Para Inspirar

Quais são os diferentes tipos de apego?

Acredite: entender o tipo de apego do outro pode evitar ruídos importantes na comunicação para as duas partes.

27 de Abril de 2023


A cena é clássica sobre apego: você está esperando uma mensagem de bom dia que não chega e, a partir dessa ausência, entende esse movimento como um claro desinteresse. Que atire a primeira pedra quem nunca criou uma expectativa sobre o outro e não foi correspondido. 

Mas, é justamente sobre isso que falaremos: expectativa. Mais especificamente, sobre as expectativas que ditam o seu estilo de apego, que pode ser bastante diferente do outro. E isso não deve, nem por um segundo, significar falta de amor, apenas estilos diferentes. Te explicamos mais a seguir!

Bem me quer, mal me quer…


Te contamos neste artigo um pouco mais sobre as diferentes linguagens de amor. Segundo Gary Chapman, autor do livro e da teoria, são cinco as possíveis linguagens: palavras de afirmação, qualidade de tempo, presentes, gestos de serviços e toque físico. Vale ressaltar que não possuímos somente uma, mas sim, ao menos duas linguagens do amor nas nossas expressões de afeto, sendo uma primária e a outra secundária. 


Ainda segundo Chapman, cada um de nós nasce com uma linguagem específica para expressar e compreender o nosso amor, os chamados “dialetos”. E é justamente na incompreensão da linguagem do outro onde mora o ruído, que pode trazer problemas para a relação. Funciona como um idioma: você dá amor em francês, mas o seu parceiro só fala em espanhol. O mesmo se aplica a uma outra teoria, que pode ser até bem parecida: os diferentes tipos de apego. Desenvolvida pela primeira vez pelo psicólogo John Bowlby na década de 1950, a teoria do apego originalmente se concentrava na relação bebê-cuidador. “Ele teorizou que as crianças vêm ao mundo biologicamente conectadas para formar laços de apego com outras pessoas”, diz a psicóloga clínica licenciada Angela Caron ao site Vox. “E esses laços de apego são um mecanismo de sobrevivência primordial”. Nos primeiros estudos dessa natureza, encabeçados pela psicóloga Mary Ainsworth, esses bebês eram separados de seus pais. Depois, ao se reunirem novamente, os pesquisadores observavam seus comportamentos. Enquanto alguns bebês ignoravam suas mães, outros não ficaram tão empolgados com o retorno. E houve ainda um terceiro grupo que ficou imediatamente aliviado ao ver a mãe.  

Dessa forma, eles foram classificados como apego evitativo, ansioso e seguro, respectivamente em cada uma das situações. E essas se tornaram as principais classificações de apego, até então destinada apenas às crianças. Mas o que os pesquisadores perceberam com o tempo é que essa dinâmica também era aplicável para descrever os relacionamentos adultos. 

Isso porque os psicólogos sociais Cindy Hazan e Phil Shaver observaram que os adultos reagem aos seus parceiros românticos da mesma forma que os bebês reagem aos seus cuidadores. “Alguns adultos têm laços seguros uns com os outros”, diz R. Chris Fraley , professor de psicologia da Universidade de Illinois em Urbana-Champaign, “enquanto outros são mais inseguros e pegajosos ou talvez mais distantes e emocionalmente autônomos”, explica novamente à Vox. 

Os tipos de apego

Foi em 2010 que veio enfim a publicação de Attached: The New Science of Adult Attachment and How It Can Help You Find - and Keep - Love, um livro que ajudou a trazer a teoria do apego para o mainstream do novo milênio. E, nos últimos anos, a popularidade do livro disparou graças às mídias sociais, entrando de vez para a cultura pop. 

Como mencionamos anteriormente, existem três estilos de apego:

  • O apego seguro, onde a pessoa se comunica com eficácia e sente-se confiante quando está sozinha. Mas, ao mesmo tempo, ela se sente à vontade para formar conexões íntimas. 

  • O apego ansioso. Aqui, a pessoa teme ser rejeitada e pode exibir um comportamento pegajoso ou ciumento, ou até se sentir indigno de amor. 

  • O apego evitativo, onde o indivíduo se deleita com sua independência e pode rejeitar oportunidades de formar relacionamentos profundos. Isso é negativo, pois ela pode acabar afastando as pessoas caso se sintam próximas demais.

Mas, de onde vem esse tipo de comportamento? Da nossa primeira relação, com o nosso cuidador. Aquela que te contamos no tópico anterior. Os estilos de apego decorrem principalmente de como você foi tratado pelos cuidadores enquanto estava angustiado quando criança. 

Os pesquisadores medem os estilos de apego como o grau em que alguém responde a perguntas altamente evitativas ou ansiosas, e não em termos de categorias concretas. Mas, embora esses estilos se formem na primeira infância, eles podem mudar com o tempo, caso você seja exposto a um cuidador mais caloroso e receptivo mais tarde, por exemplo, como um professor da escola, um melhor amigo ou até um parceiro amoroso.

Todos esses relacionamentos podem alterar a maneira como você se relaciona com os outros e até como eles reagem a você. Saber como você se relaciona com parceiros românticos pode ser útil, mas também um obstáculo. O seu estilo de apego não é o mesmo para o resto da vida e se moldam conforme as suas experiências. Concentrar-se nele como algo imóvel pode levar a um ciclo de erros repetidos. 

Se você está disposto a essa jornada de autoconhecimento para entender ou até modificar o seu tipo de apego, evite questionários online ou outras saídas sem comprovação. Procurar um especialista é sempre a melhor escolha e, nesse caso, um psicólogo pode te ajudar a entender desde o porquê do seu apego, até encaminhá-lo para a mudança de um padrão de comportamento.

Por fim, é importante reforçar que não há uma única maneira correta de se relacionar e que mais vale o entendimento entre duas pessoas que estejam se relacionando do que uma única regra para todos. Muitas vezes, o que não funciona para você, poderá funcionar para outro. 

O entendimento do seu estilo de apego deve ser apenas mais uma ferramenta disponível para o seu crescimento pessoal. Foque sempre em você!

Compartilhar:


Para Inspirar

Morena Leite em "A culinária é a minha religião"

Conheça a história da chef renomada que, antes de se lançar aos mares da gastronomia, resolveu mergulhar no alimento como ponte para outros mundos.

20 de Outubro de 2024



Leia a transcrição completa do episódio abaixo:

[trilha sonora] 

Morena Leite: A culinária é uma forma de nos conectar com o mundo e com os outros. Quando eu cozinho, tento escolher ingredientes saudáveis e da estação, porque a comida não nutre só o corpo, ela também nutre o planeta e a nossa alma.  

[trilha sonora] 

Geyze Diniz: É através da culinária que a chef Morena Leite se conecta com o mundo e consigo mesma. Desde pequena, observando sua mãe, ela aprendeu a importância dos alimentos para o corpo, para as religiões e culturas. E hoje divide seus conhecimentos através dos seus restaurantes, eventos e do Instituto Capim Santo. Eu sou Geyze Diniz e esse é o Podcast Plenae. Ouça e reconecte-se. 

[trilha sonora] 

Morena Leite: A comida tem um papel importante na minha família. Desde que meu pai teve um câncer, aos 27 anos, a minha mãe se aprofundou nos estudos sobre alimentação, e aí eles começaram a seguir uma dieta macrobiótica e antroposófica.  

Meus pais são do interior de São Paulo, mas se mudaram pra Trancoso, na Bahia, quando eu nasci, no começo dos anos 80. Eles faziam parte de um grupo de jovens chamados biribandos. Eram pessoas de diferentes cantos do Brasil e do mundo que optaram por morar numa aldeia de pescadores. Essa mistura fez de Trancoso um vilarejo único. 
 

A ideia era criar uma comunidade numa roça, com todo mundo morando junto, inspirado no modelo de um kibutz de Israel. Mas essa proposta não foi pra frente. Meus pais eram muito jovens e não quiseram seguir as regras impostas. Então, eles compraram um terreno e começaram a plantar de tudo que consumiam. Taioba, milho, coco, abóbora, biribiri, jaca, cacau, fruta-pão… 
 

A minha mãe foi tomando gosto por fazer granola e pão integral, e aos poucos o hobby dela virou uma profissão. Ela começou a servir comida em casa, com os legumes cultivados no quintal, os peixes entregues pelos pescadores e os grãos integrais da dieta macrobiótica, que vinham de São Paulo. Todo dia minha mãe fazia um prato, e recebia umas 10 ou 12 pessoas pra comer. Em 1985, meus pais acabaram abrindo um pequeno restaurante, o Capim Santo.
 

[trilha sonora] 

O restaurante virou também uma pousada. Eu cresci convivendo e acolhendo hóspedes de todo canto e todo lugar, eu fui ficando com vontade de conhecer o mundo. Eu acho que a mistura de culturas e de visões ao meu redor ajudou na formação da minha identidade. Uma das minhas grandes características é a tolerância com o diferente e a coragem de ser diferente também. 

Pela convivência que eu tinha até então, nasceu a vontade de estudar relações, assim quando eu tinha 15 anos, fui pra Inglaterra morar num colégio interno. Eu dividi quarto com uma cambojana budista, uma russa judia e uma turca muçulmana. Através da maneira que elas comiam eu podia entender um pouquinho mais sobre a cultura de cada uma. Então, eu percebi que o meu interesse por povos, países e religiões passava pela gastronomia. 
 

[trilha sonora] 
 

Eu mudei de ideia sobre a profissão que queria seguir. Voltei pro Brasil, fiz uma imersão na cozinha do Capim Santo e decidi ser cozinheira. Acho que pra muitas pessoas a comida é só um meio de sobrevivência e de satisfação do paladar, mas pra mim é muito mais do que isso. O alimento tem uma relação com a cura. Além de ter aprendido com minha mãe o prazer de cozinhar e alimentar todo mundo. Eu me encontrei na gastronomia também por ser uma atividade mão na massa, literalmente.  

Eu sou tão distraída, que na infância minha mãe achava que eu era autista. Eu tinha dificuldade de aprendizado na escola, porque era teórico demais. Mas a cozinha, por outro lado, não é abstrata, é concreta. Por isso, cozinhar funciona pra mim como uma forma de entender as coisas ao meu redor. Aquilo que eu vejo, eu esqueço. Aquilo que eu escuto, eu lembro. E aquilo que eu faço, eu aprendo. 

[trilha sonora] 

Quando eu me interessei por compreender melhor a espiritualidade, por exemplo, foi um movimento natural me debruçar sobre a culinária das religiões. A comida dos orixás e dos terreiros me ensinou sobre o candomblé. O candomblé entrou na minha vida há uns 20 anos, quando eu conheci meu pai de santo, que é o Paulo de Oyá. Eu descobri que tenho três orixás de cabeça, como a gente diz: Xangô, Oxum e Iemanjá.
 
Xangô é o orixá da Justiça. Se eu vejo duas pessoas batendo boca na rua, eu vou me meter e tomar partido de quem parecer injustiçado. É meio incontrolável. Eu vejo que tenho que tomar cuidado com julgamentos, porque às vezes uma história tem três, quatro, cinco lados... Oxum é o orixá da sedução, da fertilidade. Eu tenho essa necessidade de encantar e seduzir o outro.

Se alguém não olhar
no meus olhos, não comprar uma ideia minha, eu fico querendo convencer a pessoa. Se eu vou chamar a atenção de alguém, não quero que a pessoa fique chateada comigo. Eu preciso argumentar até chegar a um entendimento.
 Iemanjá é a grande mãe, que traz equilíbrio. É pra ela que eu faço oferendas quando estou em Trancoso, porque Iemanjá é a rainha dos mares e dos oceanos. 

[trilha
sonora]
 


Pra mim, espiritualidade tá muito ligada com a nossa conexão com a natureza. Eu fui criada no meio do mato e entendo que a gente é parte de um planeta que precisa estar em equilíbrio, que nem o corpo humano. Não adianta cuidar do coração e esquecer dos pulmões. A espiritualidade também me trouxe muitos ensinamentos. Com os hindus, aprendi que o corpo é nossa morada e não podemos negligenciar o nosso templo.

Por isso eles fazem rituais de limpeza todos os dias ao acordar
, Dinacharya. Limpam a orelha, lavam os olhos, escovam a língua, passam óleo em todo corpo. E cuidar do corpo inclui também cuidar da alma e da mente.
 
A cabala me ensinou um princípio que acho lindo, o de receber pra compartilhar. Ela me fez entender que cada um tem uma missão na Terra, que cada um tem um aprendizado.  

O catolicismo, que no período da quaresma tem
os um cuidado especial com a alimentação, quando alguns alimentos não são consumidos, me mostrou que a disciplina e o autocontrole são ferramentas muito importantes pro nosso crescimento. 
E finalmente os bahais, que me apresentaram seu tripé do amor, conhecimento e solidariedade, que eu acho fundamental pra gente navegar os dias de hoje.  

[trilha sonora] 

Uma das maneiras que eu achei de retribuir um pouco de todas as bênçãos que eu já recebi foi criar o Instituto Capim Santo. Assim como a comida foi um meio de transformação pra mim e pra minha família, ela poderia ser também um caminho de mudar a vida de um monte de gente, fazendo com que a cozinha se tornasse uma maçaneta pro mundo. 

A proposta do
Instituto é empoderar pessoas em situação de risco e vulnerabilidade social, usando a gastronomia como ferramenta pra isso. A ideia surgiu há uns 15 anos, quando eu fiz um evento em Trancoso e encontrei muitos colaboradores de Santa Catarina. Eu falei: “Gente, não tem um baiano aqui!e me responderam que não encontraram mão de obra qualificada na região, então eu decidi criar ali uma escola de formação profissional.
 

Sabe quando você planta uma árvore que dá fruta, e essa fruta dá origem a outra árvore? Aconteceu isso com o Instituto. Cresceu tanto que eu me assusto. São mais de 80 colaboradores e 6 mil pessoas formadas. Ficou tão grande, que eu nem dei conta mais de amamentar esse bebê. É como aquela mãe que fala: “Agora o meu filho cresceu e eu tenho que respirar fundo, porque não é mais sobre mim”. O Instituto deixou de ser um projeto pessoal e hoje atua em parcerias com o governo federal, estadual e municipal.  

Por causa da gastronomia, eu rodo o Brasil e o mundo. A minha vida se divide num vai-e-vem entre Trancoso, São Paulo, e Brasília, misturada com temporadas em outros lugares. Eu já morei em Paris, Bali e Londres. Já fiquei um tempo em Alter do Chão, no Pará, na Floresta Amazônica, na Tanzânia e no Quênia, e agora estou morando uma temporada em Nova York. Como meu pai diz, um anjo da guarda não dá conta de me acompanhar. Preciso de uma falange espiritual ao meu lado.  

[trilha sonora] 

Celebrando em 2025, 40 anos de maturidade gastronômica, o Capim Santo, como um todo, se tornou um grande negócio. A nossa comida presente não só em restaurantes, mas também na cozinha de um hospital, em escolas, em empresas e museus. A gente faz também eventos, desde casamentos até Rock in Rio, Cirque de Soleil e Fórmula 1.  

São 500 colaboradores, 150 cozinheiros e 50 líderes, que eu trago pra perto de mim. Quando fui morar em Bali, levei 16 cozinheiros pra lá. Quando fui morar em Londres, levei 30 pessoas. Em Paris, mais 20. Quando eu em Trancoso, trago as lideranças pra conhecer a minha mãe e a origem do Capim. A empresa virou quase que uma indústria artesanal. Mas, no fundo, eu continuo uma menina hippie e distraída que precisa ter contato com as pessoas. Os elos, os vínculos me nutrem.  

Depois da pandemia, eu transformei a minha casa em Trancoso numa comidaria. De quarta a sábado, eu recebo pessoas pra jantar na minha sala, trazendo as origens da minha mãe. Já me chamaram de louca, mas eu explico que isso é uma coisa de infância. Eu aprendi com ela desde pequena a estar mais próxima das pessoas, e a comida é o meu elo de conexão. Através da comida, eu consigo fazer carinho nos outros e em mim mesma. 

[trilha sonora] 

Geyze
Diniz
: Nossas histórias não acabam por aqui. Confira mais dos nossos conteúdos em plenae.com e em nosso perfil no Instagram @portalplenae. 

[trilha sonora]
 

Compartilhar:


Inscreva-se na nossa Newsletter!

Inscreva-se na nossa Newsletter!


Seu encontro marcado todo mês com muito bem-estar e qualidade de vida!

Grau Plenae

Para empresas
Utilizamos cookies com base em nossos interesses legítimos, para melhorar o desempenho do site, analisar como você interage com ele, personalizar o conteúdo que você recebe e medir a eficácia de nossos anúncios. Caso queira saber mais sobre os cookies que utilizamos, por favor acesse nossa Política de Privacidade.
Quero Saber Mais