Para Inspirar
Se chorar é uma das possibilidades de linguagem humana - e que é tão comum a todos nós -, por que sufocamos essa expressão a todo tempo?
11 de Maio de 2023
Nossa primeira expressão ao nascermos é o característico choro de bebê. E não se engane, é importantíssimo que aquelas notas estridentes e tão conhecidas no imaginário popular aconteçam. O choro é uma maneira do recém-nascido encher seus pulmões de ar, expelir o líquido amniótico que estava dentro deles e ajudar na expansão e abertura do órgão, como explica este artigo da revista Crescer.
Ao longo de toda infância, novamente as lágrimas dão as caras com frequência. Quando somos bebês, choramos para comunicar fome, sono ou outro tipo de desconforto. Quando somos crianças, choramos até mesmo como mecanismo de controle, para atingir um objetivo ou para testarmos determinados limites.
Porém, é na adolescência que o choro parece começar a ser sufocado ou repreendido. Sobretudo se você for homem, é claro. Choros em público então, nem pensar! Na vida adulta, só damos vazão aos nossos sentimentos na mais completa privacidade, e muitos sentem um pouco de culpa ou até mesmo se sentem “infantis” por estarem… chorando.
Segundo o oftalmologista espanhol Juan Murube Del Castillo, da Universidade de Alcalá, em Madri, em artigo para a revista Superinteressante, a hipótese mais plausível é que o choro tenha surgido antes da linguagem falada, como uma expressão mímica para comunicar dor.
“O homem já havia esgotado os recursos faciais – como movimentos musculares de levantar a sobrancelha ou de morder os lábios – para revelar estados anímicos de curiosidade, surpresa ou medo, por exemplo”, diz Murube. “Precisava escolher uma nova expressão no rosto para dizer ao outro que sentia dor. As lágrimas foram a melhor escolha”, diz ele.
Além disso, as emoções estão intimamente relacionadas a um contexto cultural, como explica o antropólogo Guillermo Ruben, da Universidade Estadual de Campinas, em São Paulo, para o mesmo artigo. Somos culturalmente treinados para deixar que os sentimentos aflorem somente em momentos considerados apropriados para isso, como em velórios, por exemplo.
Portanto, verter em lágrimas deveria ser tão comum quanto falar, por exemplo, e sufocá-las não deveria ser algo socialmente incentivado, pois é um canal de comunicação que se fecha.
É importante frisar que nós temos três tipos de lágrima. A primeira é mais “simples”, pois é produzida o tempo inteiro e tem a função de lubrificar os olhos, a fim de protegê-los contra micro-organismos. Sua composição é mais líquida e oleosa, justamente para facilitar essa lubrificação.
A segunda lágrima já se trata de uma lágrima de proteção e surge como um reflexo de um estímulo que deixou esse olho irritado - como cortar uma cebola. Ela tem objetivo de higienizar a região, pois possuem enzimas que ajudam a destruir toxinas e bactérias. Por fim, há a terceira lágrima, que é então a emocional. Há uma curiosidade sobre ela: em sua composição, há alguns hormônios que são responsáveis por nos deixar mais calmos - e um desses hormônios é a ocitocina.
Contamos mais sobre essa substância neste artigo, mas aqui nessa dinâmica, ela faz com que sentimentos de apego e compaixão sejam aflorados em nós, além de inibir o cortisol, também conhecido como hormônio do estresse. a gente tenha mais compaixão ou fique mais apegado a alguém que seja próximo. Além disso, ela inibi os níveis de cortisol, o hormônio do estresse, no organismo.
Todas elas são compostas por diversas substâncias, como enzimas, lipídios, metabólitos e eletrólitos. Porém, como explica este artigo, as de fundo emocional contêm mais proteínas. Essa diferença na composição as torna mais viscosas, aderindo à pele com mais força e escorrendo pelo rosto mais lentamente.
Qual o efeito disso? Elas ficam mais propensas a serem vistas por outras pessoas e, assim, podem desencadear vínculos sociais e conexões. Novamente: o choro como linguagem para que um outro, semelhante a nós, entenda o que estamos querendo dizer. As lágrimas mostram que estamos passando por alguma situação complexa e que precisamos de ajuda - e elas resistiram mesmo às evoluções naturais do nosso corpo.
Isso vai depender do tipo da lágrima que explicamos anteriormente. Elas existem para manter nosso olho lubrificado, para eliminar substâncias que possam ter o deixado irritado e, se tratando do choro emocional, para nos expressarmos e consequentemente liberarmos uma emoção que possa estar nos estressando.
"Chorar tem a função de gerenciar o nosso estresse e fazer com que o corpo entre em homeostase, ou seja, sua situação de equilíbrio", descreve o psiquiatra do Hospital Israelita Albert Einstein (SP) e colaborador do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, Victor Bigelli de Carvalho, para o portal UOL.
Segundo ele, como continua o artigo, da mesma forma que o cérebro manda mensagem para o coração baixar a frequência cardíaca e retornar os batimentos do repouso após um grande esforço, o choro é importante para voltar ao estado mental basal.
Ignorá-lo pode ser um problema, pois o bloqueio emocional pode afetar negativamente o nosso sistema imunológico e beneficiar o surgimento das doenças cardiovasculares e doenças mentais, como concluiu um estudo publicado na revista Health Psychology.
Além disso, um outro estudo - dessa vez, uma revisão científica, levantou outros pontos importantes como:
O alívio da dor ao chorar, já que a bomba de hormônios liberada no momento pode funcionar como analgésico natural
O soluço de um choro mais intenso ajuda a oxigenar o corpo e regular a temperatura do cérebro
Chorar ajuda o corpo a descansar, pois ativa o sistema nervoso parassimpático
Nos torna humanos e mais empáticos, afinal, todos nós, em qualquer lugar do mundo, sabemos reconhecer o choro do outro.
Assim como há benefícios no perdão, agora que você já sabe que não há nada de errado em sucumbir às suas emoções - muito pelo contrário! - comece a colocar em prática sua verdade sem se sentir “infantil” ou qualquer outro preconceito. Afinal, chorar é tão humano quanto os benefícios que traz para nosso corpo.
Para Inspirar
O quarto episódio da décima quinta temporada do Podcast Plenae é do educador de animais Eduardo Rossi, representando o pilar Relações
21 de Abril de 2024
Conteúdos
Vale o mergulho Crônicas Plenae Começe Hoje Plenae Indica Entrevistas Parcerias Drops Aprova EventosGrau Plenae
Para empresas