vários. A sensação de tranquilidade é uma das principais e mais imediatas. Mas também há um aumento na percepção de si, uma expansão de sua consciência e até aumento no hipocampo, que ajuda em tarefas como concentração e memorização.

Mas, o principal benefício é a libertação da ideia de que nos falta algo, de que precisamos estar em outro lugar que não aqui dentro para encontrar a felicidade, ou que necessitamos da companhia de algo - como um ruído - ou alguém para sermos completos.

É semelhante ao que os peregrinos sentem em suas longas caminhadas, por vezes bastante silenciosas e repletas de solitude , essa sensação pacífica em bastar-se e estar bem consigo mesmo.

Um artigo do jornal New York Times revelou que eremitas contemporâneos estão alcançando as pessoas que lutam contra o isolamento. Um casal em específico, Paul Fredette e Karen Karper Fredette, fundaram até mesmo uma espécie de escola que ensina fundamentos do seu modo de viver, por serem praticantes desse silêncio e isolamento desde antes da pandemia.

A mensagem principal deles é simples: vá para dentro de si e passeie por lá. Como anda a sua relação consigo mesmo? Lembre-se que em tempos de tormenta ou não, somos eternamente nossa maior companhia.

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