Para Inspirar

Por que roncamos?

E o que fazer para cessar o desconforto, que atrapalha não só ao paciente, como também aos seus familiares?

2 de Novembro de 2020


Se você não tem problemas com o sono, deve certamente conhecer alguém que tenha. Isso porque um estudo comandado pela empresa alemã Royal Philips, concluiu que 72% dos brasileiros apresentam distúrbios do sono , que podem ser os mais variados possíveis.

Já explicamos em matéria aqui no Plenae os malefícios para a saúde de um repouso não revigorante . Também demos dicas em outra matéria de como combater a sua insônia , caso seja esse o seu distúrbio de sono. Mas e quando o problema é outro?

Problema sonoro

A lista de desconfortos que prejudicam nosso sono é grande, mas uma delas é bastante comum: o ronco. Apesar de ser motivo de muitas piada, o ronco é sempre um sinal de obstrução, pelos mais variados motivos.

Segundo estudos guiados pela Universidade Federal de São Paulo, a UNIFESP , os homens podem até representar a maioria dos afetados, mas não há uma forte discrepância, afinal, 40% das pessoas que roncam são mulheres. E o problema piora após a menopausa, atingindo com mais força as que possuem mais de 50 anos.

Os homens ainda são maioria entre os roncadores, mas o índice feminino está crescendo

No caso específico da menopausa, o ronco ocorre sobretudo por conta de uma redução na musculatura das vias aéreas, o que dificulta a passagem do ar pela garganta, principalmente.  Esse, porém, não é o único causador do ronco.

Segundo a fonoaudióloga certificada pela Associação Brasileira do Sono , Vanessa Leto, o ronco é uma vibração dos tecidos da região da garganta durante o sono, que pode ter um aumento da incidência com a idade, pois pode estar relacionado com a flacidez da musculatura.

“Ele tem um aumento da incidência com a progressão da idade, mas há criancinhas que roncam também. Isso está relacionado com uma obstrução do nariz ou da garganta, e por isso é difícil definir um perfil único. Pode ter desde recém-nascido, até crianças maiores e adolescentes também” explica.

No adulto, se dá da mesma maneira: questões anatômicas que podem ser comuns e específicas daquela pessoa, ou pioradas por um ganho de peso, ou aumento da flacidez com a idade, por exemplo.

Para detectar o problema, é preciso fazer um exame chamado polissonografia. “Ele é quem vai detectar se a pessoa só ronca de forma primária, sem sinal de apnéia do sono, ou se é uma pessoa que ronca e também apresenta uma apnéia obstrutiva leve, moderada ou grave” diz a fonoaudióloga.

Já se sabe que o ronco é o primeiro sinal dessa condição, mas nem sempre todos os roncadores apresentam a apnéia - comorbidade que faz com que a pessoa pare de respirar por alguns instantes enquanto dorme, elevando a sua pressão arterial, entre outros problemas.

O que fazer

Os tratamentos vão ser bem diferentes de acordo com os graus mencionados, e serão mapeados principalmente pelo exame da polissonografia, mas também por uma avaliação clínica de um profissional de otorrinolaringologia, por exemplo.

“Como são muitas as causas, essa conversa com o especialista é muito necessária. Até mesmo desvio de septo pode causar o ronco, ou hipertrofia de adenóide - que é a estrutura da região da faringe. Há também a hipertrofia de tonsila palatina - que são as amígdalas, e essas podem acometer crianças ou adolescentes, pacientes jovens e magros” explica Vanessa.

Em geral, o tratamento é simples e cirúrgico, onde essa estrutura que está causando a obstrução é retirada. Nesse caso, a fonoaudióloga entra porque, quando há essa obstrução, o paciente apresenta uma respiração oral. “Muitas vezes, mesmo fazendo a cirurgia e tirando esse impedimento anatômico, a pessoa ainda respira pela boca, porque o corpo dela ainda não entendeu que existe a via do nariz para estruturar, e a fono entra para habilitar essa via” diz.

Sabendo que a fonoaudiologia reabilita funções como respiração, mastigação,  deglutição e fala, o trabalho da área e seus exercícios são fundamentais para a reabilitação anatômica tanto do paciente que foi submetido a cirurgia, quanto do paciente que resolverá o desconforto somente em clínica.

Vanessa, nossa entrevistada, publicou um trabalho de doutorado em 2015 que comprovou a eficácia das condutas de exercício no que diz respeito à frequência e intensidade do ronco. “A questão dos exercícios é complexa porque não são os mesmos para todos os pacientes, cada um deve ser avaliado individualmente. Uma coisa muito importante para prevenir é desenvolver pró percepção, ou seja, perceber se alguma de suas funções automáticas estão sendo desempenhadas corretamente” explica.

E quais seriam elas? A respiração é, obviamente, um ponto-chave. “Quando se está em repouso, o paciente consegue respirar pelo nariz ou respira pela boca sem perceber? Ele está se alimentando bem no sentido de mastigar e engolir? Consegue, por exemplo, mastigar dos dois lados, engolir sem a comida parar na garganta ou tem que auxiliar com líquido?” provoca a profissional.

Aos idosos, sobretudo, todos esses são sinais de que é preciso uma avaliação mais completa. “Tenho muitos pacientes, talvez 10% dos que chegam, que nem continuam o tratamento comigo, porque eu avalio uma questão muscular e já passo para outro especialista. Há uma série de critérios de exclusão que não são fonoaudiólogos, são cirurgias ou perda de peso. Por isso é impossível pensar em um único tratamento ou exercício que englobe todos os perfis” diz.

A longo prazo

A questão dos malefícios do ronco estão mais atreladas à qualidade do sono, mas ele pode sim causar uma degeneração física da musculatura, fazendo com que ela fique cada vez mais flácida e prejudicada. No pior cenário, ela poderá sofrer um colapso e fechar - e isso pode gerar a já mencionada apnéia do sono.

“São poucas as pessoas que podem roncar a vida inteira sem causar danos ventilatórios e de deglutição a longo prazo, porque a via do ronco é a mesma de engolir alimentos” explica. Para os idosos isso é primordial, porque afeta diretamente a nutrição deles, que precisam de ainda mais nutrientes.

“A dieta dos idosos já é afetada normalmente porque começam a ter problemas dentários ou dificuldades para engolir. Com isso, eles começam a mastigar menos, sem triturar o alimento para se fazer um bolo alimentar correto e engolir melhor, e a família vai empobrecendo sua dieta para facilitar esse processo” complementa.

O ronco ainda é prejudicial para a qualidade do sono de quem dorme ao lado do roncador. “A gente tem caso de cônjuges dos roncadores que inclusive apresentam perda auditiva no ouvido que fica virado pro ronco” diz. “O próprio roncador pode até dizer que cai na cama e dorme pesado, mas muitos na clínica atestam que acordam se sentindo cansados” conclui.

Muitas pessoas que roncam não sabem. O ideal é pedir para seu parceiro te ajudar nesse diagnóstico. No caso dos solteiros, caso esteja acordando e se sentindo mais cansado, uma opção é gravar os seus ruídos durante o seu sono - com seu aparelho celular mesmo.

Caso detecte o ronco, procure um profissional ou uma equipe multidisciplinar que conte com um psicólogo, por exemplo, que pode também ser benéfico para a qualidade do sono como um todo. Afinal, o estresse pode ser o principal vilão para seu repouso. Não deixe para amanhã o bom sono que pode ser feito hoje.

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Por que os idosos esquecem?

Durante o sono profundo, as pessoas mais velhas têm menos coordenação entre duas ondas cerebrais, importantes para guardar novas memórias.

17 de Julho de 2018


Durante o sono profundo, as pessoas mais velhas têm menos coordenação entre duas ondas cerebrais, importantes para guardar novas memórias. “É como um baterista que está uma batida atrás do ritmo”, diz Matthew Walker, um dos autores da pesquisa e professor de neurociência e psicologia na Universidade da Califórnia, em Berkeley. “Com o envelhecimento, o cérebro simplesmente não parece ser capaz de sincronizar suas ondas cerebrais.” Autor do livro Why We Sleep (ainda sem tradução para o português), Walker explica que a pesquisa foi o resultado de um esforço para entender o processo do cérebro durante o sono de transformar memórias de curto prazo em lembranças duradouras. “O cérebro realiza uma espécie de truque elegante, o de cimentar novos fatos na arquitetura neural do cérebro”, diz o neurocientista. A pesquisa. Participaram 20 jovens adultos que memorizaram 120 pares de palavras. “Colocamos eletrodos na cabeça deles enquanto dormiam”, diz Walker. Os eletrodos permitem o monitoramento das ondas elétricas produzidas pelo cérebro durante o sono profundo. Os pesquisadores se concentraram na interação entre ondas lentas – que ocorrem a cada segundo ou mais – e ondas mais rápidas chamadas de fuso do sono – que acontecem mais de 12 vezes por segundo. Na manhã seguinte, os voluntários fizeram uma prova para ver quantos pares de palavras ainda lembravam. O teste revelou que o desempenho foi determinado pela forma como as ondas lentas e fusos se sincronizaram durante o sono profundo. Repercussão. A descoberta parece responder a uma pergunta antiga sobre como o envelhecimento afeta a memória, mesmo em pessoas saudáveis. “Este é o primeiro artigo que realmente encontrou um mecanismo celular que pode ser afetado durante o envelhecimento e, portanto, ser responsável por uma falta de consolidação da memória durante o sono”, diz Julie Seibt, professora de sono e plasticidade na Universidade de Surrey, no Reino Unido, que não estava envolvida na pesquisa. Mas ela adverte: “Para confirmar a descoberta, os pesquisadores terão de mostrar que é possível causar problemas de memória em um cérebro jovem ao interromper esses ritmos em uma amostragem bem mais ampla e diversa.” Leia o artigo completo aqui.

Fonte: JON HAMILTON Síntese: Equipe Plenae

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