Em uma palestra cheia de informações surpreendentes sobre a neurociência do sono, descobrimos que uma noite bem dormida afeta muito mais do que somente nosso corpo.
23 de Abril de 2018
Em uma palestra cheia de informações surpreendentes sobre a neurociência do sono, descobrimos que uma noite bem dormida afeta muito mais do que somente nosso corpo.
Bom sono tem a ver com boas ideias, boas relações (com as pessoas e com o tempo) e pode nos ajudar a levar uma vida mais desperta em todos os sentidos da palavra. Resumimos abaixo os aprendizados que nos inspiraram a transformar nossos dias em dias mais saudáveis e nossas noites em noites muito melhor aproveitadas.
SOMOS PROGRAMADOS PARA O DIA E PARA A NOITE
Estamos em um planeta que dá uma volta sobre si mesmo a cada 24 horas, formando ciclos de dia e noite. Já atentou para o quão diferentes são esses ciclos entre si? Vai muito além da cor do céu. Em cada um desses ciclos, nosso cérebro é exposto a estímulos completamente diferentes.
Além da óbvia mudança de iluminação, temos alterações na temperatura, no tipo de bactérias e vírus que tentam invadir nossos organismos, nas interações sociais que temos com outras pessoas e até mesmo no ato de consumir ou não comida. Tudo isso requer uma mudança radical dentro dos nossos corpos, uma série de processos fisiológicos e metabólicos que acontecem sem que percebamos, sempre seguindo esse ciclo natural de dia e noite.
Nosso corpo, como criação da natureza, foi feito para seguir seus ciclos. Somos o resultado das interações químicas que acontecem dentro de nós. E precisamos aprender a prestar atenção nelas.
O QUE MAIS FAZEMOS É DORMIR
Durante a vida, executamos diversas atividades: passamos 16% dela trabalhando, 19% fazendo atividades gerais, 11% comendo e bebendo, 11% assistindo televisão... e surpreendentes 36% dormindo. Sim, no fim de nossos dias, a tarefa que mais terá consumido nossas horas curiosamente é a que menos tem consumido nossas preocupações diárias: o sono.
Porém, esse pouco caso com o sono é coisa recente. Basta ver escritos antigos – Shakespeare, por exemplo, escreveu bastante sobre os prazeres e mistérios do sono. No tempo do bardo, o sono era uma importante ocupação, venerada, respeitada por aqueles escritores, poetas e demais habitantes das civilizações que, pouco antes de dormir, apagavam velas.
Aquelas pessoas que viviam de forma mais orgânica, natural, os ciclos do dia e da noite.
400 anos depois, no final do século 19, a reputação do sono mudou consideravelmente. Thomas Edison (não à toa, o sujeito que inventou a lâmpada elétrica) cunhou a frase: “Sono é um criminoso desperdício de tempo, herança de nossos tempos das cavernas”.
O inventor foi um dos principais responsáveis pela invasão da noite pela eletricidade barata e consequentemente pela mudança na importância do sono para a sociedade. Nossa herança agora é outra: para nós, cidadãos do século 21, o sono tem sido visto como pura perda de tempo, sinônimo de prazos perdidos, horas a menos com entes queridos ou relatórios de produtividade.
“Tempo é dinheiro”, diz nosso ditado contemporâneo, como quem diz “quem dorme não pode trabalhar e por isso dormir é inútil”.
Muitos estudos da neurociência, porém, têm chamado a atenção para um fato importantíssimo: sim, sono é essencial. Nossas horas de sono são mais úteis e produtivas do que sequer sonhamos. Quando dormimos, o cérebro se ilumina e aproveita essas horas para trabalhar – e trabalhar muito.
DE DESPERDÍCIO DE TEMPO A HORA EXTRA
De dia, nossa biologia se dedica aos trabalhos mecânicos, práticos. De noite, nosso corpo faz uma hora extra: é nesse período que o cérebro se ocupa com uma série de tarefas que esquecemos de fazer por nós mesmos (ou nem saberíamos fazer).
Durante nosso sono, o cérebro:
Desenvolve e fixa nossas memórias, influenciando diretamente nossa capacidade criativa e de inovação.
Faz o que chamamos de processamento emocional (quase como um desfragmentador de disco de nossas emoções). É por isso que pessoas cansadas tendem a esquecer acontecimentos positivos e se lembrar dos negativos e vice-versa.
Gerencia nossas reservas de energia e a reconstrução das vias metabólicas, além de reparar e construir tecidos e eliminar produtos residuais do cérebro – como por exemplo as proteínas beta-amiloides – associadas ao Alzheimer e à demência.
O QUE ESTAMOS FAZENDO COM NOSSO RELÓGIO BIOLÓGICO?
Jogue o primeiro travesseiro quem já tentou dormir, mas não sentiu o cérebro muito inspirado a fazê-lo. Afinal, o que define para nosso cérebro qual é a hora de ir dormir? Cada um de nós possui seu próprio relógio biológico, uma espécie de alarme interno, físico, formado por milhares de células especializadas, que nos diz a hora certa de dormir ou acordar.
Mas nossa sociedade tem brigado cada vez mais com ele, criando três grandes vilões:
O relógio social: trabalhamos em turnos da noite, fazemos hora extra, curtimos a noite madrugada afora ou simplesmente usamos um alarme para acordar todas as manhãs, sem perceber que dessa forma estamos reprogramando nosso relógio interno, ou seja, nossa biologia.
A pressão do sono: nosso relógio biológico trabalha de maneira compensatória. Para o nosso corpo, quanto mais tempo passamos acordados de dia, mais tempo precisamos dormir à noite. É um sistema equilibrado que funcionaria bem naturalmente. Porém, infelizmente, nem sempre respeitamos essa lei da compensação e passamos tempo demais acordados ou dormindo.
Esse tipo de descompensação acaba desregulando não apenas as horas que passamos acordados, mas também as horas de sono. É por isso que muitas vezes queremos muito dormir, mas o sono misteriosamente não vem.
O ciclo da luz: nossos olhos se desenvolveram para detectar a luz ambiente e associar alta iluminação com o dia (ficamos alertas) e baixa iluminação com a noite (ficamos sonolentos).
Nosso corpo segue o dia e a noite exteriores, criando um ambiente de “dia e noite internos” e regulando nosso metabolismo automaticamente por eles. Não é brincadeira o quanto nossa sociedade moderna confunde nosso corpo, com tantas informações em telas luminosas a todo instante, a qualquer horário.
Todos esses fatores são responsáveis pela quantidade de disfunções de sono que nossa sociedade vive hoje. É um mal global, é endêmico. Essas disfunções estão presentes em quase todas as áreas da sociedade: de altos executivos ansiosos a pessoas geneticamente predispostas, pacientes com doenças graves e até mesmo 26 adolescentes e idosos lidando com mudanças em seus organismos.
E se já é complicado e desagradável o suficiente passar a noite em claro, é importante saber os outros problemas que não cuidar bem do sono pode gerar em nossas vidas. Veja os quadros ao lado.
Nossa sociedade está com sono. E temos resolvido esse “problema” causado por nós mesmos com álcool e remédios para dormir ou estimulantes como nicotina e café, para acordar.
Porém, qualquer dessas soluções químicas que provêm de fora do nosso organismo acaba se tornando uma “muleta” química para nosso cérebro, piorando sua própria capacidade de conseguir dormir sozinho.
O segredo para dormir melhor não está em um conhecimento inacessível e misterioso: o segredo é prestar atenção.
Entenda se seu corpo precisa de mais ou de menos sono para um dia agradável, lúcido, com as emoções bem organizadas. Veja também no espelho se seu rosto parece cansado, se for mais fácil começar por aí. O importante é conhecer a si mesmo, conhecer seu corpo e dormir bem com ele. Seu cérebro agradece. Não é conversa para boi dormir: é ciência.
DORMINDO POUCO, A CURTO PRAZO
Se interrompermos os períodos de sono profundo de 3 dias a 2 semanas:
sono repentino, que pode gerar graves acidentes;
falta de atenção;
falha para processar as informações corretamente;
impulsividade e perda de empatia;
redução da memória;
redução da cognição e criatividade;
alterações metabólicas (como aumento da fome e consequente aumento de peso).
DORMINDO POUCO, A LONGO PRAZO
Se interrompermos os períodos de sono profundo por mais de 5 anos (se passarmos muito tempo trabalhando à noite, por exemplo):
problemas no sistema imunológico;
aumento no risco de câncer e doenças cardiovasculares;
risco de diabetes tipo 2;
piora em muitos quadros de demência e de doenças mentais – na realidade, a falta de sono está diretamente relacionada a esses quadros, sendo causa e consequência deles, em um círculo vicioso.
Afim de identificar disparidades socioeconômicas escondidas em dados estaduais, os pesquisadores reclassificaram os municípios americanos com base na renda familiar – em vez da geografia.
28 de Junho de 2018
Afim de identificar disparidades socioeconômicas escondidas em dados estaduais, os pesquisadores reclassificaram os municípios americanos com base na renda familiar – em vez da geografia. Examinaram a longevidade, o tabagismo, a obesidade, a pobreza infantil e outras informações de saúde tanto dos locais mais ricos como dos mais pobres. Os resultados podem ajudar a direcionar melhor os programas sociais oferecidos pelo governo americano.
Nas regiões com menos recursos, os homens morrem, em média, quase dez anos antes, aos 69 anos, do que os das localidades mais abastadas. As mulheres são menos impactadas. Perdem sete anos de vida. Falecem, aos 76 anos. “Os resultados devem ser profundamente perturbadores para todas as pessoas no país”, afirma o estudo publicado
American Journal of Public Health.
Vários países em um:
A expectativa de vida no estado mais pobre é inferior aos índices de mais da metade dos países do mundo. Isso significa que, em essência, existem vários países em desenvolvimento escondidos nas fronteiras dos Estados Unidos. “Foram confirmadas minhas expectativas para as diferenças nas taxas de tabagismo e obesidade”, disse Randy Wykoff, principal autor do estudo e decano do Colégio de Saúde Pública da Universidade Estadual do Tennessee do Leste, em Johnson City. “Os adultos nos lugares mais pobres tinham duas vezes mais chances de fumar e eram 50% mais propensos à obesidade.”
As crianças e os negros:
Os afro-americanos não-hispânicos tinham 4,5 vezes mais chances de viver nas regiões mais pobres do que em lugares mais ricos. Além disso, 48% das crianças nos locais mais pobres vivem abaixo da linha de pobreza federal. Nos locais com melhor nível econômico, o índice cai para 9%.
Análise:
“Quase metade das crianças pequenas crescem em famílias de baixa renda, sem possibilidades de fornecerem recursos adequados para que os filhos prosperem”, observou Neal Halfon, diretor do Centro para Crianças, Famílias e Comunidades mais Saudáveis, da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, sobre o estudo (que não participou). “Os indivíduos nascidos em municípios de baixa renda e com poucos recursos provavelmente terão saúde mais precária durante a vida. O setor público e o setor cívico não conseguiram juntar uma campanha abrangente contra a pobreza".
Conclusões:
Os autores do estudo sugerem que os programas de saúde pública devem ser direcionados aos municípios mais pobres no lugar dos estados. Eles descobriram que cinco estados norte-americanos – Geórgia, Illinois, Kentucky, Tennessee e Texas – abrigavam tanto as pessoas mais ricas, quanto as mais pobres da nação, sugerindo que a pobreza decorre não apenas da falta de recursos, mas da distribuição desigual de renda. Leia o artigo completo
aqui.
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